Viver Feliz Só Com Liberdade
De Sol Antônia
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Viver Feliz Só Com Liberdade - Sol Antônia
Viver feliz só com liberdade
Sol Antônia
Viver feliz só com liberdade
Sol Antônia
Se você ama uma flor, não a colha. Porque se você colhê-la ela morre e deixa de ser o que você ama. Então, se você ama a flor, deixe-a estar. O amor não está na posse. O amor está na apreciação.
Osho
Sumário
Prefácio 11
Capítulo 1 13
Capítulo 2 15
Capítulo 3 18
Capítulo 4 23
Capítulo 5 26
Capítulo 6 40
Capítulo 7 44
Capítulo 8 49
Capítulo 9 53
Capítulo 10 57
Capítulo 11 67
Capítulo 12 72
Capítulo 13 76
Capítulo 14 80
Capítulo 15 82
Capítulo 16 87
Capítulo 17 96
Capítulo 18 101
Capítulo 19 104
Capítulo 20 122
Capítulo 21 127
Capítulo 22 145
Capítulo 23 151
Capítulo 24 157
Capítulo 25 159
Capítulo 26 161
Capítulo 27 165
Capítulo 28 168
Capítulo 29 172
Capítulo 30 175
Capítulo 31 180
Capítulo 32 183
Capítulo 33 190
Capítulo 34 195
Capítulo 35 199
Capítulo 36 204
Capítulo 37 214
Capítulo 38 219
Capítulo 39 220
Capítulo 40 222
Capítulo 41 224
A meus filhos, Mariana, Guilherme e Gabriel,
com todo o meu amor.
Prefácio
O título deste romance pode gerar dúvida. Viver feliz somente ou sozinho com liberdade? Não importa.
Para sermos felizes, precisamos de liberdade, não importa se estamos sozinhos ou acompanhados.
A vida é um presente que deve ser usufruído ao máximo, e estar cercado de pessoas e situações positivas nos ajuda nessa jornada.
Mas viver com liberdade tem um preço: às vezes exige que deixemos para trás amizades e relacionamentos que nos tolhem e nos tentam cortar as asas. A falta de liberdade gera tristeza, angústia, apatia.
Portanto, é crucial nos livrarmos das amarras, mesmo que para isso tenhamos que pagar um alto preço. O prêmio será sempre o mais valioso: a (re)conquista da liberdade.
Capítulo 1
Nada dura para sempre. Após uma longa tempestade, o sol aparece para abrilhantar o dia, deixando muito mais vivas as cores da natureza. Era nisso que eu tentava acreditar. Talvez assim conseguisse suportar todos aqueles acontecimentos que vinham se sucedendo.
Depois de mais uma noite de insônia, eu ia para o trabalho pensando em uma forma de sair daquele furacão em que tinha se transformado a minha vida. Somente meus filhos, William e Priscila, me animavam a voltar para casa. Não para um lar, mas para um apartamento com paredes frias e tristes pintadas com a deprimente cor bege-escura. Eu não me sentia bem ali. Nem meus filhos. E não era só por causa da cor das paredes.
Muito sensitivos, eles ouviam passos e vozes estranhas quando estavam em casa. William, o mais novo, viu certa vez uma fumaça escura subindo a parede da sala enquanto assistia ao seu desenho animado preferido na televisão. Ele se assustou e gritou bastante, fechando os olhos e somente abrindo quando Adolfo o abraçou forte perguntando o que havia acontecido. Era uma fria manhã de quarta-feira. Com Priscila foi mais grave: ela viu um homem de chapéu-panamá observando-a com olhar severo. Todo vestido de preto, ele estava encostado na parede e olhava alternadamente para ela e para a janela do quarto, como se quisesse sugerir algo. Sentada na minha cama, mesmo com muito medo, ela o olhou firmemente, porque lera em algum lugar que precisamos encarar os fantasmas para lhes mostrar que não estamos assustados. Quando a miragem desapareceu, ela me chamou desesperada. Da cozinha eu ouvi os gritos e saí correndo. Chegando ao quarto, abracei-a e fiquei arrepiada ao tomar conhecimento do ocorrido. Aconselhei-a a rezar toda noite para o anjo da guarda. Em seguida fechei os olhos e roguei proteção para nós.
