La Révolution
De J Londe
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La Révolution - J Londe
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J LONDE
LIBERALISMO
VOL I
LA RÉVOLUTION
1ª EDIÇÃO
JOÃO BATISTA LONDE
UBERABA
2021
3
FICHA CATALOGRÁFICA ISBN: 978-65-902287-0-3
J LONDE FLOR & CULTURA Publicando Para transformar.
2021
1ª Edição, 2020.
312240046
Copyright ©2002 by Londe, João Batista.
4
CAPA: Foto e arte: André Monteiro Londe. CONTRACAPA: HISTÓRIAS DE MINAS
Museu de Arte Sacra, instalado na Igreja de Santa Rita, construída em Uberaba, no ano de 1854, e tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1939. Conta a história que Cândido Justiniano da Lira Gama, devoto que era de Santa Rita, e em cumprimento de uma promessa para se livrar do vício da bebida, mandou construir em 1854 a pequena capelinha em louvor a
Santa. Fonte: Fundação cultural de Uberaba Mg.
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DIDICATÓRIA
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AGRADECIMENTOS Aos amigos:
Professor Mário Lúcio Rosa.
Padre Murah Rannier Peixoto Vaz.
Quando estive em Estrela do Sul, MG, pela primeira vez, em setembro de 2019, encontrei um espírito irrequieto, como o meu, também amante da história. O professor Mário lúcio Rosa me surpreendeu.
Sem nos conhecermos, ou nos
apresentarmos formalmente, convidou-me à
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sua casa, e mineiro sendo, foi logo providenciando um café saboroso para acompanhar uma boa prosa.
Não poderia deixar de agradecer a acolhida, e a grande ajuda na pesquisa sobre a vida de des Genettes, quando esteve por aquelas plagas.
Também foi dele a indicação de outro personagem, um goiano, que também se interessava pelo assunto.
Este, sem nos conhecermos pessoalmente, se dignou a ajudar-me na pesquisa, elucidando pontos obscuros da vida de des Genettes. Portanto um agradecimento igualmente especial ao amigo padre Murah Rannier Peixoto Vaz, de Comari, GO.
Aos estimáveis amigos, meu muito obrigado.
J Londe
Verão 2021
8
INTRODUÇÃO
des Genettes sou eu, parafraseando Gustave Flaubert, em ―Madame Bovary‖. Tamanho o fascínio que esse espírito aventureiro exerceu sobre mim, que o encarnei como um personagem. Tento resgatar das páginas descoradas da história a figura do abolicionista discreto, do político brilhante, do cientista perspicaz, do experimentador perseverante, do articulista comprometido com o futuro. Sem esquecer o médico dedicado, o humanista afetuoso, o professor que com seu caráter e sabedoria deu de si uma imensa contribuição à educação do país. Viveu intensamente como um guerreiro, sem fazer concessões à mediocridade, do seu tempo e dos seus contemporâneos. Ninguém no Brasil encarnou com tamanha grandeza os ideais da revolução francesa do século XVIII, fazendo da medicina uma profissão de fé, da vida uma canção de louvor.
Perfeito? Não! Eterno? Talvez! Apaixonante? Sem dúvida, mas acima de tudo humano, demasiadamente humano! Que sua memória não se apague jamais.
―Não sou um sábio, sou apenas um simples e obscuro erudito que trabalha por amor à ciência, esforçando-me para levantar um canto do véu da natureza e melhor conhecer o Pai celeste, que se revela a nós pela perfeição de sua obra. Gostaria de levar uma pedrinha ao edifício glorioso.‖
des Genettes, 1875.
(Luiz Ernesto Wanke. Brasil-Chinês, Editora Lewi).
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A HISTÓRIA
.
Somos uma flecha a voar na imensidão do tempo, no espaço de construção humana, iniciado por Deus. A
história é o nosso arco.
