Convergências metodológicas na educação básica
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3 avaliações1 avaliação
- Nota: 5 de 5 estrelas5/5A forma articulada como os temas são discutidos sobre as questões pedagógicas é o ponto alto do livro. Uma leitura bastante necessária para os professores que atuam na educação básica.
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Convergências metodológicas na educação básica - Robson Santos Camara Silva
APRESENTAÇÃO
O livro Convergências metodológicas na educação básica, na forma de coletânea, se apresenta dentro de um contexto educacional de indagações acerca das questões metodológicas que operam práticas pedagógicas diversificadas, aliadas a um olhar cuidadoso em torno das teorias que fundamentam essas práticas. Aglutinando-se em diferentes enfoques conceituais das formas de pensar e fazer educação, a obra constitui num importante recurso metodológico para ser explorado como fonte de discussão didática, tem como objetivo refletir sobre a prática científica e sua importância para pensar os procedimentos individuais e coletivos na educação básica, por meio de experiências de inovar no uso de diferentes métodos e técnicas considerando a ciência em seu sentido humano a partir da observação da realidade e da criatividade como essência para respostas advindas da educação escolar.
A seleção de cada capítulo orientou-se por uma escolha pautada em experiências e relatos, fruto de investigações dos autores desta publicação que trazem com suas vivências de sala de aula o debate relacionado aos processos do trabalho pedagógico impingidos à educação em tempos de pandemia. No contexto atual, as metodologias de ensino e de aprendizagem têm convergido para um ponto comum de diálogo entre conceitos e teorias possíveis de ampliar o acervo de saberes e de conhecimentos circundantes à escola básica, a exemplo de estudos e pesquisas sobre metodologias, procedimentos e técnicas pedagógicas desenvolvidas nos processos educacionais, seja no formato híbrido, on-line ou presencial.
Os autores desta coletânea, embora com perspectivas diferentes diante de cada capítulo que compôs o livro, contribuem com seus estudos para aprofundar a discussão acerca das metodologias de ensino e aprendizagem nos percursos escolares da educação básica. As experiências e relatos, aqui colocados, demonstram a importância da temática em se tratando de modelos metodológicos aplicados em tempos de pandemia sem esquecer dos pressupostos fundantes de uma epistemologia da educação. E com esta perspectiva buscamos organizar o livro cujo compromisso lançou mão de propostas metodológicas desenvolvidas por professores atuantes no ensino básico a partir de suas vivências escolares.
No Capítulo 1, Sobre convergências metodológicas na educação básica: reflexões e aproximações
, os autores buscam aproximar as discussões referentes a construção do método das ciências naturais e das ciências sociais e sua repercussão na escolha dos processos pedagógicos de escolarização na educação básica. Atribuem destaque aos elementos metodológicos utilizados como instrumentos didáticos de mediação e construção dos percursos pedagógicos de aprendizagens.
No Capítulo 2, A virtualização do processo de aprendizagem para uma imersão na cultura didática digital
, é abordado o processo de virtualização na educação, baseado na compreensão de uma vivência simultânea por intermédio de uma esfera sensorial e visual que sensibiliza todos os sentidos humanos por meio da interface e que tem impulsionando a busca de novos métodos e técnicas no campo da educação a partir da cultura contemporânea associada às tecnologias digitais (ciberespaço, cibercultura, simulação, tempo real, processos de virtualização, interatividade, etc.), que têm criado uma nova relação entre a técnica e a vida social e que chamamos de cibercultura.
No Capítulo 3, As metodologias pedagógicas e as desigualdades em tempos de pandemia
, os autores discutem a educação, em particular, a educação pública sob o ponto de vista da desigualdade. Destacam a situação de descaso com o sistema educacional aprofundado pelo estado de pandemia. Essa realidade acabou por agravar o fosso de separação entre as classes sociais e o uso de metodologias alternativas tornou-se mais do que necessário, em razão do formato de aulas remotas com vistas a ampliar as possibilidades pedagógicas dos estudantes.
No Capítulo 4, Do relato escrito às produções de leituras: nos entremeios das memórias de alunos da EJA em Portel-Pará
, tem-se o trabalho com a produção/leitura de relatos de memória de alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA), numa perspectiva discursiva. A leitura focada nos múltiplos sentidos do texto considera os aspectos sócio-históricos, e ainda promove a valorização dos textos produzidos pelos alunos da EJA, a partir daqui muitas vezes considerados na escola como sem sentido
. Nesse processo de mediação da leitura, o professor compreende o discurso como constituinte e constituído pelos sujeitos-alunos.
No Capítulo 5, Educação Ambiental e Patrimonial: possibilidade de atividade intencional da prática social para o desenvolvimento integral na educação básica
, a questão da inovação educacional é discutida a partir de uma nova práxis pedagógica que considere outros espaços fora do ambiente escolar que promovam aprendizagens em diferentes contextos.
