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Filhos De Elanor
Filhos De Elanor
Filhos De Elanor
E-book321 páginas4 horas

Filhos De Elanor

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Sobre este e-book

Sigifrid é um guerreiro, membro de uma força especial chamada de Cavaleiros Negros. É também o herdeiro do trono de uma dinastia milenar. Seu antepassado mais famoso é Elanor, o Intrépido, um legítimo conquistador e gerador de filhos. Depois de conquistar o gelado norte, Elanor divide as terras entre seus quinze filhos, cada um dando origem a uma nova família. Mais de mil anos se passam e Sigifrid sai em uma missão e depois de uma ordem equivocada que termina em tragédia, começa a questionar suas habilidades para liderar. A partir daí, viaja pelo mundo em busca de respostas e descobre a necessidade de explorar a história de seu próprio povo.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento15 de mar. de 2023
Filhos De Elanor

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    Filhos De Elanor - Daniel Ruiz

    Capítulo 1 – O Leão e a Lua

    Os corvos se refastelavam quando os cavaleiros chegaram. Por todo o campo havia cadáveres e um grupo de corvos em cada um deles. Tudo aconteceu no dia anterior, enquanto aqueles camponeses faziam a colheita. O sol já estava alto no céu, dois corvos brigavam por um olho. O cavaleiro se aproximou e desceu do cavalo. Usava uma armadura negra e brilhante e uma espada afiada na cintura. Era Sigifrid, capitão dos Cavaleiros Negros, também príncipe de Eriabyr, primeiro na linha de sucessão. Observou os corpos no chão e se aproximou, causando uma revoada dos corvos que desceram ao solo mais a frente e protestaram. Sigifrid ignorou os protestos e se abaixou. Observou os corpos mais próximos, dois homens e uma mulher, todos com ferimentos mortais por espada.

    — Eles não tiveram chances — disse Sigifrid.

    — Acho que já sabemos quem foram — disse Ari, segundo em comando, também príncipe e segundo na linha de sucessão. Ele estava abaixado junto a um corpo e levantou um tecido de estandarte quando Sigifrid o olhou.

    — Moon — disse Sigifrid reconhecendo o tecido como do estandarte dos Moon, tecido roxo com uma lua minguante em dourado.

    — Temos visitas — disse Chuk, indicando com a cabeça um grupo de cavaleiros que se aproximava.

    Os cavaleiros que se aproximavam carregavam um estandarte vermelho com um leão rampante em amarelo dos Amaro.  Aproximavam-se rápido.

    — Gunni, vai rever rostos familiares — gritou Sigifrid. Gunni era um Cavaleiro Negro também e viera da casa dos Amaro. Ele se adiantou na espera daqueles que representavam sua antiga casa.

    Os cavaleiros dos Amaro eram liderados por seu capitão, chamado Baldwin. Ao se aproximar reconheceu Gunni já sem o elmo.

    — Salve Gunni Amaro — disse Baldwin.

    — Salve Capitão Baldwin — devolveu Gunni.

    O capitão dos Amaro desceu do cavalo e foi até Gunni, dando-lhe um apertado abraço.

    — Como está, menino? — perguntou Baldwin.

    — Estou bem — respondeu Gunni. — E como está o velho Amaro?

    — Heidrich Amaro está fortão como sempre — respondeu Baldwin. — E você deve ser? — perguntou olhando para Sigifrid.

    — Este é Sigifrid, o capitão dos Cavaleiros Negros. — respondeu Gunni. 

    — Sigifrid, o príncipe? — perguntou Baldwin. — Tem muitos títulos, senhor.

    — Aqui sou apenas o capitão dos Cavaleiros Negros — respondeu Sigifrid. — E Cavaleiros Negros não podem ser príncipes.

    — E você? — perguntou Baldwin para Chuk que também havia tirado o elmo, revelando a cor escura da sua pele. — Você é o estrangeiro.

    — Obafemi Chukwumereije ao seu serviço, também conhecido como Chuk, por motivos óbvios — respondeu.

    — Eu nunca tinha visto um... — ficou pensando em uma palavra que pudesse usar.

    — Um negro? — Chuk foi direto.

    — Sim, eu não seria tão direto, mas é isso, eu nunca vi um homem negro antes, nem imaginava que existiam — defendeu-se Baldwin.

