L'onde
De J Londe
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L'onde - J Londe
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J LONDE
LIBERALISMO
VOL II L’ONDE
1ª EDIÇÃO
JOÃO BATISTA LONDE
UBERABA
2021
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FICHA CATALOGRÁFICA ISBN: 978-65-902287-1-0
J LONDE FLOR & CULTURA Publicando Para transformar.
2021
1ª Edição, 2021.
312240046
Copyright ©2002 by Londe, João Batista.
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CAPA: Foto e arte: André Monteiro Londe. CONTRACAPA: HISTÓRIAS DE MINAS
Museu de Arte Sacra, instalado na Igreja de Santa Rita, construída em Uberaba, no ano de 1854, e tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1939. Conta a história que Cândido Justiniano da Lira Gama, devoto que era de Santa Rita, e em cumprimento de uma promessa para se livrar do vício da bebida, mandou construir em 1854 a pequena capelinha em louvor a
Santa. Fonte: Fundação cultural de Uberaba Mg.
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DIDICATÓRIA
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LIVRO II L’ONDE 1
1- ONDE SE VÊ O SOL
O nome Araxá é o que significa, o mais lindo amanhecer. Do alto do morro os cavaleiros contemplam o povoado engastado no baixio das montanhas. Um pequeno vilarejo com casarões brancos ao sol da manhã. Margeada por um riacho, a vila de São Domingos dos Araxá despertava para mais um dia seca no cerrado mineiro, que a rigor, administrativamente estava ligado a Goiás. O capitão des Genettes olha embevecido a paisagem montanhesa, dourada ao sol da manhã. Um soldado o desperta.
_Vamos entrar no povoado capitão?
1 A onda
: Refere -se ao modelo de progresso a que a cidade se
sofreu.
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des Genettes não responde de imediato. Aponta uma mancha de poeira que se eleva a oeste no horizonte, se aproximando do vilarejo, parecendo vir de Uberaba.
_Aqueles estão com pressa. Vamos evitar a vila, cortaremos caminho pelo mato. José!
_Pronto capitão!
_Leve consigo o Benedito. Vai espiar quem são aqueles cavaleiros apressados. Mas não deixe ninguém ver vocês. Está vendo aquele morro com aquele ipê roxo florido lá?
Aponta no horizonte ao sul de onde estavam. _Sim senhor!
_Nos encontraremos lá. A fazenda é depois daquela montanha. Seja rápido. Não podemos nos atrasar mais. Esperaremos vocês lá.
Os caçadores a paisano montam ligeiros os seus cavalos. Descem o morro em companhia do vento, se dirigindo na direção da nuvem de poeira.
Os outros seguem o caminho da fazenda dos Mendonça.
Ao sopé do ipê os cavalos pastam soltos, mas com os arreios ao lombo. Os homens descansam e se refrescam. Um barulho os põe alertas. A sentinela avisa:
_Amigo capitão!
_Guarda nacional, capitão. Pelo menos cento e cinquenta soldados uniformizados.
José vai dizendo enquanto desmonta. Pega uma cabaça e bebe um gole d’agua. Benedito também desmonta acrescentando:
_Parecem estar prá briga capitão, o armamento é pesado! _Viram se eles pararam no povoado?
José:
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_Parece que sim!
_Bem messieurs, isso nos dá um pouco de tempo. Vamos embora.
Perto das dez horas da manhã os cães da fazenda ladram à chegada dos companheiros de jornadas. Escravos da casa os recebem afastando os cães e segurando seus cavalos. Desmontam. Sobem apressadamente as escadas do varandão. Dona Josefa já os espera. Cumprimenta alegre o doutor des Genettes.
_Bonjour madame!
_Bom dia doutor, o senhor parece cansado! Algum problema?
_Oui madame. Cavalgamos a noite toda, estamos vindo de Lagoa Santa.
_E quais as novidades então? Sentem-se senhores.
_Tristes novidades madame, muito tristes. Oh! Pardon, esses são meus companheiros de infortúnio. Fomos derrotados em santa Luzia.
Uma escrava traz uma bacia com água e uma bilha de barro, para se lavarem e refrescar. Outra coloca uma moringa de barro com água fresca de beber e alguns copos de latão.
_Como assim, perdemos? O que foi que houve doutor?
