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Julia
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E-book243 páginas4 horas

Julia

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Sobre este e-book

E se você fosse assombrado por uma menina? E se esta menina lhe causasse pesadelos horríveis? E se esta menina tivesse a mesma idade de sua filha... Júlia, e se ela se chamasse Júlia...? E se ela te chamasse de: Pai...?
IdiomaPortuguês
Data de lançamento14 de out. de 2012
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    Pré-visualização do livro

    Julia - S.a. Marcos

    JULIA

    S.A. Marcos

    Para todos que me apoiam quando eu escrevo, se você faz isso sabe que este livro é Para você!

    QUANDO ELE TINHA 15 ANOS

    O Garoto estava deitado na cama do hospital, o quarto era o 1313 ele até achou alguma graça naquilo, ficou pensando…. Treze…. Treze…. E quando adormeceu por causa dos medicamentos que lhe deram, mas ainda sentindo aquelas dores terríveis, sonhou com sua mãe dizendo: Treze…. Treze…. A luz entrava pela janela. Do lado de fora estava um dia quente e agradável.

    Quando acordou sentia–se melhor, mas a dor que ele sentia calado nos últimos tempos ainda o acompanhava em menor escala, mas ainda estava lá; o Doutor estava ao lado da cama, verificando seu prontuário. Mas não estava surpreso com nada, de tão familiarizado que estava com as vindas do Jovem ao Hospital.

    – Era para você vir menos ao hospital – disse o doutor certa vez – Se você tivesse contado logo para seus pais de suas dores! – mas parecia ao médico que o menino tinha sérios problemas, (Além das dores) tinha problemas em compartilhar, tinha problemas em pedir ajuda, disse isso a mãe dele uma vez, mas como não era psicólogo? não voltou no assunto

    – E aí doutor, eu vou viver?

    Terminou de ler o prontuário e alguma coisa se alterou no seu semblante sempre calmo, alguma coisa deixou o doutor preocupado, no entanto ele manteve a postura. No meio dos documentos habituais tinha o resultado do último exame que Tiago fez – Vai sim Tiago não se preocupe vai até poder jogar bola. Disse ele colocando a pasta embaixo do braço; mas na cabeça do médico, ele imaginava quanto sofrimento aquele menino teria evitado se não tivesse escondido estas dores por tanto tempo. Retirou o resultado do envelope e leu uma vez.

    – Olhe só, eu vou ser direto com você, pois sei que é um garoto forte.

    O Jovem sentiu um pouco de medo quando o doutor falou naquele tom com ele, o médico sentou-se na beira da cama e, olhando nos olhos do garoto de Quinze anos, falou:

    – A dor que você sente é um tumor. – o jovem Arregalou os olhos e sentiu-se como se o mundo fosse acabar, não que tivesse medo de morrer, mas a notícia de alguma forma acabaria com sua vida.

    – Eu…. – engasgou, lágrimas começaram a brotar no seu rosto, mas ele segurou firme, afinal era um garoto forte.

    – Eu, vou ter alguma sequela? O médico respirou fundo, sabia muito bem do que o menino estava falando.

    –Olha só, o tumor não deixa sequela, mas o tratamento sim. – o médico viu uma lágrima descer no rosto do menino. – O tratamento pode lhe causar alguns danos, pode ser que nada dê errado, mas vai depender do tempo de tratamento – e Tiago precisaria de muito tratamento.

    O menino fungava e chorava, o médico levantou-se e começou a andar em direção à porta.

    – Nós vamos salvar sua vida, meu amigo! – Disse, mas aquilo não pareceu consolar o menino. Mais tarde sua mãe entraria no quarto chorando e seu pai, um homem grande demais e com pouco cabelo, ficaria ao lado da porta olhando para ele não querendo sentir pena, mas sem saber já sentindo e aquilo doeu mais do que a notícia do tumor.

    A AMIGA DESCONHECIDA

    1

    Tiago digitou a última frase no teclado preto e apertou o enter, olhou para a tela e viu a frase que escrevera subir atrás das outras anteriores dizia:

    TIAGO: Mais quem foi este cara? – Levou as mãos para trás da nunca se sentia muito cansado com vontade de dormir, também não era para menos, já passava da meia-noite.

