Axios
De J Londe
()
Sobre este e-book
Leia mais títulos de J Londe
Pó De Estrelas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCattleya Walkeriana Nota: 0 de 5 estrelas0 notasL'onde Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPlanejamento Escolar Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAna Preta Nota: 0 de 5 estrelas0 notasArroio Da Figueira Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLa Révolution Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Relacionado a Axios
Ebooks relacionados
La Révolution Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCrônicas De Itu E Salto Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAnita Garibaldi Revive: Na literatura, na cultura e na economia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSabores Urbanos: Alimentação, sociabilidade e consumo - São Paulo, 1828-1910 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs mártires pernambucanos: vítimas da liberdade nas duas revoluções ensaiadas em 1710 e 1817 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasColecionismo de Arte: Um Estudo da Legitimidade Artística e Apropriação Estética da Arte Popular Nota: 0 de 5 estrelas0 notasContos Catarinenses Nota: 0 de 5 estrelas0 notasArroio Da Figueira Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMuseu das Bandeiras: Lugar de pesquisa Nota: 0 de 5 estrelas0 notasBicentenário Da Independência Do Brasil Através Da Numismática Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAntigos Cemitérios E Sepultamentos Da Cidade Do Rio De Janeiro Nota: 0 de 5 estrelas0 notasHistória De Itabaiana/se Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCamilleana Collecção das obras de Camillo Castello Branco Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPirassununga De Todos Os Tempos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSão João Del Rei Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPelos Caminhos De Ferro Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Companhia de Jesus na Cidade do Rio de Janeiro: O Caso do Engenho Velho, Século XVIII Nota: 4 de 5 estrelas4/5Ruas sobre as águas: as pontes do Recife Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCuriosidades De Luziânia Em Cordel Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAssistência aos pobres em Londrina:: 1940/1980 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO "arquiteto memorialista" Carlos Lacerda e suas representações do Estado da Guanabara (1960-1965) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLobo De Mesquita Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAs Pinturas De Benedito Calixto Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAvieiros, hoje Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRio de Cor: Monumentos para colorir Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAdele: A Última ‘Berta’ Que Fiava Nota: 0 de 5 estrelas0 notasGoiabal 3g Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO poeta Chiado (Novas investigações sobre a sua vida e escriptos) Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Ciências Sociais para você
Um Poder Chamado Persuasão: Estratégias, dicas e explicações Nota: 5 de 5 estrelas5/5Os Segredos De Um Sedutor Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA perfumaria ancestral: Aromas naturais no universo feminino Nota: 5 de 5 estrelas5/5A Prateleira do Amor: Sobre Mulheres, Homens e Relações Nota: 5 de 5 estrelas5/5Segredos Sexuais Revelados Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTudo sobre o amor: novas perspectivas Nota: 5 de 5 estrelas5/5As seis lições Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTeoria feminista Nota: 5 de 5 estrelas5/5Tudo é óbvio: Desde que você saiba a resposta Nota: 4 de 5 estrelas4/5Manual das Microexpressões: Há informações que o rosto não esconde Nota: 5 de 5 estrelas5/5Um Olhar Junguiano Para o Tarô de Marselha Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSeja homem: a masculinidade desmascarada Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Ocultismo Prático e as Origens do Ritual na Igreja e na Maçonaria Nota: 5 de 5 estrelas5/5Mais Esperto Que o Método de Napoleon Hill: Desafiando as Ideias de Sucesso do Livro "Mais Esperto Que o Diabo" Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Manual do Bom Comunicador: Como obter excelência na arte de se comunicar Nota: 5 de 5 estrelas5/5Detectando Emoções: Descubra os poderes da linguagem corporal Nota: 4 de 5 estrelas4/5Liderança e linguagem corporal: Técnicas para identificar e aperfeiçoar líderes Nota: 4 de 5 estrelas4/5Como Melhorar A Sua Comunicação Nota: 4 de 5 estrelas4/5Pertencimento: uma cultura do lugar Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPsicologia Positiva Nota: 5 de 5 estrelas5/5Pele negra, máscaras brancas Nota: 5 de 5 estrelas5/5Churchill e a ciência por trás dos discursos: Como palavras se transformam em armas Nota: 4 de 5 estrelas4/5Jacques Lacan: Além da clínica Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFenômenos psicossomáticos: o manejo da transferência Nota: 5 de 5 estrelas5/5Quero Ser Empreendedor, E Agora? Nota: 5 de 5 estrelas5/5Coisa de menina?: Uma conversa sobre gênero, sexualidade, maternidade e feminismo Nota: 4 de 5 estrelas4/5
Avaliações de Axios
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
Axios - J Londe
1
2
3
J LONDE
LIBERALISMO
VOL III AXIOS
1ª EDIÇÃO
JOÃO BATISTA LONDE
UBERABA
2021
4
FICHA CATALOGRÁFICA ISBN: 978-65-902287-2-7
J LONDE FLOR & CULTURA Publicando Para transformar.
