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Quem cuida da vida
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E-book194 páginas2 horas

Quem cuida da vida

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Sobre este e-book

Pensar sobre a vida é um hábito antigo. Este livro reúne leituras, conversas e reflexões pessoais vivenciadas no decorrer da minha vida e que, agora, ofereço a você no intuito de compartilhá-las.

São apenas ideias acerca de um tema complexo e abrangente, que sei limitadas, mas nem por isso as considero supérfluas ou desprovidas de sentido. Pelo contrário, tenho-as como uma bússola, um ponto no horizonte a me nortear. Como essas ideias têm-me sido úteis, pensei que talvez possam também ser úteis a você.

Meu desejo é que este livro seja um diálogo, uma troca informal de perguntas que nos passam na cabeça e para as quais procuramos respostas, mesmo que no fundo saibamos que nenhuma delas será definitiva. Afinal, o que é a Vida? Quem cuida da Vida?
IdiomaPortuguês
Data de lançamento4 de ago. de 2023
ISBN9786553555174
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    Quem cuida da vida - Eugenio Paes Campos

    PARTE 1

    A VIDA

    1 O QUE É A VIDA?

    A Vida é um mistério. Sabemos que ela existe porque a sentimos. E é pensando na vida que existe em mim, que tento compreendê-la. Por que vivemos? Para que vivemos? Inúmeros pensadores e pesquisadores, no decorrer dos tempos, tentam defini-la.

    A biologia descreve a evolução dos seres vivos a partir da matéria inanimada, através de bilhões de anos, mediante processos adaptativos determinados por seleção natural e mutações. Desse modo, nós, humanos, teríamos chegado até aqui.

    A religião explica a Vida pela ação de seres sobrenaturais: os deuses, e define, como sentido da vida, a preparação para a existência após a morte, seja pela prática do bem e do amor, seja pela observância dos preceitos e ensinamentos emanados de um Ser Superior.

    Por sua vez, os filósofos antigos refletiam sobre o sentido da vida, mas divergiam quanto à forma de alcançá-la.

    Parece-me que tal divergência aponta para uma característica humana: somos todos diferentes. Pensamos e agimos de formas diferentes. Assim sendo, nossa forma de perceber a vida será diferente. Isto me remete à ideia de que o sentido da vida é construído por cada um de nós, através da consciência, a partir da nossa própria experiência de viver.

    E o que diz minha consciência sobre a Vida?

    VIDA: O QUE ÉS, AFINAL?

    Lembro-me sempre da charge de Luiz Fernando Veríssimo em que duas cobras conversavam:

    - O que é a vida, afinal?

    - A vida e um hiato de perplexidade entre dois vazios

    - E eu que não sabia de nada!

    Sei que nasci da união dos meus pais. Percebo que a vida é finita. Percebo que cumprimos um ciclo que começa com o nascimento e termina com a morte. E percebo que existe um instinto que nos estimula a viver.

    INSTINTO DE VIDA

    Sinto que a Vida é movida por um instinto que tem, como finalidade, preservá-la. Percebo que todo ser busca ser. Parece existir uma energia, um élan vital que nos impulsiona a viver. Parece que cada ser nasce com uma carga – uma bateria não recarregável – que é consumida com o decurso e os acidentes da vida, até sua exaustão ou cessação, que é a morte. Há um ciclo que se inicia com o nascimento e termina com a morte. A vida, portanto, é finita. A tal energia ou élan vital se esgota com o tempo. Podemos talvez nascer com uma reserva maior ou menor de energia vital. Podemos talvez nascer com uma energia qualitativamente mais potente, ou mais sensível, mas sempre de forma finita, limitada, que cessa com a morte (ou a morte é a cessação, o esgotamento dessa energia). Essa energia pode ser esgotada precocemente em função de traumas sérios como acidentes ou determinadas doenças.

    Como possuímos o instinto de vida, passamos a lutar conscientemente contra a morte desde que nos conhecemos (antes lutávamos biologicamente). Os instintos de cuidado e sexo tentam preservar a vida pela aproximação, pela cooperação, pela união entre os seres de uma mesma espécie. E os instintos de ataque e defesa predispõem-nos a buscar alimento e a nos defender do ambiente hostil, seja provocado por eventos da própria natureza, seja pela ação de seres predadores.

    Instintivamente, todos os seres são guiados pelas percepções e sensações de prazer e desprazer, na luta constante de interação: cooperação ou confrontação com o ambiente em que vivem, buscando a ele se adaptar e sobreviver.

