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A Estrada que me Leva a Você
A Estrada que me Leva a Você
A Estrada que me Leva a Você
E-book260 páginas4 horas

A Estrada que me Leva a Você

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Sobre este e-book

A noite de hoje pode ser incrível.

No dia do funeral de seu pai, algumas coisas acontecem que Lila Ashbury não esperava. 

Primeiro, ela chora de soluçar. Seu ex a convence a mais uma aventura durante a tarde. 

E a maior bomba de todas: ela é adotada. 

Uma carta antiga leva Lila a uma casa abandonada. Inquieta e determinada a descobrir quem era sua mãe — quem ela é — Lila entra na casa. O que encontrará do outro lado da porta, ela só pode imaginar. 

Um cara jogando um relógio em sua cabeça definitivamente a surpreende.

* * * 

Havia grandes expectativas em Shepherd Jones. Ele deveria liderar o rebanho, como seu pai que é pastor. Se tornar um pescador de homens. 

Mas as coisas não sairam como o planejado. 

Quinze meses limpo de um vício que quase o matou, Shepherd se acostumou a duas coisas: viver envergonhado e viver sozinho. 

Até que Lila Ashbury... Kathryn Davidson... qualquer que seja seu nome... entre de fininho no quarto dele. 

Aviso: este romance contém cenas íntimas que alguns leitores podem não achar apropriadas.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento14 de set. de 2019
ISBN9781071505366
A Estrada que me Leva a Você

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    A Estrada que me Leva a Você - Piper Lennox

    Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos são frutos da imaginação da autora ou são usados ficcionalmente. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, empresas, companhias, eventos ou localidades é mera coincidência.

    Para Freeman

    Amar é um risco. E se não der certo? Ah, mas e se der?

    Peter McWilliams

    Parte I

    Capítulo 1

    Lila

    Sinto muito pela sua perda.

    Assinto com a cabeça, a boca fechada, enquanto outro colega de trabalho do meu pai aperta minha mão. Seu terno fede a naftalina.

    Obrigada, digo. Então solto sua mão, endireito os ombros e me preparo para o próximo enlutado na fila. Já foram vinte, ainda faltam quarenta e poucos. Hoje parece que o dia não vai acabar nunca.

    Antes do meu pai morrer, não podia imaginar que tantas pessoas sentiriam sua falta. Ele era um cara ótimo e tal, mas não era exatamente a alegria da festa.

    Finalmente, todos na capela já haviam me dado as condolências e se sentado. Deslizo para o banco da frente, ao lado da Tia Betty, e prometo para mim mesma que não vou chorar sem parar. Não funciona.

    Vai ficar tudo bem, ela me conforta, embora esteja chorando mais que eu. Meu pai era o irmãozinho dela, sem falar que ela sempre chora. Todo evento de família é assim, de casamentos a funerais, até em batizados, a Betty vai estar chorando de soluçar.

    Sinto o calor que vem da multidão entristecida nas minhas costas, quando abaixo a cabeça e coloco as mãos no rosto. Senhoras atrás de nós estalam as línguas e sussurram, Coitadinha. Chorar na frente das pessoas é sempre ruim, mas saber que elas sentem dó de mim é ainda pior.

    E como se não bastasse, o Donnie decidiu aparecer. Ele se enfia na capela enquanto Amazing Grace toca nas caixas de som e se senta sozinho em um dos bancos do fundo. O tempo todo, sinto ele me encarar.

    No cemitério, ele fica parado perto do seu carro. Coloco os óculos de sol e tento encontrá-lo no meio da multidão, mas todos estão apertados embaixo da tenda e o perco de vista.

    Que seja. Não é como se eu ligasse para o que ele faz, não mais.

    A família do Richard gostaria de agradecer a todos por terem vindo prestar suas condolências, o pastor diz por fim, após um momento de silêncio. Olho fixamente para a rosa que coloquei no caixão, sentindo falta de como os espinhos furavam meus dedos. Era a única coisa que me distraía de voltar a chorar. Todos estão convidados para a recepção que será realizada na casa da irmã do Richard.