2021
Londe, João Batista.
Liberalismo: Vol. III; Axios. Literatura. 191 Páginas
1ª Edição, 2021.
Registro nº 312240046
I Direitos autorais preservados.
Copyright ©2002 by Londe, João Batista. o Catalogação na fonte.
2021.
5
CAPA: Foto e arte: André Monteiro Londe. CONTRACAPA: HISTÓRIAS DE MINAS
Museu de Arte Sacra, instalado na Igreja de Santa Rita, construída em Uberaba, no ano de 1854, e tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1939. Conta a história que Cândido Justiniano da Lira Gama, devoto que era de Santa Rita, e em cumprimento de uma promessa para se livrar do vício da bebida, mandou construir em 1854 a pequena capelinha em louvor a
Santa. Fonte: Fundação cultural de Uberaba Mg.
6
DIDICATÓRIA
7
LIVRO III AXIOS 1
1- CASA FECHADA
Do alto do morro da Boa Vista se desvendava uma enorme bacia natural, formada por montanhas baixas, com uma abertura a oeste, por onde corria um regato. Todo o conjunto fazia parecer que o fundo dessa bacia havia afundado, ou antes, rasgado por ribeiros que formavam juntos um córrego, deslizando a oeste. No centro desse conjunto hídrico, um povoado de casas baixas, em estilo colonial, iluminado pelo sol poente.
Cipião comtempla o lugarejo, avistando o local por onde passara seis anos antes. Tanto tempo!... Seis anos de escravidão injusta!... Se é que alguma escravidão possa ser justa! Quatro anos em Cascalho Rico e mais de dois anos em Bagagem.
Desce a ladeira em direção ao riacho onde se lavara outrora. Bebe de suas águas límpidas. Olha sua imagem
1 Gnaeus Domitius Corbulo ; conhecido como Corbulão; 7
7 - 6
6 7
7 . . DC. Severo General de Roma, cunhado de Calígula. O imperador Nero, temendo-o por não o achar digno de confiança, expediu a ordem para que ele se suicidasse. Ao cumpri-la, colocou sua espada contra o peito se
deixando cair sobre ela. Disse alto e em bom som: Axios: Sou digno.
8
refleti da à flor d‘água. O que vê não o anima. Não se parece com a imagem que tem de si mesmo. Magro, com os cabelos hirsutos, aos andrajos. Uma figura digna de pena, ou antes, de pavor. Teme entrar assim no vilarejo e despertar sentimentos de medo ou de hostilidade. Resolve descansar ali um pouco, só acabando de chegar à noite. Está cansado e faminto.
Com o cair do véu estrelado a vila ficou às escuras. Somente os facínoras se arriscariam sair às ruas na escuridão. Não teve medo. Adentrou pela Rua do Comércio, pela Gameleira, seguindo até o Largo da Matriz. Viu a catedral que ajudara a construir outrora. Ainda estava por terminar. Um cão denunciou a sua presença. Apertou o passo chegando à Rua da Alegria, perto da igreja velha. Desceu a ladeira em direção à casa de seu amigo Zezão.
À porta da mansarda encontrou um pequeno garoto amedrontado, no lusco fusco da noite. Ao vê-lo o menino se encolheu entre uma moita de ―comigo ninguém pode‖. Tremia de medo no escuro.
_Como se chama garoto?
Cipião perguntou seu nome agachando-se perto do menino. Este se escondeu mais ainda com indisfarçável temor.
_Não precisa ter medo, sou seu amigo. Qual o seu nome? _Quinzim.
_Quem é o seu pai?
_Num tenho pai não!
_Por que você está aqui de fora a essa hora? _Porque minha mãe mandou eu ficar aqui. _E onde está a sua mãe? _Tá lá dentro de casa.
_Mas por que ela mandou você ficar aqui de fora?
9
_Porque tem um home lá com ela agora.
Cipião abraçou o menino desconfiando que aquele garoto fosse o seu afilhado. O menino se aconchegou no corpo daquele gigante, buscando um pouco de calor humano. Não sentia mais medo. Ficou ali agachado, abraçado àquele corpo frágil. Um vulto se avolumou à saída da casa. Cipião se ergueu.
Um corpo de homem se desenhou à sua frente, meio assustado ao vê-lo de pé. Disse meio se desculpando ao sair:
_Pronto amigo, agora é a sua vez, tá desocupado.
Cipião segura a mão de Quinzim e entram na cabana. No escuro, ao vê-lo, uma mulher diz ao filho:
_Espera lá fora mais ou pouco, Quinzim, tenho que atender o moço.
Cipião percebe que ela não o reconheceu. Havia mudado bastante e ali no escuro da candeia também não a reconheceria.