    VALQUÍRIA: Foi um grande amor que tive só que não era correspondida, quanto mais eu demonstrava meu amor, mais ele me humilhava. – As letras na cor vermelha surgiram como resposta à pergunta no computador de Tiago.

    TIAGO: Eu. – Escreveu e ficou pesando no que diria, conversava com Valquíria a mais de seis meses, a foto que aprecia no canto superior da tela do programa que usavam para conversar mostrava a recém-formada professora morena e jovem com um belo sorriso que fazia, Tiago se sentira atraído por ela – Eu tive um único grande amor, minha ex–esposa: Débora – apertou o enter depois que terminou.

    VALQUÍRIA: Mãe de sua filha, Júlia? – As letras vermelhas de Valquíria surgiram.

    TIAGO: Sim. – Digitou ele. – A Mãe de Júlia. Às vezes cinto falta dela, do calor dela, mas ela quis ir embora não sei por que.

    VALQUÍRIA: Também sinto falta de meu amado. – As letras demoraram a surgir e ele esperou sabia que vinha mais…. – Sabe Tiago, nós poderíamos nos ajudar né, ser mais que amigos.

    TIAGO: Quem sabe? Eu torço por isso, será que você pode me fazer esquecer minha Débora?

    Desta última pergunta não houve resposta, Tiago ficou esperando e nada aconteceu, talvez ela tivesse dormido do outro lado do micro. Riu disso por que ele mesmo já dormira ali na frente do computador. Moveu-se na cadeira tentando tirar o incômodo das costas, levou a mão ao teclado então se assustou com a TV Ligando atrás dele. Olhou por cima do ombro e por cima do sofá que estava de frente pra TV e viu o aparelho ligado em um canal que ele não reconheceu.

    Levantou da cadeira e andou até o sofá tocando o encosto. Tiago gostava dos móveis assim. Ao lado da porta a TV, de frente ao Televisor o sofá e atrás o micro de costas para a porta. Andou para perto da estante percebendo que não era nem um programa que passava na tela. Parecia uma estrada. Em preto e branco.

    – O que é isso? Perguntou ele olhando para a tela que vez ou outra tremia como se fosse sair do ar. No meio da estrada Tiago, apertando os olhos por trás das lentes de grau para poder ver melhor, tinha um cão caído, morto, banhado em sangue e o sangue se espalhava pela estrada.

    – Que merda. – Disse estendendo a mão para a TV. Bem próximo de tocar o botão percebeu que o sangue estava saindo da Tela em gotas pequenas sujando o monitor, a incredulidade de Tiago o fez tocar a tela do aparelho e olhar para a ponta dos dedos, estavam sujos de sangue.

    – Deus! Falou sentindo um arrepio correr por todo o seu corpo; se afastou percebendo que o sangue escorria pelas laterais da TV, depois seguia pela pequena estante e, por fim, formavam uma poça vermelha viva no chão.

    – Deus, o que é isso? Exclamou andando para perto do computador, sua mente logo foi em sua filha Júlia que dormia no quarto, então Tiago se encolheu ao ouvir uma freada forte de carro e logo em seguida um grito agudo de mulher.

    –Não! – Disse cobrindo a cabeça com as mãos. Respirava forte. Ergueu a cabeça e nada viu, não havia mulher alguma, não havia carros nem ao menos a TV estava ligada; se sentiu um idiota por ter sonhado tudo aquilo, que diria sua mãe? você comeu demais a noite ele nunca soube o porquê, mas sua mãe sempre atribuía coisas ruins que acontecesse a noite ao excesso de comida. Do mau sono aos pesadelos.

    Estava tudo bem agora não havia cães mortos na TV nem mesmo carros, na verdade achou que algum carro poderia mesmo ter freado na frente de sua casa causando aquele espanto, secou o suor da testa, olhou para o Computador Desligado…. Desligado? Pensou ele. Poderia jurar que estava conversando com alguém, só não lembrava direito, resolveu ir ver se sua filha estava bem antes de ir dormir.

    Andou pelo corredor estreito passando pela porta da cozinha que agora estava escura, não percebeu, mas à medida que andava seus pés deixavam rastros de sangue pelo piso branco, marcas estas que se seguidas dariam de frente com a TV.

