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Santa Dica: História e Encantamentos
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Santa Dica: História e Encantamentos
E-book67 páginas6 horas

Santa Dica: História e Encantamentos

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Sobre este e-book

A história de Benedita Cipriano Gomes – "Santa Dica", abrange: a vida pessoal, o Dia do Fogo, o personagem inserido na historiografia regional de Goiás e do Brasil (Movimentos Messiânicos no Brasil, o Coronelismo em Goiás, Revolução de 1930 e 1932). Contempla o leitor com lendas e encantamentos, as poderosas orações ensinadas pelos Guias Espirituais que curavam por meio de Santa Dica.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento30 de ago. de 2021
ISBN9786558594277
Santa Dica: História e Encantamentos

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    Santa Dica - Waldetes Aparecida Rezende

    Capítulo I

    A Vida de Benedita Cipriano Gomes e o Episódio do Dia do Fogo

    c Santa Dica e suas filhas Dolores e Quitéria d

    Um fenômeno sobrenatural chamou a atenção no interior do Estado de Goiás, especificamente no município de Pirenópolis, distrito de Lagolândia, a partir de 1905, onde uma menina foi considerada morta por quatro vezes. Para a medicina essas foram crises de catalepsia, mas para o povo, foram ressuscitações, e o seu destino mudou os rumos da história local. Mesmo antes do nascimento, os seus pais já sentiam que nasceria uma criança diferente. O pai tivera um sonho, em que um anjo contava que a filha teria uma missão muito especial, e que este deveria ter muita força, para ajudá-la a cumpri-la. Quanto à mãe de Dica, esta estranhava o comportamento do feto dentro de seu ventre, às vezes, passava dias sem se mexer, parecendo morto, em outras ocasiões somente estremecia.

    Benedita Cipriano Gomes nasceu em 13 de abril de 1905, na fazenda Mozondó, filha de um humilde casal de agricultores, Benedito Cipriano Gomes e Benedita Francisca da Abadia, que esperavam com ansiedade o nascimento da primeira filha, e com grande dor receberam a notícia da parteira de que a criança não vingara, pois não conseguira fazer com que chorasse, apesar de todos os recursos utilizados como rezas e simpatias.

    Aproximadamente 24 horas depois, já se preparavam para enterrá-la, quando com espanto os presentes ouviram o choro do bebê que até então não apresentara sinais de vida.

    O casal, muito católico, fez promessa a São Benedito pela vida da filha que ressuscitara, em ação de graças batizou-a com o nome do santo, e prometeu celebrar o seu dia enquanto vida tivesse, o que depois foi cumprido pela filha, e em seguida passando a ser realizado pela beata Norberta Crisoste e Benedito José Gonçalves, fiéis seguidores de Santa Dica, que a realizam até os dias atuais, com apoio da comunidade local, principalmente depois de 2006 com a morte de Dona Norberta. Em sacrifício, rezariam nove novenas, o que somariam 81 dias de reza do santo terço, o que as mulheres da comunidade cumpriram somente no ano de 2002, pois Dica não pôde cumprir em vida parte da promessa feita pelos pais.

    Cresce franzina, corpo miúdo, cabelos encaracolados e compridos, parecendo muito frágil. Com a idade de dois anos, sem sofrer de nenhuma doença aparente, pára de respirar, totalmente imóvel, sem responder a nenhuma tentativa de recobrar-lhe os sentidos, o que causa imensa tristeza em seus familiares e naqueles que moravam na região, que não tinham conhecimento de enfermidade alguma que pudesse ter causado tal tragédia.

    Após um período de velório, todos se assustaram diante da cena que assistiram, Dica tossia e de sua boca golfadas de sangue e pus saía sem que pudessem ser contidos. Ao pararem, ouviram quando uma voz estranha, que certamente reconheciam como não sendo a da criança, dizendo: O sangue derramado livrou-a do pecado e o pus a limpou das impurezas. Todos os presentes tiveram um único entendimento do fato ocorrido, que Dica era uma criança especial, e nascera com uma missão à cumprir acima da compreensão de qualquer um deles.

