EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: Relatos de famílias inter-raciais e o que a História nos conta
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Sobre este e-book
Essa interpelação aconteceu em maio de 2020, quando esta autora lia, para seu filho, o livro Amoras, do rapper e escritor Emicida, e em uma das páginas Zumbi aparece com uma fala potente: "Não foi em vão!"
A partir desse fato, nasceu o projeto "Ei, você, cara pálida", cocriado com um grupo de pessoas também indignadas, que queriam contribuir para a luta antirracista. Este grupo, inicialmente formado por quatro mulheres negras e uma branca, avaliou a publicação de relatos de famílias interraciais como um caminho possível para estabelecer diálogo com pessoas brancas, uma vez que estas não se veem racializadas e, no contexto da família inter-racial, costumam ser as principais agentes da prática racista ou da educação antirracista.
Deste grupo de quatro mulheres negras, somente uma tinha a convivência familiar inter-racial, assim como a outra mulher branca. Aos poucos, com a divulgação do projeto "Ei, você, cara pálida" entre familiares, amigos e colegas, o grupo alcançou dez histórias diferentes. O que essas histórias têm em comum? Todas são relatos de famílias inter-raciais, e da experiência particular de cada narrativa é possível aprender com a experiência libertadora e ou traumatizante causada pelo racismo.
Num dos relatos é possível constatar que, na relação familiar, de forma consciente ou não, pessoas de origem oriental e europeus recebiam melhor tratamento. Noutro, o ensinamento era que a cor da pele fazia a diferença, sim. E quantas avós negras foram constrangidas ao não serem reconhecidas no seu lugar, precisando provar sua relação parental. Aos pais e avós brancos existe um olhar de acolhimento, pois julga-se que a criança negra é que foi adotada.
Quantas histórias contadas às crianças negras com o objetivo único de fazê-las acreditar que são potência pura, que são belas e não têm nada, nada que precisem mudar ou melhorar nas suas aparências. Muitas festas de escola, cuja personagem de princesa e príncipe "não cabem" em um corpo negro e, nessas horas, sim, os anões e as anãs tornam-se as figuras mais relevantes do enredo!
Depois que crescem, quantos jovens negros são orientados pelos pais a terem o corte de cabelo curto, não utilizarem brincos, touca ou boné? O objetivo é sempre um só: evitar que sejam confundidos, pois para serem suspeitos, a cor basta! Outro recado comum era "toma conta do primo na festa", isso porque sabiam como um garoto negro poderia ser tratado, como uma garota negra poderia ser humilhada.
Tivemos o cuidado de trazer para a reflexão uma parte importante e histórica que trata e critica a miscigenação no Brasil, a fim de desmistificar a falsa ideia de harmonia entre as raças e evidenciar o plano de branqueamento que se tinha para o Brasil.
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Pré-visualização do livro
EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA - Folhas de Relva Edições
Caroline da Silva Pereira Santos
Cristiane Braga Ramos
Douglas Svobonas de Souza
Eliad Dias dos Santos
Flavio Augusto Ramos de Souza
Lavini Beatriz Vieira de Castro
Patricia Carvalho Brito de Souza
Priscila dos Santos
Rodrigo dos Passos Faria
Yasmin Almeida Rêgo
Copyright: Carolina da Silva Pereira Santos, Cristina Braga Ramos, Douglas Svobonas de Souza, Eliad Dias dos Santos, Flavio Augusto Ramos de Souza, Lavini Beatriz Vieira de Castro, Patrícia Carvalho Brito de Souza, Priscila dos Santos, Rodrigo dos Passos Faria, Yasmin Almeida Rêgo
Direção editorial: Alexandre Staut
Diagramação e arte: Fabiano Alves de Souza
Revisão: Carolina Beu
Cintia Morais Marinho
Márcia Regina Busanello
Catalogação na publicação
Elaborada por Bibliotecária Janaina Ramos – CRB-8/9166
E24
Educação antirracista: relatos de famílias inter-raciais e o que a história nos conta / Priscila dos Santos (Organizadora). – São Paulo: Folhas de Relva, 2022.
Epub
145 p.
