À luz da cegueira - vol. 1: Meditação 17
()
Sobre este e-book
Leia mais títulos de Arturo Gouveia
Borges após Auschwitz: ensaios sobre o nazismo nos contos de Jorge Luis Borges Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMímeses despoéticas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasÀ luz da cegueira - vol. 2: Oitavo selo Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Relacionado a À luz da cegueira - vol. 1
Ebooks relacionados
Peixe-elétrico #02: Jameson Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA origem da espécie: O roubo do fogo e a noção de humanidade Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSátira, amor, pobreza e anatomia da alusão: ensaios de literatura Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO espírito da prosa: Uma autobiografia literária Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMedida por medida Nota: 0 de 5 estrelas0 notasNáufragos da esperança Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFicções de um gabinete ocidental Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDa dificuldade de nomear a produção do presente: Literatura latino-americana contemporânea Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Romance de Adultério e o Realismo Trágico: Um Estudo de Madame Bovary e Anna Kariênina Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO futuro pelo retrovisor: Inquietudes da literatura brasileira contemporânea Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO SÉCULO XIX NO XXI: A COMPOSIÇÃO FICCIONAL DE MARCO LUCCHESI EM O DOM DO CRIME Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Narrador do Tradicional ao Moderno Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEstética e Raça: Ensaios sobre a Literatura Negra Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPró ou contra a bomba atomica Nota: 0 de 5 estrelas0 notasÓdio à literatura: Uma história da antiliteratura Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMelhores Contos Machado de Assis Nota: 0 de 5 estrelas0 notasConflitos entre homem e natureza na obra ficcional de Italo Calvino: Palomar, Marcovaldo e "A formiga-argentina" Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFronteiras do Erótico: O espaço e o erotismo n'O Cortiço Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO zelo de Deus: Sobre a luta dos três monoteísmos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEngrenagens Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLiteratura, Lacan e o Comunismo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEscrever, Demônio Perverso Nota: 0 de 5 estrelas0 notasNeorrealismo e Mundividência em Unhas Negras: uma memória dos vencidos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasInefável ~ Antologia 2007-2013 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA cadeia secreta: Diderot e o romance filosófico Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA poeira da glória: Uma (inesperada) história da literatura brasileira Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUm estudo do ciúme em Machado de Assis: as narrativas e os seus narradores Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO ovo do tempo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAnálise Semiótica Do Defunto-autor Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAssim falou Zaratustra Nota: 5 de 5 estrelas5/5