10
NOTA:
Este livro não é científico, não está de acordo com a ABNT. Embora tenha sido construído sob uma exaustiva pesquisa científica, é uma ficção romântica, porque a história assim o exige.
A história está cheia de falhas, cabendo à imaginação poética preenchê-las. E isso é justamente o que falta aos historiadores, presos à frieza dos fatos, imaginação.
Alguns personagens são fictícios, se misturando na trama da vida de pessoas reais. Completam o cenário, dão cor ao enredo e sentido à trama. Uns são inócuos, outros iníquos. Há os que nada representam, e os que simbolizam uma época, ou uma classe. Grandes personagens, como o negro Cipião, que encarna uma leva de escravos anônimos, que por aqui passaram sem deixar notícias. Trabalhadores forçados, heróis de resistência.
Que ninguém pretenda estudar história com os poetas, nem busque poesia nos compêndios. Ambas estão na vida do
povo que a constrói.
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HISTÓRIAS DE MINAS
Quando me lancei no megaprojeto ―Histórias de Minas‖, pretendi resgatar para a memória histórica as lembranças de personagens esquecidos, mais por não fazerem parte do universo do dominante do que por serem insignificantes. De fato não o foram, ao contrário, suas ações nos inspiram até hoje quando revividas.
Escavando a história descobri que poucos afrodescendentes são louvados como heróis pela nossa sociedade, mas não somente pelo fato de serem negros. Também há brancos esquecidos, índios relegados ao ostracismo da memória coletiva, e pardos e mestiços. Gente que sangrou por uma causa, resistiu num pelourinho, que amou, que chorou. Pessoas do povo que se arriscaram pela justiça, que empreenderam, que lutaram por aquilo que acreditavam. Muitos deles excluídos das benesses sociais e agora também da história.
E qual seria o motivo desse esquecimento consensual? Afinal, a quem pertence definir os rumos em que a história será construída? Filosóficas perguntas!
Entretanto, ao longo do caminho outro desafio se
sobrepôs: Encontrar nas decisões políticas do passado as causas
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das desigualdades sociais, que se expressam hoje como racismo, analfabetismo, pobreza extrema, mortalidade infantil, violência urbana, desemprego, entre tantas. Quer por atos, como por omissões, que de forma fria e impessoal impactaram as vidas de tantas pessoas.
Se forem raízes histórias podem ser desenterradas. Isso curvou os objetivos iniciais do projeto já nos primeiros parágrafos do primeiro livro. O que me levou a procurar novas ferramentas, para desnudar rochas tão sólidas e cristalizadas. Mas onde encontrá-las?
Chaui 1 me ale rtou que ―A pobreza teórica do pensamento brasileiro... nos leva a importar ideias, formando um ornamento grotesco.‖ Certamente não quero importar ―... machados, ferramentas e coragem, para eu derrotar meus próprios obstáculos‖, como me disse José Régio 2 . Nem que seja para aclarar minhas dúvidas. ―Prefiro desenhar meus próprios pés na areia inexplorada.‖
Desta vez, Lajolo 3 , me desiludiu, quando me disse que ―Assumimos posições a partir de uma tradição cultural que vem se construindo há séculos‖. Não tenho s aída, a não ser navegar num mar de incertezas e erros. E mais uma vez é Lajolo que me diz que estamos sempre encontrando respostas provisórias para perguntas permanentes.
1 Marilena de Souza Chaui (Pindorama, 4 de setembro de 1941) é filósofa e escritora.
2 José Régio , pseudônimo de José Maria dos Reis Pereira, ( 1901- 1969). Os trechos aqui representados pertencem ao belo poema intitulado Cântico Negro
de sua autoria.
3 Marisa Philbert Lajolo (São Paulo, SP, 1944). Ensaísta,
pesquisadora, e crítica literária.
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Tamanho o trabalho, tamanho o medo, tamanho o desafio!
Entretanto, o coração bate forte no peito. A pena quer voar como se estivesse engastada na asa de um passarinho. O branco papel é seu horizonte, a tinta é o sangue que pulsa em minhas veias.
