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O Lobo de Badenoch
O Lobo de Badenoch
O Lobo de Badenoch
E-book317 páginas4 horas

O Lobo de Badenoch

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Sobre este e-book

Inspirado na história de Alexander Stewart – O Lobo de Badenoch.


Após ser enviado para norte para investigar rumores de uma força negra na região, Fergus Scott encontra o feroz Alistair Mor. Obrigado a combater uma batalha contra magia negra e a morte, Fergus conta com a ajuda da bela, mas impetuosa Seonaid.


Entretanto, o exército de Donald das Ilhas está em marcha para confrontar Alistair, e há problemas no horizonte com as bruxas da Escócia a reunirem-se para recriar o Livro da Terra Negra.


Enquanto as forças do bem e do mal colidem, Fergus tem que salvar a sua alma e o seu país.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento23 de fev. de 2023
O Lobo de Badenoch

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    O Lobo de Badenoch - Malcolm Archibald

    Prologue

    Oerburn, Northumberland 1388

    "D ois orbes, Fergus; dois orbes e um trair-te-á!"

    Ouvi a voz algures na minha cabeça, mas as palavras não continham qualquer significado e por isso afastei-as para longe.

    Presta atenção á lua!

    Estava a escurecer em Northumberland, um vento achatava a erva e fazia com que os ramos das árvores abanassem descontroladamente. Mas ainda não havia Lua por isso rejeitei o aviso e concentrei-me no que, o meu senhor James, Conde de Douglas estava a dizer.

    Acampamos aqui.

    Olhei para o meu Senhor e estremeci. Mesmo sob aquela fraca luz conseguia ver os dois pássaros a pairar sobre ele. O pássaro negro da morte aguardava por cima do seu ombro esquerdo, de garras estendidas e bico completamente aberto, pronto para o pio de boas vindas. O pássaro prateado da vitória estava ligeiramente mais alto, as suas asas flutuavam pelo ar, com olhos calorosos e cheios de promessa.

    Será sensato, Senhor? olhei para trás, em direção ao deserto fumegante que já tínhamos percorrido. O Conde Percy está a seguir-nos com oito mil lanças.

    E será aqui que o encontraremos, disse Douglas.

    Ele tem mais homens, senhor, Ouvi o desconforto na minha voz, mas ele ignorou.

    Se tem mais homens haverá mais glória na nossa vitória. Os seus olhos estavam serenos assim como o seu sorriso.

    Ás vezes amaldiçoo o dom da visão que herdei do meu avô, Michael Scott, por vezes apelidado de Feiticeiro, mas nunca como naquele dia. Enquanto os soldados do nosso pequeno exército celebravam vitórias adiantadas e aguardavam pela investida dos homens de Percy com a alegria esperada de guerreiros da fronteira, eu estava preso á negra depressão de quem sabe o futuro.

    Estávamos em Redesdale onde verdes e suaves encostas estendiam-se em nosso redor. O rio fornecia água aos cavalos, aos homens e á vasta variedade de gado que capturámos e que agora preenchiam o ar com os seus sons. Os homens desmontaram, guardaram as espadas nas bainhas, acariciaram os seus cavalos e riam-se á medida que a tensão de um ataque iminente abrandava. Um cavaleiro observava-nos, os seus olhos refletiam, como se estivesse a tentar compreender o laço entre mim e o meu senhor Douglas. Devolvi-lhe o olhar abertamente, era apenas um homem com um longo manto negro; transportava a sua espada tão desembaraçadamente como qualquer guerreiro, mas pressenti algo diferente. Por detrás daquela cara inteligente estava mais que um simples soldado. Não havia qualquer malícia ali, e por isso voltei-lhe as costas para cuidar dos meus deveres.

    Devo colocar sentinelas, Senhor?

    A olhar para o céu, Conde Douglas abanou a cabeça. Já é demasiado escuro para lutar, Fergus. O Percy não é idiota; ele vai acampar aqui perto, reunirá toda a força que puder na região e atacar-nos-á antes do amanhecer, enquanto estivermos a dormir. O seu sorriso era tão perverso como algo que escapou do Abismo. Exceto, claro, não estaremos a dormir; estaremos acordados e prontos para ele.

    Eu acenei. Claro, senhor, mas penso que…

    Deixa a parte do pensar comigo, Fergus. Capturámos o estandarte do Percy no exterior das muralhas de Newcastle. Ele ergueu-o, por isso conseguia claramente ver o azul e amarelo de Percy, agora subserviente ao azul e branco de Douglas. "A honra do Percy obriga-o a recuperá-lo e ele é impetuoso por natureza, daí a sua alcunha de Hotspur ¹ ."