No Capítulo 6, O dia do campo nas escolas da rede pública do Distrito Federal: construtos metodológicos e interlocuções pedagógicas
, a educação do campo é concebida no cenário das políticas educacionais como modalidade de ensino da educação básica inserida em contexto social específico e alicerçada em características territoriais próprias. Sob o enfoque de uma proposta curricular organicamente integrada, é significativa a discussão de se pensar percursos metodológicos plurais dos quais o universo das vivências da população camponesa deve ser considerado modo estruturante das práticas pedagógicas direcionadas às escolas do campo.
No Capítulo 7, A educação do campo e os desafios metodológicos no contexto pandêmico do Brasil: aproximações e evidências
, o debate sobre os desdobramentos metodológicos na educação do campo aponta para as contingências sanitárias e das demandas daqueles que vivem do trabalho no campo e que necessitam de uma educação que respeite o tempo e espaço formativo para as aprendizagens. Trata dos efeitos da pandemia para além das questões sanitárias, como é o caso da desigualdade social e a falta de acesso amplo aos bens materiais e imateriais construídos historicamente pela humanidade.
No Capítulo 8, Gestão da educação escolar como elemento de inovação em e para direitos humanos
, a ideia de gestão escolar é pensada na perspectiva da educação em e para direitos humanos. Trata das diferenças sociais, culturais e étnico-raciais constituintes e constitutivas da identidade do povo brasileiro. Metodologicamente incorpora a ideia de pensar a gestão escolar como elemento de inovação em e para direitos humanos; chama a atenção pelo caráter pedagógico da gestão como dinamizadora das aprendizagens, por meio da mediação de programas e projetos desenvolvidos na escola.
O livro é um convite para reflexão e discussão dos princípios e fundamentos epistêmicos operados em torno das abordagens didático-pedagógicas demonstradas em cada um dos capítulos. Ou seja: o educar para a autonomia de sujeitos em suas diferentes dimensões.
Os organizadores
1.
SOBRE CONVERGÊNCIAS METODOLÓGICAS NA EDUCAÇÃO BÁSICA: REFLEXÕES E APROXIMAÇÕES
Kattia de Jesus Amin Athayde Figueiredo
Dorisdei Valente Rodrigues
Robson Santos Câmara Silva
Introdução
A proposta deste capítulo tem como objetivo aproximar as discussões referentes à construção do método das ciências naturais e das ciências sociais e sua repercussão na escolha dos processos pedagógicos de escolarização na educação básica. Os estudos sobre metodologias de ensino associadas à pesquisa tomam relevância em contextos de formação continuada de professores em seus construtos didáticos. Assim, o espaço da pedagogia tem sido motivo de constantes indagações em razão da complexidade em se definir seu campo epistêmico na educação como ciência, principalmente com a inserção das tecnologias digitais no ambiente escolar tornando esse campo de estudo ainda mais interdisciplinar.
Nesse contexto, a formação de professores deve ser um processo contínuo com foco em cada etapa e modalidade da educação básica de forma a retificar a práxis docente nas escolas onde cada sujeito se reconheça como parte desse processo e suas experiências possam ressignificar a construção do conhecimento em sua integralidade, podendo ser validado e avaliado à partir de objetivos claros agregando-se aos currículos das secretarias de educação básica. As metodologias, procedimentos e técnicas na educação devem ser reconhecidos como lugar de partida para integrar a prática e a teoria, sendo este o objeto tão precioso a educação, diante de tantas mudanças trazidas pela cibercultura presentes no ciberespaço, identificado na busca por metodologias ativas nos ambientes educacionais.
Os paradigmas já estão postos na realidade mutante e existente em uma sociedade cada vez mais tecnológica e veloz, sendo preciso aprofundar a discussão metodológica em torno da questão ensino/pesquisa como construções epistêmicas inter-relacionadas nos processos educacionais. Sob essa perspectiva, refletir possibilidades, formas e experiências de integração entre teoria e prática pedagógica deve ser pressupostos basilar no planejamento e desenvolvimento dos processos educativos, assim como sua influência nas pesquisas educacionais repercutidas na organização do trabalho pedagógico e sua imersão nas metodologias de ensino/ pesquisa/extensão, pensadas na constituição do sujeito histórico inserido nas transformações no mundo do trabalho.
Nesse contexto, a pedagogia se encontra como objeto de investigação de diferentes áreas de conhecimento, sendo a interdisciplinaridade também uma característica do seu lugar nas ciências e na formação integral. Isso posto, destaca-se cada vez mais demandas e processos de inovação e o uso de metodologias ativas como procedimentos para integrar os conhecimentos das diferentes disciplinas e torná-las significativas, reflexivas e praticadas nas escolas. Assim, cabe à educação se apropriar desses processos digitais e das estéticas produzidas que se hibridizam entre as diferentes linguagens e formatos presenciais, online e híbridos.
Os aspectos conceituais do método científico serão abordados neste capítulo. Como reflexão inicial será apresentado os elementos metodológicos das ciências naturais, sociais e da educação como objeto de conhecimento. Nesse contexto, a relação trabalho-educação será tratada a partir dos aspectos fundamentais orientadores da questão do método e da metodologia em seu sentido epistemológico. E por fim, identifica-se a importância do reconhecimento da cultura didática digital nas práticas, instrumentos e mediação pedagógica.