    — De onde eu vim tem muitos, lá todos somos assim — disse Chuk.

    — Muitos não gostam da cor da pele dele, mas quando começa a batalha você o quer do seu lado. — disse Sigifrid. — Chuk é um guerreiro extremamente hábil e por isto eu o trouxe para ser um Cavaleiro Negro.

    — Não tenho dúvidas quanto a isso, os relatos que vem da capital fazem jus ao que o capitão diz — disse Baldwin.

    — Acho que viemos até aqui para discutir outras coisas — disse Ari se aproximando.

    — E você é? — perguntou Baldwin.

    — Sou Ari — respondeu.

    — O outro príncipe — comentou Baldwin. Antes que fosse corrigido defendeu-se. — Já sei, aqui você é só um Cavaleiro Negro.

    — Isso mesmo — disse Ari.

    — Ao que interessa, então? — cobrou Sigifrid.

    — Estes homens eram camponeses fazendo a colheita e foram atacados — começou Baldwin.

    — Pelos homens dos Moon? — perguntou Ari.

    — Sim — respondeu Baldwin. — Existe uma rivalidade milenar entre Amaros e Moons.

    — Conhecemos a história — disse Sigifrid.

    — Eles sempre se comportaram, mas depois que Liam Moon assumiu o trono, hora e outra cruzam as fronteiras, apesar de nunca terem atacado antes — disse Baldwin.

    — Apesar dessa suposta rivalidade, afinal, somos vizinhos, sempre negociamos com eles e até ajudamos em alguns casos — disse Gunni.

    — Parece que essa época acabou — disse Baldwin. — Seu pai não está disposto a negociar novamente com eles.

    — Não sem uma retratação — completou Gunni.

    — Liam Moon se retratar? — perguntou Baldwin. — Ele é orgulhoso demais.

    — A quem pertencem estas terras? — perguntou Sigifrid.

    — Pertencem a Nebojsa Heijman, protegido dos Amaro — respondeu Baldwin.

    — Estas pessoas são dos Heijman? — perguntou Ari.

    — São camponeses que trabalhavam para os Heijman.

    — Quantos homens trouxe? — perguntou Sigifrid.

    — Trezentos — respondeu.

    — Só trezentos?

    — Na certa ele espera ser o próximo alvo — disse Gunni.

    — Foi isso mesmo o que ele disse, acredita que seja o próximo alvo dos Moon.

    — Esse é meu pai — disse Gunni.

    — O que os Moon levaram daqui? — perguntou Sigifrid.

    — Três carroças cheias com a colheita dos Heijman — respondeu Baldwin.

    — Foi o primeiro ataque?  — perguntou Gunni, pressentindo que tinha algo mais.

    — Não, este foi o terceiro. — respondeu Baldwin.

    — Terceiro? — perguntou Sigifrid. — Não falou nada sobre isso antes.

    — Não falei? — começou Baldwin. — E precisa? Morreram pessoas aqui.

    — E nos outros ataques?

    — Eles atacaram com a infantaria, quando os camponeses viram soldados com o estandarte dos Moon se aproximando, fugiram — disse Baldwin. — Mas levaram parte da colheita.

    — Vamos marchar até os Moon — disse Sigifrid.

    — Quantos homens trouxe, senhor? — perguntou Baldwin.

    — Trinta Cavaleiros Negros e mil cavaleiros. — respondeu Sigifrid. — Isso deve bastar.

    — Infantaria?

    — Precisávamos de velocidade, portanto não trouxemos infantaria. — disse Sigifrid. — A partir de agora você se reporta a mim.

    — Tudo bem, senhor.

    — Algum problema, Baldwin?

    — Nenhum, senhor — respondeu.

    — Aos seus cavalos e entrar em formação — gritou Ari.

    Sigifrid ergueu o braço sinalizando para esperarem.

    — Estas pessoas merecem um enterro digno, deixe dez homens para trás para enterrá-los — ordenou Sigifrid para Baldwin. — Eles devem nos alcançar depois.

    — Sim, senhor.