_Sou eu Conceição, O Cipião!
_Está bem, vai lá prá fora Quinzim.
_Não Conceição! Sou eu! O amigo do Zezão!
Conceição pega a candeia de óleo e a leva próximo ao rosto de Cipião. Olha tentando reconhecê-lo.
_Cipião está morto. Mataram ele no cepo. _Não! Estou vivo. Sou eu!
Conceição se encolhe a um canto sem nada dizer. Sente vergonha, sente tristeza, sente alegria por ele estar ainda vivo. Confusa nada diz. Cipião brinca com o garoto.
_E você rapaz! Virou um moço forte! Sabia que eu batizei você lá igreja?
Isso fez Conceição acordar da letargia. Era ele mesmo! Tornou a olhar Cipião. Uma lágrima escorreu na pele escura.
Não sabia se de alegria, de tristeza, de dor ou de saudade.
10
Talvez fosse a fumaça do fogão, pensou. Tentou atiçar o fogo no fogão sem lenha. Pegou a mão do Quinzim e entrou num quarto contíguo. Deitou-se com ele na cama suja e aconchegou-se ao garoto. Cipião vasculhou o caldeirão no fogão á procura de algo que comer. Não havia nada. Encolheu- se em um canto da cozinha e dormiu.
Um galo acordou o dia com um canto forte. Cipião desejou coloca-lo numa panela. Levantou-se a procurar o galo. Se o pegasse certamente o cozinharia. Daria um bom caldo a encher um estômago vazio. Olhou em derredor se encontrava lenha, ou mesmo alguns gravetos. Desceu a ladeira até o córrego.
Conceição acorda da noite de sono acreditando que sonhara. Cipião havia morrido e lhe aparecera em sonho. Olhou a cozinha vazia com o lume apagado, Não havia ninguém, fora apenas um sonho. A vida seguiria em frente, dura, fria, sem leite para o filho e sem feijão na panela. Fechou os olhos desejando que aquele sonho se prolongasse, se materializasse. Queria agarrá-lo com as mãos para fazê-lo durar.
Um homem entrou de chofre na cozinha assustando-a. Olhou virando-se rápido ante aquela aparição. Um negro gigante entrava trazendo uma braçada de lenha. Abriu a boca arregalando os olhos. Era Cipião, não havia sonhado.
_Aonde está o Zezão, Conceição? _Está morto!
_Fais muito tempo?
_Fais. Dispois que ocê foi imbora.
_Vou comprar comida na Vila, mas preciso de um favor
seu. Preciso cortar o cabelo. Depois vou ver se arrumo umas
11
roupas. Não posso chegar à venda parecendo um escravo e falar que sou livre.
_Deve de tê ropa do Zé aí. Vô procurá procê.
Cipião sai à rua em busca de um comércio. Vai comprar comida. Vestiu uma roupa usada por seu amigo Zezão. Calçou umas chinelas velhas 2 . Conceição lhe cortou os cabelos com uma tesoura emprestada de um vizinho. Estava apresentável, podia andar pelo povoado como um homem livre. Na venda comprou arroz, feijão e farinha. Café, sal e rapadura. Fubá e ovos para fazer um bolo. Passou num açougue e comprou carne de porco e toucinho. Voltou para casa, Quinzim iria acordar com fome.
A mulher amassou um pouco de fubá de milho com água e raspas de rapadura e ovo. Juntou um punhado de erva doce do quintal e tostou nas brasas do fogão de lenha. O cheiro de broa assada encheu a casa com sabor de vida. Os mestiços haviam aprendido com os índios, acrescentando depois a rapadura e os ovos com erva doce. O sabor era agradável como o seu aroma prometia. Quinzim acordou num paraíso, querendo provar aquela iguaria.
Depois outro cheiro disputou espaço naquela choupana apertada. Um pó preto escaldado exalava vapores, impregnando-se no capim do teto. Havia café. Cipião comeu a se fartar. Bebeu do café adoçado com rapadura, revigorando as forças e a coragem. Saiu a enfrentar o dia em sociedade.
2 Nas cidades escravos andavam descalços, o uso de sapatos indicava
quem era livre. Nas fazendas os pequenos fazendeiros livres também andavam descalços, inclusive as mulheres. Calçavam botas quando iam à
cidade.
12
Foi à praça da matriz, a ver se encontrava trabalho. A construção da igreja estava paralisada. Desceu até a Rua do Comércio a indagar por trabalho. Ao cruzar o córrego viu um grande açude abaixo da ponte, com muita água. Não se lembrava de tê-lo visto da outra vez que estivera aqui.
Olhou o movimento da rua. Escravos iam e viam carregando fardos e recados. Homens e mulheres trafegavam conversando e olhando as lojas abertas. Perambulou entre a populaça sem nada encontrar.
