Ordem E Despejo
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Pré-visualização do livro
Ordem E Despejo - Euclides S. Januário
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Editor e diagramador
EUCLIDES S. JANUARIO
Coordenação editorial
ALEXANDRE MEDEIROS
Revisão
PLÁCIDO RONALDO
Capa
HELITON FILGUEIRA
Supervisão
ANASTÁCIA DE MELO MARQUES
Edição S. Januario
REPRODUÇÃO PROIBIDA
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Sumário
O VERBO SERVIR ............................................................................................. 7
SERVIR COMO? ................................................................................................. 9
COMO SERVIR................................................................................................. 17
A QUEM SERVIR ............................................................................................. 23
QUANDO SERVIR ........................................................................................... 39
PORQUE SERVIR............................................................................................. 53
PARA QUE SERVIR ......................................................................................... 67
ONDE SERVIR ................................................................................................. 87
O QUE SERVIR .............................................................................................. 103
COM QUEM SERVIR ..................................................................................... 125
A ARTE DE SERVIR ...................................................................................... 141
[SILOGISMO] ................................................................................................. 149
ANEXOS ......................................................................................................... 151
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Título: ORDEM E DESPEJO
Personalidades: EUCLIDES SAMPAIO JANUÁRIO - Autor(a) Registro na FBN: 167481, em 01/02/1999
Gênero: Romance sociológico
Obra Publicada: Não
Tipo de Apresentação: Impressa/Computador, Formato quadrado: 16,2 x 22,9 cm, 158 págs.
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Como psicólogo procurei dar acolhida às crianças, assistindo-as nos diversos locais de Repartições Públicas, por onde passei. Diversos eram os serviços, como heterogênea foi a clientela, e eclética a minha atuação. Algumas crianças necessitavam de orientação pedagógica e profissional, outras de ação jurídica, muitas de assistência social, quase todas de apoio psicológico e nenhuma prescindia de afeto. Como técnico da área de ciências humanas, procurei ser versátil no uso de todo conhecimento que pude adquirir nos estudos (estático), na convivência com os menores (dinâmico) e na sociedade (retrógrado).
Há duas premissas, nesse silogismo, que devemos considerar. O que seria mais correto:
'servir por meio da justiça' (lei humana), ou
'fazer justiça por meio do servir' (lei divina)?
Vista frontal do Terminal Rodoviário do Recife, onde se vê acessos ao piso térreo e ao primeiro andar com serviços de alimentação; o segundo andar, com área de laser e a escolinha dos meninos de rua w no topo o andar administrativo e sobre todos, a caixa d’água.
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Este livro é dedicado ao menino Jesus,
criança carente perseguida pelo governo,
sem a ajuda de quem não teria sido escrito.
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O VERBO SERVIR
São tão marcantes estas cenas, que as lembranças me perseguem; e, motivo sui-generis, por si só justificam minha preocupação em fazer tais revelações
.
Ouvindo esta reflexão, resolvi conhecer amiúde sua ‘história de desventuras’, tal como ele costuma dizer, e colocando-me no seu lugar, faço minhas estas palavras:
"Como psicólogo procurei dar acolhida às crianças, assistindo-as nos diversos locais de Repartições Públicas, por onde passei.
Diversos eram os serviços, como heterogênea foi a clientela, e eclética a minha atuação. Algumas crianças necessitavam de orientação pedagógica e profissional, outras de ação jurídica, muitas de assistência social, quase todas de apoio psicológico e nenhuma prescindia de afeto. Como técnico da área de ciências humanas, procurei ser versátil no uso de todo conhecimento que pude adquirir nos estudos (estático), na convivência com os menores (dinâmico) e na sociedade (retrógrado)."
A presente história refere ao tempo vivido por esse funcionário na Rodoviária do Recife, onde com iniciativa própria decidiu (proposta feita pelos órgãos interessados) desempenhar suas funções com as crianças ali presentes. Encontrava-se bastante frustrado pelas limitações que o Serviço Público amealhava ao seu desempenho; as crianças tinham o mesmo sentimento relativamente aos familiares: a Rodoviária então lhes oferecia (a todos que fugiam da realidade cruel...) um refúgio!