_Fomos batidos pelo batalhão imperial, sob comando do barão de Caxias. A maioria se dispersou, mas há muitos prisioneiros.
_Não chegaram a atacar Ouro Preto?
_Não, madame. Fomos interceptados a caminho.
_E o padre Marinho?
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_Não sabemos ao certo, mas creio que conseguiu fugir, Prenderam os líder do movimento, Teófilo Otoni. Estão levando os prisioneiros para a capital da província.
_Então vamos organizar um exército e resgatá-los!
_Esta também não é uma notícia boa, vindo para cá avistamos um destacamento da guarda nacional. São três colunas de cinquenta homens a cavalo. Devem estar na vila nesse momento.
_O senhor acredita que virão aqui na fazenda, doutor?
_Receio que sim, madame. Vim alertá-los e ficar se precisarem de ajuda.
_Toda ajuda é bem vinda, principalmente porque meu marido está na Corte com alguns de meus filhos. Mas não creio que terão a coragem de nos atacar de frente.
_Não sei madame. É bom prevenirmos. Quantos homens estão aqui na fazenda?
_Bem, estão aqui meu filho Eduardo e meu genro Pestana. Tem o Cipião e os homens do capataz. Creio que uns vinte ao todo.
_São bem poucos. Mas podemos organizar uma defesa estratégica.
_O que o doutor sugere?
_Vamos colocar atiradores em pontos estratégicos, de modo que se eles nos atacarem ficarão encurralados.
_Bem, descanse com seus companheiros. Mandarei chamar Eduardo para organizar as defesas. Fiquem a vontade, vamos servir o almoço aqui na varanda.
_Peço desculpas pelos transtorno, madame.
_Ao contrário, nós é que devemos agradecê-lo. E depois
sempre há comida farta numa casa mineira. Com licença.
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Mais tarde duas escravas serviram a mesa com comida deliciosa e quente. As panelas sempre ficavam no fogão a lenha, cujo lume não se apagava nunca. Eduardo e Pestana chegaram dos afazeres para o almoço. Cumprimentou o doutor des Genettes feliz por revê-lo, e apresentou-lhe o cunhado, que ele ainda não conhecia. Os homens comeram esfomeados até se fartarem.
Dona Josefa não perdeu tempo. Enquanto almoçavam chamou o capataz e deu ordens para posicionar os homens da fazenda segundo ordens do doutor des Genettes. Reuniu os escravos e os despachou às fazendas vizinhas para avisar os correligionários dos acontecimentos. Deveriam se preparar para o caso de serem atacados. Depois chamou as escravas, mandou que fechassem a casa e depois as mandou fugirem com as crianças para o retiro na beira do rio. Na casa só ficariam duas escravas por servi-los. Um negrinho esperto foi mandado à estrada para vigiar a entrada da fazenda.
Eduardo se inteirou dos fatos. Terminado o almoço abriu uma pesada porta de jacarandá retirando as espingardas e munições. Repassou-as aos homens da fazenda e aos recém- chegados. Posicionou todos em tocaia e aguardou com des Genettes, a mãe e o cunhado, na varanda. Sentado nas escadarias com sua espingarda o negro Cipião. Vigiava como um cão de guarda.
Lá pelas três horas da tarde o moleque chegou gritando esbaforido.
_Pulícia Sinhá! Pulícia!
Quatro cavaleiros se aproximaram da fazenda. Os cães ladraram como de costume. Os cavaleiros se aproximaram, um
a paisano e três soldados da guarda nacional. O restante do
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batalhão ficou estacado à distância. Um oficial que parecia ser um tenente a interpelou:
_Bom dia! Acaso é a senhora Josefa Carneiro Mendonça?
_Sim senhor! Sou eu! Da parte de quem o oficial pergunta?
_Tenho ordens para levá-la, e também a seu filho Eduardo, à presença do juiz da comarca de Araxá.
_E sob qual acusação o senhor me tem? _Sedição senhora!
_E contra quem eu teria me revoltado oficial? Acaso é contra este senhor que o acompanha?
O homem a paisano riu meio sem graça. Josefa continuou:
_Diga-me senhor Sebastião Jacinto de Alcântara e Souza, é esse mesmo o seu nome não é?
_Sim senhora esse é o meu nome, ao seu dispor.
_Teria sido contra os desmandos do seu partido que me revoltei?
