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Hipérion
Hipérion
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E-book378 páginas4 horas

Hipérion

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Sobre este e-book

No terceiro episódio na saga Hipérion o vilão, Steven Sunderman, verá que conseguir o que quer pode não corresponder ao que, de fato, se deseja. Envolvido em um resgate suspeito de seu marionete das garras da poderosa WOM, Steven Sunderman ainda terá que passar pelo apuro de penetrar o âmago de uma galáxia perigosa, será feito capitão da Hipérion, conquistará um grande amor e, por fim, poderá realizar seu plano sombrio de acabar com a nave e seus integrantes. Infelizmente, para ele, tudo tem seu porém .
IdiomaPortuguês
Data de lançamento4 de abr. de 2011
Hipérion

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    Hipérion - R. C. Zímmerl

    HIPÉRION

    R. C. ZÍMMERL’

    1ª Edição

    São Paulo

    Ricardo Cordeiro Zimmerl

    2011

    4 R. C. Zímmerl

    Edição 2020, revista e ampliada

    Comemorativa de 10 anos do lançamento dos livros da saga Hipérion.

    5

    Hipérion – A Grande Jornada

    Leonardo Da Vinci

    6 R. C. Zímmerl

    7

    Hipérion – A Grande Jornada

    CAPÍTULO 1 - Amanhã até quando?

    A masmorra

    Jogando Xadrez

    O Almoço

    CAPÍTULO 2 - Hipérion 3.0

    CAPÍTULO 3 - O Jato Cósmico

    Testando as Armas

    Além dos Sonhos

    CAPÍTULO 4 - O Jardim do Éden

    Um pequeno passo...

    Os passos de Darwin

    CAPÍTULO 5 - De novo não!

    Resgate de risco

    CAPÍTULO 6 - Um problema muito maior

    Preparar... Apontar...

    O Arcanjo

    Triste realidade

    CAPÍTULO 7 - Retorno muito amargo

    Amigos outrora, inimigos agora

    Terrível despedida

    CAPÍTULO 8 - A Fuga

    8 R. C. Zímmerl

    9

    Hipérion – A Grande Jornada

    Capítulo 1

    Dois meses se passaram desde nosso regresso e, em

    meus ossos, sinto novos problemas se avizinharem, a

    despeito da relativa calmaria até o presente.

    Tão logo Phil se recuperara fizemos o tal churrasco de

    carne de dino. Ocasião de festa não fosse a indigesta presença

    de Moacyr. Estorvo que a WOM, para meu infortúnio, até o

    presente foi incapaz de resolver, porém que, se tiverem um

    pingo de competência, hão de dar jeito, assim espero.

    Bianca, dividida entre a corte de dois pretendentes,

    tem se tornado cada vez mais serelepe. Não que Max se

    assuma como tal, entretanto não quer perdê-la para as garras

    famintas de meu amigo que fixou residência na fausta

    mansão, ajudando aos outros nas fainas de aprimoramento

    de Hipérion.

    Essa, é claro, é a desculpa oficial. Na verdade,

    protege-os contra incursões da WOM. Ao menos é no que ele

    pretende que eu acredite, bem sei que, no fundo, quer é por

    as mãos em sua gata selvagem antes que venhamos a por um

    fim neles. Hehe.

    Não me oponho de qualquer modo. .

    . . Ele não está cobrando por isso!

    10 R. C. Zímmerl

    Nesse ínterim precisei me ausentar por motivos

    familiares. Minha mãe adoeceu e retornei ao meu país, à casa

    de meus pais. Não fui seguido.

    ... Sou ótimo em despistar!

    Um talento nato que me foi sempre útil

    principalmente quando moleque fazia alguma travessura.

    Morar em fazenda, longe do burburinho da cidade

    grande é excelente à saúde exceto por um detalhe: a falta de

    convívio com outras pessoas torna o sistema imunológico

    frágil, principalmente quando se tem certa idade. Por sorte

    não foi nada sério, duas semanas de cama e minha mãe

    estava nova em folha. Uma gripe forte. De qualquer modo

    fiquei um tempo a mais. Quis saborear estar de volta, na

    época certa e no local certo: a casa onde cresci.

    Foi ótimo revê-los, voltar às raízes.