    Os cavaleiros já estavam todos montados. Baldwin separou dez deles e repassou a ordem. Sigifrid sinalizou para que avançassem e partiram. Era uma longa viagem até o castelo dos Moon.  Os homens que ficaram improvisaram pás e cavaram doze covas, uma para cada camponês morto. Uma vez os corpos depositados em cada cova, cobriram com terra e empilharam pedras na cabeceira de cada cova, simbolizando que ali naquele local havia um cadáver. Depois disso, partiram atrás dos demais que já estavam bem avançados.

    O grupo que ia à frente cavalgava devagar, como se quisessem ser alcançados pelos dez cavaleiros que ficaram para trás. O verdadeiro motivo era que os que vieram da capital estavam cansados, pois cavalgaram a manhã toda para chegar ali. Os Cavaleiros Negros iam a frente em formação três por dez, seguidos pelos cavaleiros de Amaro, também em formação, em quatro colunas. Atrás vinham os cavaleiros da capital, do exército do rei, também em formação de quatro colunas. Baldwin saiu da formação e foi se alinhar com Sigifrid.

    — Como estão as coisas na capital? — perguntou Baldwin, quebrando o silêncio.

    Sigifrid olhou para Baldwin e sabia que aquilo não era exatamente o que ele queria saber.

    — Estão bem — respondeu. — Os problemas são sempre os mesmos, você sabe.

    Baldwin riu.

    — Entendo — disse.

    — Acredito não veio lá de trás para saber como anda a capital — comentou Sigifrid.

    — Muito perspicaz, capitão. — observou Baldwin. — Muito perspicaz.

    Sigifrid riu. Ari e Chuk também. Por fim, Baldwin acabou rindo.

    — Vocês têm ideia do que vão encontrar? — perguntou Baldwin.

    — Você diz da fortaleza na montanha? — devolveu Sigifrid.

    — Fortaleza na montanha? — perguntou Chuk.

    — Isso mesmo, os Moon têm uma fortaleza na montanha — respondeu Sigifrid.

    — E ninguém da capital foi até lá desde que eles se declararam independentes — disse Ari.

    — E os Amaro? — perguntou Sigifrid. — Vocês comercializavam com eles, alguém de vocês foi até lá?

    — Sim, mas eu não fui um deles — respondeu Baldwin. — Dizem que é uma fortaleza inexpugnável.

    — Já ouvi isso antes — disse Ari.

    Na precária estrada rumo ao território dos Moon, a prova de que não era muito usada se dava através do mato que crescia na parte central. Naquele trajeto, apenas carroças passavam por ali e os sulcos na estrada mostravam isso. Cavalgaram em silêncio até que encontraram uma carroça abandonada na beira da estrada.

    — Uma carroça, vejam — avistou Baldwin.

    Aproximaram-se mais e puderam ver com clareza que uma das rodas estava quebrada, justificando seu abandono. Além de abandonada, a carroça estava vazia. Pararam próximos a carroça.

    — Esta deve ser uma das carroças dos Heijman — disse Baldwin.

    — Devemos seguir viagem — Sigifrid ignorou o comentário de Baldwin.

    Sem abrirem a boca eles se puseram novamente em movimento rumo a fortaleza dos Moon. No final da tarde, já contavam horas de cavalgada, finalmente avistaram a montanha e a fortaleza dos Moon.

    — Estamos chegando — disse Sigifrid.

    Tudo que Sigifrid queria ver naquela noite eram os belos e delicados pezinhos de Julie para cima. Julie Ayod era filha do taverneiro, dono da taverna chamada de O Urso. E lá estava ele, Sigifrid, no segundo piso da taverna, local onde passavam o final de tarde e começo de noite quase todos os dias. Julie era a amante de Sigifrid, provavelmente com o sonho de um dia ser considerada a princesa e vir a ser a rainha de Eriabyr. O pai dela não desaprovava o relacionamento deles, principalmente se um dia a filha entrasse para a realeza. Mas saber que o príncipe andava pela cama da filha podia afastar qualquer possível pretendente, ainda mais sabendo que o príncipe era também o capitão dos Cavaleiros Negros, os soldados de elite de Eriabyr. E Hrotgar Ayod, também Cavaleiro Negro, era o irmão mais velho de Julie, não parecia se importar em ter o seu capitão na cama da irmã, na verdade ele nem ligava, sabia que nem por isso Sigifrid facilitaria a vida dele.

