Planeta Paraiso
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Sobre este e-book
Planeta Paraíso é uma coleção de contos escritos por Tomas Alva Andrei, que expõem a natureza humana. Nesta coleção, encontraremos histórias que pertencem ao gênero fantástico e ao gênero de ficção científica. Em várias histórias, o apocalipse ou o fim do mundo é tratado como uma trama central. O papel da natureza, o significado da vida e o luto com a morte são tópicos frequentes nas páginas deste livro, além de viajar pelo espaço e pelo exílio na Terra.
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Planeta Paraiso - TOMAS ALVA ANDREI
Biblioteca de Contos
EMI
Coleção Sempiterno
TOMÁS ALVA ANDREI
PLANETA
PARAÍSO
Kindle
Título original: PLANETA PARAISO
Autor: TOMAS A. ANDREI
Primeira edição: MAIO/2018 (Hawaii)
ISBN: 9781981024544 ©
––––––––
tomasalvaandrei@gmail.com
@tomasalva_andrei
Todos os direitos reservados
ISBN: 9781981024544
Revisão de: MARIA GABRIELA AYALA
JOSE ALBERTO GARIJO SERRANO
FRANCISCO ARELLANO
Não é permitida a reprodução total ou parcial deste livro, nem a sua incorporação a um sistema informático, ou transmissão de qualquer forma ou por qualquer meio, seja este eletrônico, mecânico, de fotocópia, de gravação ou outro, sem a autorização prévia e por escrito do autor. A violação dos direitos mencionados constitui delito contra a propriedade intelectual
Este livro é dedicado a todos aqueles que acreditam em si mesmos. Aos que se animam para o desconhecido. Aos que vivem sem medo. Àqueles que despertam com entusiasmo. Aos ousados.
Aos livres.
ÍNDICE
––––––––
CIRCUITO PERFEITO..............................................13
OS PRÓXIMOS MILHARES DE ANOS......................25
O SABOR DA VIDA................................................34
UMA AVE BORDADA À MÃO..................................39
LÁGRIMAS DE UNICÓRNIO....................................49
A ILHA DO FRUTO DOURADO................................55
UM BRILHO METÁLICO..........................................66
A GRAVATA DE SEDA............................................75
PLANETA PARAÍSO
Parte I.........................................................89
Parte II......................................................112
Parte III.....................................................147
Procure além de onde o seu ser repousa,
onde a relva se agita e se perde
no inesgotável campo onde não se habita,
aventure-se em seu próprio risco
e seja dono do novo, sem passado,
seja um cavalo alado, embora não exista,
faça assim, uma planície de seu abismo
e sobrevoe com uma nova visão,
a imensurável fonte da vida.
CIRCUITO PERFEITO
As perigosas formações de rochas elétricas nos fizeram desviar de curso e cada impacto, por menor que fosse, ameaçava nos derrubar e nos fazer voar em pedaços.
O capitão Jones nos dirigiu o olhar com certa confiança, enquanto tentava retomar o eixo da nave.
— Demônios, Hollis. Como viemos parar no centro da tempestade? — exclamou o doutor Herbert.
A nave sacudia para cima e para baixo, enquanto garantia a máxima propulsão, em direção a algum canto desconhecido de nossa galáxia.
— Eddie, confira a rota que a tenente Hollis está traçando no computador de comando. Diga-me exatamente o quanto demoraríamos para atingir o ponto designado — disse Jones enquanto lutava incessantemente contra os meteoros.
Senti admiração pelo nosso capitão. Pilotava a nave sem se deixar levar pelo medo de morrer.
Eu olhei para o mapa que a tenente analisava na tela de controle de número três. Seu largo sorriso me surpreendeu, mais uma vez, em meio a tanta pressão, agitação, luzes vermelhas ligando e desligando, alarmes soando e manobras bruscas.
— Obrigado, Hollis — eu disse a tenente, enquanto ela me lançava o seu olhar doce.
As chaminés de fada da qual tentávamos escapar tornaram-se mortais com o passar de bilhões de anos, orbitando entre as constelações e os buracos negros. As mesmas rochas que batiam na nave, e nos faziam sentir tão frágeis como um fio vermelho, haviam estado por milhares de lugares e tinham percorrido os esconderijos mais coloridos do cosmos. Este último se parecia bastante conosco, os integrantes do Explorador V
.