    Acenei em concordância. Percy O Hotspur era um homem corajoso, mas era conhecido por agir antes de pensar.

    E por isso; ele atacará ainda antes do amanhecer e as nossas lanças vão destruir as suas fileiras ás centenas. É isso que vai acontecer, por isso deixa os rapazes dormir.

    Dormir era um privilégio precioso naquele Verão de conflito. Enquanto alguns dos homens desapertavam a armadura e dormiam em qualquer abrigo que conseguissem encontrar, outros cuidavam do gado, divertiam-se com as poucas mulheres que nos acompanhavam, afiavam as espadas, ou falavam sobre os eventos dos últimos dias. Muito poucos bebiam; não no exército de Conde Douglas. Festejos e bebida fazem parte do longo Inverno quando os fogos aquecem as lareiras, a neve amargura os campos e só os salteadores mais desesperados se atrevem nas passagens estreitas de Cheviot e Ettrick.

    O vento levantou-se naquela noite, empurrando as nuvens para a face da lua cheia lançando sombras sobre o nosso acampamento. Continuei acordado, a pensar no aviso sobre a lua, e nos dois pássaros que competiam por cima dos ombros do Senhor de Douglas. Um pássaro conseguia entender, morte ou vitória era o destino natural de um guerreiro, mas dois ao mesmo tempo? Tinha que estar errado, e isso significava que os meus poderes estavam a enfraquecer, ou que nem sequer existiam. Abanei a cabeça e encolhi os ombros; se os meus poderes desapareceram, bem, não era uma perda. Continuaria a ser Fergus Scott de Eildon, e isso era mais importante do que as visões de qualquer vidente.

    Lembrava-me bem desse dia fatídico. O cavaleiro solitário rompeu através do cume da montanha para sul da nossa torre, a sua cabeça desprotegida e o seu cavalo espumava.

    Senhor! Ele parou o cavalo com uma mestria invejável. Desmontou e aproximou-se de mim que permanecia em frente á entrada da torre. Meu Senhor Fergus!

    Abanei a cabeça. Não sou nenhum Senhor, disse O meu nome é apenas Fergus, o filho mais novo de William de Eildon.

    O cavaleiro abanou a cabeça. Não, o senhor é Fergus, Senhor de Eildon. O seu pai e irmão foram ambos mortos numa emboscada. O Conde de Douglas enviou-me para o informar.

    Olhei para o cavaleiro, um guerreiro ágil, com um olhar amargo, uma cicatriz sobre o rosto barbeado e uma espada solta na bainha. Não senti nada. Aqui, junto á fronteira Inglesa, aprendemos a viver com a morte e a tratá-la como uma companheira.

    O seu pai está morto, senhor Fergus, e, o meu senhor, sabe que quererá vingança.

    Não disse nada. Não tinha qualquer desejo de vingança. O meu pai era um guerreiro. Não queria nada para além da morte em batalha.

    O senhor é agora Senhor da Torre de Eildon, disse o cavaleiro. O meu Senhor Douglas deseja a sua presença. Ele cavalga para sul em busca de vingança em Northumberland.

    Eu acenei em concordância. Aquilo foi direto e honesto. O Conde de Douglas era meu superior. E queria que cavalgasse para sul com ele. Vou buscar a minha lança.

    Mesmo enquanto contemplava a perda do meu pai e a minha visão, observei os dois pássaros a pairar sobre o meu senhor, e questionava-me desesperadamente sobre qual triunfaria.

    Gemendo, virei-me de lado, ouvindo os murmúrios do acampamento, e o mugir do gado guardado com segurança dentro de um círculo de homens.

    No dia seguinte haveria uma batalha, e no dia seguinte descobriria. Qual das duas premonições estava correta? Seria o dia da morte do meu senhor, ou outra vitória para acrescentar ao prestígio dos Douglas?

    Dormi inquieto, os meus pensamentos perturbados com sonhos de fracasso. Alguns eram pesadelos, mas um era tão claro que era capaz de saborear a poeira e sentir suor a percorrer o meu corpo.

