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Os Caminhos Do Golpe De 64
Os Caminhos Do Golpe De 64
Os Caminhos Do Golpe De 64
E-book179 páginas1 hora

Os Caminhos Do Golpe De 64

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Sobre este e-book

“Para melhor esclarecimento de episódios como esses, é imprescindível o relato de memorialistas como Maildes Alves de Mello. Isso basta para qualificar Os caminhos do Golpe de 64 como um livro de suma importância, não só para a historiografia brasileira, mas também para todos os que se interessam pelos destinos do nosso país, uma vez que conhecer o passado é imperioso para se entender o presente e projetar engajadamente o futuro. (...)” Igor Moreira - Geógrafo, Professor Universitário, Escritor, Cel. PM RR e Advogado
IdiomaPortuguês
Data de lançamento19 de nov. de 2019
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    Os Caminhos Do Golpe De 64 - Maildes Alves De Mello

    PREFÁCIO

    Este livro do Maildes Alves de Mello aborda acontecimentos da história do Brasil, desde os anos 1930 até a recente eleição do Presidente Jair Bolsonaro, sempre sob a ótica do embate entre direita e esquerda, segundo conceituações do autor. Versa, pois, sobre uma fração de tempo na qual períodos de relativa estabilidade foram intercalados por momentos de ruptura.

    Assim, o livro traz inicialmente um relato do tumultuado tempo que antecedeu a 2ª Guerra Mundial, marcado ideolo-gicamente pelo conflito comunismo x nazifacismo, afetando as trajetórias democráticas no mundo ocidental. O autor mostra a ambiguidade do Presidente Getúlio Vargas como sendo uma habilidade política para manter-se no poder, guardando certa equidistância das forças em disputa, não obstante as pressões inerentes ao conflito mundial que envolvia, em desafio à democracia e a serem derrotados, tanto o comunismo soviético quanto o nazifacismo.

    No pós-Guerra, do final dos anos 1940 até meados dos anos 1970, o mundo ocidental vivenciou o que Erick Hobsbaum chamou de a Era de Ouro. O que isso significou e por quê?

    Os sacrifícios impostos pela Grande Guerra significaram perdas econômicas generalizadas nos países europeus, tanto no segmento empresarial quanto na classe trabalhadora: para as empresas, implicaram retração do ciclo de reprodução ampliada do capital; para os assalariados, constituíram forte redução do emprego e da renda, interrompendo o processo de ganhos crescentes, obtidos graças a sucessivas reivindicações e conquis-tas do movimento operário.

    Finda a conflagração mundial, urgia a retomada do crescimento econômico e dos benefícios sociais interrompidos pela guerra. Cabe lembrar que, em qualquer sistema, o desempenho socioeconômico se dá em função da relação dialética entre poupança/investimento x consumo, de maneira que o aumento de um ocorre quase necessariamente em detrimento do outro. Se a sociedade prioriza a poupança (não­ consumo) e o investimento, isso significa um apertar de cintos no consumo, ensejando o crescimento da economia. Por outro lado, a expansão do consumo, em prejuízo do investimento, por um certo tempo, levará infalivelmente a uma crise, já que chegará o momento em que faltarão recursos (bens e serviços) para satisfazer a demanda/consumo. Instalada a crise, obviamente o consumo se retrai, permitindo taxas de poupança que alimentarão um crescente investimento, ativando o ciclo de reprodução ampliada do capital e a almejada prosperidade. Com periodicidade variável, essa dinâmica funcionou para as sociedades ao longo da história, até o advento do capitalismo financeiro/especulativo, que consagrou o descolamento entre o plano da produção e o plano da atribuição da riqueza.

    Na Europa do pós-Guerra, então, como conciliar os interesses contraditórios do capital e do trabalho, mesmo que o primeiro recebesse formidáveis recursos norte­-americanos, via Plano Marshall? Como o capital produtivo sacaria alguma mais-valia em seus países de origem, por mínima que fosse, em momento em que a classe trabalhadora pleiteava melhores salários e mais benefícios sociais? Enfim, como as empresas poderiam pagar maiores salários e tributos e, ao mesmo tempo, ter recursos para incrementar altas taxas de investimento?