    Empurrou a porta do quarto da filha e entrou devagar, estava tudo calmo com a menina. Júlia respirava devagar. Ele se aproximou e sentou–se na beira da cama.

    Sorriu um pouco tocando a filha, sentindo sua respiração fraca, só que hoje a menina de seis anos parecia bem menor do que era, franziu a testa ao perceber isso então puxou devagar a coberta não vendo a cabeça da menina, ficou em pé sentindo aquele arrepio outra vez, puxou a coberta com tudo.

    Não era mesmo sua filha no lugar dela estava um cão, o mesmo cachorro da TV, um pastor alemão negro com uma mancha branca na testa, da boca do cachorro escapava sangue que fluía como água de uma torneira. Os olhos do Cão se abriram e olharam dentro dos olhos de Tiago. Então o animal ergueu a cabeça devagar e latiu só que não foi o som do latido que Tiago ouviu, foi a palavra.

    – Pai. – Abriu os olhos assustado. Estava de frente com o microcomputador, respirava rapidamente e diferente de antes, no sonho, ele não conseguiu se controlar. Virou-se para ver sua filha que provavelmente estava assustada, sempre que ela tinha pesadelos o pai a consolava. Talvez agora ela fosse fazer o mesmo. Tiago se virou na cadeira.

    Andando na Direção do homem estava uma menina de pele branca, olhos vermelhos de sangue, careca, vestida em uma roupa de hospital, na mão direita uma boneca de pano velha sem o olho esquerdo a cada passo que dava a menina mancava da perna direita a cada passo ela gemia e pendia para o lado doente.

    – Ham. – A boca se movia para deixar escapar este som – Ham. – E outra vez e muitas vezes até ela estar bem próxima de Tiago.

    – Quem é você? Ele perguntou sabendo que ainda estava em algum tipo de pesadelo; neste momento a menina parou, olhou com seus olhos de sangue dentro dos olhos de medo de Tiago e falou:

    –JÚLIA.

    Ele acordou e passou um tempo olhando para os próprios joelhos esperando que algo mais acontecesse, porém nada aconteceu, estava mesmo acordado desta vez. Olhou para a tela do computador à sua frente e respirou fundo, estava passando tempo de mais na frente da máquina, era como no começo quando perdeu Débora.

    Sua esposa foi embora levando com sigo a filha Júlia de apenas cinco anos, na época Tiago ficou muito deprimido e para esquecer suas mágoas sentava em frente ao computador quando acordava e só saia as quatro da manha, dormia até meio dia e tudo recomeçava.

    Foi nesta época que resolveu se aventurar pelos bate-papos da internet, quem sabe não encontrasse alguém legal? No meio de tarados da cam, mulheres profissionais e ninfetas safadas, ele encontrou três garotas. Ângela, Laiane e Valquíria com quem conversava bastante, o papo com as duas primeiras foi ficando menos frequentes em sua vida de Orkut e e-mails.

    Valquíria seguiu conversando com ele, entendendo seus problemas e quando ele finalmente encontrou outro emprego foi para ela que ele primeiro contou, depois para Débora. Começaram a conversar até as dez da noite para que o trabalho não fosse prejudicado, foi sem combinar, mas todos aceitaram, no entanto nos últimos dias estavam ficando até tarde no micro e isso lhes dava um dia sonolento.

    VALQUÍRIA: Claro você é uma pessoa legal prometo que logo nós iremos nos conhecer cara a cara. Foi a resposta que ele leu para última pergunta que fez antes de dormir.

    Quem sabe? Eu torço por isso, será que você pode me fazer esquecer minha Débora?

    VALQUÍRIA: Agora tenho que sair, está ficando tarde e amanhã tenho aula bem cedo. Tchau, beijos. Depois disso nem uma mensagem, só a animação de uma boca grande e vermelha marcando a tela com um beijo.

    – Droga! Falou ele levantando da cadeira. Tinha mesmo dormido e tido o horrível pesadelo, talvez a culpa disso tudo tenha sido do susto que ele levou durante o dia. Estava no centro da cidade procurando uma camisa nova, tendo como companhia sua pequena filha Júlia. Andava de loja em loja alegremente segurando a mão de sua pequena.