    Ela amava Sigifrid e ele sabia disso e tirava proveito da situação. Perceval, o rei e pai de Sigifrid não aprovava a relação do seu sucessor com a filha de um taverneiro. Ari se acostumava com a ideia de Julie se tornar sua cunhada. Sigifrid nunca falava sobre o assunto, nem com o pai, nem com Ari, nem com Julie, a mais interessada.

    Enquanto Sigifrid usufruía dos encantos de Julie, lá embaixo na taverna, pela porta entra Ari, procurando por Sigifrid. Ele tem pressa, procura pelo salão e não o encontra. No balcão está Maximilian Ayod, o pai de Julie e dono da taverna e Ari vai até ele. O taverneiro olha-o de cima abaixo.

    — Cerveja? — perguntou o taverneiro.

    — Hoje não, Max — respondeu Ari. — Procuro meu irmão Sigifrid.

    — Adivinhe — começou. — Está com Julie lá em cima.

    — Chame-o, é uma emergência. — ordenou Ari.

    — Desculpe-me alteza, mas eu é que não vou subir lá e interromper sabe-se lá o que estão fazendo — disse Maximilian. — Mas pode subir se é uma emergência.

    Ari não achava muito confortável interromper o irmão, mas era necessário. Contornou algumas mesas e subiu a escada. Lá no segundo piso havia quatro portas e não tinha ideia em qual seu irmão costumava passar o tempo com Julie. Tentou a primeira porta. Estava vazia. A segunda havia um casal lá, não reconheceu os rostos nem do homem, muito menos da mulher, mas não era o irmão. A terceira porta, assim que abriu precisou se abaixar para desviar de um copo atirado por um homenzarrão barbudo. Pediu desculpas e tornou a fechar a porta. Restava uma porta e só podia ser ali. Resolveu bater antes de entrar.

    — Sigifrid, está aí? — gritou Ari pela porta.

    Ouviu a resposta lá de dentro.

    — Estou ocupado — gritou Sigifrid.

    — É urgente — insistiu Ari.

    — Não me enche — Sigifrid não parecia querer parar o que estava fazendo.

    — Vou ter de arrombar — disse Ari para si mesmo.

    Ari forçou a porta e ela abriu e então ele entendeu o porquê ele não queria sair, o porquê de Max não querer chamá-lo. Flagrou os dois nus em pleno ato. Sigifrid saiu de cima da garota e ela puxou o lençol para cobrir o corpo nu,

    — O que é isso, Ari? — perguntou Sigifrid perplexo.

    — Temos uma emergência — informou Ari.

    — Emergência? — perguntou Sigifrid parado no meio do quarto, nu.

    — Sim — confirmou Ari. — Um corvo chegou do norte. Parece que os Moon atacaram os Amaro.

    — Isso é muito grave — disse Sigifrid, enquanto pegava as suas roupas jogadas por todo o quarto.

    — Isso significa que vai me deixar, Sigi? — perguntou Julie fazendo manha.

    — Você ouviu meu irmão, é uma emergência — respondeu Sigifrid.

    Ele já tinha vestido as calças e sentou-se na cama para calçar as botas. Julie foi até ele na cama com o lençol cobrindo o corpo, abraçou-o por trás e o beijou. Para fora do lençol, apenas os belos e delicados pezinhos dela. Ele beijou as mãos dela, em torno do seu pescoço. Ela o soltou e ele ficou de pé, sem camisa, os ombros fortes e as inúmeras cicatrizes nas costas, cicatrizes estas que ela adorava acompanhar com o dedo enquanto ele suspirava. Ele vestiu a camisa e virou-se para ela. Ela ficou em pé na cama e quando ele se aproximou, pulou em cima dele, cruzando as pernas em torno da cintura dele, o lençol caiu exibido o belo corpo nu e então ela o beijou. Ari colocou a mão em frente aos olhos e abriu a mão espiando pelos vãos dos dedos, enquanto pensava em como Sigifrid era sortudo. Sigifrid a colocou de volta na cama. Abaixou e pegou o lençol caído no chão e a cobriu.

    — Hora de ir — disse Sigifrid.

    — Não vá, fique até amanhecer — pediu Julie.