    Vi um arbusto, e três corvos pretos a devorar os olhos de um cavaleiro desfigurado. Havia sangue por todo lado, no chão, nas minhas roupas, até no ar que respirava. Tinha sido derrubado do cavalo e estava sozinho apesar de estar rodeado de milhares de homens, Scotts, Douglas, Elliots, Nixons, Charltons, Robsons, alguns lutavam, outros caíam exaustos ou feridos no chão. Não compreendia quem eu era ou o que estava a fazer ali, mas havia a negra sombra da morte sobre o horizonte e o som de vozes erguidas. Vi pássaros pretos e brancos a voar, e ouvi os gritos e o clamor da batalha. Reconheci vagamente a minha própria voz a chamar por detrás do arbusto, e o meu rosto no meio do banho de sangue.

    Acordei em sobressalto e limpei o suor da minha cara. As visões deixavam-me exausto e tremia durante algum tempo. Este episódio não foi diferente. Qual era o significado desta visão? Significaria a minha morte, mas a vitória de Conde Douglas? Seria este o meu último dia neste mundo? Estremeci e tentei afastar o barulho da batalha que permaneceu na minha cabeça.

    A flecha embateu, enfiando-se profundamente na terra junto á minha cabeça. Acordei em choque. O barulho estava á minha volta, não no meu sonho, eu já estava no meio da batalha.

    Os Ingleses são os melhores arqueiros do mundo, e é assim que vencem a maioria das suas batalhas. A regras são simples. Se os queres derrotar, aproxima-te. O meu Senhor, tomou um grande risco ao acampar num local tão desprotegido, dando oportunidade ás habituais chuvas de flechas que dizimariam os seus guerreiros ainda antes do início da batalha, mas ele apostou que Percy quereria luta cara a cara e corpo a corpo.

    É um Percy! A ordem chegou, tão clara como uma trompeta através da noite de lua cheia. Um Percy! Para cima deles! Para cima deles, senhores!

    Conde de Douglas não esteve totalmente certo; Percy não tinha esperado por reforços para atacar, mas tinha atacado durante a noite. Apanhados de surpresa, os nossos homens demoraram preciosos minutos para reunir as suas forças e os ingleses tinham infiltrado as nossas fileiras desordenadas, mas um século de guerra constante tinha criado uma raça de guerreiros que responderam ao ataque com violência semelhante.

    De súbito percebi claramente o plano de Percy. Senhor! Eles estão em ambos os lados! O Percy deixou uma força a Norte enquanto lidera pessoalmente outra a partir do Sul!

    Não tinha dúvidas nesta visão; conseguia ver os Ingleses tão claramente como conseguia ver a minha própria mão que se debatia com as fivelas da minha armadura. Enquanto Percy carregava com um ataque frontal para obter glória, os seus combatentes da fronteira, os Charltons e Bells, Forsters e Storeys tinham-nos cercado e atacaram pela retaguarda.

    O Percy está na vanguarda? sorriu o Conde, seus dentes brilhavam sob a luz prateada da lua. Merece bem o nome de Hotspur. É um homem de coragem e merecedor do gume da minha espada!

    Cavalgando no seu cavalo, levantou a voz. É o Hotspur em pessoa, rapazes! Comigo! Por Douglas! Por Douglas!

    A resposta veio de milhares de gargantas á medida que aceitavam o desafio tornado famoso pelo Bom Sir James, o Douglas Negro que foi sempre o braço direito do Rei Robert, que lutava para manter a independência da Escócia.

    Por Douglas! Por Douglas!

    Senhor, avisei, inutilmente, a sua armadura não está completa! Tem que colocar o seu elmo!

    Não há tempo para isso, meu caro Fergus! sorriu ele para mim. Conseguia ver pela loucura dos seus olhos que estava para além da razão. Apenas sangue o saciaria. Vamos, Fergus, monta e cavalga comigo! Pela Escócia! Pela Glória! Por Douglas!

    Aquilo provocou a louca travessia através do vale iluminado pela lua, com Conde Douglas a liderar uma força crescente de guerreiros em direção á batalha principal. Homens juntavam-se á nossa passagem, alguns totalmente armados, outros apenas com o elmo ou couraça, um ou dois apenas com a roupa que tinham no corpo. Um cavaleiro destemido, que provavelmente se tratava de um servo, não vestia nada mais que a pele de lã que a sua mãe lhe tinha oferecido, mas ainda assim gritava com o mesmo fervor que estava em todas as nossas bocas naquela noite louca de agosto.

    Por Douglas! Por Douglas! Morrereis todos, senhores de Inglaterra!

    Como um predador a perseguir a presa, galopamos ao longo do daquele vale, esquivando-nos por uma faixa de floresta que nos colocou frente a frente com a força de Hotspur.