TRILHA SONORA
Ao ler esse livro sugiro ouvir a música ―Poema sinfônico número t rês, os prelúdios‖ composta em 1845, por Franslizst (1811-1886), inspirado por versos de Lamartine (17901869).
Será a trilha sonora desse romance.
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ÍNDICE:
LIBERALISMO
LIVRO I: LA RÉVOLUTION
1- LIBERDADE, IGUALDADE E
FRATERNIDADE 2- A CARAVANA 3- O RETORNO 4- ZEFERINO 5- ARAXÁ
6- UBERABA
7- OS LUZIAS
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LIVRO I
LA RÉVOLUTION
(A Revolução)
1- LIBERDADE, IGUALDADE E
FRATERNIDADE.
Difícil acreditar que o absolutismo rebrote nos jardins da liberdade, num solo ainda encharcado com o sangue de tantos absolutistas guilhotinados. Justo na França! Bem, talvez
nem todos os déspotas sejam esclarecidos, afinal o período
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Iluminista já passara. Mas foi o que se deu, apenas cinquenta anos depois da famosa Revolução Francesa, um absolutista ressurge das sombras, como se quisesse reencarnar o espírito de um fantasma. Seu nome? Vale a pena lembrar? Apenas para glorificar aqueles que se levantaram em armas, como na gravura de Eugéne Delacroix 4 , colocando mais terra sobre a cova rasa dessas múmias. Nesse chamado às armas, um jovem franzino e de brio, filho de Nicolas Dufriche, barão des Genettes 5 , neto do conde D’Arlas, do interior de Bordeaux 6 , recém-saído dos bancos da faculdade, empunha seu bacamarte. Deixara em casa o seu diploma de médico, formado em Brest, trocando-o pelo campo de batalha. Três dias gloriosos, como seria lembrada na história essa façanha, em que o povo novamente se levantava contra a nobreza, representada agora na figura de Carlos X 7 . O liberalismo da burguesia precisava de espaço político, a liberdade sonhadora da juventude queria respirar novos ares. Os ideais revolucionários se impunham pelas armas recusando o sufocamento dos direitos conquistados após a queda da Bastilha. As ruas de Paris revivem o passado de lutas, os gritos por liberdade, igualdade e fraternidade, ressoam por de trás das inúmeras barricadas. A guarda nacional revida, a luta inicial é acirrada. À frente o jovem Henry, intrépido, é alvejado no braço esquerdo. Rasga a manga da
4 Quadro A liberdade guiando o povo
1830.
5 Médico das tropas de Napoleão, caído em desgraça após a derrota de Waterloo, para as tropas do Duque de Welington.
6 Mais provável: Pauillac, Gironde, Nouvelle-Aquitaine, France,
1801
7 Nos dias 27, 28 e 29 de julho de 1830, conhecidos como os três
dias gloriosos, o povo de Paris e as sociedades secretas republicanas,
liderados pela burguesia, lutaram contra Carlos X.
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camisa improvisando um curativo, estancando com um nó apertado o sangue que jorra pelo seu país. Recorda sozinho um trecho dos versos de Lamartine 8 , como se os usasse para rezar.
Ergue-se da barricada e corre em direção ao fogo inimigo, indiferente quanto à própria vida. Mas ao contrário do que diz o poeta, sabe exatamente porque luta, é um liberal convicto. O que não sabe é que ao dizer esses versos a si mesmo selou seu próprio destino. Sua vida seria doravante uma sucessão de prelúdios, até que fosse tocada a primeira nota solene. Mas ninguém como ele a viveria intensamente, apaixonadamente, ninguém encarnaria em si mesmo os ideais da Revolução Francesa, desfrutando da liberdade, defendendo a igualdade e promovendo a fraternidade.