— Em sete ou oito minutos estaríamos fora de perigo — respondi depois de analisar o mapa.
— Temos combustível? — perguntou o doutor, enquanto segurava o seu assento com força para não cair.
— O combustível que gastaríamos é insignificante. Se me permite, acho que você deveria tomar a decisão, capitão — sugeriu Jones.
— Eu concordo com você, Eddie. Vamos fugir desta maldita tempestade, e brindaremos em algumas horas com a minha melhor bebida.
— Isso! — exclamou o doutor Herbert.
— Isso! — exclamou a tenente Hollis.
Conseguimos reduzir a velocidade e a altitude, apesar das condições físicas, e evitar a próxima chuva frontal de meteoros. Os três respiraram de alívio quando eu dei a mensagem de estabilidade.
O caminho estaria livre durante os próximos dias.
As quatro missões anteriores haviam fracassado por completo nas mãos dos exploradores que tentaram a façanha.
O nível de risco era alto, de acordo com meus indicadores. Deveríamos nos aproximar do Sol, o máximo possível, colocar o dispositivo na trajetória indicada e fugir antes que a nave se retorcesse e os metais derretessem como folhas de papel lançadas à fogueira.
Fracassar e morrer na tentativa era algo que estava dentro das possibilidades. Os astronautas anteriores viraram cinzas por causa de uma manobra ruim.
O próprio brilho do Sol pode chegar a ser tão atraente, que se você chegar muito perto, sua forma te toma, e então você se perde nele. Quando pensar em sair, já virou poeira espacial.
Nosso capitão havia nascido em uma cidade pequena. Fora criado junto com seus três irmãos e sua mãe. Seu pai foi um dos primeiros cartógrafos espaciais. A nave que os levou na última expedição tinha desaparecido com seus três tripulantes a bordo. Nunca mais se ouviu falar deles. Jones era apenas uma criança quando os homens de terno apareceram para dar a notícia confusa. Eles tiveram que sair da rota e um defeito na nave os obrigou a permanecer em um grande buraco negro. De acordo com os especialistas da época, poderiam ter sido expulsos para um passado esquecido ou para um futuro inimaginável, a séculos de distância.
Durante uma noite no espaço, nos sentamos para beber e ele me contou sua história. Provamos um uísque envelhecido que ele trouxe com os seus pertences e que decidiu, em um ato de generosidade, compartilhar comigo. Que ironia.
Além disso, trouxe mais de duzentos livros em sua bagagem e em algumas tardes no espaço, eu entrava no seu quarto silenciosamente e pegava algum para ler e esquecer a distância, e me aproximar um pouco das histórias do mundo. Os meus livros preferidos são os de Júlio Verne, mas admito que são os únicos que li até agora. Nos oito anos que havíamos percorrido o espaço eu só havia sentido a adrenalina no sangue em minhas veias lendo as suas melhores e mais extraordinárias ficções.
Nós também contávamos com a vasta experiência do doutor Herbert, ele era o programador da nave e meu melhor amigo.
Durante os meses anteriores a decolagem, o doutor havia me ensinado a totalidade dos circuitos, aplicativos e sistemas operacionais dos quais eu devia estar ciente.
Nos dias mais tranquilos de viagem, jogamos xadrez. Fizemos a contagem dos jogos no quadro de giz. Foi necessário esconder o tabuleiro e as peças para embarcar na nave, já que não eram permitidas a bordo por serem feitas de madeira de nogueira, um material altamente inflamável.
— Jamais descobririam — disse o doutor Herbert antes de embarcar. E, se descobrirem, que diferença faz? Não irão cancelar a missão por causa de umas pecinhas de tabuleiro — disse rindo.
Por último, nossa agradável acompanhante, a luz dos meus olhos dentro da espaçonave, a tenente Hollis. A espirituosa do grupo. A voz mais suave e compreensiva.
Ela era a única capaz de nos acalmar em momentos de exaltação, a que nos rodeava de paz quando sentíamos falta do nosso lar e desejávamos voltar para nossas casas de tijolo e ruas de asfalto, dos murmúrios de uma sociedade complexa.
