Arroio Da Figueira
De J Londe
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Arroio Da Figueira - J Londe
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J Londe
ARROIO DA FIGUEIRA
1º edição
João batista Londe Uberaba, MG.
2019
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FICHA CATALOGRÁFICA ISBN: 978-65-900171-6-1
Londe, João Batista.
Arroio da figueira. Literatura. 1ª Edição. 255 Páginas
Registro EDABN nº 338.188.L621F348
Direitos autorais preservados.
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DEDICATÓRIA
Esta obra é dedicada a meu pai,
o desbravador do sertão,
Divino José Londe (1922 – 1998).
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ÍNDICE
1- PRINEIRA PARTE
1.1 – UMA CIDADE, DUAS ESCOLAS. 1.2 – UM MANUSCRITO 2 – SEGUNDA PARTE
2.1 - O ARROIO DA FIGUEIRA 2.2 - FONSECA RODRIGUES 2.3 - GÓIS DEMIÃO
2.4 - A MISSA DO GALO 2.5 - ENTEGA MOLEQUE 2.6 – ÁGUAS PASSADAS
2.7 – A CATEDRAL DE FOGO 3 – TERCEIRA PARTE 3.1- O TRUCO
3.2- A CATEDRAL DE PRATA
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3.3- CORRE COMPADRE 3.4- A CAMPANHA 3.5- A ELEIÇÃO
3.6- O MILAGRE 3.7- A RESSACA 3.8- A FIGUEIRA 3.9- O ARROIO
4- QUARTA PARTE
4.1- UM BREVE DESPERTAR 4.2- SAGRADO CORAÇÃO 4.3- MATILDE BRANDÃO 4.4- TUTORIA MONOCÉFALA 4.5- FORRÓ E PAGODE
4.6- EPÍLOGO
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1- PRIMEIRA PARTE
1.1- UMA CIDADE, DUAS ESCOLAS.
Viviam assim, em pé de guerra, numa rivalidade injustificada. Os alunos de uma escola não toleravam os alunos da outra escola, e vice versa. O quê? Ninguém sabia ao certo, naquela cidadezinha do interior, onde todos sabiam de tudo. Mas isso não sabiam. Quem estudava de lá não podia passar para cá, e se o contrário acontecesse seria briga certa.
O que os separavam!? Uma praça. Ampla e circular, densamente arborizada, com bancos
convidativos à preguiça e um chafariz no centro, ceco
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e vazio. E uma ampla avenida contornando-a, que dividia a cidade ao meio. Do lado oeste, ficava uma escola, ao lado da prefeitura, um casarão colonial; do lado leste, próximo à igreja em estilo quase manuelino, com sua torre central bem alta, alcantilada de torres menores, ficava a outra escola. Fronteiriças, bem de fronte uma da outra, porém rivais. Ou pelo menos os alunos eram. Por fim, como de resto, embora disfarçadamente, a população toda se estanhava, embora ninguém soubesse ao certo por que. Quem morava de um lado da cidade estudava em sua própria escola, jamais na outra.
Na vida cotidiana havia certa desconfiança, mas se toleravam bem. Só não gostavam de fornecer o endereço a outras pessoas, do lado errado. Fora isso, a cidade era como tantas outras cidades do interior, com acentuado crescimento horizontal, alguns prédios no estilo de cidade grande, pouca industrialização e pequeno comércio. Limpa, bem cuidada, com casarões antigos convivendo com o pregresso e com o moderno. A população era hospitaleira, nos recebendo com pão de queijo e café coado na hora, em qualquer casa que entrássemos. O problema parecia mesmo ser apenas das escolas. Ou dos alunos. Não era política de zoneamento escolar, justificando que os alunos não precisariam atravessar a avenida. Com o movimento de automóveis ali isso seria absurdo. Também não era
racismo ou outra forma visível de preconceito.
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Apenas uma rivalidade infantil, que ultrapassava os muros das escolas.
Os professores tinham transito livre já que trabalhavam em ambas, e eram quase todos de fora, de outra cidade; mas o menor sinal de favoritismo poderia redundar em animosidade. Não podiam usar o uniforme de nenhuma das escolas, emblemas, adesivos nos carros, nada; completamente neutros. Era um fato bem estranho, mas real. Havia inúmeros casos de alunos linchados apenas por atravessar a avenida vestindo o uniforme da escola onde estudavam. Os jogos intercolegiais há muito haviam sido suspensos. Eram sempre casos de polícia.
Na esperança de resolver aquela situação, ou mesmo entende-la, começamos perguntando aos alunos quais os motivos de tanta rixa. E como eles próprios não soubessem, perguntamos a outras pessoas, gente da comunidade, mas soubemos muito pouco. Uns diziam que era algo ligado aos nomes das escolas, os mais velhos que era um caso bem antigo, do tempo que a cidade era apenas um povoado, mas não se lembravam. Tinha algo a ver com um padre, diziam. Havia alguma coisa nos livros de história, mas escritos durante o período de ditadura, estavam repletos da teia de aranha do militarismo, com os antepassados pintados como heróis de guerra.
Propusemos aos alunos que fizessem uma pesquisa sobre as origens da cidade, e da fundação das
escolas. E como lecionávamos em ambas, o trabalho
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seria o mesmo para as duas, de modo a integrar a comunidade como um todo. E, é claro, sem favoritismo.