Ficção Geral para você
MEMÓRIAS DO SUBSOLO Nota: 5 de 5 estrelas5/5A Arte da Guerra Nota: 4 de 5 estrelas4/5Pra Você Que Sente Demais Nota: 4 de 5 estrelas4/5Para todas as pessoas intensas Nota: 4 de 5 estrelas4/5Invista como Warren Buffett: Regras de ouro para atingir suas metas financeiras Nota: 5 de 5 estrelas5/5Poesias Nota: 4 de 5 estrelas4/5A Sabedoria dos Estoicos: Escritos Selecionados de Sêneca Epiteto e Marco Aurélio Nota: 3 de 5 estrelas3/5Onde não existir reciprocidade, não se demore Nota: 4 de 5 estrelas4/5Palavras para desatar nós Nota: 4 de 5 estrelas4/5Novos contos eróticos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Morte de Ivan Ilitch Nota: 4 de 5 estrelas4/5Noites Brancas Nota: 4 de 5 estrelas4/5Vós sois Deuses Nota: 5 de 5 estrelas5/5Gramática Escolar Da Língua Portuguesa Nota: 5 de 5 estrelas5/5Mata-me De Prazer Nota: 5 de 5 estrelas5/5Prazeres Insanos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTudo que já nadei: Ressaca, quebra-mar e marolinhas Nota: 5 de 5 estrelas5/5O amor não é óbvio Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Casamento do Céu e do Inferno Nota: 4 de 5 estrelas4/5SOMBRA E OSSOS: VOLUME 1 DA TRILOGIA SOMBRA E OSSOS Nota: 4 de 5 estrelas4/5Para todas as pessoas apaixonantes Nota: 5 de 5 estrelas5/5A batalha do Apocalipse Nota: 5 de 5 estrelas5/5Declínio de um homem Nota: 4 de 5 estrelas4/5O Morro dos Ventos Uivantes Nota: 4 de 5 estrelas4/5Coroa de Sombras: Ela não é a típica mocinha. Ele não é o típico vilão. Nota: 5 de 5 estrelas5/5
Categorias relacionadas
Avaliações de À luz da cegueira - vol. 1
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
À luz da cegueira - vol. 1 - Arturo Gouveia
À LUZ
DA CEGUEIRA
[ FICÇÕES PÓS-BORGIANAS ]
LIVRO UM
MEDITAÇÃO 17
[ OS CEM MENORES ROMANCES DO SÉCULO XXI ]
ARTURO GOUVEIA
Catalogação
Copyright by © 2023
Arturo Gouveia
Coordenação editorial:
Lygia Caselato
Projeto editorial/capa:
Wilbett Oliveira
Diagramação eletrônica
Semadar edições
1a edição
Janeiro de 2023
Impressão
Nossa Impressão Gráfica
Imagem de capa:
History
[ Peace, love, happiness por Pixabay ]
Contato com o autor:
arturogouveia7@gmail.com
[CIP]
Dados Internacionais da Catalogação na Publicação
Índice para catálogo sistemático:
G719m
Gouveia, Arturo.-
Meditação 17: os cem menores contos do século XXI. Arturo Gouveia. 1ª edição - Cotia, SP, Editora Cajuína, 2023. 126 p. [À luz da cegueira. v. 1].
ISBN: 978-65-85121-13-2
1. Literatura brasileira. 2. Contos
I Arturo Gouveia II. Titulo
CDD B869.3
1. Literatura - contos - B869.3
CATALOGebooktransparenteÍNDICE
CAPA
À LUZ DA CEGUEIRA: MEDITAÇÃO 17 [Volume um]
Catalogação
MEDITAÇÃO APOLÊMICA
[01] DOGMA VOLÁTIL
DOIS DIAS DE ULISSES
I
II
[03] TEOLOGIA DO AMOR
I – Da oni-impotência
II – Da regressão dos sentidos
III – Da permanência da dor
O QUARTO SONHO
O ENIGMA DA QUINTA LINHA
[06] DA JANELA DE QUÉOPS
SÉTIMO CÍRCULO