    Ela sorria e ele ria muito mais pela alegria de vela sorrir, em fim acharam uma camisa que servia ao pai, que iria lhe deixar elegante segundo a pequena Júlia. E foi quando estavam saindo desta loja que deu de cara com o único ser humano de que tinha certo medo, seu nome: Valéria.

    – Olá Tiago! Como você está? Ele ficou sem resposta, já há certo tempo que não encontrava com Valéria e ela poderia ser um bom exemplo de desequilíbrio como muitas vezes já tinha mostrado a Tiago que poderia ser. – É sua filha com Débora? Perguntou olhando para a menina e dando um passo à frente, vendo isso Tiago puxou a filha para perto de seu corpo e a mulher olhou para ele mostrando um sorrido doce.

    – Por favor, Valéria eu não quero que…. Mas ela não deixou terminar o que tinha para falar.

    – Não se preocupe Tiago, há muito tempo que não nos encontramos e eu mudei sabe, não tenho mais o mesmo sentimento por você só quero cumprimentá-la.

    Tiago estava apreensivo, realmente assustado. Já tinha encontrado com Valéria outras vezes. Outros gritos, outras cenas de histeria por conta de um amor antigo e muito mal resolvido, no entanto seus olhos diziam realmente que ela estava calma, que tinha mudado de alguma forma, mas Tiago não saberia dizer se tinha sido uma mudança boa, em fim.

    – Filha dê um olá para a amiga do papai. – disse tirando Júlia de baixo de suas asas e deixando ela exposta a mulher que tantas vezes disse ter raiva dela.

    – Oi moça.

    – Olá querida. – ela estendeu a mão e Tiago sentiu todo seu corpo ficar tenso, no entanto Valéria apenas tocou a cabeça de Júlia e afagou seus cabelos sorrindo. Tiago sentiu medo de qualquer reação contra a menina e se lembrou de tudo que tinha passado por conta daquela mulher, entre outras coisas o cachorro que um dia ele atropelou. – Valéria retirou a mão como se estivesse tocando em vespas depois olhou para Tiago e ela parecia agora diferente de quando a conheceu, diferente de como ela ficou quando estava paranoica e, por mais incrível que fosse diferente do que ele viu em seus olhos há um minuto. – Sua filha é linda meu…. – pensou no que ia dizer. – Meu querido amigo você é um cara de sorte. – estendeu a mão para ele e Tiago apertou com carinho e cuidado, ela aprecia mesmo mudada, mas todo cuidado era pouco.

    – Até mais Tiago. – e saiu andando na direção aposta que Tiago iria.

    – Até mais Valéria. – não ouviu sua filha perguntar de primeira quem era aquela mulher, mas ouviu quando ela lhe puxou pela barra da camisa. – O que foi filha….

    Isso ficou na cabeça de Tiago todo o dia, quantas vezes aquela mulher que tinha sido sua namorada não lhe encontrara na rua e aprontava um escândalo, sem contar a grande história que estava enterrada no passado e que envolvia os dois, entre outras coisas, o cachorro. Voltou a si e tentou continuar sua vida, desligou o micro, o ouvindo fazer aquele som peculiar que todos fazem quando estão sendo desligados, calçou os chinelos e andou para o corredor se apoiando na parede. Sua cabeça doía um pouco. Passou pela porta da cozinha sem olhar para a escuridão. Andou até o fim do corredor onde ele olhou para a direita, para seu quarto, para frente, para a porta entre aberta do banheiro, e a direita, onde dormia sua filha Júlia que vivia com ele há seis meses. Os motivos a mãe dela não soube explicar, apenas pediu para ele cuidar da filha e como este era um sonho dele não disse não.

    Virou-se para o quarto da menina e tocou a maçaneta. Entrando um peso muito grande se desfez em seu coração quando ele viu a filha morena de cabelos rebeldes dormindo e respirando devagar. O que você esperava ver? Perguntou para si. – Um Cão? Andou até a filha e tocou sua testa. Estava escuro e frio, o homem deitou ao lado da filha e acabou adormecendo e tendo sonhos tranquilos embora lá no fundo ainda se lembrasse do pesadelo que teve acordado.