ISBN 978-65-80672-37-0
1. Racismo. 2. Cidadania. 3. Democracia. 4. Ensaios. I. Santos, Priscila dos (Organizadora). II. Título.
CDD 305.8036
Índice para catálogo sistemático
I. Racismo
Folhas de Relva Edições
São Paulo Review Produções
Rua Herculano de Freitas, 263, cj 43, São Paulo, SP, 01308-020
www.editorafolhasderelva.com.br
www.saopauloreview.com.br
"Numa sociedade racista, não basta não ser racista
é preciso SER ANTIRRACISTA."
Angela Davis
"A educação é a arma mais poderosa
que você pode usar para mudar o mundo."
Nelson Mandela
"Educação não transforma o mundo.
Educação muda as pessoas.
Pessoas transformam o mundo."
Paulo Freire
Sumário
Deixa eu te contar…
Quem somos?
História da miscigenação
A miscigenação dentro da perspectiva histórica
Um breve resumo da construção de um Brasil colorido
No ventre da miscigenação: quem são?
Somos um país de mestiços: mas a mestiçagem foi boa?
Educação antirracista
Relatos
Felizmente, a gente evolui, não é mesmo?!
A cor invisível
E o amor? Ah, ele, sim, tudo supera!
Sobre lugares, olhares e posições...
Minha referência
É preciso uma aldeia. É preciso o debate
Eu também acreditei no somos todos iguais
Como cheguei aqui? Resgates mnemônicos na construção do meu eu
Referências
Anexo
Deixa eu te contar…
Era dezembro de 2020, estávamos (estamos ainda?) em meio à pandemia da Covid-19, muitos fatos sendo noticiados e em uma fala de retrospectiva, alguém relatou que esse tinha sido o ano com maior registro de manifestações a favor da luta antirracista no Brasil. A crítica veio imediatamente informando que esse tinha sido o ano com maior número de denúncias contra o racismo.
Infelizmente, ainda estamos longe de ser uma nação que comunga e luta pelo mesmo objetivo — a igualdade racial. E como já afirmou o rapper Emicida, sim, o racismo vai morrer gritando
!
E, incrivelmente, o ano de 2020 foi o ano das lives. Lives de diferentes assuntos e para todos os gostos. E, claro, lives para falar de racismo, branquitude e luta antirracista.
Foram diversos os movimentos pela internet e muitos também, mesmo com a pandemia, nas ruas, orientados pela pergunta mais recorrente: qual o seu papel, o que você tem feito para contribuir com a luta antirracista?
E é neste movimento de como cada um pode contribuir para uma sociedade mais justa, menos desigual e democraticamente racial, que um grupo de pessoas pertencentes a famílias inter-raciais decidiu compartilhar suas experiências e vivências. Objetivo? Reescrever suas histórias, a partir das reflexões e diálogos que estão gritando para reafirmar, significar seus valores, suas ancestralidades, na certeza de que essa nova geração (sim, as crianças, acreditamos nelas e é por elas) encontrem um mundo melhor para todes!
Vem com a gente!
Quem somos?
Caroline da Silva Pereira Santos
Paulistana, nascida no ano de 1988 e formada em Recursos Humanos pela Universidade São Judas Tadeu. Sou branca, fruto de uma família inter-racial composta por nordestinos de origem africana e indígena e de sulistas com descendência portuguesa e italiana. Amo me perder em pensamentos noites adentro, questionando sobre as pessoas e coisas da vida. Com isso, tenho como lema: Tudo é relativo e não existe uma verdade absoluta
. Trabalhei por muito tempo recrutando, treinando e desenvolvendo o mercado corporativo. Hoje, optei por trabalhar com o meu melhor capital humano: minhas filhas!
carolsps2009@gmail.com
Cristiane Braga Ramos
Carioca, nascida no ano de 1964 e formada em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo pela Universidade do Vale do Itajaí. Filha de pai negro e mãe branca, as questões raciais sempre fizeram parte do meu dia a dia. Amo viajar, conhecer pessoas e contar histórias, as suas e as minhas. Enxergo o mundo colorido e todas as pessoas igualmente, independentemente da sua cor, raça, religião ou gênero. O impossível é apenas uma das especialidades de Deus.
