Os teus olhos
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Sobre este e-book
Dayane Ataide
Dayane Xavier nasceu em Maceió, Alagoas, no ano de 1996. Começou a escrever romances aos 14 anos, atualmente publica seus livros virtualmente pela Editora Bibliomundi. Seu romance Os teus olhos é destaque no seu trabalho de escritora.
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Os teus olhos - Dayane Ataide
CAPÍTULO 1
A música está alta em meus fones de ouvido e meus olhos estão atentos. A maré está baixa e o mar está azul como o céu. São 6h30 da manhã e esta é a minha hora preferida de andar de bicicleta na orla. Principalmente em uma manhã ensolarada como esta, aqui em Maceió. Meu coração acelera e começo a ficar ofegante. Todas as manhãs eu venho aqui para distrair e fugir da minha grande aflição. O mar é o meu refúgio nos dias nublados e tristes. A sensação de ser inútil é desgastante e dolorosa. Quando chego em casa, ando na ponta dos pés para não fazer barulho e acordar minha mãe. Somos uma família de dois, apenas eu e ela. Me sento na cama e relaxo respirando fundo. Posso sentir meu rosto queimar pelo calor do sol. Me levanto e me olho no espelho, e acabo me deparando com um rosto vermelho e suado. Meus olhos parecem estar sombrios pela noite passada, que por sinal foi muito difícil. — Como pode alguém se parecer tanto com sua mãe assim como eu pareço? — penso. Eu sou igual a ela. Olhos negros, cabelo extremamente escuro e pele bronzeada. Eu com toda certeza acho a minha mãe linda, mas não consigo ver beleza em mim. Eu solto o meu cabelo e tento ver algo de bonito ou atraente, mas é em vão. Meu ponto de vista sobre mim sempre foi estranho, triste. Eu continuo parada em frente ao espelho me observando. — Vamos Rachel, tente ver algo de bonito em você! —penso. — Cabelo escuro, sobrancelhas marcantes, olhos pretos e grandes, rosto oval, nariz afilado, minha boca nem é grande e nem é pequena, é do tamanho ideal. E o sorriso? — me pergunto. — Os anos de aparelho fizeram muito bem aos meus dentes grandes. E claro, não posso esquecer desta bela cicatriz no pescoço — digo falando comigo. É...talvez eu tivesse uma imagem distorcida de mim. As pessoas eram cruéis comigo em relação a beleza. Eu quero me ver como muitas pessoas me veem, mas infelizmente eu não consigo. E mais uma vez, falho miseravelmente em relação a minha autoestima.
Eu não dormi bem na noite passada e sinto meu corpo pesado e dolorido. Está é a parte da ansiedade que eu mais odeio: não conseguir dormir bem. E, quando não consigo dormir bem, acabo descontando tudo na comida e consequentemente, vem o ganho de peso. Eu vou na cozinha para tomar um bom café, mas está faltando o meu queijo preferido. — Droga! — penso. Vou ter que sair de novo. Eu tomo meu banho e procuro a roupa mais confortável. No supermercado tem tudo, menos o meu queijo. Aqui nesta parte é frio e os dedos da minha mão estão congelando. Eu abaixo para ver outros itens, mas ao me levantar, acabo esbarrando indelicadamente em alguém que está atrás de mim. — Me desculpa! — digo me virando rapidamente. Quando me viro, deparo-me com um homem alto segurando pão e manteiga. Vejo que ele veste roupas de futebol e seu o cabelo está bagunçado. Ainda assim, seu cheiro é muito bom e tem belos olhos. Seu rosto é quase perfeito.
— Tudo bem! — diz ele se distanciando de mim. Eu continuo parada observando ele ir embora. Mas fui surpreendida quando ele olhou para trás, e me encontrou olhando fixamente para ele.
— Minha nossa! — digo em pensamento e saio às pressas dali.
Abro a porta de casa e subo correndo. — Por que essas coisas só acontecem nos dias em que não estou bem? — resmungo. Eu vou até o espelho que tem na sala da minha casa. É um espelho bonito e decorado. Ele foi escolhido por minha mãe quando ela estava grávida de mim. Ao lado do espelho está escrito: Renata e Rachel. Eu por você e você por mim, para sempre!
Meu pai nos abandonou quando ela ainda estava grávida, nós sofremos muito. Meus olhos se enchem de lágrimas ao lembrar, e me encaro no espelho. A tristeza tirou qualquer vestígio de calmaria do meu rosto. Eu só consigo ver uma garota com seus 24 anos, que agora está pálida e com olhos tristes.
— Oi! — diz minha mãe me dando um leve susto.
— Oi mãe, bom dia! — digo olhando para ela através do espelho.
— Fazia tempo que eu não a via se olhando nesse espelho. — diz ela. —Você está tão bonita.
Apenas dou um sorriso no canto da boca e não digo nada.
— Eu percebi que você não dormiu bem.
— É... noite difícil. — digo ainda a observando através do espelho.