    O fato do pai não aceitar o que estava ocorrendo com a menina, faz com que passe a morar sob os cuidados de seus avós paternos, Bento Cipriano e Isabel Borges, residentes no Povoado. O senhor Benedito não aceitara a idéia da filha já despertar a atenção de vizinhos que começaram a buscar cura de males que os afligiam. Na casa da avó vai morar até o ano de 1925, quando esta falece. Começa a curar, é chamada de Dica dos Anjos, pois era constantemente pega conversando com seres invisíveis, que afirmava serem Anjos Celestes, pessoas que morreram ainda crianças, às vezes falava em outras línguas, curava através da imposição das mãos sobre a cabeça ou ferimento, outras vezes, levava o dedinho à boca molhando-o de saliva que passava sobre o ferimento em forma de cruz. E desse modo peculiar, sem utilizar raiz ou ervas, curou vários tipos de enfermidades, até 1925, quando perde a inocência.

    Benedita tornava-se uma bela mocinha, corpo delgado, cabelo longo e negro. Demonstrava grande carinho e atenção por aqueles que sofriam mesmo quando estava com pouca idade. Em 1920, vai ser considerada morta mais uma vez. E os boiadeiros que pernoitavam na região transportando gado, começaram a contar sobre a menina que curava e falava com Anjos em cidades próximas e outros Estados do Brasil, começando uma verdadeira romaria até o Povoado. Gente chegando e partindo o tempo todo, alguns em busca de cura para si, ou algum familiar que, sem recurso, fora mal assistido ou desenganado pelos médicos, buscando em Dica e os seus Anjos o remédio para os males físicos.

    Dica, no entanto, oferecia não somente a cura dos males físicos, mas passa a cuidar desses peregrinos com alimentação, abrigo, moradia. Em volta de sua casa foram se erguendo todo tipo de construção: ranchos de pau-a-pique, cobertos de palha de buriti que era farto na região, de lona e palha de arroz, e logo surgem as primeiras construções de alvenaria, sendo as primeiras casas edificadas de Alfredo dos Santos (o gaúcho), Firmino Moreira Damasceno e Antonio da Silva Moreira.

    A partir de julho de 1923 começam os Conselhos, que eram reuniões geralmente realizadas no casarão de curas e nas casas dos seguidores mais fiéis, sendo que no reduto ocorriam às quartas e às sextas-feiras, quando se seguia um ritual próprio para a ocasião. Nesses dias, a moça não comia antes da cerimonia ser encerrada. Dica era levada para o banho (purificação), em seguida se dirigia para a sala maior da casa onde se encontrava um altar com imagem da virgem Maria, ao lado estava a cama construída sob encomenda de um carapina, pois possuía 10 palmos ou 2 metros de altura, na qual subia com ajuda de uma escada. Deitava-se e em poucos minutos ficava paralisada, parecendo mesmo estar morta, era quando começava a manifestação dos Guias espirituais. A seguidora Ilza Rezende relata que durante os transes, Dica ficava como morta, a voz saia de seu corpo, mas sua boca não se mexia, mudava de voz constantemente, conforme os Guias se manifestavam, as luzes permaneciam apagadas durante a reunião.

    Quando interrogada em Processo de 1925, do qual trataremos no Episodio do Dia do Fogo, Dica relata o que sentia e via antes de passar ao estado de transe profundo:

    Que, quando vai ficando em transe, isto é, quando dela se vem apoderando esta espécie de inervação de seu corpo e perda dos sentidos, vê, claramente, com os seus olhos abertos, uma várzea muito grande e limpa, onde pessoas do outro mundo se encontram, chegando mesmo a verificar a presença, ali, de alguns conhecidos seus, já mortos, mas, nada ouve a não ser uma campainha que lhe soa aos ouvidos, fatos esses que são o prenúncio, como disse do estado de torpor ou mesmo de insensibilidade absoluta em que minutos depois cai e sob o qual dizem falar ela em nome dos espíritos coisas de que, depois, em seu estado normal não tem ciência (Processo nº 651.p.50-A a 53-B).

