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E-book170 páginas2 horas

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Sobre este e-book

Quantas vezes ouvimos o termo drogado na vida? Talvez tantas quanto o julgamento de que essas pessoas não tem mais jeito , seguido de termos pejorativos. É essa crença que o autor quebra ao longo deste livro-reportagem. Ao todo são 12 histórias reais de recuperação, de pessoas que enfrentam diariamente as dificuldades da adicção e dependência química. É difícil não se emocionar com o sucesso de Davi, Marisa, João e Carlos, que venceram todas as estatísticas para demonstrar que uma vez drogado, sempre drogado é uma grande mentira.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento22 de mar. de 2021
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    Continue Voltando - Lucas Jensen

    CONTINUE

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    HISTÓRIAS DE

    RECUPERAÇÃO

    LUCAS JENSEN

    HISTÓRIAS DE

    RECUPERAÇÃO

    LUCAS JENSEN

    CONTINUE VOLTANDO

    HISTÓRIAS DE RECUPERAÇÃO

    2021

    CONTINUE VOLTANDO: HISTÓRIAS DE RECUPERAÇÃO

    Autor

    Lucas Jensen

    Ilustrações

    Livia Nobre

    Revisão

    Valter Aguiar

    Diagramação

    Gil Marcel Cordeiro

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Jensen, Lucas

    Continue voltando [livro eletrônico] : histórias de recuperação / Lucas Jensen ; ilustração Livia Nobre. -- 1. ed. -- Curitiba, PR : Ed. do Autor, 2021.

    Epub

    ISBN 978-65-00-17484-7

    1. Drogas - Abuso 2. Experiência de vida 3.

    Histórias de vida 4. Reabilitação - Pacientes 5.

    Relatos pessoais I. Nobre, Livia. II. Título.

    21-56962

    CDD-920.72

    Índices para catálogo sistemático: 1. Relatos pessoais : Histórias de vida 920.72

    Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129

    À minha mãe.

    Por ser um instrumento do Poder Superior me guiando pelo caminho estreito todos os dias da minha vida.

    Pela teimosia taurina em nunca desistir, mesmo quando tudo parecia perdido. Pelo colo nos dias de tristeza e desespero. Por ter sempre acreditado.

    Eu te amo.

    "Eu seguro minha mão nas suas e uno meu

    coração aos seus, para que juntos possamos

    fazer tudo aquilo que sozinho eu não posso"

    — Oração adotada por irmandades de mútua ajuda como Narcóticos Anônimos

    SUMÁRIO

    Carta ao Leitor .......................................... 11

    Carlos ........................................................... 15

    João .............................................................. 25

    Alexandre ................................................... 39

    Davi ............................................................... 47

    Fabiana ....................................................... 67

    Marisa ........................................................... 83

    Maria ............................................................ 95

    Jorge ............................................................ 103

    Renata ......................................................... 113

    Rafael ........................................................... 125

    Verônica ...................................................... 135

    Luísa ............................................................. 145

    CONTINUE VOLTANDO

    CARTA

    AO LEITOR

    Este pedaço do livro é direcionado a você. É, você mesmo que abriu este volume despretensiosamente, como quem não quer nada, e está folheando o prefácio para saber do que se trata...

    Este não é um livro de autoajuda. Na verdade, este pode ser considerado um livro de mútua-ajuda. Sabe o que é isso? Eu também não sabia quando comecei a imaginar este conjunto de histórias. Há um ano, se você tivesse me perguntado se este projeto sairia do papel, eu não saberia dizer. Primeiro porque ele ainda não existia, na prática. Segundo porque eu sabia que seria um tema difícil de ser tratado, ainda mais com a profundidade que ele merece e com o pouco tempo disponível (sim, um ano é pouco).

    O embrião do Continue Voltando - Histórias de Recuperação nasceu em uma aula da universidade em que tínhamos que escolher um tema para um artigo que poderia servir como base para o pré-projeto do TCC.

    Quando me decidi por dependência química, eu automa-ticamente completei com vai ser um livro, e quando me instigaram ainda mais para eu explicar a proposta, saiu quase que sem querer um narrativas misturado com alguma coisa que não lembro agora. Bom, como eu não acredito em coincidências, só posso presumir que foi a escolha certa a ser feita.

    11

    LUCAS JENSEN

    Pode chamar de Deus, Poder Superior, energia, universo, acaso… Não importa! O mais importante é que acho que este livro não foi escolhido por mim, mas eu fui escolhido para e por ele.

    Ora, quem melhor do que as próprias pessoas que viveram os horrores da adicção na pele para contar sobre o processo de recuperação? Eu não poderia nem em meu sonho mais absurdo tentar começar a explicar sobre uma coisa que só compreende quem sente, quem passa, quem vive… Por isso, nada mais justo do que eu utilizar as ferramentas que a vida, a faculdade e meus professores me deram para colocar no papel essas histórias.