    Billy, meu sobrinho, ganhou uma coleção de bichos

    em miniatura feitos em resina flexível, muito bem-acabados e

    coloridos, dinossauros. Fica brincado pela casa com eles e me

    disse que adoraria poder tê-los visto. Perguntou-me o que os

    fez serem extintos. Deu-me vontade de responder: "Foi um tal

    de Roy", mas ele não entenderia.

    . . Melhor deixar para lá.

    Tenho certeza que se os tivesse conhecido como os

    conheci, a essa hora estaria destruindo os bonecos ao invés

    de brincar com eles. Hehe.

    Aproveitei, à revelia, minha estada para cumprir uma

    velha promessa: comprar um novo trator para o sítio. O

    nosso, desde quando era pequeno, vivia dando problemas

    mecânicos. Geoffrey, meu irmão, não me permitiu continuar

    postergando a aquisição do novo equipamento.

    ... Compramos a nova máquina e outros implementos.

    11

    Hipérion – A Grande Jornada

    Compramos é o modo simpático de dizer: "ele

    escolheu o que precisavam e eu paguei a conta".

    Buá! Todavia meus pais se encheram de orgulho e

    alegria ao ver o presente que o filho doutor finalmente lhes

    dava.

    ... Se soubessem de onde vem meu dinheiro duvido

    que sentissem orgulho ou que aceitassem o presente.

    Certas omissões são essenciais para a felicidade de

    quem amamos. E ficaram felizes de fato! Em especial minha

    mãe.

    Comemoramos o presente assando o leitão mais

    gordo numa festa na qual toda a vizinhança se fez presente.

    Revi Ritinha, linda moça que namorei quando jovem, antes

    de partir para a faculdade. ... Bons tempos... Hoje, casada, tem

    uma trinca de filhos. Ela enrubesce ao me cumprimentar,

    diante de seu marido.

    Pudera! Fizemos tantas coisas loucas juntos que se ele

    soubesse...

    Por esse tempo Psyquatic persistiu, obstinadamente,

    na busca de pormenores sobre a WOM. Está encafifado:

    Detesta ser incapaz de obter informações, por mais tolas que

    sejam. Está determinado a encontrar a fonte das mensagens

    dessa organização e, quando o fizer, sugará qualquer mísero

    bit de dado que contiver. Acredito que há de conseguir!

    ... Como sempre, aliás.

    Bastou, porém, após o ótimo tempo em companhia de

    meus pais, retornar à minha residência oficial na terra de

    Lreorod para a safra de problemas recomeçar. Estava calmo

    demais! E por mais que almejasse que a calmaria continuasse

    indefinidamente era óbvio que uma hora a WOM faria algum

    movimento: Não iam simplesmente desistir.

    12 R. C. Zímmerl

    ... Ou desaparecer.

    Sempre procuro prever as ações de meus adversários.

    Adiantar-me a eles para não ser surpreendido, ou, pior,

    derrotado. Um esforço mais que necessário quando se está no

    meu ramo de trabalho, no qual erros podem lhe custar a vida.

    Para tanto, em geral, procuro caminhar à noite, pelas ruas

    desertas. Isso aguça os sentidos, deixa alerta. À sombra de

    perigos quiçá espreitando em vielas escuras e becos sujos a

    mente, ou melhor, o hipotálamo, comanda a liberação de

    adrenalina e noradrenalina pela medula adrenal,

    aviventando o raciocínio. O coração acelera preparando o

    corpo para reações rápidas. A oxigenação celular revigora os

    músculos. A pituitária libera hormônio adrenocorticotrópico

    e este, ao chegar ao córtex adrenal, desencadeia a efusão de

    cerca de trinta diferentes hormônios na corrente sanguínea.

    ... Tudo isso para aumentar as chances de sobrevivência ao

    perigo. Exatamente o que preciso!

    Outrossim, o silêncio da noite, das ruas desertas e

    luzes perdidas cintilando a esmo, é ótimo para espairecer,

    refletir. Pensar nos próximos passos. No caminho a seguir.

    Um incerto caminho, velado, oculto sob pesadas

    sombras, em meio às quais surge um vulto... Um sujeito

    soturno, aparentemente a me aguardar solitário num beco

    ermo, mal iluminado. Um homem mais velho, pouco mais

    baixo que eu.