    Por Douglas!

    Apesar de nos superarem quatro para três, terem tido a vantagem da surpresa e estarem totalmente armados, o nosso impacto inicial abalou as linhas Inglesas, empurrando-os para trás em confusão. Nós somos Escoceses, o nosso sangue fervilhava e seguíamos o Conde de Douglas, um cavaleiro inigualável.

    Por Douglas!

    As fileiras dos Percy desintegraram-se; começaram a recuar, e depois um rasgo de vento cobriu a lua com nuvens e a luz morreu. O som de golpes enfraqueceu, os gritos de batalha diminuíram á medida que os homens estudavam os seus vizinhos para perceber quem era aliado e quem era inimigo. Puxei as rédeas de Bernard, o meu corcel castanho, abri o visor do meu elmo que protegia a minha cabeça e troteei á volta do campo.

    Conseguia ver um aglomerado de homens; Quais eram Escoceses e Ingleses não era capaz de dizer, porque eram todos iguais na escuridão.

    Senhor? Chamei, uma vez, tentativamente e de seguida gritei para ser ouvido para lá dos gemidos dos feridos e dos guinchos dos moribundos. Senhor de Douglas?

    Aqui, Fergus! Aqui, cavaleiro de Eildon!

    Cavalguei na sua direção, forçando a passagem por entre as fileiras confusas que naquela escuridão, tanto quanto sabia podiam ter sido Douglas, Percy ou até demónios do Abismo. O homem despido estava lá, a rir-se ás gargalhadas enquanto colocava ligaduras numa ferida no seu braço, e juro ter visto uma donzela a cavalgar, a atirar para trás os seus longos cabelos negros, mas podia ter sido uma Valquíria a escolher a sua presa, ou outra criatura qualquer vinda do outro lado. Não olhei fixamente, não fosse ela notar a minha presença.

    O vento alterou-se, empurrando outra vez as nuvens e com o regresso do luar a batalha recomeçou com os guerreiros das duas nações a saborear o desafio á medida que carregavam em frente, cortando, apunhalando, ferindo e matando. O som do aço a embater em aço afogou a profanação dos homens em agonia.

    Ali está o Douglas! A voz transportava o sotaque áspero de Northumberland e um firme grupo de homens empurrou em frente, trespassando com a enorme lança usada na fronteira á medida que cada um tentava ganhar a honra de matar o Conde.

    Era a minha vez de lutar, desembainhei a minha espada, a mesma que o meu pai usou e o seu pai antes dele, e cavalguei em frente para defender o meu Senhor.

    Tinha passado metade da minha vida a praticar com a espada, e tinha trocado alguns golpes com bandos de salteadores, mas aquela era a primeira vez que a usava numa batalha real, e não sentia medo. Lembrei-me das palavras que o meu tio me ensinara. Quando enfrentares lanças, disse ele, corta as pontas.

    E agora enfrentava três delas, mas nenhuma me queria matar; eu era apenas um obstáculo entre eles e o senhor Douglas. Esquivando-me, balancei a minha espada lateralmente, sentindo um ligeiro choque de contacto á medida que a lâmina cortava a primeira das lanças, deixando o atacante com um mísero pedaço de madeira. Ele olhou para mim, mais estupefacto que assustado enquanto puxava a minha espada, pausei por meio segundo e trespassei-a pela sua garganta. Ele morreu numa nuvem de sangue enquanto Douglas se desviava da lança do segundo Inglês e habilmente lhe decepava a cabeça. Aquele homem morreu sem sequer se aproximar.

    O terceiro atacante pausou e por um breve momento pensei que fugiria, mas era um homem corajoso, apesar de lutar no lado errado. Ele balanceou a sua lança em direção ao meu senhor. Matámo-lo juntos, com as nossas espadas a embater uma na outra dentro da cavidade do seu peito. O sangue expeliu do seu peito para se juntar á névoa escarlate que pairava sobre a batalha, salpicando toda a gente e por isso parecíamos demónios do abismo, como talvez todos os homens o são no meio da batalha.

    Agora Fergus! A eles! O meu senhor, levantou a voz mais uma vez. Por Douglas!

    A resposta veio rapidamente, um rugido de milhares de gargantas. Por Douglas!

    Mas os Ingleses estavam igualmente entusiasmados. Por Percy! gritavam, e mais uma vez os dois exércitos colidiram, ninguém dava um centímetro, sem piedade. O vale de Redesdale estava repleto com o embater de armas, os rugidos dos guerreiros e os gritos dos caídos.