    Cá estão então 12 histórias de recuperação. 12 histórias de pessoas que continuaram voltando, dia após dia, no meio que encontraram de não só sobreviver à adicção, mas de viver uma vida digna e que valha a pena ser vi-vida. Por que 12, você pode me perguntar, mas a própria história da humanidade já utilizou o número por diversas vezes. Hoje são 12 os meses do ano, 12 horas no dia (e na noite), 12 signos do zodíaco e 12 apóstolos. O calendário maia era baseado no número 12. São 12 matrizes de cores primárias, secundárias e complementares. Enfim, o número 12 está presente na religião, na ciência, na história e na astrologia, ao longo da civilização humana… e está presente também nos 12 Passos de Narcóticos Anônimos.

    Um para cada história.

    Você pode achar bobagem. Você pode achar clichê, mas não pode negar o valor terapêutico da ajuda de um adicto a outro adicto por meio da identificação. Eu vi com os meus próprios olhos pessoas que eram consideradas escória da sociedade se tornarem membros produtivos dela. Mas ao mesmo tempo também compreendi que aceitação social não é recuperação.

    12

    CONTINUE VOLTANDO

    O que significa então, se recuperar? Como tratar algo que nem se sabe que se tem? Então, se você acha que pode ter problemas com drogas, se permita ler este livro. Se você teve indícios de que a sua vida possa estar descontrolada ou se você deseja parar mas não consegue, se dê uma chance de conhecer estas histórias. Se a sua família está sofrendo por um ente querido ou um amigo, continue a ler.

    Esta é a minha contribuição. Não só para os que usam drogas, mas para todos aqueles cujas vidas foram afetadas pela drogadição e todos aqueles que ainda acre-ditam na velha mentira que uma vez drogado, sempre drogado. Te desejo do fundo do coração que você perce-ba que, apesar deste ser um assunto sério, o caminhar é suave. Apesar deste livro tratar dos piores momentos da vida dessas pessoas, ele também mostra que é possível mudar, não importando o que tenha acontecido.

    Dentro dos grupos dizem que, quando se para de usar, você somente apaga a sua vela, mas ela permanece exatamente do mesmo tamanho. Voltar ao uso é reacender a mesma vela. Porém, nunca sabemos o quanto dela ainda temos para queimar.

    Boa leitura.

    Lucas Jensen

    13

    CONTINUE VOLTANDO

    CARLOS

    3 anos limpo

    A minha história de adicção começa desde que eu nasci. A minha mãe não tinha leite, então me deu para uma senhora que se ofereceu para me amamentar. Eu mamava e logo já estava chorando de novo. Vomitava tudo e voltava a mamar! Ali eu já mostrava que não tinha o controle da minha vida. Isso se perpetuou desde a fase da infância... Quando eu encontrava algum amigo ou pessoa que eu gostava, ele tinha que ser só meu, não podia ser de mais ninguém! Então, de certa forma, eu sufocava as pessoas. Ligava e ficava duas horas no telefone. Desligava. Cinco minutos depois eu ligava... e ficava mais duas horas! Isso afastava as pessoas de mim.

    Isso me levava cada vez mais àquele caminho da busca de aceitação. Eu queria ser aceito pela sociedade, queria ser aceito pelos meus amigos... queria ter amigos. Eu queria ser aquelas pessoas das propagandas de televisão... felizes. Eu não conseguia enxergar que eu era feliz. Eu não me sentia feliz.

    Então, com seis anos eu experimentei o álcool pela primeira vez. A minha família tinha o hábito de tomar um licorzinho após o almoço e, num descuido da minha mãe, eu peguei a tampa do licor e já comecei a mamar. Ali eu adorei! Adorei aquilo, era uma coisa maravilhosa! Tinha descoberto a lâmpada! Comecei a levar para o colégio as garrafinhas do meu pai. Colocava no Toddy, no suco de laranja das crianças, tomava o meu também... Até que um 15

    LUCAS JENSEN

    dia um dos meus coleguinhas passou mal. Quando minha mãe pegou, o pau torou em casa. Na época era possível bater nos filhos, né, então a cinta comeu na minha bunda valendo.

    Mas ali eu já descobri que eu gostava, né, que eu era diferente. Eu não era que nem as crianças normais que estavam lá brincando... Eu gostava é de ficar doidão!