Sebastião riu meio sem graça, desconfortável por estar na presença daquela senhora. Queria que o tenente fizesse seu trabalho sozinho, mas fora obrigado a comparecer.
_E o senhor, oficial, não lhe ensinam bons modos no quartel? Não cabe que se apresente como se deve?
Peço desculpas pela descortesia senhora. Sou o tenente Benedito da Silva Alves, da guarda nacional.
_Então sabe o senhor que meu marido, João José Mendonça, é coronel da guarda nacional. Portanto seu superior
em patente!
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_Sim senhora. Tenho ordens de levá-la a ferros se for preciso, mas creio que podemos evitar esse embaraço, basta que a senhora se entregue sob minha custódia.
_Acaso não existem malfeitores do sexo masculino? Precisa o senhor tenente prender mulheres? Ou as más companhias estão lhe tirando a coragem senhor oficial?
_ Estou apenas cumprindo ordens!
_Então já que o senhor é diligente, dar-lhe-ei uma ordem direta. Enxote esse rato da minha presença!
_Não posso receber ordens da senhora, mas de meu oficial em serviço.
_Como meu marido o coronel se encontra ausente, então farei eu mesmo as honras da casa.
_Senhora, tudo o que peço é venha comigo.
_Pois eu lhe peço que fique como meu convidado. Desde que se livre desse rato.
_Senhora, adoraria ficar para uma visita, como seu convidado, mas ordens devem ser cumpridas, tenho que levá-la comigo.
_O senhor tenente não entendeu direito. Pode ficar aqui na fazenda, vivo ou morto, como quiser. Mas só sairei daqui com meu marido e ele não se encontra no momento.
_Não teria uma maneira de evitarmos esse embaraço senhora, não posso voltar ao posto policial de mãos vazias.
_Pois então contente-se em levar de volta esse rato que o senhor trouxe aqui. Nem eu nem meu filho nos entregaremos à sua justiça. Se preferir volte aqui quando meu marido estiver
presente.
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_A senhora terá até as dezessete horas de hoje para se entregar livremente. Estarei na entrada da fazenda esperando. Caso isso não aconteça será levada à força.
_O senhor se retire de minha propriedade até as dezessete horas de hoje. Do contrário será considerado um invasor.
O tenente dá a ordem de retirada. Viram-se e vão embora sem se despedirem. A certa distância acampam na entrada da fazenda.
Josefa manda as escravas trazerem mais comida e em seguida as despacha para o retiro, onde estão os demais escravos da casa. Os homens arrastam os bancos e as mesas de madeira improvisando barricadas, Eduardo e Cipião tangem o gado para o curral em frente a casa, para dificultar uma possível invasão.
_Se vierem por ali terão dificuldade de entrarem e se estiverem a cavalo serão alvos fáceis. Também amarrei as porteiras.
Disse Eduardo, subindo as escadas da varanda. Todos aguardam apreensivos o cair da tarde.
A noite baixou seu véu de estrelas, embalada pelos cantos dos grilos. A lua cheia iluminava a fazenda como se velasse por ela. Ninguém dizia palavra. Olhavam na direção do horizonte aguardando o ataque iminente. Cansados, des Genettes e seus comandados, cansados pela viagem anterior, foram dormir um pouco. Retiraram as botas e dormiram de roupa, prontos para um despertar rápido se fosse preciso. Apenas algumas sentinelas foram mantidas. Mesmo assim dormir não seria fácil, não havia como relaxar.
des Genettes deitou-se tentando dormir um pouco.
Rememorou os acontecimentos dos últimos dias. Dias agitados,
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dias de glória. Poderiam ter vencido facilmente se os milicianos não fossem tão ingênuos.