Em uma ocasião, há cerca de quatro anos, o capitão, cujo olhar sempre havia permanecido intacto e à frente, encolheu-se e, como uma criança com frio debaixo da chuva, se fechou por dentro.
— Sinto falta do verão — disse Jones. Do mar e das vozes dos meus filhos brincando nas ondas.
— Eu sinto falta do vento e da chuva. Eu daria qualquer coisa para estar em uma forte tempestade — acrescentou Herbert com os olhos cheios de esquecimento.
Suas palavras foram arrastadas pelo silêncio e pelo barulho de uma nave de grande porte.
— Aqui em cima qualquer um pode esquecer de que há chuva — disse pensando em voz alta.
— É como se estivéssemos dentro de uma cápsula, em uma dimensão distante, presos sem poder escapar — disse Herbert. Esta nave é para os loucos.
— Posso ouvir o som da tempestade, o rugido dos trovões e relâmpagos — acrescentou Hollis, seguindo o jogo da imaginação.
O capitão vislumbrou um lado de sua memória.
— Daria qualquer coisa para estar no quintal da minha casa, completamente molhado, tremendo com os ventos fortes de alguma tempestade, depois entrar com frio em casa e tomar um banho quente, enquanto olho para a paisagem agitada e movimentada pela pequena janela do banheiro. Sinto falta do sol saindo mais tarde, e do primeiro canto dos pássaros que nos diz que já podemos sair, que o desastre acabou.
Nós quatro ficamos em silêncio por alguns minutos, imaginando nosso mundo desde o silêncio do espaço.
Naquela noite a tenente acabou com a tristeza trazendo o seu violão. Ela cantou canções do passado, canções que havia ouvido nos velhos discos de seu avô.
Apagamos as luzes da nave.
Abrimos o teto solar de metal, deixando transparecer o vidro que rodeava a parte superior da nave, nos dando uma visão luminosa dos rastros de asteroides e dos fogos do universo inteiro. Juro que durante esses momentos, me senti vivo, completamente maravilhado com o poder da escuridão e da imensidão do universo. Hollis tocou o instrumento com suas mãos suaves e nos encantou com sua doce voz. Eu vi o capitão admirando as estrelas.
Permanecemos deitados, com os olhos fixos no universo. Observei a cor preta do espaço, o cinza que se esconde, e todas as suas excêntricas tonalidades de vermelho e amarelo. A nave estava completamente imóvel, sem o menor som ou movimento. Nós vimos passar ao longe um grupo de pequenos asteroides e estrelas cadentes.
Estávamos cada vez mais perto do Sol. Faltavam dias para o grande momento. Nós estávamos nos preparando desde aquela inesperada decolagem. Carrego em minha memória a contagem interminável. Os rugidos dos motores e as múltiplas explosões levaram a nós quatro em direção a uma verdade universal. Nós não nos olhávamos nos olhos como fazemos hoje.
Vi pela janela os mares e as montanhas, os oceanos e as luzes que resplandeciam em alguma cidade na outra metade do mundo que ainda permanecia sob o véu da noite escura.
Senti que deixava tudo nesse planeta, e que era aonde eu pertencia.
Escondi em algum lugar uma pequena caixa de madeira que eu enterrei com todas as minhas memórias, uma lista dos melhores momentos da minha vida. Eu a escondi para que nunca pudesse esquecer. Queria voltar depois de uma década de viagens pela galáxia e encontrar essa caixa em algum lugar para abri-la e sentir esses momentos novamente. Eu pensei que os anos certamente me fariam alguém diferente. Tentei imaginar como seria o meu eu
que abriria essa caixa muitos anos no futuro.
Havia algo sobre a passagem do tempo, a passagem dos anos... que me faziam desconfiar de mim mesmo.
Certo dia começamos a pensar nos últimos noventa meses. E no calor apreciado de uma forma desconhecida.
Já estive perto de motores quentes e de chamas brutais, mas não existe nada igual ao Sol. Mesmo estando a milhares de quilômetros, a luz do seu ser nos invadiu por inteiro através do olhar e da alma.
Direcionamos a nave até o ponto de