    Betty seca os olhos com um lenço e ativa o Modo Anfitriã, balançando o lenço no ar. Isso, isso... vai ser na rua Maple, 1402 — é só pegar a direita nesse semáforo, seguir por mais ou menos um quilômetro e meio, virar à direita, depois à esquerda...

    Decidi que se quisesse um pouco de privacidade hoje, agora era minha deixa. Saí da multidão enquanto todos ouviam a Betty tagarelando o caminho até a casa, muito interessados na localização de comida grátis para me perceber escapando pela chuva em direção ao carro do meu pai.

    Meu carro agora, acho.

    A perua tinha o cheiro dele. Devia fazer eu me sentir melhor, Old Spice misturado com o cheiro do seu café da manhã diário em restaurantes de fast food, mas só me deixa arrepiada. Quando alguém se vai, todos os traços da sua existência não deveriam desaparecer junto? Como devo aceitar que ele morreu se o rádio está programado para tocar do jeito dele e o colete de segurança da usina de energia ainda está jogado no banco de trás?

    Fica calma, digo para mim mesma com determinação. Não tenho motivo para ir chorando até a recepção também.

    Além do mais, não é como se eu não estivesse acostumada a isso. Quando a Mamãe morreu, o Papai deixou a casa exatamente do mesmo jeito por anos. Nem me deixou tirar as luzes de natal da varanda, só porque ela as havia pendurado. Quando eu tinha dezessete anos e me recusei a trazer meu par do baile de formatura para tirar fotos enquanto as luzes estivessem ali, o Papai finalmente cedeu. As removi com uma tesoura de poda enquanto ele estava trabalhando.

    A rua está escorregadia quando saio do cemitério. Vou em direção à casa da Tia Betty, mas paro em uma rua sem saída um quarteirão depois. Com sorte, tenho vinte minutos até ela perceber que não estou lá.

    Abro a janela e acendo um cigarro. Estou tentando parar de fumar de novo, mas hoje acho que tenho uma boa desculpa. O cheiro de tabaco no lugar do cheiro de gordura e colônia, marca registrada do Papai, ajuda a me manter firme.

    Ele se foi, penso. Você tem que aceitar isso. Você tá sozinha agora.

    Na verdade, não estou realmente sozinha. Tenho a Tia Betty e o Tio Wayne, pelo menos. Mas é isso que faço para me sentir melhor em situações ruins, por mais estranho que pareça: repito a verdade até cair a ficha. Quanto antes eu aceitar, antes posso começar a seguir em frente.

    Alguma coisa bate no para-brisas traseiro, o que me assusta tanto que derrubo a bituca do cigarro. Xingo e a pego pouco depois de queimar um buraco no meu único vestido preto.

    O Donnie aparece no meu retrovisor. Ele não está com um guarda-chuva, o que poderia ser devido à sua autêntica falta de atenção — como a maioria dos meus ex-namorados, ele não é muito responsável — ou um gesto manipulativo para fazer com que eu o deixe entrar no carro. Diferente da maioria dos meus ex-namorados, Donnie é inteligente.

    Oi, ele fala, inclinando-se para perto da abertura da janela. O que que você tá fazendo aqui?

    A Tia Betty não gosta que eu fume, murmuro com um novo cigarro na boca. Sai uma faísca do isqueiro, mas não acende. Balanço. Vazio.

    Toma, ele diz, colocando seu isqueiro pela janela. Agradeço. Ele continua lá, com um sorriso amarelo enquanto gotas de chuva escorrem em seu rosto.

    Ótimo. Agora tenho que deixá-lo entrar.

    Ele treme, forte, o corpo todo, enquanto entra pelo lado do passageiro. Valeu.

    Como é que você me achou?