    Lutamos até as nuvens voltarem a obstruir a lua, e mais uma vez recuámos para lamber as feridas, vangloriarmo-nos das nossas façanhas e recuperar o folgo. E foi assim que passamos a noite, a lutar debaixo do brilho da lua, a recuar quando estava demasiado escuro para distinguir amigo de inimigo e a lutar outra vez no segundo em que a luz regressasse. Éramos guerreiros da fronteira, e aquele era o nosso modo de vida.

    Faltava pouco para o amanhecer quando os Ingleses finalmente caíram, e os nossos homens triunfantes empurraram-nos para fora de Redesdale, com Douglas na vanguarda e eu a seu lado. Protegi-lhe o flanco durante toda noite, e aprendi que lutar numa batalha era diferente de expulsar um bando de salteadores. Vi um grande guerreiro a lutar, e aprendi uma variedade de novas técnicas, mas fiquei cansado do derrame de sangue e enjoado da carnificina quando o barulho começou finalmente a diminuir.

    Agora és um guerreiro, Fergus Scott! sorriu Conde Douglas para mim, o seu rosto coberto com sangue Inglês e a espada firme na sua mão.

    Sorri-lhe de volta; feliz por ouvir a sua aprovação, e de seguida a flecha embateu.

    No meio do clamor da batalha ouvi apenas o mais breve dos assobios e depois vi a ponta de metal a sair do seu olho.

    Era uma flecha em mil, um terrível golpe de azar e não havia nada que pudesse fazer. Conde Douglas balanceou e caiu lentamente. Gritei em desespero, tentei alcançá-lo, mas os Ingleses contra-atacaram pela quarta ou quinta vez naquela noite e tínhamos outras coisas com que nos preocupar. Segurei, o meu Senhor, apenas por uma fração de segundos, e depois carreguei em frente, desesperado por vingança, desesperado por matar.

    Os Percy não aguentaram a fúria da minha carga. Apesar de serem homens de luta, vacilaram diante de mim, caindo como folhas do outono á medida que cavalgava sobre eles, procurando o arqueiro que, sem um pingo de honra, matou o meu Senhor. Morrer em batalha era uma honra, mas um verdadeiro cavaleiro merece ser morto por um seu igual, e não obscenamente assassinado por um atacante invisível. Sempre considerei o arco como a arma de um cobarde, manuseado por um homem que mata sem qualquer perigo para ele próprio. Levei vingança para as fileiras dos Ingleses, e o poder dos Douglas seguiu-me, desconhecendo a morte do seu Conde.

    Perto do fim da batalha tornei-me num verdadeiro guerreiro, matando sem hesitar, abatendo quem se me opusesse. Determinado em vingar o meu Senhor, ignorei os súplicos por piedade e não parei até que todos os ingleses caíram. Finalmente, o rugido Por Douglas! era incontestado naquele vale de sangue e os Ingleses que não estavam mortos no solo estavam em fuga ou acobardaram-se e renderam-se como prisioneiros. Apenas Hotspur continuou a lutar como era apropriado de um Senhor de Fronteira.

    Rende-te! Exigi, enquanto degolava um corajoso, mas tolo escudeiro que tentou proteger o seu senhor. Rende-te Percy, ou morre onde estás.

    Protegido com uma cota de malha e couraça, e rodeado pelos seus melhores homens, Percy ainda era um homem perigoso. Matá-lo não seria uma tarefa fácil.

    Não me rendo a nenhum homem, bramiu, que não James, Conde de Douglas em pessoa!

    Temos um problema, o homem de capa negra tinha aparecido do nada e sussurrou-me ao ouvido. O Hotspur só tem que resistir mais um par de horas para as probabilidades mudarem, o Bispo de Durham está a marchar nesta direção com cerca de três mil homens.

    Olhei firmemente para o homem, e de seguida para o horizonte por detrás dele, para a curva das montanhas e para Sul para a escuridão da noite.

    O Bispo estava de facto a chegar, pois conseguia ver os seus exércitos a marchar, fileiras atrás de fileiras de soldados Ingleses, homens impávidos de Yorkshire e Durham, arqueiros de Tynedale, soldado atrás de soldado montado em cavalos de fronteira. Cavalgavam com estandartes que esvoaçavam na quietude do amanhecer iminente e com batedores que patrulhavam adiante; eles cairiam sobre os nossos homens cansados e haveria uma segunda batalha que não conseguiríamos vencer.