    Embora noite, está de chapéu.

    Aborda-me. Diz ser detetive, amigo de Roy.

    Pergunto o que quer.

    Ele responde dizendo que Roy foi capturado pela

    WOM, entrega-me um pedaço amarfanhado de papel no qual

    vejo, rabiscados, um endereço e desenhos, um tipo de mapa.

    13

    Hipérion – A Grande Jornada

    – Ele esta nesse lugar, preso no subsolo. Sob tortura,

    estão interrogando-o. – Afirma com certo tom de gravidade

    na voz.

    Desconfio: – E o que espera que eu faça?

    Passe os desenhos a limpo? Penso, infame.

    – Que vá salvá-lo! Ele confia em você! Mencionou que

    já o salvaste noutra ocasião.

    Conversa esquisita! Principalmente vinda de um

    sujeito desconhecido se ocultando na escuridão de um beco

    sombrio à noite.

    Fico reticente: – Ora sou somente um médico. Se é

    detetive por que não o salva você?

    O sujeito suspira aborrecido: – Ele é uma excelente

    pessoa e ótimo amigo. De modo algum merece o que está

    sofrendo, Steven Sunderman... – Há uma pausa sinistra, como

    que carregada de reflexões – ... Sei quem você é!

    Franzo a testa. Sabe? Duvido: – E quem sou?

    Ele me olha nos olhos acusativo: – Ex-médico, trabalha

    há oito anos como espião industrial para a agência de

    inteligência de seu país.

    Meu sangue gela. Como ele sabe?

    Todavia, a bem da verdade, sou um espião conhecido

    no mercado, não é difícil obter informações sobre mim...

    ... Se souber onde procurá-las!

    Entretanto isso me traz um sério problema: – Roy sabe

    quem sou?

    – Não. – Abaixa o olhar – Quando falou comigo sobre a

    WOM investiguei. – Ergue-o novamente e volta a fitar-me nos

    olhos – Investiguei igualmente você.

    14 R. C. Zímmerl

    Investigou a WOM?

    Há! Essa historinha está é muito estranha, difícil de

    engolir: se Psyquatic, com toda sua experiência, talento e

    recursos não foi capaz de descobrir nada, ainda, como um

    detetivezinho borra-botas pode saber sobre a WOM?

    Isso me cheira à cilada!

    Resolvo ser rude: – Como um detetivezinho furreca

    sabe sobre essa WOM? Que mais sabe?

    – Furreca? – Ele sorri arrogante e ergue as

    sobrancelhas como que debochadamente surpreso: – Vindo

    de um mero peão não sei se encaro isso como elogio ou

    ofensa. – Disse com ênfase à palavra peão.

    Perco as estribeiras, estou frustrado: Se minha

    dissimulação está comprometida é melhor jogar limpo e

    rápido, pois posso ter pouco tempo para agir.

    Se este sujeito trabalhar para a WOM, o que me

    parece ser muito provável, diria, até, inequívoco, talvez tenha

    não mais que esta noite!

    Ninguém sabia de minha volta, mesmo assim ele

    estava aqui, me aguardando!

    Coincidência?

    Tudo ou nada: – Peão? Acaso sabe, de fato, quem sou?

    Para sua informação sou o melhor espião industrial do

    mundo!

    – Jura?! – Provoca em tom de deboche – Te disseram

    que rastrearam as comunicações do Lreorod, que ficaram

    preocupados e te mandaram descobrir de que tratava o

    projeto, não é?

    Ei! Essa informação é confidencial!!! – Como sabe

    disso?

    15

    Hipérion – A Grande Jornada

    – Contaram-lhe essa história da carochinha e você

    creu cegamente. Nem se questionou sobre qual seria a

    verdade e os interesses por detrás disso.

    – Verdade? Por que esconderiam o que fosse de mim?

    Sou o melhor, nunca dei furo. Não há por que não confiarem

    em mim e omitirem o propósito da missão.

    Ele emite um Humpf e diz: – Amadores.

    Amador, eu?

    Meu sangue ferve. – Sempre tive cem por cento de

    êxito em todos os trabalhos, sem falhas ou indiscrição. Em

    minha ficha há quilômetros de elogios e nenhum ponto ou

    vírgula a me desabonar! Meus superiores se referem a mim

    como o mais talentoso espião que tiveram.