[08] FEIXE DE TREVAS
A NONA TESE
[10] VIGÍLIA DOGMÁTICA
I
II
11 DE SETEMBRO
[12] ATO PENITENCIAL
[13] ENSAIO SOBRE A MÁSCARA
[14] ETERNO TORNO
[15] RAZÕES NEGATIVAS
[16] EXTENSÕES DE JÓ
MEDITAÇÃO 17
[18] TEODICÉIA NEGATIVA
[19] TEBAS HECATOMPYLOS
TRONCO 20
21 DE JUNHO
[22] SÓ BRAÇOS VACINADOS
A DOIS E A TRÊS
[24] CASTAS ESTRELAS
[25] ONDINHAS TROPICAIS
[26] ADORNO
[27] PRETÉRITO IMPERFEITO
[28] O CAOS DA TEORIA
[29] FIANT TENEBRAE
[30] LAMENTAÇÃO DO DOUTOR FAUSTO
[31] LAMENTAÇÕES DE MEFISTO
[32] O VEREDICTO DE ASTÉRION
AP. 33
GÊNESE 34
[35] O OUTRO
[36] PRIMO LEWY
[37] SURTO DE DALÍ
[38] ENTRE A E B
[39] FRAGMENTOS ÓRFICOS
[40] FORMA E CIRCUNSTÂNCIA
CHACINA n.o 41
[42] SOLUÇÕES INCONCLUSAS
I – Versículo cinza
II – A dor no prisma
[43] FORMAS NOMINAIS
[44] DO INESPERADO
VALHALA em 45
[46] COROAÇÃO DE TACHITO
[47] NEOPSICONTODÉLICO
[48] RÉQUIEM EM CONTRABAIXO
[49] UM PEDAÇO DE SAIGON
[50] A TORRE DAS FACES
FRAGMENTO 51
[52] EPITÁFIO PARA UMA CRIANÇA TÚTSI
[53] CHOCOLATES E STRAUSS
[54] O TRANSTORNO DE MARKEL
REVER 55
[56] A PAIXÃO SEGUNDO GÓRGONA-HÚMUS
[57] BARQUINHOS DE PAPEL
[58] O TEMPLO DA IMUNIDADE
[59] TOCCATA E FUGA
[60] A PIEDADE
[61] ESTÉTICA DA INDIGÊNCIA
[62] NEXT FALL
[63] CARO EDITOR,
[64] TRÉGUA DE OCASO A OCASO
[65] OS ESCRAVOS E OS TEMPLOS
[66] DELÍRIOS SUPRESSOS
[67] TRAIÇÕES OBTUSAS
[68] HOMO SAPIENS
69
[70] ANTES DO HABEAS-CORPUS
[71] OUTRO A MAIS E A MENOS
[72] SONHOS E ADÁGIOS
[73] SETEMBRO CINZA
[74] SANSÃO CARRASCO
[75] INTEMPESTIVO OUTRO
[76] O MAIS CONCRETO DELES
[77] TEMPESTADE PRÓSPERA
[78] FENDAS DO INVEROSSÍMIL
[79] INTRADUZIR-SE
[80] O SUICIDA
[81] MAL ROMPE A MANHÃ
[82] PROBLEMA DE ORWELL
[83] SUJEITO SIMPLES
[84] MINHA ÚNICA TRÉGUA
[85] EXCLUSÃO OPORTUNA
[86] EXCLUSÃO INOPORTUNA
[87] MONSTROS DO GALEANO
[88] CENSURA-CONCRETA
[89] PARTILHA
[90] DETURPAÇÃO DE PLAUTO
[91] URRANDO POR TÚMULOS
[92] ANTIPROBLEMA DE PLATÃO
[93] ADÔNIS
[94] A BATALHA FINAL DE ALONSO QUIJANO
[95] SOMBRAS DANIFICADAS
[96] A DÍVIDA
COMPOSIÇÃO 97
[98] A PROVA DO OUTRO
[99] POÉTICA ADORNO-BECKETT
[100] FINAL FELIZ
MEDITAÇÃO APOLÊMICA
No transcorrer do ano 2004 da Era Cristã, Marcelino Freire organizou uma coletânea intitulada Os cem menores contos brasileiros do século. Livres em tema e forma, os cem contistas reunidos no livro aceitaram a imposição de uma regra: a fatura do texto em no máximo cinquenta caracteres (exceto título e pontuação). De extensões as mais diversas, todos concebidos como minicontos
, o menor deles é o de Raimundo Carrero, Quatro letras
, restrito à palavra Nada
. Inspirado no conto O dinossauro
, do escritor Augusto Monterroso, Marcelino Freire pode não ser o primeiro na literatura brasileira a compor e a estimular textos em pequenas dimensões, mas é pioneiro na organização inédita de uma antologia plural de contos minimalistas. Essa experiência alcançou notável êxito em recepção e em disseminação de novas investidas, como a proliferação de produções semelhantes, de 2004 ao momento presente. Hoje já se tornou comum a produção de minicontos
, também chamados microcontos
, nanocontos
, tal o alcance e a circulação da proposta estética.