    A solução conciliatória foi a internacionalização do capital produtivo. Os bens industrializados, que até então eram produzidos nos países rotulados como do Primeiro Mundo (Europa Ocidental, América Anglo-Saxônica, Japão) e exportados para as nações do Terceiro Mundo, passaram a ser fabricados em países na época chamados de subdesenvolvidos, muito especialmente naqueles onde havia um segmento moderno e uma elite historicamente vinculada ao exterior, acostumada a consumir bens, serviços e valores culturais estrangeiros, como é o caso do Brasil.

    Ao ser internacionalizado e estabelecido em países com mão de obra barata, o capital produtivo pôde então manter altas taxas de acumulação, mediante vultosas remessas de lucros das filiais no ultramar para as matrizes nas metrópoles. Ao mesmo tempo, graças a mais-valia sacada no exterior, pôde ensejar, direta e indiretamente, crescentes benefícios para a população europeia. Assim floresceu a sociedade do bem­-estar, caracterizando a denominada Era de Ouro nos países ricos.

    Por outro lado, a instalação de empresas multinacionais em Países do Sul, como em toda a América Latina, provocou inú-meras consequências: industrialização, crescimento demográfico pela queda da mortalidade infantil, êxodo rural, urbanização, modernização, ...reordenação de forças políticas. Nesse quadro de alguma melhora da escolaridade, de despertar da consciência política, do desenvolvimento do sindicalismo, de irrupção do nacionalismo, de partidos e movimentos populares, como garantir os termos muito desiguais nas trocas internacionais? Como frear as ações reivindicatórias da população?

    A resposta foi endurecer o regime político nos países dependentes, com o cerceamento das liberdades e a imposição do autoritarismo. Daí a implantação de ditaduras na América Latina, estimuladas, patrocinadas e não raro promovidas, direta ou indiretamente, pelos Estados Unidos, ascendido a superpotência, defensora da liberdade, da democracia e do capitalismo no Ocidente, diante da ameaça comunista representada pela outra superpotência do mundo bipolar de então. Paralelamente à espoliação internacional, expressão popularizada por Leonel Brizola, as ditaduras latino-americanas favoreceram uma forte concentração da renda, de maneira que as elites nacionais reforçaram sua histórica aliança aos interesses estrangeiros.

    A multinacionalização do capital permitiu distribuição de renda, bem-estar social e consolidação da democracia nos Países do Norte, particularmente na Europa Ocidental, ao mesmo tempo em que, nos Países do Sul, oportunizou concentração de renda, aumento da pobreza para grandes parcelas da população e regimes políticos ditatoriais.

    No Brasil do pós-Guerra, basicamente a partir de implementações do Governo de Getúlio Vargas, estruturou-se o trabalhismo, movimento progressista que, em certa medida, foi a versão nacional da social democracia europeia – arcabouço teórico do estado do bem-estar social. Com a proposta de expressar e defender os interesses dos trabalhadores em um país que se industrializava, o trabalhismo instrumentalizou-se através do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), ao qual Maildes de Mello declara sua denotada vinculação. Isso ajuda a explicar a consideração que o autor faz da esquerda como sendo o conjunto de forças progressistas, nacionalistas e populares, em geral congregadas no antigo PTB, e que, mais tarde, guardadas as diferenças compatíveis com um novo momento histórico, nos anos 1990 e 2000, vão ter no Partido dos Trabalhadores a sua continuação, devidamente contemporaneizada.

    De outra parte, o autor classifica como direita as forças, nacionais e internacionais, que se opunham e derrubaram Getúlio Vargas, que depuseram João Goulart e que golpearam Dilma Roussef.