Em sua grande maioria, essas crianças temiam a convivência com as do centro da cidade, uma vez que eram oriundas dos interiores e não tinham experiências de rua. - Apesar de estarem fora de suas casas, elas não prescindiam de um teto, ao tempo em que as instalações do Terminal Rodoviário ofereciam áreas ociosas - Isso facilitava a labuta na assistência psicológica e
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escolar, pois minimizava a abstenção dos alunos, entrementes gerava insatisfação noutras categorias ali presentes, tais como comerciantes e passageiros que se inquietavam com a simples presença dos meninos abandonados.
A moderação dos conflitos era, muitas vezes, a tônica da abordagem psicológica. Mas, apesar desse confronto de interesses, tudo seguia um curso natural, como um rio caudaloso, todos em nado sincronizado, até que o governo do Estado resolveu intervir, orquestrando ele mesmo a música...
Minha inspiração para narrar essa lauda está nas palavras de Jesus, citadas por todos os evangelistas: ‘Quem acolhe (em meu nome) uma dessas crianças, a mim acolhe... pois é preciso ser como elas para entrar no Reino dos céus.1
A questão que se coloca na leitura deste livro é a proposta pelo verbo servir. Em nossas vidas estamos sempre a serviço de algo ou de alguém: o soldado serve à justiça (humana), o funcionário público serve ao povo (que a ele se submete), o comerciante serve aos fregueses (que o procuram), o profissional liberal serve a seus clientes... e quem governa (deveria servir) a todos esses. Quando servimos, sempre o fazemos pensando no bem-estar do outro; porém, quando não o fazemos pela nossa benevolência, mas pensando no beneplácito da justiça, a quem estamos servindo?
Há, portanto, duas premissas, nesse silogismo, que havemos de considerar. O que seria mais correto: 'servir por meio da justiça' (lei humana), ou 'fazer justiça por meio do servir' (lei divina)?
Boa leitura e feliz conclusão!
1 Referência bíblica em Mt 19:14, Mc 10:14, Lc 18:16
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SERVIR COMO?
Quando desembarquei no Terminal Rodoviário a minha expectativa sobre o remanescente do comércio que havia abandonado um ano atrás era incomensurável. Observei a iluminação natalina e presumi a realização de trabalhos humanitários, algo inusitado no meu tempo... e senti saudades por não mais ter chance de participar.
Numa incursão ao prédio, vi o quanto havia mudado seu aspecto físico, menos pela diversidade do que pela qualidade.
Pois, o espaço outrora usado por ambulantes, com rústicas instalações, estava sendo ocupado com boxes de vendas de passagens. E pude comentar para alguém:
– Vejo que o Departamento não conseguiu a realização do seu intento, pois estes boxes não fazem parte da estrutura original...
– Ah, a bem da verdade, isto é provisório.
– Essas construções parecem bem edificadas para serem provisórias...
– O governo queria privatizar o serviço rodoviário, mas não conseguiu concretizar seu intento e permitiu que isso fosse feito pelas empresas de ônibus. Espero que eles realizem um serviço harmonioso.
– Sei não. Parece um reflexo de sua injustiça...
Descendo ao piso térreo, encontrei a loja que me pertencera, fechada, com aspecto de total abandono. Olhando através dos vidros, verifiquei que não havia nenhuma correspondência jogada no seu interior e fui procurar entre os colegas: funcionários, comerciários e comerciantes.
Grande foi a surpresa de todos com a minha presença, que logo se transformava em alegria. O momento era de confraternização natalina; lembrei que há quase um ano vivera
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uma situação semelhante na minha despedida - e todos queriam saber se estava retornando. Alegando a tranquilidade da vida no interior, neguei-o, e esclareci que vim rever os amigos e coletar a correspondência acumulada durante esse período de ausência.
Com este propósito, fui à agência dos Correios e ao guarda-volumes, depois à administração e à recepção, sem nenhuma definição. Finalmente cheguei à superintendência, que se estabelecera no local, onde o chefe, chamado Saqueu, informou que o material dos correios estava com a Associação dos Comerciantes e era distribuída por Tadey, o secretário.
Dirigi-me, então, à loja desse tal, o Café Express, e o encontrei atarefado no caixa. Após os cumprimentos de praxe, solicitei meus papéis e fiquei sabendo que não tinha nada para mim, pois tudo havia sido destruído.