    Dentre estes conhecidos, Dica reconhece seus dois primos mortos ainda crianças, José Sueste (que morreu com um ano e seis meses, com um mal na garganta) e a pequena Silvéria (morreu com oito meses, de diarréia e vomito, devido a dentição), as crianças começam a se comunicarem com os moradores locais e visitantes, e comandam as falanges celestiais, promovendo o início da República dos Anjos, assim denominada devido aos Anjos crianças e os primos Silvéria chamada daí em diante de Rainha Silvéria e José Sueste conhecido como Rei-de-Valia. Havia também o comandante José Gregório, soldado morto em batalha ( morador da cidade de Catalão), único adulto, que comandava as tropas dos Anjos Guerreiros e protege os seguidores nas lutas materiais e espirituais.

    Com o corpo imóvel, em estado de transe, Dica passava as mensagens recebidas, as que precisavam ser anotadas eram copiadas por Alfredo dos Santos, único seguidor de sua confiança, que sabia ler e escrever. Dentre os conselhos encontravam-se indicações para a cura de doenças, distribuição das tarefas da comunidade, regras morais, organização de festas, orações de cura, benzimentos, aconselhamento de problemas particulares, de ordem amorosa e financeira, etc.

    No mesmo período, Dica passa a realizar cerimônias de batismo e confirmações, sendo um dos Anjos Celestes ou um Guia espiritual, escolhido como padrinho e ela própria a madrinha, vindo daí a explicação pela qual a maioria dos nascidos naquele tempo chamar -na carinhosamente de Madrinha Dica.

    A região antes denominada Mozondó passa a ser chamada pelos moradores, de Calamita dos Anjos ou República dos Anjos, onde a terra seria repartida para todos e era uma dádiva de Deus que não podia ser usufruída somente por poucos. O trabalho deveria ser realizado buscando o bem comum, conforme orientação dos Guias em dias de Conselhos. Pregava-se àqueles que chegavam que todos deveriam viver e se amar como irmãos. As plantações eram realizadas de forma coletiva ou em mutirões, onde o que era colhido serviria para alimentar os moradores da comunidade, como os peregrinos que chegavam famintos de todas as partes do país, necessitando de todo tipo de ajuda: material e espiritual.

    Fazendeiros abandonaram suas terras e chegando ao reduto doaram o que trouxeram em alimentos, dinheiro, ouro (colares e brincos eram muito usados pelas esposas e filhas dos fazendeiros nesse período), ou algo de valor que pudesse ser usado em favor da comunidade.

    Cipriano Gomes, tio de Santa Dica e um de seus seguidores.

    Contudo, não faltaram aqueles que vieram interessados em obter lucro fácil, fingindo se converterem ao movimento obtiveram a proteção de Dica e abriram casas de comércio, oferecendo aos moradores suprimentos alimentares, ferramentas de trabalho, farmácia, bares, etc.

    Muitos trabalhadores das fazendas que eram empregados como meeiros, arrendatários, agregados, caseiros, peões, abandonaram seus locais de moradia e procuraram o reduto aceitando viverem conforme as leis celestes impostas pelos Guias. Mesmo aqueles que por algum motivo não puderam fazer parte da comunidade, passaram a seguir as regras já conhecidas na região, não trabalhavam aos sábados e dias considerados Santos.

    Dica, que nascera e crescera em uma família que seguia os preceitos da doutrina católica, iniciou no local, celebração das festas em datas santificadas pela Igreja: a Folia de Reis, de 31de dezembro a seis de janeiro, a de São Sebastião, no dia 20 de janeiro e Nossa Senhora da Conceição, 8 de dezembro. Esta Santa foi nomeada a padroeira do local, devido a ter sido a 1º missa celebrada por volta de 1924, em uma barraca coberta de palha, comemorando o dia da chegada da imagem

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