    Temos que terminar isto agora, disse

    Uma tarefa difícil, respondeu o homem da capa negra, "com Conde Douglas morto e despido, e Percy totalmente armado."

    Não assim tão difícil, disse. Lembrei-me dos dois pássaros que pairaram sobre os ombros do meu Senhor. A sua mensagem estava a tornar-se mais clara. Sir Harry, Gritei, chamando Hotspur pelo nome de batismo dado pela sua mãe e pelo seu pai, Sir James, Conde de Douglas, está ali. Se pretende render-se perante o Conde, siga-me. Se preferir morrer, então tenho um grupo de arqueiros de Ettrick prontos a largar flechas.

    A ultima afirmação era mentira, não tinha conhecimento algum da existência de arqueiros de Ettrick neste exército, mas sem dar tempo a Hotspur para refletir toquei nas esporas de Bernard, o meu cavalo, e cavalguei de regresso á colina infestada de cadáveres. Confiando no poder da minha visão, troteei sobre corpos até ao local onde tinha deixado o meu Senhor.

    Tal como o homem de capa negra tinha dito, os ghouls do campo de batalha já tinham estado ali, por isso Douglas estava tão nu como um recém-nascido, com a exceção da flecha que sobressaía assombrosamente do seu olho e uma nova ferida no seu pescoço. O pássaro negro da morte estava pousado no seu peito, com o bico aberto vitorioso. Desmontei e arrastei o corpo do meu Senhor para o meio dos arbustos de fetos da colina, agachei-me ao seu lado e esperei por Hotspur.

    Tive pouco tempo até Percy chegar, ecoou o som da sua armadura e da sua escolta alguns metros atrás. Duzentas lanças de Douglas seguiram, vigiando atentamente.

    Sir James de Douglas! Sou eu Percy! Ele não desmontou. Ele era demasiado jovem para ser sensato, e demasiado corajoso para se intimidar com meras palavras.

    Sabia que Percy nunca conheceu o meu Senhor: não reconheceria a sua voz. Falei a partir do esconderijo dos arbustos. Muito prazer Sir Harry! Lutou com bravura, mas a sorte sorriu-nos neste dia. Rende-se a mim? Rende-se perante Douglas?

    O pássaro negro permaneceu imóvel no peito de Sir James; tudo dependia da resposta de Hotspur. Se ele escolhesse retomar a luta, então os milhares de homens liderados pelo Bispo alcançar-nos-iam antes do sol raiar. Se ele se rendesse, então a batalha seria nossa.

    Voltei a repetir. Rendes-te, Hotspur? Ou continuamos a batalha?

    Eu rendo-me, Sir James. Rendo-me a um bravo cavaleiro.

    Só então vi o radiante pássaro da vitória a descer e soube que a minha visão tinha sido verdadeira. A batalha de Otterburn foi ganha por um cavaleiro morto. Enquanto me vergava em tristeza e exaustão, o homem da longa capa negra tocou-me no ombro.

    Fergus Scott, penso que o teu trabalho está apenas a começar. A Escócia precisa de ti.

    Olhei fixamente para ele; a minha mente estava concentrada na morte do meu Senhor, as palavras de um estranho não me interessavam.

    Ele acenou, compreendendo. Vai para casa, Fergus de Eildon, e recupera as tuas forças.

    Observei-o enquanto cavalgava para longe, os cascos do seu cavalo arrancavam torrões de erva húmida no amanhecer. Apenas pensava em enterrar o meu Senhor.

    Um

    Outubro de 1388

    Sobre um longo cume, ensombrando a cidade abaixo tremia o castelo de Edimburgo sob a onda de frio de outono. O vento uivava por entre as aberturas das ameias cinzentas, sacudia a bandeira contra o seu mastro e levantava poeira e lixo em todos os cantos da fortaleza. Afundei-me dentro do meu manto de lã, ciente que este frio era apenas uma amostra do longo inverno que se aproximava. Estava, contudo, mais preocupado com a mensagem que me trouxera até ali.

    Depois de ter regressado em segurança da campanha de Otterburn, permaneci na minha silenciosa torre, na sombra das montanhas de Eildon, e cuidei da minha pequena percentagem dos despojos.

    Tinha cumprido a minha parte, ajudei, o meu senhor, a vencer a sua batalha e agora queria apenas uma vida em paz, mas um apressado mensageiro chegou.

    Fergus Scott? O homem não parou sequer para recuperar o folgo quando

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