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Arroio Da Figueira
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E-book243 páginas2 horas

Arroio Da Figueira

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Sobre este e-book

Romance histórico, retratando a construção das primeiras cidades mineiras fora do ciclo do ouro, onde um padre e um coronel disputam o domínio sobre os homens simples do sertão das Gerais. De forma bem humorada, descreve a pretensão da igreja em exercer domínio sobre as almas das pessoas, e do estado explorando os cidadãos como meio de produção.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento9 de mai. de 2020
Arroio Da Figueira

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    Arroio Da Figueira - J Londe

    1

    J  Londe

    ARROIO  DA  FIGUEIRA

    1º  edição

    João  batista  Londe Uberaba,  MG.

    2019

    2

    FICHA  CATALOGRÁFICA ISBN:  978-65-900171-6-1

    Londe,  João  Batista.

    Arroio  da  figueira.  Literatura. 1ª  Edição.  255  Páginas

    Registro  EDABN  nº  338.188.L621F348

    Direitos  autorais  preservados.

    3

    DEDICATÓRIA

    Esta  obra  é  dedicada  a  meu  pai,
    o  desbravador  do  sertão,
    Divino  José  Londe  (1922  –  1998).

    4

    ÍNDICE

    1-  PRINEIRA  PARTE

    1.1  –  UMA  CIDADE,  DUAS  ESCOLAS. 1.2  –  UM  MANUSCRITO 2  –  SEGUNDA  PARTE

    2.1  -  O  ARROIO  DA  FIGUEIRA 2.2  -  FONSECA  RODRIGUES 2.3  -  GÓIS  DEMIÃO

    2.4  -  A  MISSA  DO  GALO 2.5  -  ENTEGA  MOLEQUE 2.6  –  ÁGUAS  PASSADAS

    2.7  –  A  CATEDRAL  DE  FOGO 3  –  TERCEIRA  PARTE 3.1-  O  TRUCO

    3.2-  A  CATEDRAL  DE  PRATA

    5

    3.3-  CORRE  COMPADRE 3.4-  A  CAMPANHA 3.5-  A  ELEIÇÃO

    3.6-  O  MILAGRE 3.7-  A  RESSACA 3.8-  A  FIGUEIRA 3.9-  O  ARROIO

    4-  QUARTA  PARTE

    4.1-  UM  BREVE  DESPERTAR 4.2-  SAGRADO  CORAÇÃO 4.3-  MATILDE  BRANDÃO 4.4-  TUTORIA  MONOCÉFALA 4.5-  FORRÓ  E  PAGODE

    4.6-  EPÍLOGO

    6

    1-  PRIMEIRA  PARTE

    1.1-  UMA  CIDADE,  DUAS  ESCOLAS.

    Viviam  assim,  em  pé  de  guerra,  numa rivalidade  injustificada.  Os  alunos  de  uma  escola  não toleravam  os  alunos  da  outra  escola,  e  vice  versa.  O quê?  Ninguém  sabia  ao  certo,  naquela  cidadezinha  do interior,  onde  todos  sabiam  de  tudo.  Mas  isso  não sabiam.  Quem  estudava  de  lá  não  podia  passar  para cá,  e  se  o  contrário  acontecesse  seria  briga  certa.

    O  que  os  separavam!?  Uma  praça.  Ampla  e circular,  densamente  arborizada,  com  bancos

    convidativos  à  preguiça  e  um  chafariz  no  centro,  ceco

    7

    e  vazio.  E  uma  ampla  avenida  contornando-a,  que dividia  a  cidade  ao  meio.  Do  lado  oeste,  ficava  uma escola,  ao  lado  da  prefeitura,  um  casarão  colonial;  do lado  leste,  próximo  à  igreja  em  estilo  quase manuelino,  com  sua  torre  central  bem  alta,  alcantilada de  torres  menores,  ficava  a  outra  escola.  Fronteiriças, bem  de  fronte  uma  da  outra,  porém  rivais.  Ou  pelo menos  os  alunos  eram.  Por  fim,  como  de  resto, embora  disfarçadamente,  a  população  toda  se estanhava,  embora  ninguém  soubesse  ao  certo  por que.  Quem  morava  de  um  lado  da  cidade  estudava  em sua  própria  escola,  jamais  na  outra.