O zelador do prédio já havia falado que nenhum morador passava muito tempo no apartamento 401, onde morávamos, e que ninguém sabia por quê. Devem ser os assombramentos
, pensei, sem dizer nada ao rapaz.
Por causa desses acontecimentos, eu ansiava me mudar urgentemente daquele imóvel, mas não podia. Era preciso esperar pelo menos um ano para rescindir o contrato de aluguel em virtude de uma cláusula. Se saísse antes, pagaria uma multa exorbitante. E fazer mais dívidas não estava nos meus planos. Teria mesmo que contar com a proteção divina e ter paciência. Tudo se organizaria com o tempo.
Capítulo 2
A caminho do trabalho, da janela do ônibus de viagem, passando pelas inúmeras curvas fechadas da Rodovia Washington Luís, eu observava a beleza da serra. Nada do que eu tinha visto até então se igualava àquele cenário, repleto de verde. Quando a temperatura caía muito, a neblina imperava, fazendo-nos ter a impressão de que flutuávamos entre nuvens. Em contrapartida, quando fazia sol, a paisagem ganhava um brilho inigualável. Tanto a subida da serra quando a descida eram magníficas. Eu me sentia pequena diante de tamanho espetáculo da natureza. E retornava para casa justo na hora do pôr do sol, que, visto dali, ficava ainda mais mágico, dando ao céu tons de azul e laranja indescritíveis. E era nesses momentos de ida e vinda do trabalho, descendo e subindo a serra, que eu mais refletia.
Eu não estava contente com o rumo que minha vida tinha tomado depois que fui morar naquele imóvel, mas acreditava que dias melhores viriam, mesmo que demorassem. Sou uma pessoa muito positiva e sei exatamente o que quero. Saí de minha cidade natal, Recife, cheia de planos, trazendo comigo meu marido, Adolfo, e nossos filhos, William e Priscila, que na época tinham, respectivamente, sete e doze anos. Nos mudamos quando fui trabalhar em um jornal de renome a convite de uma amiga. Era uma proposta irrecusável. Eu e Adolfo sabíamos que haveria muitas dificuldades e que não seria fácil superá-las, mas estávamos dispostos a recomeçar a vida em uma cidade menor – pelo menos eu estava pronta para isso.
O calor do Recife, capital de Pernambuco, se tornava cada vez mais insuportável para nós, que sempre preferimos o frio, por isso a cidade serrana de Petrópolis, localizada no interior do Rio de Janeiro, foi o lugar ideal. Ficava distante do meu trabalho – o jornal se localizava na capital –, mas eu não precisaria ir à redação diariamente, já que realizaria parte do serviço em casa e enviaria pela internet.
Fazia alguns meses que tínhamos conhecido Petrópolis, como turistas, e nos apaixonamos pela cidade. Tranquila, limpa e com temperatura agradável durante quase todo o ano, Petrópolis nos atraiu também pela simpatia e educação dos seus moradores. Durante essa visita, fizemos um passeio de charrete, também chamada vitória, e conhecemos o Centro Histórico. Nessa época, nem imaginávamos que, pelas mãos do destino, estaríamos um dia morando na Cidade Imperial. Admito que cheguei a cogitar a ideia, mas não como uma possível realidade. Foi durante o passeio na vitória que tive uma espécie de insight. Ao passarmos pela réplica do 14 Bis, avião criado por Alberto de Santos Dumont, eu disse a Adolfo sorrindo:
– Já pensou se nós morássemos aqui em um desses prédios?
Ele retribuiu o sorriso e continuou observando a paisagem, mostrando descrença naquela possibilidade.
Visitamos a Casa de Santos Dumont, o Museu da Cera de Petrópolis, a Cervejaria Bohemia, o Palácio de Cristal, a Catedral São Pedro de Alcântara e o Museu Imperial. Queríamos aproveitar ao máximo a estada naquela atraente cidade, sem imaginar que estaríamos morando ali menos de seis meses depois, e justo no lugar que eu sugeri a Adolfo, perto do 14 Bis e da Praça da Liberdade, que recebeu este nome em 1888 porque os escravos livres se reuniam ali para comprar a liberdade dos colegas que ainda viviam nas senzalas.