    Eu não... Eu virei na rua errada e vim parar aqui. Novamente, ele sorri. Me repreendo por achá-lo sexy, com um novo corte em seu cabelo macio e o mesmo piercing labial.

    Pode ser mentira. Não seria algo inédito saber que o Donnie anda me seguindo. Mas meu desgaste é tanto que decido não desafiá-lo.

    Sinto muito, ele diz, colocando as mãos na saída de ar para aquecê-las. Seu pai era um cara legal.

    Ele não ia falar o mesmo de você, digo irônica. Uma parte de mim espera tê-lo machucado, mas, como sempre, a crítica entra por um ouvido e sai pelo outro.

    Ele ri. É. Mas eu não sou.

    Verdade.

    Desta vez, seu riso parece forçado.

    Donnie. Espero até ele me olhar. Por que você resolveu aparecer?

    A gente namorou por dois anos. Você não acha que seria sacanagem se não viesse pelo menos... sei lá, oferecer meus sentimentos? Eu sei que o seu pai não era meu maior fã, nem nada, mas eu conhecia ele bem.

    Eu não quero seus sentimentos.

    Lila.

    Tô falando sério. Percebo que seus pés estão espalhando lama por todos os lados, uma pegada gigante no meio do meu avental da Hampton’s, a loja de especialidades em que eu gerencio uma equipe de atendentes de caixa. Minha dispensa por luto ainda dura mais quatro dias, mas já posso sentir que não é suficiente. E quer saber de uma coisa? Eu não acho que foi por isso que você veio de verdade.

    Donnie olha para mim enquanto lanço uma nuvem de fumaça que fica parada no ar entre nós. E por que você acha que eu vim então?

    Eu acho que, digo lentamente, você quer voltar comigo. Eu sei que você e a Valerie terminaram mês passado. Olho para ele de relance. Não posso te culpar por tentar, eu acho. Você resolveu pagar pra ver. Uma garota fica bastante vulnerável depois do enterro do pai dela.

    Ele dá um sorriso malicioso, olhando fixamente para seus sapatos cobertos de lama. Tenho certeza que a última vez que ele os usou foi para uma audiência no tribunal. Tráfico, invasão de domicílio, embriaguez pública: tenho que reconhecer que a ficha dele tem uma boa variedade.

    Eu e a Val.. não era nada sério, sabe? Sinto ele me olhando novamente. Era só um rolo.

    Sei...

    Não, tô falando sério. Eu quero ficar com você, Li. Ele coloca a mão na minha perna e, sem perder tempo, a escorrega por baixo do meu vestido, subindo até meu sutiã. Por alguma razão, deixo.

    Donnie, interrompo, mas não sei o que mais posso dizer. Talvez pudesse, e provavelmente devesse, dizer que ele é um merda. Se ele realmente quisesse ficar comigo, não teria me traído (com oito garotas, que eu saiba) nos últimos dois meses do nosso relacionamento. Quando o Papai ficou muito doente e não podia mais trabalhar, me mudei de volta para ajudá-lo. Aparentemente, o Donnie achou que isso significava que nosso relacionamento estava aberto.

    Estou com as palavras na ponta da língua, prontas para acertá-lo quando jogo a bituca pela janela e volto a olhá-lo. Mas não digo nada e deixo seus beijos me fazerem esquecer da raiva que sinto, pelo menos por enquanto.

    Eu sei que você sentiu minha falta, sussurra. Ele toca no bojo do meu sutiã e aperta meu mamilo. O toque faz com que eu me contorça, mas ele interpreta como sinal de prazer. Isso, ou ele não liga. Difícil saber.

    Não senti não.

    Sei..., ele ri, enquanto sua mão percorre minha caixa torácica, meu estômago e passa pela cinta da minha meia calça e calcinha. Ele empurra seus dedos para dentro de mim e ri, tão arrogante, quando solto um gemido.

    Do lado de fora, a chuva aumenta. O som é como um milhão de bolinhas metálicas caindo, cada zunido é insignificante, mas ensurdecedor quando combinados.