    Ele ergue o sobrolho: – Pode ser talentoso, no entanto

    não é esperto! Sequer sabe quem é que o quis nisso nem por

    quê.

    – Meu governo! – Retruco nervoso.

    – Impessoal? – Ele dá um irritante sorriso de escárnio

    – Governo não existe, é figura simbólica. O que existem são

    pessoas imiscuídas no governo, seu tolo. Nem imagina o

    imbróglio em que se meteu!

    Isso é demais!

    Estou aborrecido.

    Amador?

    Tolo?

    Esse detetivezinho tem é pressa em ir para a terra dos

    pés juntos!

    Tento manter a compostura; preciso saber qual o nível

    de meu comprometimento: – Tudo bem, então conte!

    16 R. C. Zímmerl

    – Não estou aqui para isso. Vim por meu amigo. Ele

    estará lá até amanhã. Precisa ir de dia. E se apresse! Esteja no

    local precisamente às dez da manhã e terá uma chance. A

    melhor rota de entrada é a que está desenhada no mapa. – E

    aponta com o indicador da mão esquerda o papel em minhas

    mãos

    – Por que devo me apressar?

    Ele coloca as mãos nos bolsos do casaco, recosta-se na

    parede e apoia o calcanhar do pé esquerdo a ela, flexionando

    ligeiramente a perna. – Acham que ele está envolvido com

    uma entidade que atacou uma base deles. Querem descobrir

    quem mais sabe sobre a WOM. Se ele falar. .

    – Por que crê que posso salvá–lo?

    – É o único que pode!

    – E você?

    – Eu? Sou um detetivezinho furreca. Além disso,

    você o meteu nessa, a obrigação de tirá–lo é sua!

    – Eu? Como assim?

    – Nem sabe por que te mandaram. . – Sorri

    escarnecendo enquanto abana a cabeça negativamente.

    – Explique! – Demando.

    Ele ergue as sobrancelhas: – Ora o melhor espião não

    é você? Então deve ser muito fácil para você descobrir.

    Descubra! – Diz em tom de ironia.

    E vai se retirando, mantendo as mãos nos bolsos, com

    a cabeça baixa, usando o chapéu para não ser reconhecido,

    caso seja filmado, se houverem câmeras próximas.

    – Isso está me cheirando à encrenca da grossa. O que

    me motivaria a querer salvá–lo?

    17

    Hipérion – A Grande Jornada

    Ele satiriza: – Ora, meu caro espião, você está até o

    talo mergulhado em encrenca da grossa, muito além do que

    imagina. Se o salvar talvez lhe conte mais sobre a WOM.

    Creia-me: Há muita coisa que você adoraria saber!

    – E por que acha que não posso descobrir o que quiser

    sozinho?

    Ele ri enquanto se afasta. Distante diz: – A vida é sua!

    Dada a distância, coisa de quinze metros, sou forçado,

    a contragosto, a elevar a voz: – Se Roy ou alguém do grupo do

    Lreorod souber quem sou, serei obrigado a matá–los!

    – Estou ciente disso, não se amofine: Não tenho a

    menor intenção de lhe trazer complicações, você as tem de

    sobra. Ajude meu amigo e verei o que posso fazer para lhe

    retribuir o favor. Siga as instruções no papel se quiser viver e

    lembre–se de ser pontual. – Ergue o braço direito com o

    indicador em riste – Dez horas!

    Embarca em um carro escuro, estacionado a trinta

    metros de onde me aguardou e parte. Memorizo a chapa, já

    imaginando ser fria. Ao retornar para casa checo: O endereço

    é um complexo industrial. Movimentado.

    A placa? De um carro acidentado há dois anos.

    Todos os ocupantes morreram.

    ... Estive conversando com um fantasma?

    Ao contrário: O sujeito era muito vivo, quiçá vivo

    demais!

    Ligo para Phil usando os óculos em canal codificado.

    Conversamos. Folga em saber que estou de volta e confirma

    Roy haver desaparecido, está a fazer sessões de fisioterapia

    à noite por conta da perna e ontem não regressou da sessão

    nem deu qualquer notícia.

    ... Ontem?