— Vamos passar por essa juntas. Não se preocupe! Tente se animar, sair ou fazer qualquer coisa para espairecer. Você é forte, linda e jovem. Vai passar por isso de cabeça erguida. — Eu não dou uma única palavra e ela continua: — Ânimo filha! Você não está sozinha nessa! Por que não sai hoje com o Pietro? — Pietro... — penso. Pietro e eu não estamos bem. Há muito não fazemos algo juntos, mas toda manhã ele vem me buscar para me levar ao trabalho. Ele não parece fazer tanta questão assim, está mais longe do que perto. Mas eu ainda o amo e estou presa a ele. — Me promete que vai tentar sair hoje? — insiste ela.
— Eu vou tentar. — digo dando um sorriso fraco para ela, e ela assente.
Eu trabalho em uma loja de cosméticos próxima do shopping, que também não é distante da minha casa. Foi no trabalho que conheci minha melhor amiga, Linda Barone. Linda vem me ajudando nesta fase difícil da minha vida. Ela é uma rave que está sempre ao meu lado nos dias ruins. Eu costumo ir trabalhar bem arrumada e maquiada, mas está sendo difícil fazer isso hoje. Eu não queria nem sair de casa, e encarar as pessoas com certeza será uma luta. Quando estou terminando de arrumar meus pertences para descer, escuto Pietro buzinar. Eu desço às pressas e digo:
— Tchau mãe, te vejo mais tarde.
— Até mais tarde! — grita ela de volta. Quando me vê abrindo a porta, Pietro desce o vidro do carro e me encara. Eu o encaro de volta e ele contrai o maxilar.
— bom dia! — diz ele me olhando dos pés a cabeça, — que linda você está hoje! — Eu reviro os olhos para ele. — Não revire os olhos Rachel! — diz ele balançando a cabeça em negação.
— Bom dia! Mas eu não revirei os olhos. — digo entrando no carro.
— Rebelde! — resmunga ele sorrindo.
Antes, ao me buscar, sempre me dava um beijo. Mas nesta manhã, nem isso teve. Pietro para em frente à loja, que ainda está fechada. Eu mandei várias mensagens para Linda que ainda não me respondeu. Toda manhã abrimos a loja, e já passa das 8h30 e nada dela.
— Nós precisa conversar. — diz Pietro segurando o volante com um olhar vazio.
— Sobre o quê? — pergunto.
— A gente tem que conversar sobre o que vem acontecendo nesses últimos dois meses. — Eu desvio o meu olhar dele e olho para frente sentindo a tensão tomar conta do meu corpo.
— Antes que você diga alguma coisa, sexta eu fui buscar os remédios. — digo estalando os dedos de nervoso.
— E mais uma vez você não me conta sobre algo do seu dia... — diz ele.
— Se ao menos você perguntasse! — digo. Pietro não diz nada, talvez por saber que está errado.
— Rachel, chega mais perto por favor — pede ele. Ele tem um cheiro tão bom, e é tão bonito. No momento, ele está usando uma calça jeans e uma camisa branca. Seu cabelo está bem penteado e suas sobrancelhas bem feitas. Pietro é um homem que gosta de se cuidar e eu não vejo problema nisso. Afinal, ele é apenas um garoto de 25 anos. Vive como um jovem que não tem nada a perder, é alegre e inteligente. Ao se aproximar, eu pude ver melhor suas sardas e seus olhos castanhos, que estão um pouco mais claro por causa da luz do sol que entra pela janela do carro. Ele olha os meus lábios e eu chego a pensar que ele vai me dar um beijo. — Você realmente está muito bonita. Foi andar de bicicleta na orla? — Eu faço que sim com a cabeça, e ele continua a me admirar. — Isso é muito bom. Eu vejo que andar de bicicleta, faz muito bem a você! — diz ele colocando o meu cabelo atrás da orelha. — Mas então Rachel, acho que a gente precisa conversar sobre algumas coisas.
Eu já sei sobre o que ele quer falar. Com certeza está louco para terminar comigo. Sinto uma vontade imensa de perguntar, até me preparo para falar, mas Linda aparece na janela ao meu lado. Ela pigarreia alto o suficiente para nos assustar.
— E aí casal, qual é a boa de hoje? — diz ela com um sorriso no rosto. Pietro apenas sorrir. Quando Linda aparece, sinto a tensão do meu corpo diminuir, era esse efeito que ela tinha sobre mim.
— Oi Linda! — digo sorrindo e fazendo cara de obrigada
e ela faz cara de confusa. — Bom — digo, — é melhor eu ir. Você pode me ligar mais tarde para conversarmos? Pietro assente. — Ótimo! Assim que chegar da faculdade. Não esqueça!
— Ok. — disse ele suspirando e indo embora. Linda o observa ir embora e sem me olhar diz:
— Vocês estão estranhos.
— Ele vai terminar comigo. — digo pegando as chaves na bolsa.