    Vem aqui, ele diz, sentando para trás no banco do passageiro e tirando seu membro ereto para fora da calça. Ele dá uma alisada, só uma vez e espera. Como se soubesse que eu vou dar um jeito nele, sem nem precisar pedir. Nossa, como eu odeio ele.

    E me odeio ainda mais, quando levanto os quadris do banco, ajeitando minha coxa, e subo em cima do painel central para me unir a ele, do jeito que ele quer.

    Shepherd

    Vinte paus? Tá de sacanagem?

    Preço de liga. É pegar ou largar.

    Olho novamente para o colar. Tenho certeza absoluta de que é ouro maciço. Não pesa muito, mas é alguma coisa. Definitivamente vale mais de vinte dólares.

    Trinta, fiz minha contraproposta, fechando o colar nas mãos.

    Vinte e cinco. Minha última oferta. Ele cospe umas sementes de girassol em um copo de isopor perto da caixa registradora. Uma fica grudada em seu lábio inferior. Que nojo!

    Mas, de novo, não é como se eu pudesse reclamar da falta de decoro em uma casa de penhores.

    Fechado.

    Ele tira o dinheiro da registradora e me entrega. Tento não pensar muito sobre como é uma merda dobrar as notas e enfiá-las no bolso com uma das mãos, enquanto a outra deixa o medalhão cair na palma da mão dele.

    Te vejo por aí, ele diz, cuspindo, mais uma vez, no copo.

    Não se depender de mim, penso. Mas ele deve estar certo. Achei que o medalhão traria muito mais dinheiro do que isso, e eu poderia deixar o resto das coisas em paz. Depois do estéreo com problemas na fiação, algumas lâmpadas de lava sem as luzes e até a harmônica antiga, decidi que já era suficiente.

    Gosto de pensar que não sou totalmente sem coração. Quer dizer, me sinto mal penhorando coisas que não são minhas. Isso, aparentemente, não me impede, mas pelo menos tenho consciência.

    A porta faz o sinete tocar quando saio. Enfio as mãos no bolso para tirar minhas chaves e digo para mim mesmo que não olharei do outro lado da rua. Não vou, não vou, não vou.

    Eu olho. A sacada está vazia, mas acho que consigo ver uma sombra através das cortinas. Talvez seja ela. Não consigo me decidir se quero que ela olhe e me veja, ou se quero me enfiar no carro e pisar fundo até sair deste bairro ou desta cidade de uma vez.

    A chuva aumenta. Meu caminho está seco, e consigo determinar com exatidão o fim da tempestade: tudo passa, tudo de uma vez e o sol vai rachando as nuvens, como ácido.

    De volta à casa, tiro novamente a foto do bolso. Estava no medalhão. Não parecia certo deixá-la nele, sabendo que o dono da loja iria simplesmente jogá-la no lixo.

    É um bebê. Uma menininha, acho. Talvez seja a Tillie. Também pode ser qualquer criança. Talvez o medalhão fosse apenas um artigo achado em um brechó, algo que ela viu e gostou, e não uma relíquia de família.

    De qualquer jeito, você ainda é um merda, repito para mim mesmo. Admitir isso me faz sentir um pouco melhor.

    Capítulo 2

    Lila

    Depois da recepção, encontro a Tia Betty no andar de cima com familiares velhos e distantes que não via desde o funeral da minha mãe. Estão todas sentadas no chão, examinando álbuns de fotos de um baú no pé da cama.

    Oh, esse é o Richard ajudando o Pa a consertar o carro, Betty sorri. Ela seca os olhos com um lenço, voltando a chorar, antes de notar minha presença. Lila, querida! Estamos vendo uns álbuns de família. Quer se juntar a nós?

    Na verdade, não quero. Já perdi as contas de quantas vezes vi essas fotos e ouvi as histórias. Mas não tem muito mais que eu possa fazer, a menos que queira limpar as sobras do buffet, então me sento.

