As Caçadas De Pedrinho
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As Caçadas De Pedrinho - Monteiro Lobato
As Caçadas de Pedrinho
Monteiro Lobato
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CAPÍTULO 1: E ERA ONÇA MESMO!
Dos moradores do sítio de Dona Benta o mais andejo era o Marquês de Rabicó. Conhecia todas as florestas, inclusive o capoeirão dos Taquaruçus, mato muito cerrado onde Dona Benta não deixava que os meninos fossem passear. Certo dia em que Rabicó se aventurou nesse mato em procura das orelhas-de-pau que crescem nos troncos podres, parece que as coisas não lhe correram muito bem, pois voltou na volada.
Pedrinho refletiu sobre o caso e achou que bem podia ser verdade. Correu em procura de Narizinho.
A menina arregalou os olhos.
O menino bateu no peito com arrogância.
A menina arrepiou-se de entusiasmo diante de tamanha bravura e não quis ficar atrás.
Saíram os dois em busca dos demais companheiros. O primeiro encontrado foi o Marquês de Rabicó, que estava na porta da cozinha, ocupadíssimo em devorar umas cascas de abóbora.
Aquela notícia fez o leitão engasgar com a casca de abóbora que tinha na boca.
Rabicó não replicou. Bebeu um gole d’água para acalmar os nervos e voltou às suas cascas de abóbora com esta ideia na cabeça: No momento hei de dar um jeito qualquer. Não tem perigo que eu me deixe comer cru pela onça
.
O luxo dos leitões é serem comidos assados ao forno, com rodelas de limão em redor e um ovo cozido na boca...
O segundo convidado foi o Visconde de Sabugosa, o qual aceitou a proposta com aquela dignidade e nobreza que marcavam todos os seus atos de fidalgo dos legítimos. Iria para vencer ou morrer. Viscondes da sua marca mostram o que valem justamente nos momentos perigosos.
Depois convidaram Emília, que recebeu a ideia com palmas.
Esse dia e o outro foram passados em preparativos. Pedrinho levaria uma espingarda que ele mesmo tinha fabricado escondido de Dona Benta, com cano de guarda-chuva e gatilho puxado a elástico. Estava carregada com a pólvora duns pistolões sobrados da última festa de São Pedro.
A arma que Narizinho escolheu foi a faca de cortar pão, instrumento mestiço de faca e serrote.
O Visconde recebeu um sabre feito de arco de barril, bastante pontudo, mas danado para entortar. Em vista da sua importância e do seu título, também recebeu o comando da expedição.
Restava o Marquês. Como fosse um grande medroso, em vez de arma Pedrinho deu-lhe arreios. Rabicó iria puxando um canhãozinho feito dum velho tubo de chaminé, que o menino havia montado sobre as rodas do seu carrinho de cabrito. Para carregar o canhãozinho foi necessário empregar a pólvora de três pistolões. Servia de bala uma pedra bem redondinha, encontrada nos pedregulhos do rio. Indo atrelado ao canhão, o grande Marquês ficaria impedido de fugir.
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