    — Tenho mesmo de ir — disse Sigifrid, abaixando-se e beijando-lhe na testa.

    — Você vem amanhã? — perguntou ela.

    — Vou para longe e acho que não estarei de volta amanhã — respondeu ele.

    Sigifrid foi para a porta aonde Ari o esperava. Sigifrid nunca mais voltou naquele quarto. Sigifrid e Ari desceram a escada e saíram rápido, sob o olhar severo de Maximilian Ayod. Lá fora, Chuk os esperava segurando os cavalos.

    — Por que demoraram? — brincou Chuk ao vê-los.

    — Tive de esperar alguém pôr as roupas. — disse Ari.

    — Veja se essa é hora para uma emergência — comentou Sigifrid, o que soava como uma desculpa.

    Montaram nos cavalos e partiram rumo à sede dos Cavaleiros Negros.

    — Convocou todos os cavaleiros? — perguntou Sigifrid.

    — Sim — respondeu Ari. — Todos foram chamados.

    — Convocou o capitão do exército? — perguntou Sigifrid.

    — Sim — respondeu. — E exigi mil soldados.

    — E quantos Cavaleiros Negros?

    — Trinta deve ser suficiente — respondeu.

    — E... — começou Sigifrid, mas foi interrompido.

    — E enviei um corvo aos Amaro exigindo um exército deles também. — disse Ari.

    — Muito bem, vejo que aprendeu direitinho — disse Sigifrid zombeteiramente. — Já pode me substituir.

    — Quando você for rei — soltou Ari.

    Sigifrid riu alto, assustando algumas pessoas. O assunto de tornar-se rei lhe era desconfortável e sempre se esquivava dele. Ele não se via como um futuro rei, mesmo sabendo que era o próximo na linha de sucessão e seu pai não viveria para sempre e depois, havia Ari e Elanor — este último seu irmão mais novo, com apenas quatro anos de idade. Sempre achou que era um desperdício de suas habilidades, pois treinara desde cedo para se tornar o guerreiro mais habilidoso do reino e largar tudo para ser rei, ficar sentado dando ordens, criando novas leis e ouvindo o povo reclamando que nunca estava bom.

    Depois da risada, ficaram em silêncio cavalgando de volta ao Ninho da Serpente, fortaleza que era a sede dos Cavaleiros Negros. Entre os devaneios, lembrou-se de Julie e seus pezinhos, sempre para cima quando faziam sexo. Sentiria falta dela, do perfume de flores do cabelo, da pele macia, mas sua imagem sempre voltava aos pezinhos da garota. Uma vez beijara-os. Alguém diria que não ficaria bem um príncipe beijar os pés da filha de um comerciante, mas ele nunca esteve lá como príncipe e sim como cavaleiro cansado procurando por cerveja e prazer.

    — Ari, dê a ordem, partiremos antes do amanhecer — disse Sigifrid. — Todos devem descansar.

    — Sim, senhor — disse Ari.

    Ali se separaram. Ari foi até os soldados do rei dar a nova ordem. Sigifrid e Chuk entraram no Ninho da Serpente. A fortaleza era gigantesca, toda feita de pedra, um portão de quatro metros de altura levadiço com um fosso antes da muralha de trinta metros de altura. Possuía cento e cinquenta aposentos individuais e uma masmorra com capacidade para duzentas pessoas. Tinha um salão onde geralmente era servida a comida com diversas mesas espalhadas, onde os cavaleiros jogavam conversa fora.

    No pátio, o pessoal de apoio preparava as carroças com os suprimentos que levariam na empreitada. Barris com peixe e enguia defumados, pão, água e cerveja eram colocados nas carroças. Aqueles suprimentos deveriam ser suficientes para cinco dias, Sigifrid não sabia o que esperar dessa missão surpresa.

