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O Súbito
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E-book947 páginas13 horas

O Súbito

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Sobre este e-book

Essa é a jornada de Benjamin Brown Júnior, um homem com um tumor cerebral que sofre um acidente durante a cirurgia que milagrosamente o cura e lhe confere um super poder. Com esse poder ele decide livrar a cidade de Vera Cruz dos criminosos e descobre que mutantes vivem escondidos na sociedade. Sua aventura inicia quando ele começa em seu novo emprego de repórter na emissora Vera Cruz News. Se prepare para acompanhar uma saga que trás o confronto social do bem e do mal e uma história de amizades e amores.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento28 de ago. de 2023
O Súbito

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    O Súbito - Leo Fernandes

    O

    SÚBITO

    The Sudden

    Reflexão. 1- Motivos

    Não existe motivo para a existência.

    Há 22 anos caminho por sobre essa terra e acredito ser tempo mais do que suficiente para desejar não estar sobre ela.

    Indecência, desavença, descontrole, caos e desordem, nessa ordem. Já pensava assim antes da crise do ano de 2014, que ficou conhecida como A Crise da Umidade Zero. Apesar da umidade do ar não ter chegado ao zero, mas por meses esteve em quase.

    Estudos e pesquisas globais avisaram que a água doce um dia acabaria se não tomássemos consciência de seu uso e desperdício. Também devido a desmatamentos, queimadas e o excesso de gás carbônico despejado em nossos céus pelos veículos automotores.

    A chuva havia cessado.

    Nações resolveram tirar do papel projetos que foram capazes de extrair os sais das águas dos mares tornando-as possíveis de consumir, reduzindo o nível do mar em pouca escala como era pregado nos noticiários pela mídia.

    Por três longos anos os seres vivos sofreram. Não foi nada comparado aos milhões de anos que o planeta tem sofrido desde que o homem percebeu sua autoconsciência e passou a evoluir.

    Mas qual o sentido da evolução humana se nada do que realmente importa mudar de fato?

    Após três longos anos voltou a chover em escalas mínimas. Já era alguma coisa.

    Indecência, desavença, descontrole, caos e desordem, nessa ordem. Já pensava assim mesmo antes de adoecer.

    2

    CAP. 1- UM MOTIVO PARA CADA EXISTÊNCIA

    Sou Benjamin Brown Jr., recém-formado em jornalismo, moro com meu avô Bruce Brown na cidade de Vera Cruz, Estado de São Paulo, Brasil.

    Minha avó Anne faleceu quando eu ainda era criança, eu tinha nove anos. E meus pais? Bem, eu nunca os conheci. Tudo que tenho deles são fotos, nas paredes e no velho álbum do meu avô.

    Mas agora nada disso importa já que logo vou morrer.

    Há pouco mais de um ano, descobri ser portador de Neoplasia Encefálica. Resumindo é um pequeno tumor numa determinada região do cérebro, região essa classificada como de risco.

    Já existe tratamento, na verdade é uma cirurgia onde se corta o tumor utilizando a Faca Gama.

    Acredito que a máquina e seu manuseio devem ser bem complexos, afinal o custo é muito acima do orçamento de qualquer assalariado de classe média do país.

    Vovô Bruce é funcionário público aposentado. Sua sabedoria sempre me guiou até os dias de hoje. Sempre me ensinou a ser forte e demonstra isso. Porém hoje, passando pelo corredor em nossa casa o avistei pela porta entreaberta do quarto, sentado na cama, triste a chorar provavelmente pela minha situação. Não tive coragem de entrar. Não saberia usar as palavras certas assim como ele faz.

    Vou para meu quarto e mais uma vez por um momento eu me esqueço de toda preocupação e durmo. Para mim é fácil esquecer, me isolo no meu mundo imperfeito onde simplesmente aceitei que de uma hora para outra em breve partirei para algum lugar melhor. Talvez melhor.

    No dia seguinte, acordo, tomo um banho e após desço para o café. À mesa está a Dra. Melissa Pride, amiga da família. Veio me parabenizar pelo meu aniversário e trouxe uma camisa azul de presente. Bem sabia que é minha cor preferida.