À tarde retornou à casa. Passou num armazém de secos e molhados, encontrou uma coisa que o fez sorrir. Comprou e levou para casa. Chegou com um pacote de batata doce. Comeriam assadas na brasa à noite e pela manhã com café.
Quinzim o esperava para brincar. O guri pulou no seu colo fazendo algazarra.
_Ti Cipião, quando eu crescê vou ser fortão assim? _Só se ocê cumê jiló!
_Jiló é ruim credo! Eu gosto é de rapadura!
À noitinha postou-se à porta do rancho, olhando a rua triste com nome de Alegria. Um cheiro gostoso exalou da casa de Conceição e Quinzim. Sem o querer voltou-se para ela como se pudesse enxergar o cheiro de toucinho frito, tão denso ele era. Uma casa sem os aromas de comida parece não ser habitada por ninguém. Precisa ter fogo e fritura, assados e café coado na hora. Precisa exalar sabores ao vento, encher a alma através das narinas. Convidar a entrar e saborear.
Um vulto se aproximou da casa, no descuido de Cipião. Este assustou-se, assustando também o vulto que chegava na noite. Encararam-se curiosos e temerosos. Cipião
compreendeu, dizendo apenas:
13
_A casa tá fechada amigo!
O homem virou-se e saiu na mesma velocidade que chegou. Cipião recolheu-se à choupana. Conceição ouvira o que o amigo dissera.
_Tenho que trabalhar, não pode espantar os clientes.
_Não precisa mais fazer isso Conceição. Vou cuidar de vocês agora.
__Não precisa cuidar da gente, ocê tem que seguir sua vida.
_Preciso sim! Prometi isso ao Zezão. O que aconteceu com ele?
_Ora! Morreu!
Deu de ombros como se isso não fizesse mais diferença.
_Quero saber como ele morreu. Era um homem muito forte e sadio.
_Caiu do andaime lá na construção. Estava fazendo a torre, naquela altura de Deus! Dizem que ele escorregou. Acho que ficou tonto e caiu.
_Como assim tonto?
_Ele queixava de tontura 3 às veis. Ficava tonto sem beber pinga! Tinha que deitá. Falava que tudo estava rodando, inté de oio fechado. Quando isso acunticia num cunsiguia pará em pé. Deve ter sido isso que aconteceu! Ele num quiria í trabaiá naquele dia. Tava cum tontera. Mais teve que í, precisava terminá o serviço. Foi e num vortô. Fiquei suzinha nu mundo cum Quinzim.
3 Labirintite.
14
_Vou ficar aqui se você deixar e cuido de você e do Quinzim. Vou arrumar um trabalho, você num vai mais precisa fazer nada disso mais.
Conceição parou de mexer a panela ao fogo. Olhou para Cipião enquanto uma lágrima grossa rolava na pele negra. Voltou a mexer a panela com uma colher de pau. Com a cabeça baixa, sem coragem de olhar para ninguém, começou a falar em tom de desabafo:
_Eu desejei sê escrava de novo, só para num tê que vê o meu fio passa fome! Quando eu era escrava na fazenda, com minha mãe, sempre tinha manga pra matá a fome da gente. Banana, fruta do mato. Num sabia o que era num tê o que cumê.
_Isso acabou Conceição. Passou.
_Preferia sê escrava de novo na fazenda do que sê escrava de home na cidade! Lá tinha o tronco e o chicote do feitor. Aqui tem fome e miséria. Tem doença que dói mais que o chicote nas costas. Toda noite vem homem cevar luxura no corpo da gente, toda noite tem companhia, mas agente tem que viver sozinha. Quiria sê escrava de novo, para obedecê só um patrão. Era mais fácil de agradar! Cada home que chega aqui me vê como uma coisa diferente. Uns pensam que sou uma panela, outros acham que eu sou um cavalo, ou uma égua. Mas todos eles me tratam como se eu fosse um trapo. Na senzala da fazenda num tinha isso não!
_Mas tinha castigos.
_ Eu tinha mãe e amigos. Tinha batuque nos domingos. Ria de vez em quando. Dançava quando tinha festa. Tinha dança de roda em redó do fogo. Aqui só tem castigo todos os
dias.
15
_Isso agora é passado Conceição!
_Vamo jantá! Hoje tem feijão cum toicinho. _E como você saiu da fazenda Conceição? _O Zezão me comprou do Sinhô.
Cipião encheu uma cuia de feijão e perguntou: _E como ele fez isso?
_Ele era home livre. Tinha um punhado de terra na beira do rio. Era fio de uma índia com um negro. O patrão queria as terras dele, pois achava que tinha ouro lá. O povo dizia que ele tinha mandado matá o pai dele pra mode ficá com as terras.