    Na  vida  cotidiana  havia  certa  desconfiança, mas  se  toleravam  bem.  Só  não  gostavam  de  fornecer  o endereço  a  outras  pessoas,  do  lado  errado.  Fora  isso,  a cidade  era  como  tantas  outras  cidades  do  interior,  com acentuado  crescimento  horizontal,  alguns  prédios  no estilo  de  cidade  grande,  pouca  industrialização  e pequeno  comércio.  Limpa,  bem  cuidada,  com casarões  antigos  convivendo  com  o  pregresso  e  com  o moderno.  A  população  era  hospitaleira,  nos  recebendo com  pão  de  queijo  e  café  coado  na  hora,  em  qualquer casa  que  entrássemos.  O  problema  parecia  mesmo  ser apenas  das  escolas.  Ou  dos  alunos.  Não  era  política  de zoneamento  escolar,  justificando  que  os  alunos  não precisariam  atravessar  a  avenida.  Com  o  movimento de  automóveis  ali  isso  seria  absurdo.  Também  não  era

    racismo  ou  outra  forma  visível  de  preconceito.

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    Apenas  uma  rivalidade  infantil,  que  ultrapassava  os muros  das  escolas.

    Os  professores  tinham  transito  livre  já  que trabalhavam  em  ambas,  e  eram  quase  todos  de  fora,  de outra  cidade;  mas  o  menor  sinal  de  favoritismo poderia  redundar  em  animosidade.  Não  podiam  usar  o uniforme  de  nenhuma  das  escolas,  emblemas, adesivos  nos  carros,  nada;  completamente  neutros. Era  um  fato  bem  estranho,  mas  real.  Havia  inúmeros casos  de  alunos  linchados  apenas  por  atravessar  a avenida  vestindo  o  uniforme  da  escola  onde estudavam.  Os  jogos  intercolegiais  há  muito  haviam sido  suspensos.  Eram  sempre  casos  de  polícia.

    Na  esperança  de  resolver  aquela  situação,  ou mesmo  entende-la,  começamos  perguntando  aos alunos  quais  os  motivos  de  tanta  rixa.  E  como  eles próprios  não  soubessem,  perguntamos  a  outras pessoas,  gente  da  comunidade,  mas  soubemos  muito pouco.  Uns  diziam  que  era  algo  ligado  aos  nomes  das escolas,  os  mais  velhos  que  era  um  caso  bem  antigo, do  tempo  que  a  cidade  era  apenas  um  povoado,  mas não  se  lembravam.  Tinha  algo  a  ver  com  um  padre, diziam.  Havia  alguma  coisa  nos  livros  de  história,  mas escritos  durante  o  período  de  ditadura,  estavam repletos  da  teia  de  aranha  do  militarismo,  com  os antepassados  pintados  como  heróis  de  guerra.

    Propusemos  aos  alunos  que  fizessem  uma pesquisa  sobre  as  origens  da  cidade,  e  da  fundação  das

    escolas.  E  como  lecionávamos  em  ambas,  o  trabalho

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    seria  o  mesmo  para  as  duas,  de  modo  a  integrar  a comunidade  como  um  todo.  E,  é  claro,  sem favoritismo.