A cidade era aprazível, com flores coloridas e muito verde,
além do ar fresco, típico de localidades de maior altitude. Era ali que a corte do Rio de Janeiro passava férias na época do Império para aproveitar o ar puro e a temperatura amena – o que deu a Petrópolis o título de Cidade Imperial. Aliás, o clima ameno, as construções históricas e a abundante vegetação eram os grandes atrativos turísticos de Petrópolis. Cidade mais segura do Estado do Rio de Janeiro na época, era quase um paraíso em comparação com o Recife e a capital fluminense em termos de agitação. Ironia do destino ou não, foi nesse lugar tranquilo que eu passei os piores meses de minha vida.
Capítulo 3
Minha vida estava estagnada. Desde outubro de 2012, eu tentava sair de uma relação tumultuada, sofrendo acusações, sem saber mais o que fazer para chegar a um acordo. A situação já estava me exaurindo as forças. Eu tinha muita fé e minha principal terapia era rezar, pedindo a Deus uma solução urgente, antes que eu entrasse em colapso. O caso era delicado não só porque envolvia crianças, mas sobretudo porque uma das partes dificultava ao máximo a resolução. Se não fossem minha fé e minha força, eu teria fraquejado. Por mais que tudo parecesse dar errado, eu não desanimava e continuava fazendo orações. Pedi tanto que recebi ajuda dos céus quando menos esperava.
Tudo começou em meados de 2011. Eu estava muito insatisfeita no trabalho, um jornal de grande circulação no Estado de Pernambuco. No ano seguinte, completaria dez anos no cargo de repórter e não via perspectiva de mudança. Pelo contrário: o fantasma da demissão nos acompanhava dia a dia com a ameaça de fechamento do jornal. Essa realidade me inquietava. Eu queria buscar novos horizontes, mas não sabia onde. Se fosse solteira, largaria tudo e iria para o Rio de Janeiro passar um tempo com Ludmila, minha melhor amiga.
Muito ciente de seus propósitos, Ludmila se mudara para o Rio ainda recém-formada, a convite do namorado, um carioca que ela conhecera quando passava férias na capital fluminense. Lá batalhou bastante, até chegar a diretora de redação de um grande jornal. Lulu, como eu a chamava, era uma daquelas pessoas que quando a gente conhece quer levar para casa. Dona de um bom humor inigualável, era leve, tranquila e nos transmitia paz. Seus cabelos loiros e cacheados, junto com a pele branca, lhe davam uma aparência angelical.
Éramos unha e carne desde a época da universidade. Depois que ela foi morar no Rio, passamos a nos comunicar basicamente por meios eletrônicos. Quando ela ia ao Recife, geralmente de férias, dávamos um jeito de nos ver, ainda que sob o olhar curioso e severo de Adolfo, que era desconfiado por natureza. Ludmila reprovava tal atitude. Onde já se viu um homem não permitir que duas grandes amigas se encontrem sozinhas? Ora, existem assuntos que quero tratar somente com você, Sílvia, mas preciso me controlar por causa de Adolfo. Não tenho intimidade com ele. Aliás, pra ser sincera, nunca simpatizei com ele. Por que tenho de suportar a presença dele quando quero aproveitar cada segundo com você?
Ela não se cansava de reclamar, mesmo sabendo que a natureza do meu marido era imutável. É como diz o ditado... Pelo santo se beija o altar
, completava, deixando claro que o tolerava somente por mim.
Minha amizade com Ludmila era tão intensa e verdadeira que deixava Adolfo enciumado. Tanto que no início do namoro ele chegou a me garantir que ela era apaixonada por mim. Eu achei a ideia absurda. Eu e Lulu éramos melhores amigas, irmãs de coração, torcíamos uma pela outra, mas Adolfo não conseguia entender esse tipo de relação. Sua cisma só diminuiu quando Ludmila casou.
Desde os tempos da universidade, eu a admirava muito. Ela não tinha medo do novo. Trilhara o futuro aproveitando as oportunidades que a vida lhe ofereceu. Era feliz, ao contrário de mim.
Eu estava cansada daquela rotina: acordar cedo, preparar o almoço e o café da manhã enquanto o marido se exercitava, pegar o carro,