    18 R. C. Zímmerl

    Exatamente um dia antes do meu retorno?

    Outra feliz coincidência?

    Ele acha que não: – Está com jeito de emboscada!

    – Também penso assim, Phil. Estão usando o Roy como

    isca para me pegarem!

    Meu amigo vai mais além: – E se Roy for da WOM?

    – Por que ia querer me prejudicar? Salvei a vida dele.

    – Pretende apostar sua vida nisso? Se ele for da WOM

    sabe que você os conhece. Faz sentido entregá–lo.

    – É verdade! Todavia a história do detetive bate. Roy

    disse que procuraria amigos que nos ajudariam.

    – E por que esses tais amigos não o resgatam?

    – Medo, talvez...

    – Sunderman, isso está é muito estranho!

    Conto-lhe sobre o que aconteceu na base da WOM.

    Ele fica apreensivo: – Sabem que foi você?

    – Creio que não.

    – Se souberem então é certeza ser cilada! Será que

    esperam nós dois lá?

    – Penso que não. Entretanto é perigoso demais Phil! E

    você não é especialista em infiltração.

    Contudo meu amigo é confiante e teimoso: – Está com

    a razão, não sou. Porém te dou cobertura!

    – Acho mais que provável ser o local defendido por

    androides de segurança!

    – Pois os deixe comigo! Entretanto, por que ir salvá-lo,

    afinal? Deixe-o morrer. Foi pego? Azar!

    19

    Hipérion – A Grande Jornada

    Embora Phil esteja, em essência, correto, infelizmente

    não posso abandonar minha marionete que pode ter se

    tornado mais valiosa: – Fiquei intrigado com o que disse o

    detetive. Se tiver as informações que desejo sobre a WOM isso

    me permitirá encerrar esse caso de vez.

    Ele pondera: – Sunderman, mesmo que seja verdade,

    que possua as informações que quer, acha que seria tão

    ingênuo a ponto de lhas dar? Se for minimamente esperto

    sabe que ao fazê-lo irá acabar com eles. Dar-lhe-á sinal verde

    para eliminar todo o grupo da base.

    – Isso ele não tem como saber: Somente nós sabemos

    disso, Phil! As ordens que recebi são outras. Ele deve supor,

    imagino, que minha meta seja desvendar a WOM para enviar

    as informações em meu relatório ao escritório.

    – E como saberia sobre ela?

    – Essa é uma grande pergunta cuja resposta adoraria

    saber. Porventura tenha informantes infiltrados. . – Opino.

    Phil persiste cético: – Isso é pouco plausível, você bem

    o sabe. Sinceramente minha opinião é que, o mais provável,

    ele seja dessa WOM e armaram uma arapuca para pegá-lo.

    O pior é que concordo com meu amigo, contudo sinto

    que há alguma coisa além nessa situação: – Pode ser. Só existe

    um jeito de descobrir!

    – Tomara que não nos arrependamos dele! – Pondera

    – Por que não os mata a todos de uma vez e põe um fim a esse

    assunto, Sunderman?

    – Ora, amigo, você está careca de saber a resposta.

    Não é falta de vontade, mas se a WOM tiver outra nave, vou

    fazer o quê? Sem saber quem está por trás dela ou quais as

    intenções deles, sem a Hipérion ficaríamos indefesos.

    Poderiam dominar o mundo, acabar com a liberdade,

    20 R. C. Zímmerl

    destruir nosso país, aí eu iria fazer o quê? Chorar? Não sei

    construir uma nave transdimensional!

    – Seu velho discurso se torna um tanto quanto

    ridículo. E se não tiverem nem souberem fazer, o que é mais

    provável? Tanto sufoco que você passa por nada!

    – Estou ciente, mas não quero arriscar. As

    consequências de ser imprudente seriam terríveis demais

    para ignorá-las.

    – Deixe de bobagem, Sunderman! Se fizessem uma e

    tentassem conquistar o mundo haveria resistência, ora!

    Rio: – Contra uma nave transdimensional? Com que

    arma? É impossível, Phil! Nada que temos pode destruí-la!

    – A nave porventura não, mas sua base sim!

    – E esta seria onde? Você sabe? – Meu amigo está

    sendo simplório – Poderiam construir na Lua ou em Marte ou

    em um planeta a zilhões de anos luz daqui.