    Ela vem cuidando de mim desde a descoberta da doença. Sei que de início ela apenas se emocionou com o meu caso, mas graças a isso hoje somos tão amigos.

    Sempre prestativa tentou várias vezes me incluir nos programas de saúde do governo, até mesmo participou como testemunha em processos nos tribunais tentando me dar uma única chance de sobrevivência. Perdeu tempo. Numa cidade tão suja e corrupta quanto Vera Cruz, todo juiz será comprado, todo empresário sai no lucro e todo político se beneficia. E o que temos como resultado?

    Um índice criminal já acima do limite.

    Ela nos dá as boas novas e diz ter novamente dado entrada em um processo na justiça para conseguir uma liminar onde o Estado é obrigado a financiar meu tratamento no maior hospital público da cidade onde trabalha, na Santa Casa de Vera Cruz.

    Ela é dotada de fé até demais? Ou eu sou um homem de pouca fé?

    Só sei que minha cabeça começou a girar e sinto minha pressão subindo.

    Meu corpo está fraco e tremula amolecendo as pernas. Sinto que vou desmaiar; e desmaio.

    Estou num quarto de hospital, com o corpo cheio de agulhas que me injetam soro e sabe-se quais mais medicações. Estou ligado às máquinas novamente? Parece que sim.

    3

    Dra. Pride diz ao meu avô Bruce que não pode executar a cirurgia sem a ordem do diretor do hospital, e o diretor não dará a ordem sem uma garantia de pagamento.

    É quando o vovô por amor, comete o maior erro da sua vida. Não aguentava me ver uma vez mais naquela situação. Franziu as sobrancelhas e em silêncio se retirou. Deu um telefonema de um telefone público e foi até a mansão de um homem chamado Francesco Torloni.

    Este homem é dono de metade das indústrias no Estado, e já foi investigado como suspeito por narcotráfico, contrabando e demais crimes. Nada foi comprovado, afinal, ele almoça com os maiores figurões de Vera Cruz, sendo esses: políticos, empresários, promotores, juízes e desembargadores.

    Os dois eram amigos há aproximadamente 50 anos, o que faz com que vovô Bruce decida jogar limpo, abrindo o jogo e sem rodeios conta toda a verdade.

    Francesco lhe pergunta: – Até onde você iria para salvar o seu neto? – Vovô responde que morreria tantas vezes quanto fosse necessário.

    E ouvindo isso, Torloni sorriu com sua sínica expressão o abraçando e lhe dizendo que não seria necessário sacrificar a própria vida, mas que chegaria o dia e a hora em que lhe cobraria o favor.

    E manda que um de seus empregados mande chamar um terceiro homem que há muito já lhe devia um favor.

    Enquanto aguardavam, conversavam sobre o tempo em que não mais se viram até o presente momento, com nostálgicas lembranças da dura infância que tiveram. Algumas horas depois o seu mordomo chamado Colin Barnes, o qual Francesco nunca pronuncia o seu primeiro nome por ser apenas mais um de seus empregados, adentra a sala trazendo consigo o Dr. Ethan Truman, que já possui mais de 7 processos judiciais por acusações de cometer erros médicos, porém seus bons advogados o mantinham na rua. Para Bruce, agora estava bem claro quem financiava à sua liberdade.

    Torloni percebeu que vovô reconheceu o rosto do médico, provavelmente dos jornais e diz que é a única ajuda disponível que podia oferecer e, portanto, deveria pensar bem e considerar a oferta, estendendo o seu braço direito e aguardando o aperto de mão que selaria o acordo.

    Não suportando nem mais um segundo pensar em minha partida, vovô aperta a mão de Torloni selando um pacto entre homens, cavalheiros, velhos amigos. Se olhavam fixamente nos olhos.

    Dr. Truman: – Seu garoto estará em boas mãos, Sr. Brown.