O professor de história se propôs coordenar os trabalhos de pesquisa, nós outros nos encarregamos de apóia-lo, incentivando os alunos, que recolheram material nos arquivos da cidade, nos cartórios, nas igrejas. Os moradores, pais de alunos ou não, juntaram o que puderam, doaram fotografias, jornais velhos, antigos objetos de uso doméstico etc. Em pouco tempo possuíamos mais material do que desejávamos, já que dispúnhamos de pouco espaço e pouco tempo extra. O professor de história foi substituído na coordenação por um historiador especializado, tamanho era o acervo. Dava para organizar um verdadeiro museu. Porém foi tal o envolvimento dos alunos que eles mesmos faziam grande parte dos trabalhos, ajudados pelos familiares. Ninguém confessava, mas a cidade toda estava curiosa. Virou assunto de domingo e na mídia local virou notícia: Caçadores da história perdida...
.
Juntamos os documentos, compilamos os registros, desenpoeiramos os fatos e mergulhamos
num passado romântico.
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1.2- UM MANUSCRITO ANTIGO
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2 – SEGUNDA PARTE
2.1 – O ARROIO DA FIGUEIRA
De São Paulo rasgaram as Gerais sangrando o verde em picadas, tremulando bandeiras. Enveredando pelos sertões em viagem sem volta para muitos deles, sempre em contato com o inesperado. Um perigo novo a cada passo, a imensidão da mata vicejante e o rio largo por onde deslizam as canoas. Em determinados pontos paravam e levantavam o acampamento, experimentavam os cascalhos. Nada por enquanto, era preciso ir mais adiante, e quem sabe
até rasgar a mata. Do outro lado da serra, do outro
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lado da serra... Era preciso sulcar o verde inóspito em busca de sonhos que se materializariam em ouro, em diamantes, em esmeraldas. E para muitos foi apenas isso, sonhos, sempre do outro lado da serra. Em uma dessas empreitadas, no ponto em que o sertão já havia impregnado sua marca nos homens, mudando lhes o cheiro e os ânimos, toparam com um elevado íngreme ao sopé no rio. Até ali remar contra a forte correnteza não tinha sido tarefa fácil, como de resto nenhuma seria. Extenuados cravaram a bandeira no baixio da serra, Perto do remanso espraiado entre as quaresmeiras sazonais.
Aproveitando ainda os raios do sol da tarde, outra garimpagem, onde nada faiscava. O jeito era acender o fogo e esvaziar um pouco o farnel. E naqueles ermos o sol declinou sobre o rio, enchendo de ouro os olhos daqueles homens rudes. Logo após o véu da noite descerrou na mata as escuras fímbrias. Olhares invisíveis espreitavam do interior da mata na escuridão da noite, num misto de medo, curiosidade e admiração. Resistir a um ataque ali, espremido entre a serra e o rio seria impossível.
Os facões bandeirantes desfiavam os cipós da serra abrindo a picada na subida. Arvores grossas, angicos, e jatobás, aroeiras e brasis tombavam aos golpes de machado de aço retinante, levando outras tantas no rolar da serra. Três dias de subida, sob ordens rígidas, sob fardos pesados, com pedras a
arrolar sob os pés. Por fim o alto. E quem quer que ali
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estivesse, contemplaria atrás de si, pela clareira aberta, a imensidão verde azulada da mata, pontilhada de paineiras com flores rosáceas; alcantilada de montanhas, que se fundiam ao longe com o horizonte. E naquele tapete natural uma víbora se contorcia com seu dorso de prata aos raios do sol a pino. Em breve seu dorso móvel seria novamente de ouro enchendo de esperanças aqueles corações rudes, repletos de sonhos.
À frente um altiplano ressequido pela estiagem, com vegetação menos densa que a floresta que margeava o rio. Mas mesmo assim repleta de ipês e sucupiras, árvores de caules retorcidos e grossas cascas, numa profusão de flores amarelas e lilás, brancas e palha, rosadas e pardacentas como o capinzal que recobria o solo. Animais em profusão fugiam à passagem dos bandeirantes que demarcavam a rota com facão e machado. Mas a serra estava ainda mais alem. Aquela densa e rica savana se estendia interminavelmente, sempre mais para os lados e para frente. Atrás de si já não avistavam as montanhas longínquas; e o rio de ouro e prata já era agora apenas uma lembrança. Ao calor do sol que crestava aquelas barbas hirsutas, outro inimigo se apresentava. Pior que as piranhas vorazes ou as onças moscadas em tocaia. Pior que as flechas que voavam da mata, acionadas por mãos invisíveis. Naquele chão cerrado e ermo a sede rondava. Haviam andado várias léguas sem o
menor sinal de rio ou mesmo olho d'água. As
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provisões se escasseavam. Não havia frutos nativos naquela estação, e a carne dos animais abatidos com tinha pouca água. Os homens já apresentavam sinais de cansaço, mas parar ali por muito tempo seria morte certa. À noite as feras rondavam o acampamento, urravam nas proximidades. Uivos desafiadores e rastros circulares deixados ali como um aviso, quando vistos ao amanhecer. Era preciso ter sempre alguém de vigia. Os bandeirantes andavam mais por uma obsessão do ouro que por seguirem um sonho. Arrastavam-se silenciosos, obedecendo às ordens do chefe da caravana. Sempre ao norte, cada vez mais ao norte, marcando o caminho.
Por uma dessas diabruras do destino, se é que esses homens não traçavam o próprio, toparam com uma restinga mais verdejante que o cenário à volta. Vararam na, picaram na, até encontrar uma fonte que brotava na areia branca daquele chapadão. O arroio borbulhava por entre as pedras enormes, escoando para o lado oeste da picada, irrigando a restinga que vicejava em guatambus, pindaíbas e pororocas. E junto a ele uma figueira imensa, centenária, a cuja sombra acamparam saciando a sede. O lugar ficou assim conhecido desde então.
As bandeiras hasteadas, o acampamento pronto, limparam o terreno e plantaram o milho. A figueira fora preservada como marco do arroio. E com a picada seria vista de longe por quem viesse por ali.
Se é que alguém mais, com a coragem e a
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determinação desses homens, ainda