— Ei! — diz ela pegando no meu queixo e levantando a minha cabeça. — Como você sabe disso?
— Você sabe... nós não vivemos mais como um casal desde que começaram as minhas crises de ansiedade, e quando eu comecei a me isolar, engordar... Linda faz cara de indignação para mim.
— Só um momento Rachel, não me diga que Pietro vai acabar com você por causa disso? — ela me olha atentamente e mostra preocupação. — E você não engordou. E mesmo que tivesse engordado, e daí? Ele não tem esse direito! Se ele fizer isso, só vai me dá a certeza de que é um babaca miserável. Meus olhos se enchem de lágrimas e ela me puxa para um abraço. — Não Rachel, não chore por favor. Isso é um absurdo! Desculpa minha sinceridade, mas em vez do Pietro te ajudar, ele só piora. — E ali nos braços da minha amiga, eu começo a chorar. Choro muito. Naturalmente, eu escondo minhas emoções das pessoas, mas com a Linda é diferente. Ela me entende como ninguém.
— Ainda bem que você não está de maquiagem. — diz ela sorrindo. — Eu teria mais trabalho! Eu me afasto e dou um tapa nela e começamos a rir. O dia na loja está sendo longo e movimentado. Linda atende as pessoas com um belo sorriso no rosto. Ela é tão bonita, alta e elegante. Linda é natural da Itália e veio para o Brasil com seus pais quando tinha apenas dois anos. Os pais de Linda, achavam que no Brasil as coisas seriam diferentes, mas se enganaram. Linda tem o cabelo na altura dos ombros, e uma franja com um toque italiano. E como todo italiano, ela se expressa mexendo as mãos. Ela tem bom gosto para roupas, é impecável. Ao perceber que eu estou escondida a observando e tirando sarro do seu jeito de falar, ela olha para mim e dá língua.
Já são 18h e não vejo nenhuma ligação do Pietro em meu celular. Linda mostra estar confusa, pois percebe que estou inquieta.
— Você está pensativa... — diz ela me ajudando a fechar a loja.
— Pietro ainda não me ligou. — digo decepcionada.
Pietro sai da faculdade às 17h hoje, e ele não me ligar é estranho. Na verdade não é tanto, porque compreendo que ele está se distanciando cada vez mais de mim. Minha amiga não quis tocar mais no assunto, ela sabe que poderia encher minha cabeça e assim piorar a situação. Eu estou sentindo uma dor em meu peito, estou angustiada. Eu já sei o final dessa história!
Eu subo as escadas de casa exausta, minha cabeça está barulhenta e não consigo pensar. A luz da cozinha está acesa e minha mãe está fazendo as contas dos nossos gastos. Eu tento não fazer barulho para não distraí-la, mas é em vão.
— Rachel? — diz ela olhando por cima dos óculos. Eu fecho os olhos e paro.
— Oi mãe. — digo me virando devagar para olhá-la. — Eu não queria distrair a senhora.
— Está tudo bem?
— Só estou bem cansada. — digo indo em direção ao quarto.
Entrando no quarto eu começo a chorar. O choro sai forte e eu coloco a mão na boca na intenção de abafar. Meu coração dói e o motivo da minha tristeza neste momento tem nome e sobrenome: Pietro Sanchez. Eu me deito na cama e coloco os fones de ouvido para tentar me acalmar. As pessoas dizem que ouvir música quando se está triste ajuda. Eu sempre faço para aliviar a tristeza. E enquanto eu ouço a música, caio em sono profundo.
Capítulo 3 🦋
Passaram-se vinte dias, ainda estou me recuperando do braço e também da minha dor emocional. Eu não estou indo trabalhar. Seu Renato, meu patrão, me cedeu um mês para descansar. Já é quinta feira, e acordei mais cedo como de costume. Vou na cozinha para comer uma das muitas bananas que Linda tinha comprado. Minha mãe é minha cúmplice em relação a comer besteira, mas Linda é severa demais comigo. — Por Deus, Rachel! Você tem que comer alimentos saudáveis! — diz ela toda vez que está aqui.
— Você vai acabar entupida! — caçoa minha mãe, e eu caio na gargalhada.
Quando me aproximo da cozinha, alguém buzina e eu tomo um susto. — au!— digo machucando o meu braço pelo susto. Eu espero um pouco e buzinam mais uma vez com persistência. Eu corro para me olhar no espelho, na expectativa de ser o Pietro. — Que bobona, Rachel... — penso me julgando. Mas não me importo, eu quero que ele veja que estou bem, e não deprimida. Quando desço as escadas, consigo ver uma Ford Ranger 2020 preta. — Uau! — penso.
Um carro grande, e parece está muito limpo. De imediato, penso em quem poderia ser a uma hora dessas, pois não estou arrumada, afinal são 7h30 da manhã. Estou vestindo um pijama nada sexy e meu cabelo está solto, e por isso, consigo me sentir um pouco mais confiante. O vidro da Ranger foi