Um estudo detalhado do livro de Marcelino Freire iria abrir espaço para a exploração de diversas categorias analíticas, tais como: a inexistência absoluta de enredo (incluindo tempo, espaço e personagem) em alguns dos textos; a limitação de certos textos a um diálogo conciso, sem presença de um narrador; a dificuldade de distinção entre minicontos e poemas líricos – ou em prosa – de pequenas proporções. Dificuldades e ambiguidades dessa natureza se impõem como desafios a toda uma nova geração crítica que, de alguma forma, tem que ir em busca de princípios teóricos capazes de compreender e interpretar o sentido interno de cada texto e as motivações histórico-sociais de sua produção massiva no limiar do século vinte e um. A reflexão e o estabelecimento de tais princípios, os quais devem partir tanto da composição interna dos textos quanto das possíveis causas históricas de tal fenômeno (a exemplo da extrema reificação do tempo, que impede muitas pessoas, sobretudo em cidades grandes, de fazerem leitura de textos mais extensos), são imprescindíveis a uma leitura coerente com a configuração do objeto, procedimento exemplar para evitar duas posturas prejudiciais a qualquer exercício hermenêutico: a detratação preconceituosa e a mistificação acrítica.
A proposta do presente livro, Meditação 17, em diálogo crítico com a de Marcelino Freire, é a reunião de cem minirromances de um único autor, em uma única obra, a qual, em sua expressão maior, resulta em gênero indefinido, se ainda se faz necessária tal classificação. Mas a especulação que moveu o livro, desde a leitura dos minicontos, foi a seguinte: se o conto pode ser feito em no máximo cinquenta caracteres, sendo um deles de apenas quatro letras, o romance também pode sofrer semelhante retração e se construir com apenas quarenta caracteres. Obviamente, o romance é pensado aqui como uma obra dez vezes maior que um conto – comparação arbitrária, claro, porém relevante em ao menos um aspecto: a quantidade mínima do texto. Independentemente da qualidade artística (como também ocorre nos minicontos), todo minirromance, a rigor, teria um mínimo de quarenta caracteres e um máximo, digamos, de quinhentos caracteres. Meditação 17 contém textos bem aquém dos quarenta caracteres, como alguns supressos, assim como outros que extrapolam o limite dos minicontos multiplicado por dez. Caso concebamos a média do conto por página (dez páginas) e a do romance dez vezes maior (cem páginas), o problema ainda permanece.
Convém lembrar que a quantidade tem sido a única categoria a distinguir conto de romance (os teóricos nunca encontraram outra, pois todas as possíveis diferenças são ligadas à extensão), gerando problemas para avaliação e discernimento da natureza de um gênero. Afinal, o nanoconto Pont
, de Arturo Gouveia, restringe-se a um ponto; A busca onírica por Kadath
, de H. P. Lovecraft, tem cento e quatro páginas. Pelo critério tão frágil da quantidade, as diferenças podem se inverter e gerar um caos cognitivo: o conto de Lovecraft é mais extenso que vários romances; e o nanoconto citado dispensa palavras e é a menor pontuação possível, o que poderia também ser um minirromance. Contra a objeção de que o texto de Lovecraft é uma novela, basta argumentar que ele se insere em uma coletânea chamada Os melhores contos de H. P. Lovecraft; e, se é verdade o que diz Mário de Andrade (Conto é aquilo que eu chamo de conto
– afirmação em que muitos se ancoram para disfarçar a incompetência reflexiva), não apenas o texto de Lovecraft é um conto, mas a Bíblia inteira é um conto e Homero só deixou para a Humanidade dois contos (ou três?).
Procuro aqui demonstrar a possibilidade de fatura do gênero mais extenso da literatura ocidental – Guerra e paz, Os Irmãos Karamazov, Em busca do tempo perdido, Ulisses e Doutor Fausto são maiores que as epopeias homéricas – em uma dimensão mínima, com algumas variáveis, alguns até menores que determinados minicontos. Assim como ainda não há uma teoria sólida sobre a natureza do miniconto – explorando, sobretudo, as suas distinções ontológicas em relação a outras construções narrativas, bem como sua possibilidade de confluência e indistinção de outras formas mínimas, como o poema conciso –, não me consta, até o momento, nenhum teórico capaz de