    Em nós, humanos, o instinto de vida e seus desdobramentos são modificados a partir do pensamento e não mais lidamos com instintos propriamente ditos, mas com impulsos que, embora biológicos na sua base, são, até certo ponto, por nós modificáveis e tornam-se mais complexos e integrados. Nossas ações deixam de ser meras reações instintivas e pré-determinadas e passam a ser ações deliberadas, imaginadas e planejadas para serem realizadas desta ou daquela maneira.

    A partir daí, não nos pautamos mais somente pelas percepções de prazer/desprazer, mas por uma série de normas, valores e hábitos que construímos mentalmente e socialmente. Deixamos de viver simplesmente para viver, e passamos a estabelecer objetivos, metas, direções para o nosso viver. Ou seja, passamos a atribuir um sentido para nossa vida. Passamos da biologia para a história, como nos diz Yuval Harari, historiador israelense¹.

    No meu entendimento, os humanos desenvolveram sua forma de comunicação, através da representação de símbolos que permitem um número de combinações altíssimo e, assim, permitem uma complexidade bem maior àquilo que é comunicado. Com essa complexidade, o homem começou a criar a cultura – que é o conjunto das produções humanas – com suas leis, códigos, normas e significados. Segundo Harari, é a partir daí que os humanos se separaram da biologia (em que os comportamentos eram quase determinados) e entraram na história (com a enorme diversidade de comportamentos desenvolvidos). A meu ver, é a partir daí que a consciência, a razão, a capacidade de pensar o próprio pensamento passou a interferir no nosso comportamento ao buscar ações que concretizem nossas ideias.

    Mas tudo se faz com falhas, com excessos ou omissões, com imperfeições, porque nosso pensamento carece de pleno conhecimento, de pleno controle, de plena previsibilidade. Somos limitados pela ignorância, pela impotência e pela incerteza.

    Marcelo Gleiser², pesquisador em Física Teórica, brasileiro, radicado nos Estados Unidos, faz uma descrição detalhada das teorias que tentam explicar o Universo e a Vida. Em tese, o autor defende que não existe uma simetria perfeita na natureza e que toda a evolução, da matéria e da vida, se fez a partir de assimetrias, caminhando de formas mais simples para mais complexas através de colisões, mutações ao acaso.

    Gleiser nos lembra que nossos triunfos e conquistas são imperfeitos e limitados como nós e que para nos aproximar da verdade, muitas vezes temos que abandonar nossos sonhos de perfeição.

    Além disso, porque somos todos diferentes, pensamos e agimos de formas diferentes. Por isso, fazemos escolhas diferentes. Traçamos objetivos e metas diferentes. Enfrentamos, em consequência, um conflito inevitável: fazemos parte de um grupo, uma comunidade, uma espécie, mas temos ideias e desejos singulares, individuais, que muitas vezes se opõem e conflitam com as dos outros.

    DIVERSIDADE E VIDA

    A diversidade exibida pela natureza me deixa perplexo e extasiado. Ponho-me a imaginar como daquela explosão inicial de massa e energia concentradas surgiu a extraordinária diversidade que observamos hoje. Daquela sopa cósmica, como diz Marcelo Gleiser, surgiram elementos inanimados como a terra, o ar, a água e o fogo e seres vivos como as bactérias, as plantas e os animais.

    Mesmo os elementos inanimados se mostram com cores, formas e texturas diversas tal como acontece com a terra, ora dura como uma pedra, ora fofa como a areia. Os seres vivos, então, nem se fala. Quanta variedade! Quanta diversidade!

    Nos seres vivos, à diversidade juntou-se a singularidade na medida em que cada ser adquiriu uma membrana, uma identidade, uma peculiaridade no que tange ao seu modo de se comportar. Não se trata só de ser diferente na cor, na forma e na textura, mas sim ser diferente também no modo de se comportar, eu diria no modo singular de ser. Mais curioso ainda é a diversidade / singularidade que observamos dentro de uma espécie, o que é absolutamente flagrante no caso dos seres humanos. Somos todos humanos, mas todos diferentes, singulares.

    Paralelamente à diversidade e singularidade, a natureza nos brinda com outra característica intrigante: a complementaridade. Vou tentar explicar. Se a natureza caminhou na direção da diversidade e da singularidade, poderia ter caminhado na direção do distanciamento, do desligamento, da independência entre os seres. Mas não é o que se observa. Os diversos seres trocam, compartilham entre si e, eventualmente, servem de alimento uns para os outros. E, pelo menos aparentemente, são essas trocas que os mantêm vivos uns e outros. Ou seja, as trocas contribuem para a sustentação da diversidade e da singularidade.