cris_brr@hotmail.com
Douglas Svobonas de Souza
Graduado em Educação Física pela Universidade Bandeirante de São Paulo (UNIBAN) e pós-graduado em Fisiologia do exercício, pela mesma instituição. Atuei na área recreativa desde 2005 e sou Educador Físico na Academia Gustavo Borges desde 2011.
douglas.svobonas@gmail.com
Eliad Dias dos Santos
Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), mulher negra, com sobrepeso, mãe de uma mulher de 24 anos. Sou feminista, ativista em tempo integral dos direitos humanos, atuo como missionária e pastora em uma igreja metodista em Roma. Amo a vida e luto diariamente por uma sociedade mais justa.
eliadias2011@gmail.com
Flavio Augusto Ramos de Souza
Nascido em 1979 na cidade de São Paulo, Bacharel em Sistemas de Informação pelo Mackenzie, pós graduado em Gestão da Produção pela UFSCar. Já montei hardwares e instalei computadores em 1996, já fui Office Boy, em uma franquia de vestuário, entre 1997/98, e me tornei bancário em 1999, setor no qual permaneço. Homem preto, um pouco nerd e aprendiz de poeta, pai de duas meninas brancas, Mariana (11) e Rafaela (6), respectivamente, calmaria e tempestade. Musicalmente eclético, com predileção pelo hip-hop e sua cultura.
fars4p@gmail.com
Lavini Beatriz Vieira de Castro
Carioca, nascida no ano de 1978, Doutoranda em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mestre em Relações Étnico Raciais pelo Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET-RJ) e Historiadora pela UFRJ. Idealizadora e Coordenadora da Rede de Professores Antirracistas. Pesquisadora do Laboratório de História das Experiências Religiosas (LHER) da UFRJ e membro da Coordenadoria de Experiências Religiosas Tradicionais Africanas, Afro-Brasileiras, Racismo e Intolerância Religiosa (ERARIR). Ganhadora do Prêmio Sim à Igualdade Racial do Instituto Identidades do Brasil (ID_BR) em 2021. No entanto, podem me chamar de Educadora Antirracista. Atuo como professora, há mais de 18 anos, nas escolas públicas e particulares do estado do Rio de Janeiro. Por ser fruto dessa sociedade racista, me posiciono como mulher negra e professora antirracista. Em 2020, cocriei a Rede de Professores Antirracistas com o intuito de sensibilizar professores para a prática de uma educação antirracista, de fato.
lavinicastro@gmail.com
Patricia Carvalho Brito de Souza
Paulista, estreei no mundo em 1979. Sou pós-graduada em marketing pelo Insper (SP) e graduada em comunicação social - relações públicas pelo Centro Universitário Sant’Anna (Unisant’Anna). Já vendi artesanato, fiz faxina, trabalhei na área de produção em fábrica e fui bancária, até conquistar minha oportunidade na área de comunicação, de onde não saí mais. Adoro culturas, assim mesmo, no plural, gosto e acredito nas pessoas, no amor, na sororidade, no poder da música e da arte, na fraternidade e na crença de que é possível aprender a amar assim como a gente aprende a odiar (sim, frase do Mandela). Mulher branca, cis e hétero, casada com um homem negro, mãe de dois meninos, um negro de pele clara e um branco. Atuo como voluntária em iniciativas de combate ao racismo e preconceitos.
patriciacb@gmail.com
Priscila dos Santos
Nascida em junho de 1977, sou mulher, branca, hetero, cis, casada com um homem negro e mãe do Pedro Augusto, um menino negro de pele clara. Sou cocriadora do projeto Ei, você, cara pálida! – Reflexão e diálogos para uma educação antirracista
. Educadora e contadora de histórias.
projeto.evcp@gmail.com
Rodrigo dos Passos Faria
Sou negro, gay, cisgênero não binário. Mestre em Ensino de Ciências pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ). Adoro a área acadêmica, principalmente porque escrevo muito e me dá mais vontade de ler. Principais áreas de atuação: Educação Ambiental Crítica, Movimentos Sociais, Memória Social, Identidade Social, Trabalho e Educação Popular,