    Maildes enfatiza que o seu louvável trabalho intelectual é o de um memorialista. Assim, Os caminhos do Golpe de 64 é um livro de memórias, escrito por quem vivenciou, com ótica declarada e sempre com algum protagonismo, os acontecimentos políticos ocorridos ao longo de mais de meio século, que culminaram no resultado das eleições de 2018.

    Há muitos fatos históricos que ainda carecem de algum detalhamento, sobretudo de bastidores, como, por exemplo, a renúncia de João Goulart em 1964, a escolha de Costa e Silva para Presidente da República, em 1967, a derrubada de Dilma Roussef, em 2016. Para melhor esclarecimento de episódios como esses, é imprescindível o relato de memorialistas como Maildes Alves de Mello. Isso basta para qualificar Os caminhos do Golpe de 64 como um livro de suma importância, não só para a historiografia brasileira, mas também para todos os que se interessam pelos destinos do nosso país, uma vez que conhecer o passado é imperioso para se entender o presente e projetar engajadamente o futuro.

    Igor Moreira

    Geógrafo, Professor Universitário, Escritor, Cel. PM RR e Advogado

    NOTA DO AUTOR

    A convite da ABMJ (Associação Brasileira de Mulheres de Carreira Jurídica) e da AJEB (Associação de Jornalistas e Escritores Brasileiros), estive em encontro das entidades para expor sobre a segunda edição do "Jantar dos Inocentes A saga dos expurgados gaúchos", obra em que faço um retrospecto político desde 1930, indo ao Golpe Militar de 64, voltando ao Cone Sul e Projeto Condor e, retornando ao Brasil, na fase revolucionária. Agora, nesta edição, estendo o assunto, reportando-me a todos os governos ditatoriais e aos eleitos com a abertura democrática de 1978, desde Tancredo Neves, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer e sobre a polarizada eleição Presidencial de 2018.

    Aquela palestra foi levada a efeito à margem de conotação ideológica ou partidária, apenas, assim, sobre o lume da fria história. Mas, agora resolvi, ainda cativo dos registros do tempo, ser mais objetivo no ângulo político com apreciações pessoais. Diziam, na minha infância, quem guarda o que não presta, um dia lhe é útil. Pois tomei o rascunho do que acima falo por alguns anos, e me foi útil recompor o assunto agora atualizado.

    É certo que alguns leitores acharão muito simplificado, mas não é por acaso, pois assim foi planificado. O aprofundamento no relato dos fatos demandaria o resultado de um verdadeiro tratado, o que exigiria inclusive vários tomos. Mas me justifico: acho que a isso devem os historiadores, embora pudesse tentá-lo.

    Acontece que, como escritor (assim alguns me tratam), pertenço à classe dos memorialistas, aqueles que foram testemunhas do acontecido e até, em casos como o meu, de protagonistas. E gravam o fato. Assim nós somos os donos da História, já que os historiadores reproduzem o que nós contamos. Por exemplo: ainda hoje mesmo que não seja o meu exemplo, historiadores escrevem sobre as Guerras Púnicas. Qual deles foi testemunha do que escrevem? Escrevem o que os memorialistas de lá escreveram como testemunhas.

    Bom, faço uma síntese proposital do caminho da Direita para tomar o poder, assim como, por vezes, também a Esquerda. E isto, assim pensei, poderá servir para as pessoas mais novas que não assistiram o que eu assisti e, em alguns casos, como protagonista.

    En passant, os jovens, em especial, podem ter uma espelhação de todo o tempo abordado e, caso se interesse poderão recorrer a um ponto ou outro indo às fontes. Diga-se, não menosprezo historiador algum, mas não tenho notícia de uma síntese igual tenha sido posto ao lume. De minha parte, trago algo não tão abordante, sem ignorar o Brasil e o Cone Sul, ficando mais no Rio Grande do Sul, sobre a chamada revolução de 64, em livros de 1ª e 2ª edição.

    O leitor desde logo vai constatar que não abordo as insurgências estaduais ou regionais, por dois motivos. Primeiro porque elas, por exemplo, como aqui no RS, as de 1835 (Farrapos), 1893, 1923 e em outros estados

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