    – Sequestre Lreorod então!

    – Ah, tá! Simples! E acha que ele cooperaria depois de

    eu haver matado toda sua equipe e destruído a base?

    – Ora, ele não precisa saber quem foi. Eu achava que

    havia me chamado justamente para isso. Por outro lado, pode

    despistá-lo facilmente, basta forjar um ataque da WOM.

    – Phil, você tem noção do que seria necessário? Teria

    de adquirir robôs de assalto e importá–los pelo mercado

    negro. Custam uma fortuna! Não tenho dinheiro para isso,

    estouraria o orçamento do escritório. E como iria justificar

    depois? Comprei os robôs para treinar tiro ao alvo? Seria

    obrigado a devolver o dinheiro e nem em quinze vidas

    quitaria a dívida! Posteriormente precisaria manter o "bom

    doutor" em cativeiro. E por quanto tempo? E se não fizerem

    outra nave a não ser daqui a dez anos? E se nunca fizerem?

    21

    Hipérion – A Grande Jornada

    Ah não! Essa ideia é inviável. É mais fácil e econômico

    protegê–los até descobrir se a WOM tem ou não capacidade

    de produzir outra nave. Se não tiver ser-lhes-á o fim. Se tiver

    restar-me-á neutralizar a ameaça, se possível, ou informar ao

    escritório o que sei e deixar que tomem conta a partir daí.

    – Confiaria no escritório?

    – Claro que não! Todavia se for briga de cachorro

    grande melhor um chihuahua igual a mim pular fora.

    – Se você puser um fim no Lreorod e na turma dele

    poderá se concentrar em investigar a WOM, se eles

    representarem essa ameaça, de ter outra nave, certamente o

    escritório lhe dará todo apoio e recursos para cumprir essa

    missão. Não é muito mais simples assim?

    – Infelizmente não, Phil. Se eu acabar com Lreorod e

    sua gangue e destruir a Hipérion minha missão acaba e terei

    de explicar o que foi que aconteceu e, por que não obtive o

    que queriam. Você sabe melhor que ninguém que eles

    detestam falhas em missões, independente da desculpa que se

    queira dar, isso lhes é inadmissível, não aceitam bem, nada

    bem! E, além de falhar, eu precisaria cooptá-los para essa

    cruzada contra um inimigo que, se bobear, pode até estar

    infiltrado no escritório, o que torna tudo muito mais difícil,

    senão impossível, até que seja tarde demais.

    Ele insiste: – Prefiro neutralizar Lreorod e a WOM.

    – Concordo contigo, Phil! Não obstante, meu problema

    imediato é Roy: Devo resgatá-lo.

    Deixamos de lado a conversa improfícua e nos

    concentramos no que interessa: o resgate. Combinamos de

    nos encontrar num velho galpão, às três da manhã. Insones,

    movidos à base de anfetaminas militares, para preparar o

    equipamento e planejar a estratégia de invasão. O local alvo é

    22 R. C. Zímmerl

    movimentado. Dez horas da manhã, horário incomum, como

    passar despercebido?

    ... É provável que não seja essa a intenção!

    O movimentado horário, em plena luz do dia nos

    impede de chegar pesadamente armados. Devemos ter o

    máximo de sutileza.

    Armamos nossa estratégia. Phil sai. São quatro horas.

    Estará lá antes das seis. Aproveitando a escuridão e o

    movimento menor para se posicionar num lugar donde seja

    possível prover cobertura de fogo.

    Levarei a pistola, farta munição e explosivos. .

    . . Explosivos pesados: Se quiserem me capturar,

    haverá de ser um estouro!

    O disfarce que pretendo usar me permite levar um

    novo fuzil, similar à minha saudosa arma abandonada no

    Triássico.

    Às oito horas passo em frente ao local. Uma entrada

    de serviço, secundária. Há uma guarita, nitidamente

    desocupada. Porém há câmeras! Cercas elétricas e sensores

    de movimento dificultam o acesso por cima do muro. Muro

    alto, quatro ou cinco metros. A rua é bem arborizada, tráfego

    leve... Perfeita para uma armadilha!

    Não vejo nenhum sinal de robôs de segurança.