1. Aspectos conceituais do método científico: das ciências naturais às ciências sociais
A produção do conhecimento é histórica. Esse pressuposto aponta para uma questão central sobre o pensamento científico quando se trata de defender ideias e teorias em um determinado campo de investigação.
Desde Aristóteles (século VI a.C.), os fenômenos observados compõem um conjunto de sistemas propositivos nos quais as impressões especulativas acerca do mundo demarcam o lugar da ciência como um corpo de ideias e de postulados explicativos da existência humana.
No sentido aristotélico de pensar a ciência, o conhecimento é parte das experiências relacionadas ao campo empírico fundamentada sob os princípios da metafísica. Com este ponto de vista Aristóteles inaugura conceitualmente um aspecto importante da reflexão epistemológica sobre o conhecimento científico. Na filosofia aristotélica a explicação para a ordem das matérias tem razão no movimento em torno dos fenômenos decorrentes de situações determinadas pelos próprios fenômenos sem, tampouco, sofrer qualquer influência advinda da natureza.
A interpretação aristotélica do real se estrutura no conceito metafísico, no qual o caminho da verdade é aquele percorrido pelos sentidos. Como se observa, o método metafísico se explica unicamente por via da interferência dos sentidos sobre o objeto estudado, ou seja, a partir do conhecimento empírico – é que a ciência deve tentar estabelecer definições essenciais e atingir o universal, que é o seu objeto próprio
(Chaui, 2001, p. 277). Esse paradigma pelo fato de julgar imutável e, ao mesmo tempo, contemplativo o ordenamento do universo é propagador de um conhecimento circunscrito ao mundo das sensações fundamentado no campo das experiências sensíveis do ser real no qual a essência dos fenômenos encontra-se nele próprio e, por conseguinte, toda gama de conhecimento é revelada dentro do contexto real de existência do ser (Andery; Micheletto; Sério, 2006).
Nicolau Copérnico (século XVI d.C.), ao questionar a metafísica de Aristóteles sobre a interpretação do universo, propõe o modelo Heliocêntrico. Nele, tanto a terra quanto os demais planetas se moviam em torno do sol. Com essa afirmação, Copérnico adiciona elementos inovadores à forma atual de produzir ciência. A revolução científica dos séculos XVI e XVIII ilustra bem esse movimento. A partir desse evento, a maneira de pensar os fenômenos da natureza livra-se de um olhar especulativo e contemplativo do mundo natural para um olhar investigativo, sob os princípios da experimentação. Alguns desses experimentos estão assim resumidos: visão antropocêntrica de mundo, revolução comercial, as grandes navegações com suas investidas marítimas e os inventos científicos de precisão técnica. As premissas lançadas por Copérnico acerca da explicação matemática do universo configurou-se um divisor de águas entre o pensamento tradicional e o pensamento moderno. A convicção em um conhecimento baseado em evidências concretas aumenta a credibilidade dos enunciados científicos como verdades universais.
No contexto dado, os pilares da matemática e da experimentação dão corpo à ciência moderna por meio do método experimental identificados em duas correntes de pensamento: o empirismo de Francis Bacon (1561 – 1626) e o racionalismo de René Descartes (1596 – 1650).
Em se tratando do método experimental, Francis Bacon é o seu maior expoente. Para ele, a realidade empírica representada na observação e experiência dos fatos é vista, especialmente, como a principal fonte de conhecimentos. Na formulação baconiana, fazer ciência significa construir um conjunto de regras e normas capazes de operar procedimentos metodológicos da pesquisa por via de dois caminhos: o da antecipação da mente e o da interpretação da natureza
. Com efeito, a lógica empirista proclama a experiência como o extrato de todo o conhecimento. Considera ainda, que as observações realizadas e aplicadas em contextos particulares de experiências produzem princípios de inferências generalizadas (Bacon, 1990, p. 26).
A esse respeito, escreveu o autor:
Nosso método, contudo, é tão fácil de ser apresmentado quanto difícil de aplicar. Consiste no estabelecer os graus de certeza, determinar o alcance exato dos sentidos e rejeitar, na maior parte dos casos, o labor da mente, calcado muito de perto sobre aqueles, abrindo e promovendo, assim, a nova e certa via da mente, que, de resto, provém das próprias percepções sensíveis [⁴]
.
Como se observa, o método natural de Bacon buscou demarcar o campo científico apoiado em pressupostos colhidos das experiências vividas pelo cientista a partir das especificidades apresentadas por cada fenômeno. Este pensamento está presente nos estudos do, também, filósofo e matemático francês René Descartes (1596-1650). Mas, embora concordassem que a filosofia tradicional devesse ser abolida, os dois filósofos partem de premissas diferentes para explicar o conhecimento científico.
Descartes propõe uma ciência de bases mais seguras e