    Tia Betty me passa uma foto que, nesse ponto, já tenho a imagem e a história decoradas. É do meu pai, quando ele pegou no sono esperando o Papai Noel. Ela diz, Esse é o seu pai, quando ele pegou no sono esperando o Papai Noel. Não é bonitinho?

    Concordo em silêncio e passo a foto adiante. Enquanto as senhoras mudam o assunto para natais em que eu não era viva e falam de pessoas que nunca conheci, pego outro álbum. Para minha surpresa, é um que nunca tinha visto.

    Isso é de quando sua mãe tava grávida de você?, uma das mulheres — acho que minha tia-avó, ou uma prima de um grau distante, algo assim — pergunta, apontando para a primeira fotografia.

    Assinto, automática. O vestido da Mamãe é largo e sem forma, mas não tem como negar que ela está grávida, então eu devo estar lá dentro.

    Bem, é que eu tava pensando, ela prossegue, é que parece o aniversário de 50 anos do Carl. Ela olha para a Tia Betty. Você lembra, Betty? Nós fomos naquela pousada de ski em... ah, como é que era mesmo....?

    Betty vira os olhos para mim e diz, Greenpark.

    Isso! Greenpark. A mulher concorda com a cabeça e se inclina para perto da foto. Tem uma pastilha para tosse na boca dela e o cheiro faz meu nariz arder. Ah, mas isso não deve tá certo, ela resmunga. O Carl fez cinquenta anos em... 1977. Ela olha para mim. Quando você nasceu, querida? Você não parece ter mais que vinte e cinco anos.

    Não tenho. Olho para a Betty. Ela vira o rosto, fingindo estar ocupada com uma página solta em outro álbum, então destaco a película e arranco a foto.

    Com certeza, do outro lado tem a data em que foi tirada, escrita com a caligrafia da Tia Betty. Richard e Evelyn, 1977. Aniversário de 50 anos do Carl!

    Ah, olha só!, a mulher ri. Eu tava certa!

    Viro a foto novamente. Agora percebo quão envelhecida a película está e como as roupas são antigas. Como eles parecem jovens.

    Tia Betty? Mostro a foto para ela, apontando-a para seu peito, como uma arma. O que é isso?

    Ela fecha os lábios com pressão. Posso prever que mais lágrimas estão vindo.

    Lila e eu precisamos de um pouco de privacidade, ela diz ao grupo. Todas concordam compreensivas, ou pelo menos fingem, e se levantam com dificuldade. Eu as ajudo a descer as escadas e consigo me manter calma até que o último carro tenha ido embora.

    Então, digo, assim que fecho a porta, o que tá acontecendo?

    Wayne, nunca disposto aos conflitos, se ocupa limpando os restos de comida. Ouço ele esfregando pratos na cozinha, mais alto que o necessário.

    A Betty aponta, indicando que é melhor voltarmos para o andar de cima.

    Você sabe que seus pais eram velhos quando você apareceu, ela diz, quase em tom de pergunta. Confirmo em silêncio. Tinha vergonha disso, quando era criança: os pais de todo mundo tinham seus trinta, quarenta anos, e os meus tinham quase sessenta. Na verdade, na noite em que meu pai morreu — exatamente uma semana depois do seu aniversário de 72 anos — todos os enfermeiros acharam que eu era neta dele.

    Bem, Betty continua, quando eles eram mais novos, sua mãe conseguiu ficar grávida. Uma vez. Ela pega a foto da minha mão e a coloca de volta no álbum. O bebê nasceu morto. Um menininho.

    Fecho os olhos, desejando, não pela primeira vez, que minha tia não fosse tão direta. Aprecio a honestidade e tudo isso, mas será que não dava pra ir com mais calma?

    Não fica triste, amada, ela sussurra. "Seus pais não te falaram porque... não era assim que as pessoas faziam, na nossa época. Essas coisas eram muito privadas.

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