8 Alfonse Lamartine, 1790- 1869.
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Mas naquele momento sua atenção se volta para um jovem caído com um ferimento à bala. Esquece-se de tudo, larga a arma e socorre o moço arrastando-o para a proteção da barricada. Socorre-o com curativos improvisados. A seu lado outro cai por terra. Fica para trás dos seus companheiros que avançam em vitória contra a guarda nacional. Fiel ao juramento de Hipócrates, por um momento deixa de ser soldado. Há mais sangue humano nas ruas de Paris do que pedras em seus pavimentos.
_Vivre en France! _Vivre! _Vivre la liberté! _Vivre!
Aquele dia em Paris é glorioso, o povo comemora a vitória. Na taberna Henry bebe com seus companheiros, cantam a marselhesa 9 .
Avante, filhos da Pátria O dia da Glória chegou Contra nós, da tirania
O estandarte ensanguentado se ergueu O estandarte ensanguentado se ergueu Ouvis nos campos
Rugirem esses ferozes soldados? Vêm eles até aos nossos braços
9 Hino Da França - A Marselhesa (tradução). Compositor: Joseph
Rouget De Lisle, 1792. Temida e proibida por Napoleão Bonaparte em seu
governo.
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Degolar nossos filhos, nossas mulheres Às armas, cidadãos
Formai vossos batalhões Marchemos, marchemos! Que um sangue impuro Ague o nosso arado!
O que quer essa horda de escravos de traidores, de reis conjurados?
Para quem (são) esses ignóbeis entraves
Esses grilhões há muito tempo preparados? Esses grilhões há muito tempo preparados? Franceses! A vós, ah! que ultraje! Que comoção deve suscitar! É a nós que consideram
retornar à antiga escravidão! Às armas, cidadãos
O quê! Tais multidões estrangeiras Fariam a lei em nossos lares! O quê! Essas falanges mercenárias
Arrasariam os nossos nobres guerreiros Arrasariam os nossos nobres guerreiros Grande Deus! Por mãos acorrentadas Nossas frontes sob o jugo se curvariam E déspotas vis tornar-se-iam
Os mestres dos nossos destinos! Às armas, cidadãos
Tremei, tiranos! e vós pérfidos
O opróbrio de todos os partidos
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Tremei! vossos projetos parricidas Vão enfim receber seu preço!
Vão enfim receber seu preço!
Somos todos soldados para vos combater Se tombam os nossos jovens heróis A terra de novo os produz
Contra vós, todos prontos a vos vencer! Às armas, cidadãos
Franceses, guerreiros magnânimos Levai ou retende os vossos tiros! Poupai essas tristes vítimas
A contragosto armando-se contra nós A contragosto armando-se contra nós Mas esses déspotas sanguinários Mas os cúmplices de Bouillé 10
Todos os tigres que, sem piedade Rasgam o seio de suas mães! Às armas, cidadãos
Amor Sagrado pela Pátria
Conduz, sustém-nos os braços vingativos Liberdade, liberdade querida
Combate com os teus defensores! Combate com os teus defensores!
Sob as nossas bandeiras, que a vitória Chegue logo às tuas vozes viris! Que teus inimigos agonizantes
10 Marquês de B
B o
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l é
é , , foi um general e político que se destacou como governador das Antilhas e como apoiante de L
L u u í
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a n n c
c e e s
s a
a , , ficando conhecido pela sua fidelidade e apego à
família real francesa.
21
Vejam teu triunfo, e nós a nossa glória Às armas, cidadãos
Entraremos na carreira (militar)
Quando nossos anciãos não mais lá estiverem Lá encontraremos suas cinzas
E o resquício das suas virtudes E o resquício das suas virtudes
Bem menos desejosos de lhes sobreviver Que de partilhar seus caixões Teremos o sublime orgulho
De os vingar ou de os seguir Às armas, cidadãos
Formai vossos batalhões Marchemos, marchemos! Que um sangue impuro
Ague o nosso arado !
Depois se sucede igualmente outra batalha nas ruas da cidade. E novamente