    Sigifrid foi para seu quarto, despedindo-se rápido de Chuk que também foi para o seu. Cada um fez o seu preparativo, polir a armadura e a espada. Estava tudo pronto, só precisavam descansar para a viagem longa. Chuk deitou-se e apagou. Sigifrid demorou a dormir, tinha tantas coisas na cabeça e um pressentimento. O pressentimento que aquela viagem mudaria sua vida para sempre. Pensou em mandar Ari liderando e ficar na capital, afinal, setenta Cavaleiros Negros permaneceriam na cidade durante a viagem, sem nenhum comandante. Mas eles eram Cavaleiros Negros, a elite dos cavaleiros de Eriabyr e mereciam a confiança de seu comandante, principalmente pela reputação. Aquilo era suficiente. De manhã, antes que o sol nascesse, ele estaria lá fora montado em seu cavalo, vestido com sua armadura e com sua espada na cintura e partiria da capital para a terra dos Amaro, tão distante. Um Cavaleiro Negro não podia temer o futuro desconhecido, apenas lutar para que ele fosse o melhor que pudesse ser. E assim, nesses devaneios, os olhos de Sigifrid foram fechando e ele dormiu.

    Ari voltou mais tarde e foi direto para seu quarto. Não teve dificuldades para dormir, a única visão em sua mente era o corpo nu de Julie lá no quarto da taverna. Pensou em como o irmão era sortudo em ter aquela jovem garota como amante. A última coisa que disse antes de adormecer foi Você é um maldito de um sortudo Sigifrid. E apagou.

    O castelão do Ninho da Serpente era responsável por fazer todos acordarem na hora certa. E ele tinha um método nada sútil para acordar os cavaleiros. Usava um porrete e batia de porta em porta. Ele jamais precisou bater duas vezes na mesma porta, afinal todos acordavam na hora que ele usava aquele instrumento, era ele o despertador dos cavaleiros, com ele não tinha como virar do outro lado por mais dez minutinhos.

    Sigifrid saltou da cama quando o porrete do castelão bateu em sua porta. Sentou-se na cama, passou as mãos no rosto, parou um instante para pensar. Estava pensando novamente naquele mau pressentimento que teve quando se deitara. Não dava simplesmente para desistir, ele era o líder. E evitando pensar naquilo, levantou-se, vestiu uma camisa de manga longa, por cima dela a cota de malha. A seguir veio a armadura negra com a serpente em relevo na parte frontal. Vestiu as calças, calçou as meias e as botas. Seu escudeiro bateu na porta e entrou. Era um menino de doze anos chamado Seti Atkins. Era aprendiz de cavaleiro e em troca desse aprendizado ajudava Sigifrid e Ari com suas armaduras.

    — Bom dia! — disse o menino.

    — Bom dia! — respondeu Sigifrid.

    — Já está com quase toda a armadura, senhor — observou o menino.

    — Fui me adiantando — disse Sigifrid. — Ajude-me com as pernas.

    O menino foi ajudar Sigifrid a colocar as proteções de perna da armadura.

    — Ari já acordou? — perguntou Sigifrid.

    — Sim, senhor — respondeu. — E já está no pátio.

    — Chuk?

    — A porta dele ainda estava fechada quando passei — disse o menino.

    — Acha que sou um bom cavaleiro, Seti? — perguntou Sigifrid ao menino.

    — Se é um bom cavaleiro? — começou. — É provavelmente o melhor cavaleiro que eu já vi. As crianças por toda a capital desejam ser como o grande Sigifrid.

    Sigifrid sorriu.

    — Agora os braços — disse Sigifrid.

    — Por que a pergunta, senhor? — perguntou o menino enquanto colocava as proteções de braço de Sigifrid.

    — Acho que até os grandes guerreiros tem dúvidas, às vezes — respondeu Sigifrid, meio distante.

    O menino parou e ficou encarando o capitão.

    — Não diga isso a ninguém — ordenou Sigifrid apontando o dedo indicador para o menino, assustando-o.

    Com a armadura pronta, passou a mão na cabeça do menino.

    — É um bom menino, Seti — disse Sigifrid.

    — Obrigado senhor — respondeu o menino.

    Sigifrid não disse nada, apenas meneou a cabeça positivamente e saiu. Seti saiu atrás, indo ajudar outro cavaleiro com sua armadura.

    Quando o castelão passou no quarto de Ari, ele já estava na porta, com a armadura pronta.

    — Bom dia, senhor!  — disse o castelão.

    — Bom dia! — disse Ari.

    — Caiu da cama, senhor? — perguntou o castelão.

    — Caí — respondeu Ari de bom humor.

    Ari foi o primeiro cavaleiro no pátio e os outros

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