    Eu sempre andei com a galera mais velha do bairro, então a gente comprava vinho escondido e tomava meia garrafa num dia, meia garrafa no outro dia. Até que passou a se tornar uma garrafa por dia, no final de semana...

    até um galão, um garrafão... Então a doença foi progre-dindo, como se diz. Progrediu de um golinho de vinho para um galão por dia no final de semana, num curto período de tempo. Salvo engano, de um ou dois anos, porque a memória já não é tão boa.

    Daí, o que aconteceu: com 12 anos eu estava no período da pré-adolescência e cheguei naquela turma que era descolada e perguntei: E aí, quem tem um baseado?. Quando ninguém respondeu, completei: Todo mundo bundão, ninguém tem as base!, querendo me passar como grande conhecedor da cannabis. ( Risos. ) Até que alguém me deu um baseado enorme e eu fumei ele inteiro. Fiquei só meio burro, com uma fome hercúlea.

    Comi dez pacotes de salgadinho na panificadora. Eu não gostei muito daquela primeira sensação...

    No início também veio a aceitação, então eu me envolvi com a primeira torcida organizada. Entrei como linha de frente, ou seja, quando tinha briga entre as torcidas, eu que estava na frente brigando, levando e dando porrada. Era o único momento que eu me sentia parte de algo. O pessoal batia nas minhas costas e dizia: Nossa, o Carlos não foge da raia, mal sabiam eles que eu só queria ser aceito. Eu ainda era de boa nesse período. Mas aí 16

    CONTINUE VOLTANDO

    eu conheci a Renata. ( Acende o cigarro.) A Renata foi uma pessoa que eu achei que era o amor da minha vida. Dez anos mais velha, foi com ela que eu tive as primeiras experiências sexuais, as primeiras experiências emocionais. Eu tinha 15 e ela 25. Quando eu conheci a família dela, pela primeira vez eu achei que tinha achado a família certa para mim. O pai dela usava drogas. A mãe dela usava drogas. O irmão dela usava drogas. Ela usava drogas... Então eu pensei: Meu Deus eles funcionam! E usam muita droga! Que maravilha!.

    O pai dela era químico e a mãe bióloga. Eles tinham uma plantação particular de cannabis e coca. O pai dela fazia o refino da cocaína e a gente usava... Eu comecei a usar cocaína mais constante nesse período com eles.

    Eu e a Renata tivemos um relacionamento de dois anos e, um dia, nós estávamos na praia sentados quando ela se virou e me deu um exame de gravidez dizendo:

    Você vai ser pai. Isso foi com 17 anos...

    Num primeiro momento eu pensei: Meu Deus, me lasquei!, mas no segundo momento eu falei: Nossa, nós vamos criar uma família perfeita que nem essa que eu tenho agora.

    Eu sempre fui a ovelha negra da minha família, sempre fui o diferente, sempre fui questionador, sempre o elemento que estava de fora. Enquanto minha irmã fazia tudo que a minha mãe queria, eu não fazia nada do que ela queria. Por isso eu era sempre o elemento negro da história... Eu queria fazer diferente.

    Porém, a vida me pregou uma peça. No dia que ela disse que estava grávida de mim... ( pausa), eu perdi ela.

    ( Longa pausa. ) Nisso começou o meu primeiro fundo de poço grande. Houve uma revolta muito grande com Deus nesse momento. Uma revolta por Deus ser injusto. Por Deus ser, com o perdão da palavra, um belo filho da puta.

    17

    LUCAS JENSEN

    Eu não conseguia ter fé ou crença que algo superior tivesse levado ela. Não queria acreditar que, no mesmo dia que ela me contou que estava carregando um filho meu, ela foi para o mar para nunca mais voltar. ( Longa pausa. )

    Eu era somente uma pessoa que tinha nascido para carregar pedras da vida. Que nem aquela história do cara que carrega pedras montanha acima, elas rolam para baixo e ele tem que subir de novo. Esse era eu nessa época. Eu comecei a me envolver nas maiores confusões: brigas de gangue, brigas de torcida organizada, se tivesse alguém que fosse apanhar de trinta eu entrava lá para defender a pessoa. Eu tinha a vontade insana de morrer porque eu não queria estar vivo. Eu tinha perdido a única coisa que tinha valor para mim: ela. Eu não conseguia enxergar que minha mãe me amava, que minha família me amava. Para mim, só ela me amava e eu tinha perdido o único foco de amor, a única pessoa que podia fazer a diferença. ( Silêncio. )

    Alguns anos se passaram. Eu entrei na faculdade de Direito e arranjei muita confusão. Levava cerveja e drogas lá para dentro e transformei o centro acadêmico num ponto nefasto de putaria e depravação. Me formei depois de aproximadamente sete anos e meio fazendo o curso.

    Eu não queria sair nunca mais da faculdade porque ali eu era o cara.

    Eu estava percebendo

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