    Acordou com o raio de sol no rosto, abriu os olhos e percebeu que a pequena Júlia não estava na cama, fraco ele ouviu o som do chuveiro, provavelmente a filha estava tomando banho. Sentou–se na cama visualizando primeiro a guarda roupas da filha que ficava ao pé da cama, a menina costumava ficar ali sentada com as gavetas todas abertas escolhendo roupas. Girou na cama ficando de costas para a janela de cortina rosada e de frente com o armário de bonecas da menina. Era incrível que uma menina tão jovem fosse tão organizada. Chinelos juntos ao pé da cama, nem uma roupa jogada no quarto e se tocasse os móveis, incluindo a cadeira e o baú de brinquedos, não encontraria pó em nada.

    2

    Levantou da cama sentindo uma forte dor de cabeça, o sonho ainda lhe perturbava, parou na porta do quarto da menina ouvindo o chuveiro parar então a jovem abriu a porta enrolada na toalha.

    – Ha. – Assustou–se. – Pai você me assustou. – O homem sorriu da pequena deusa a sua frente, o objeto de mais amor de Tiago. Objeto sim, pois às vezes era tratada como uma boneca.

    – Desculpe Júlia. Vou fazer o café e depois tomar banho, acho que não vamos nos atrasar hoje.

    – É não vamos. – Ela disse andando com as mãos no tórax como se já houvesse seios ali para esconder, um movimento natural nas mulheres, entrou no quarto sendo acompanhada pelo pai, olhou para ele sorrindo uma última vez e depois fechou a porta.

    Tiago andou até a porta da cozinha e teve certeza de ver uma menina pequena sentada no lugar de Júlia, apertou os olhos assustado, quando abriu percebeu que não havia ninguém na cozinha. Com amor que ele sempre empregava nas tarefas para a filha, Tiago preparou o café.

    Quinze minutos depois, enquanto a filha se alimentava, ele tomava banho cantando uma velha canção de sua banda favorita: Nirvana. Fechou o chuveiro ouvindo o som metálico do registro, ouviu também o som da água parando nos canos.

    Saiu do box enxugando a cabeça, estava descalço, perigosamente descalço, parou de frente para o espelho ainda de olhos fechados, ao abrir, notou algo estranho; o banheiro estava mesmo meio enevoado pelo vapor do chuveiro, mas não o suficiente para privar toda a visão, porém era assim que o espelho mostrava o lugar.

    – Que merda. – tocou o espelho com a ponta dos dedos e depois devagar foi abrindo a mão sobre a superfície gelada, fez movimentos para limpar e estremeceu ao notar que a mão refletida no espelho era bem menor que a sua e muito mais branca também, lembrou da menina branca que em seus sonhos lhe apontava os dedos finos e respondia a sua pergunta.

    – Júlia. – Disse a menina quando ele perguntou quem era. Puxou a mão sentindo medo, sem olhar para o espelho de novo e saiu do banheiro.

    No carro, a jovem Júlia seguia no banco do carona tendo o pai dirigindo alegremente, embora tendo a cabeça cheia de lembranças da noite passado ainda o assombrando ele ainda cantava junto com o rádio do carro, a menina olhava pela janela segurando a mochila cor-de-rosa como quem segura um grande tesouro.

    – Pai, hoje é que dia? Perguntou e menina, ainda olhando para fora vendo as casas da avenida ouro fino passando.

    – Quinta minha filha você perguntou isso na hora do café por quê?

    – Nada, é que minha mãe vem me buscar no sábado né? Desta vez ela olhou para o homem que havia parado de cantar, abaixou o volume do rádio e falou.

    – Ela disse que vem. – disse parando no farol. – Mas você sabe se não for no sábado, ela vem domingo de manhã.

    – Ah pai, mas eu queria ir dormir lá no sábado! Faz tempo que eu não durmo com a mamãe. – Ele acelerou o carro assim que o farol ficou verde.

    – É filha, mas a culpa não é minha. – Falaria que a mãe da menina sempre arranjava algo melhor para fazer do que ficar com a filha, que a mãe adorava sair para festas e não podia fazer isso com a filha em casa, porém achou melhor não falar disso apenas. – Sua mãe é muito ocupada.

    Andaram mais alguns metros tendo o silêncio como companheiro. Parou o carro a poucos metros da escola, não gostava de chegar muito perto das crianças, costumavam

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