    O  professor  de  história  se  propôs  coordenar os  trabalhos  de  pesquisa,  nós  outros  nos  encarregamos de  apóia-lo,  incentivando  os  alunos,  que  recolheram material  nos  arquivos  da  cidade,  nos  cartórios,  nas igrejas.  Os  moradores,  pais  de  alunos  ou  não, juntaram  o  que  puderam,  doaram  fotografias,  jornais velhos,  antigos  objetos  de  uso  doméstico  etc.  Em pouco  tempo  possuíamos  mais  material  do  que desejávamos,  já  que  dispúnhamos  de  pouco  espaço  e pouco  tempo  extra.  O  professor  de  história  foi substituído  na  coordenação  por  um  historiador especializado,  tamanho  era  o  acervo.  Dava  para organizar  um  verdadeiro  museu.  Porém  foi  tal  o envolvimento  dos  alunos  que  eles  mesmos  faziam grande  parte  dos  trabalhos,  ajudados  pelos  familiares. Ninguém  confessava,  mas  a  cidade  toda  estava curiosa.  Virou  assunto  de  domingo  e  na  mídia  local virou  notícia:  Caçadores  da  história  perdida....

    Juntamos  os  documentos,  compilamos  os registros,  desenpoeiramos  os  fatos  e  mergulhamos

    num  passado  romântico.

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    1.2-  UM  MANUSCRITO  ANTIGO

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    2  –  SEGUNDA  PARTE

    2.1  –  O  ARROIO  DA  FIGUEIRA

    De  São  Paulo  rasgaram  as  Gerais  sangrando o  verde  em  picadas,  tremulando  bandeiras. Enveredando  pelos  sertões  em  viagem  sem  volta  para muitos  deles,  sempre  em  contato  com  o  inesperado. Um  perigo  novo  a  cada  passo,  a  imensidão  da  mata vicejante  e  o  rio  largo  por  onde  deslizam  as  canoas. Em  determinados  pontos  paravam  e  levantavam  o acampamento,  experimentavam  os  cascalhos.  Nada por  enquanto,  era  preciso  ir  mais  adiante,  e  quem  sabe

    até  rasgar  a  mata.  Do  outro  lado  da  serra,  do  outro

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    lado  da  serra...  Era  preciso  sulcar  o  verde  inóspito  em busca  de  sonhos  que  se  materializariam  em  ouro,  em diamantes,  em  esmeraldas.  E  para  muitos  foi  apenas isso,  sonhos,  sempre  do  outro  lado  da  serra.  Em  uma dessas  empreitadas,  no  ponto  em  que  o  sertão  já  havia impregnado  sua  marca  nos  homens,  mudando  lhes  o cheiro  e  os  ânimos,  toparam  com  um  elevado  íngreme ao  sopé  no  rio.  Até  ali  remar  contra  a  forte  correnteza não  tinha  sido  tarefa  fácil,  como  de  resto  nenhuma seria.  Extenuados  cravaram  a  bandeira  no  baixio  da serra,  Perto  do  remanso  espraiado  entre  as quaresmeiras  sazonais.

    Aproveitando  ainda  os  raios  do  sol  da  tarde, outra  garimpagem,  onde  nada  faiscava.  O  jeito  era acender  o  fogo  e  esvaziar  um  pouco  o  farnel.  E naqueles  ermos  o  sol  declinou  sobre  o  rio,  enchendo de  ouro  os  olhos  daqueles  homens  rudes.  Logo  após  o véu  da  noite  descerrou  na  mata  as  escuras  fímbrias. Olhares  invisíveis  espreitavam  do  interior  da  mata  na escuridão  da  noite,  num  misto  de  medo,  curiosidade  e admiração.  Resistir  a  um  ataque  ali,  espremido  entre  a serra  e  o  rio  seria  impossível.

    Os  facões  bandeirantes  desfiavam  os  cipós da  serra  abrindo  a  picada  na  subida.  Arvores  grossas, angicos,  e  jatobás,  aroeiras  e  brasis  tombavam  aos golpes  de  machado  de  aço  retinante,  levando  outras tantas  no  rolar  da  serra.  Três  dias  de  subida,  sob ordens  rígidas,  sob  fardos  pesados,  com  pedras  a

    arrolar  sob  os  pés.  Por  fim  o  alto.  E  quem  quer  que  ali

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    estivesse,  contemplaria  atrás  de  si,  pela  clareira aberta,  a  imensidão  verde  azulada  da  mata,  pontilhada de  paineiras  com  flores  rosáceas;  alcantilada  de montanhas,  que  se  fundiam  ao  longe  com  o  horizonte. E  naquele  tapete  natural  uma  víbora  se  contorcia  com seu  dorso  de  prata  aos  raios  do  sol  a  pino.  Em  breve seu  dorso  móvel  seria  novamente  de  ouro  enchendo de  esperanças  aqueles  corações  rudes,  repletos  de sonhos.