    Por fim, outra característica mais intrigante ainda é a reprodutibilidade, ou seja, a capacidade que adquiriram os seres vivos de se reproduzirem, de tentarem cópias autênticas de si mesmos, como se a reprodução fosse uma maneira de afirmar a singularidade alcançada. Mas as cópias não são tão autênticas assim e os filhotes são, de algum modo, diferentes dos seus pais, pelo menos em algumas espécies, o que acontece nitidamente na nossa espécie. Os filhos não são nem iguais aos pais nem iguais aos irmãos, embora filhos dos mesmos pais.

    No entanto, a reprodução, ao gerar um conjunto de indivíduos semelhantes, forma espécies cuja aparência e comportamento se aproximam, permitindo que sejam identificados como pertencentes àquele grupo, àquela espécie. Logo, a reprodução traria algo de homogeneidade, um certo freio à diversidade: os seres da mesma espécie tendem a cooperar entre si, a se cuidarem e se preservarem uns aos outros, embora diferentes entre si.

    No fundo, no fundo, pode ser que a natureza simplesmente funcione assim, de maneira complexa, e esses aparentes paradoxos ou contradições não se excluam, mas convivam entre si. Ou façam parte da criação imperfeita, como se refere Marcelo Gleiser.

    ASSIM É A VIDA: UM MISTÉRIO

    Enfim, tudo isso são teorias ou tentativas de esclarecer o mistério. Se me pergunto por que vivo e como devo viver, sou tomado por uma série de questionamentos, dúvidas, para as quais não tenho respostas: os fatos que me ocorrem na vida, ocorrem por acaso ou são determinados? Fazemos escolhas ou seguimos o destino? O que é previsível e o que é imprevisível? Qual o limite das atitudes preventivas?

    A vida é processo ou resultado? A vida demanda respostas, mas é feita de perguntas; demanda conhecer, mas é feita de dúvidas.

    Diz-me a experiência que alguns fatos acontecem ao acaso e outros são determinados. A experiência da vida nos revela a cada momento a existência do acaso, do imprevisto, do imponderável, da incerteza, como nos lembra Edgar Morin³, antropólogo, sociólogo e filósofo francês, ao discorrer sobre o princípio da complexidade. Revela-nos a ignorância e a impotência diante dos acontecimentos.

    A consciência nos mostra as possibilidades, as hipóteses, as interpretações, mas não nos mostra o conhecimento pleno, os recursos apropriados e competentes, nem a antecipação dos resultados. A consciência nos diz que não temos certezas, verdade, e nos ilude com as bolas de cristal. A consciência, ela mesma, não abriga a razão pura, nem tampouco a emoção, o desejo, a imaginação, a fantasia. Penso que uso minha consciência para dar provimento aos meus desejos, imaginações e fantasias, ao lançar mão do raciocínio lógico que me propicie fazer planos, projetos, escolhas e decisões.

    De algum modo, tento transformar incertezas em objetivos, direções, que me tragam uma certa sensação de segurança ou de certeza. Faço isso pressionado pela consciência que me faz pensar que existo, que tenho uma vida e essa vida me impulsiona para vive-la.

    Percebo que todo ser busca ser e que todo ser se empenha para preservar sua vida, não obstante as ameaças, os fracassos, os conflitos, as perdas, as deficiências, os acidentes e as doenças.

    Percebo que as formas de lutar – aliás, as formas de viver – são diferentes para cada um de nós, são singulares, específicas de cada ser, embora sejamos todos da mesma espécie. Percebo que alguns nem pensam na vida: simplesmente a vivem. Outros pensam até demais. Eu sou dos que pensam na vida. Talvez porque receie muito a morte. Ou melhor, talvez porque deseje muito a vida. Mas sei que tenho limites. Minha consciência tem me mostrado esses limites e a necessidade de aceitá-los, enfrentá-los, superá-los.

    Sou dos que acreditam nas medidas preventivas, enquanto atitudes capazes de propiciar a superação de determinados eventos que poderiam me levar à morte precocemente. Sei que nenhuma delas é absoluta, mas constato em mim e em muitos outros (conhecidos e clientes) que as atitudes preventivas funcionam.

    Todos, de alguma forma, acreditamos em algo que nos traga a sensação de superar a morte. Assim buscamos a fé, o conhecimento científico, a fantasia, a ousadia, a crença, que no fundo são ilusórias.

    Além de todas essas dúvidas, existe uma que torna a reflexão mais difícil e que eu acrescento agora à relação dos questionamentos antes referidos: quais as consequências dos meus atos para com os outros? Qual o limite dos meus atos? Por que continuamos a usar da agressividade para benefício próprio, sem nos preocupar em encontrar meios de nos preservar uns aos outros, de evitar nos destruir uns aos outros?

    Minha consciência me diz que

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