Os ramos de lavanda florida se agitavam ao vento, que se enchia de perfume. Todo o campo se tingia de lilás e verde. Henry corria solto pela planície, rindo com a moça que lhe sorria. Caíram na relva se abraçando. Rolavam rindo e se Beijando como dois jovens apaixonados. A jovem se ergueu. Seus cabelos loiros balançavam ao vento, brilhando ao sol daquela manhã. Despiu o vestido pesado, desnudando o corpo jovem de curvas suaves. Henry contemplava o corpo da moça como se fosse de uma deusa mitológica. Beijou-lhe o pescoço e os lábios com paixão. Sua pele macia e seu cheiro suave misturado com lavanda o inebriavam. Encheu-se de coragem, erguendo-se para também despir-se. Viu ao longe uma mancha amarela que se avolumava. Uma onda de areia do deserto cobriu o campo de lavandas. Cavaleiros árabes com seus turbantes atacavam de espada em riste. Tentou correr defendendo-se, caindo e rolando na areia quente do deserto. Sufocou-se, tossiu. Viu os beduínos passarem com seus cavalos por cima de si. Tentou alvejá-los, não encontrando sua arma. Agora o navio balançava nas aguas agitadas do oceano. Levantou-se da rede, saindo da cabine, pegando sua pistola. O tombadilho estava banhado em sangue. Homens rudes ainda lutavam tentando defender a embarcação de piratas negros com olhos vermelhos. Atitou a esmo. O barulho do tiro o despertou. Ergueu-se na cama tentando livrar-se do pesadelo. Outros tiros se faziam ouvir. Calçou as botas às pressas e pulou para a varanda. Na aurora do dia divisou o batalhão da guarda
nacional que atacava a fazenda.
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Apanhou uma espingarda que estava recostada à amurada da varanda. A pontaria foi certeira derrubando o cavaleiro à distância. O gado se agitava no curral, assustado. Soldados atiravam sem acertar ninguém. Tentavam cercar a casa. Ninguém sabia quem havia dado o primeiro tiro, mas a coisa estava feita. Os soldados tentavam invadir a fazenda. Chegavam a cavalo até próximos do curral de lascas de aroeira, e eram alvejados da varanda.
Outros tentavam dar a volta pelos flancos e eram recebidos pelos jagunços postados nas coberturas dos chiqueiros, do monjolo, e do engenho. Eram bem poucos homens a defender a fazenda, mas bem distribuídos e protegidos. Isso fazia daquele lugar uma verdadeira fortaleza. Tomá-la não seria fácil. Mas os soldados da guarnição eram muitos, e com muita coragem. Atacavam maciçamente e em vários pontos. A senhora Josefa municiava as espingardas, os homens as pegavam e atiravam.
O tenente Alves designou um grupo para abrir as porteiras soltando o gado. Tentaram se aproximar sendo alvejados do alto da varanda. Outros soldados atiravam de longe tentando despistar os atiradores, enquanto abriam as cercas do curral. O gado saiu assustado. Soldados chegaram a cavalo entrando no curral de lascas. Foram cercados numa armadilha. Soldados caiam dos cavalos alvejados por balas de várias direções. Recuaram. Os feridos se levantavam tentando fugir. Não eram alvejados novamente. Seria fácil abatê-los, mas deixaram que fugissem desencorajados. Fracassaram na primeira tentativa.
Mas o curral estava agora livre das vacas, e os soldados
sabiam das posições dos atiradores. O tenente Alves era
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estrategista. Enviou um destacamento para atacar por trás da casa, neutralizando as baterias do monjolo e do engenho de cana. Eduardo entrou na casa com alguns homens, abrindo as janelas do outro lado e atitando das gelosias. Outro grupo de soldados atacava agora pela frente da casa, entrando no curral à cavalo. Eram também alvejados, e caiam tentando se protegerem na sebe. Esgueiravam-se buscando uma posição de melhor ataque, tentando ganhar posições.
As balas cravejavam nas paredes do casarão, arrancavam lascas das portas e janelas. Um tiro acertou um dos companheiros na varanda tirando-o de combate. Divididos, os amigos tinham que lutar em duas frentes. A cada vez que municiavam as espingardas os soldados avançavam mais. Jagunços já caiam mortos, reduzindo assim o número de combatentes. A um canto da varanda Cipião atirava com sua espingarda, alvejando certeiro cada soldado em que mirava. Protegido pela amurada defendia a casa.
Por fim ficaram sozinhos. Os jagunços que não foram abatidos se renderam. Continuaram atacando dispostos a não se entregarem. O tenente Alves coordenou outro ataque, agora com toda a guarnição. Um grupo de soldados se posicionou nas laterais do prédio, enquanto que a cavalaria atacava pela frente. Nova saraivada de tiros, a defesa da fortaleza estava ficando desesperada. A munição se escasseava. Cipião atira nos soldados, mas vê que são muitos. Um deles aponta a pistola na direção de Eduardo. Com a arma descarregada, Cipião não tem tempo de recarrega-la. O negro