– Era uma pilha enorme que guardei até recentemente à sua espera.
– Não posso acreditar que o amigo tenha permitido essa desfeita...
– Não apenas o permiti como ajudei a queimar... pois você abandonou a loja e ninguém sabia seu paradeiro.
– Como não sabia? Eu disse a todos os colegas que iria para o interior. Inclusive o vice-presidente da Associação recentemente telefonou para mim.
– Pois foi ele mesmo que me autorizou queimar. Vá tomar satisfação com ele.
– De modo algum, porque você é quem está com a correspondência, sendo o responsável. Exijo que você responda por minhas cartas, pois é sua obrigação... e direito nenhum tem sobre elas.
Eu tinha esperança que alguma coisa pudesse ter sido preservada, considerando a correspondência pessoal. Pois em toda reciclagem há uma seleção.
– Aquilo não passava de papéis sem valor.
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– Para mim tinham muito valor, pois havia cartas pessoais. Se você não queria guardar consigo, podia entregá-las a outro.
– Ora, rapaz, não me aborreça, pois tenho mais o que fazer.
– Agora só uma coisa tem importância, e você vai responder por isso, que é a sua responsabilidade.
– Como ousa chegar aqui em minha loja me chamando de irresponsável? - Falou-me estranhamente irado, e gritou com histeria: - Vá embora pro seu interior!
– Não sem levar o que me pertence. - Procurei manter a calma, provocadoramente.
– Ah! Você vai sim, e agora! - Gritou enquanto batia no balcão com as mãos.
Tadey contornou o balcão e partiu para o embate corporal, ao mesmo tempo em que soltava sua verborragia. Surpreso, passei à defensiva esquivando-me de bofetões e pontapés, enquanto seguia rumo ao guichê policial. O garçom investiu por detrás e, sentindo sua presença, apliquei uma torção de braços, jogando-o no chão. Então, falei aos policiais:
– Vejam que estes sujeitos estão tentando me agredir. - E
diante de suas indecisões, acrescentei: - Vocês vão interferir ou devo brigar com eles?
Com tudo isso os policiais não aluíam de seus lugares, e ficaram olhando para os lados a procura de instruções, enquanto Tadey se afastava contente com seu feito. Descontente com a falta de ação militar, eu fui ao encontro dos agressores na lanchonete, quando os policiais passaram a frente, impedindo minha progressão.
Conduziram-me à superintendência local, onde Saqueu esperava com a acusação de que eu estava promovendo a desordem junto aos comerciantes, ao exigir coisas que não tinha direito. Surpreso com essa opinião, tentei esclarecer a razão de minha revolta, argumentando tratar-se de uma questão de cunho pessoal, e pedi que convocasse Tadey, na condição de
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agressor.
Quão grande não foi minha decepção por observar que ao invés de o interrogar, para conhecer também sua versão, Saqueu passou a justificá-lo, dando-lhe razões pelos seus atos de vândalo. Envaidecido, Tadey retirou-se com as desculpas desse funcionário, e inconformado, eu tentei acompanhá-lo, mas fui impedido mais uma vez pelos policiais.
– Que significa isso? Eu sou detido enquanto esse delinquente é solto? - Indaguei Saqueu, com indignação.
– Não queremos mais confusão aqui. - Foi o que me respondeu.
– Você não entendeu ainda que este sujeito que saiu agora é quem está fazendo confusão? Já não lhe disse como fui detratado por ele? Ou será que você o está protegendo?
– Opa! ninguém pode dizer que não ajo com isenção...
– Pois então, traga-o aqui e o faça esclarecer o caso da correspondência que destruiu.
– A sua loja estava fechada e não podíamos mais guardar aqueles papéis...
– Ah! Não? Você disse: não podíamos? Então você pensa igual a ele e vejo que não tem condições de julgar o nosso caso.
Vou denunciá-lo à polícia, na delegacia.
– Você poderá se dar mal...
– Sem chance, pois estou aqui como vítima. Será que você vai defendê-lo até no tribunal? Não me faça pensar que administra esta rodoviária em conluio com os comerciantes.
– Agora sim! Você vai à delegacia, mas é para provar sobre