    Estarei aqui as dez, como pediu o detetive, virei de

    moto, disfarçado de entregador.

    O pacote?

    Você sabe bem qual é. Hehe.

    23

    Hipérion – A Grande Jornada

    Chegado o fatídico momento, sou pontual. No horário

    exato me encontro diante da portaria. A porta de aço, velha,

    com marcas de ferrugem, pintada de azul, contrastando com

    o amarelo sujo e desgastado do muro.

    Sem saber o que fazer, aguardo, ansioso e temeroso o

    que irá acontecer. Subitamente ouço um barulho metálico.

    A tranca é aberta.

    Vacilo. Pouso a mão sobre a pistola. . . O portão abre.

    Quem vejo diante de mim é ninguém menos que o tal

    detetive. Uniformizado com macacão de trabalho verde, tal

    qual um ajudante ou alguém da limpeza. Ele fala baixo, há

    urgência em sua voz: – Siga o mapa que lhe dei. Sabotei o

    sistema de câmeras. Você deverá dispor de cerca de trinta

    minutos.

    – E quanto aos seguranças?

    – Com sorte seu caminho estará livre nesse tempo.

    – Robôs?

    – Sim. Guardando Roy. Isso é contigo. Agora vá,

    rápido!

    Não que esteja indiferente à situação trágica de meu

    coió, contudo não quero perder a chance de resolver este

    enigma: – Antes, me responda: a WOM tem ou pode fazer

    uma nave igual à Hipérion?

    24 R. C. Zímmerl

    Ele sorri: – Você está perdendo tempo precioso!

    Sou rude: – Tanto quanto você!

    – Creia-me: seus problemas são muito maiores do que

    imaginas. Talvez possa ajudá-lo, contudo terá de merecer

    minha ajuda!

    Estou confuso: – Como?

    – Comece por libertar o Roy.

    – Terminando por??? – Insisto, afinal, quais serão as

    exigências sem fim para que granjeie seus favores? Pensa

    que sou um idiota? – E por que espera que confie ou acredite

    em você?

    Ele responde com ar enfastiado: – Não espero! Faça o

    que achar melhor. Mas se decida rápido, pois estamos sem

    tempo.

    O detetive tranca o portão, dá as costas para mim e

    some por uma passagem lateral de um imenso galpão a

    minha direita. Fico por instantes parado, boquiaberto, incerto

    quanto ao que fazer. Titubeio. Devo segui-lo e forçá-lo a dizer

    o que quero?

    Adiantaria? E Roy?

    E se que o detetivezinho estiver dizendo for

    verdade?

    Enfim, receoso quanto à veracidade do que dissera

    esse estranho sujeito, ponho-me a correr por um corredor

    tortuoso à esquerda, ladeando o muro do complexo, em meio

    a contêineres e maquinaria até me deparar com uma porta

    cinza escuro, de aço, em outro grande galpão, exatamente

    como ilustrado no mapa.

    ... Até aqui nenhum problema, daqui para diante...

    25

    Hipérion – A Grande Jornada

    Eu e Phil portamos comunicadores auriculares,

    todavia usá-los-emos exclusivamente se imprescindível, por

    que podemos ser localizados pelas transmissões. Nem

    imagino se meu amigo me vê ou não, tampouco qual a

    situação dele. Confio em seu talento e em nossa amizade.

    Minha vida depende disso!

    A grande porta, encostada, convida a entrar. Se é

    armadilha ou não chegou o momento de descobrir, vamos lá:

    três, dois, um e...

    Tcharam! Abro-a. Ouço um estouro distante, do lado

    oposto do complexo industrial. Um estridente alarme de

    incêndio se faz ouvir. Seria um despiste? Um presentinho

    do tal detetive para tornar minha vida um pouco menos

    difícil?

    ... É possível!

    Arrisco: adentro o galpão. Tubos, máquinas enormes,

    tudo automático. Trata-se de instalação química de algum

    tipo.

    Descendo uma escadaria contígua à porta, encontro

    um funcionário fazendo a manutenção de uma válvula. Deu

    azar! Antes que possa dizer ou fazer qualquer coisa pulo por

    sobre ele e cravo a faca em seu pescoço, secionando-o. Está

    morto!

    Vou pelo caminho desenhado,

    Está gostando da amostra?
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