    À  frente  um  altiplano  ressequido  pela estiagem,  com  vegetação  menos  densa  que  a  floresta que  margeava  o  rio.  Mas  mesmo  assim  repleta  de  ipês e  sucupiras,  árvores  de  caules  retorcidos  e  grossas cascas,  numa  profusão  de  flores  amarelas  e  lilás, brancas  e  palha,  rosadas  e  pardacentas  como  o capinzal  que  recobria  o  solo.  Animais  em  profusão fugiam  à  passagem  dos  bandeirantes  que  demarcavam a  rota  com  facão  e  machado.  Mas  a  serra  estava  ainda mais  alem.  Aquela  densa  e  rica  savana  se  estendia interminavelmente,  sempre  mais  para  os  lados  e  para frente.  Atrás  de  si  já  não  avistavam  as  montanhas longínquas;  e  o  rio  de  ouro  e  prata  já  era  agora  apenas uma  lembrança.  Ao  calor  do  sol  que  crestava  aquelas barbas  hirsutas,  outro  inimigo  se  apresentava.  Pior  que as  piranhas  vorazes  ou  as  onças  moscadas  em  tocaia. Pior  que  as  flechas  que  voavam  da  mata,  acionadas por  mãos  invisíveis.  Naquele  chão  cerrado  e  ermo  a sede  rondava.  Haviam  andado  várias  léguas  sem  o

    menor  sinal  de  rio  ou  mesmo  olho  d'água.  As

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    provisões  se  escasseavam.  Não  havia  frutos  nativos naquela  estação,  e  a  carne  dos  animais  abatidos  com tinha  pouca  água.  Os  homens  já  apresentavam  sinais de  cansaço,  mas  parar  ali  por  muito  tempo  seria  morte certa.  À  noite  as  feras  rondavam  o  acampamento, urravam  nas  proximidades.  Uivos  desafiadores  e rastros  circulares  deixados  ali  como  um  aviso,  quando vistos  ao  amanhecer.  Era  preciso  ter  sempre  alguém de  vigia.  Os  bandeirantes  andavam  mais  por  uma obsessão  do  ouro  que  por  seguirem  um  sonho. Arrastavam-se  silenciosos,  obedecendo  às  ordens  do chefe  da  caravana.  Sempre  ao  norte,  cada  vez  mais  ao norte,  marcando  o  caminho.

    Por  uma  dessas  diabruras  do  destino,  se  é que  esses  homens  não  traçavam  o  próprio,  toparam com  uma  restinga  mais  verdejante  que  o  cenário  à volta.  Vararam  na,  picaram  na,  até  encontrar  uma fonte  que  brotava  na  areia  branca  daquele  chapadão. O  arroio  borbulhava  por  entre  as  pedras  enormes, escoando  para  o  lado  oeste  da  picada,  irrigando  a restinga  que  vicejava  em  guatambus,  pindaíbas  e pororocas.  E  junto  a  ele  uma  figueira  imensa, centenária,  a  cuja  sombra  acamparam  saciando  a  sede. O  lugar  ficou  assim  conhecido  desde  então.

    As  bandeiras  hasteadas,  o  acampamento pronto,  limparam  o  terreno  e  plantaram  o  milho.  A figueira  fora  preservada  como  marco  do  arroio.  E  com a  picada  seria  vista  de  longe  por  quem  viesse  por  ali.

    Se  é  que  alguém  mais,  com  a  coragem  e  a

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    determinação  desses  homens,  ainda

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