    E assim me transferiam da Santa Casa de Vera Cruz para o Hospital Truman. Dra. Pride conhecendo a índole de Truman decidiu acompanhar o processo cirúrgico bem de perto, ao lado de meu avô e como parte da família.

    O processo da cirurgia me era novamente explicado me preparando psicologicamente. Trata-se de destruir o tumor utilizando feixes de luzes radioativos onde milimétricamente os raios são direcionados ao alvo.

    4

    Oque nenhum de nós sabia é que os aparelhos do hospital não recebiam manutenções há anos. A fiscalização sempre era impedida de entrar e após a insistência, os agentes fiscais sempre recebem ligações de algum superior e em seguida desistem de realizar o trabalho.

    Do atendimento ao tratamento é possível notar que recepcionistas, auxiliares, enfermeiros e médicos não estão preparados profissionalmente para cuidar de gente.

    Tento esquecer o que deveria ser o pior e, no apertar de um botão dá-se inicio ao tratamento. As luzes começam a piscar intermitentemente com frequência e não se têm mais o controle dos teclados do painel.

    Os cabos e fios entram em curto provocando faíscas e fumaças. Na sala há um medidor de radiação cujo ponteiro indica que a toxicidade no local se excedera. Tudo acontece em questão de segundos e Dr. Truman espantado se dirige até a porta de entrada e saída trancando-a, temendo que a radiação se espalhe, com medo de se arriscar mais um minuto sequer para tentar salvar a minha vida e, assim tenta fugir em pânico, me abandonando.

    O impacto das pequenas e ainda assim perigosas explosões causam fissuras no teto fazendo com que as luminárias se soltem. Eu ainda sedado, vejo uma delas cair em minha direção estando presa aos fios e cabos me atingindo com toda a descarga elétrica conduzida por eles.

    Após soar o alarme de incêndio houve um grande tumulto naquela ala, gritos de medo, pânico.

    Vovô e Dra. Melissa correm no sentido contrário à multidão, em direção ao quarto que estou e com dificuldades chegam ali e arrombam a porta, me retirando da máquina e levando-me para o corredor central da ala, próximo ao hall de atendimento.

    O pessoal de combate ao fogo que já estava presente fazia a retirada dos pacientes do hospital e quando me viram desacordado logo me levaram para uma ambulância.

    Os médicos presentes temiam que eu tivesse respirado muita fumaça ou que tivesse ocorrido algo pior, como sofrer queimaduras sérias ou estar altamente contaminado pela radiação.

    Meu avô se olhava pelo reflexo da janela da ambulância e menosprezava o homem que via, carregando toda culpa em seus ombros enquanto as lágrimas corriam lentamente pelo seu rosto triste e cansado.

    Dra. Melissa aos prantos também se culpava por não impedir o vovô de me deixar aos cuidados de Truman. Entrou na ambulância dizendo ser minha médica responsável e me acompanhou novamente até a Santa Casa, um local onde pessoalmente ela poderia cuidar de mim.

    Na Santa Casa, fui isolado em um quarto que mais parecia um laboratório e ali submetido a testes que são capazes de revelar o nível de radiação que meu corpo havia sofrido. Para a surpresa da doutora em mim não havia quase nada. Sem entender o motivo, realizou mais alguns devidos testes e eis que nada de grave me foi encontrado. Somente resquícios da radiação.

    Então naquela mesma noite, ela reunia sua equipe médica e os convencia de que eu merecia uma chance, que mesmo estando sozinha me salvaria nem que isso custasse sua licença médica. Seu plano era realizar a cirurgia mesmo sem a autorização do hospital.

    Durante a madrugada fez o pedido de um novo radiodiagnóstico e, quando lhe entregaram o resultado se espantou, pois, o tumor já havia sumido. Eu estava curado do câncer.

    5

    Não havia explicação alguma para o acontecimento, não havia lógica.

    Havia somente um milagre e pela primeira vez eu me sentia bem pensando assim.

    Estive frente a frente com a porta do além e após tanto sofrimento aceitei entrar por ela.

    Mas nada acontece por acaso, não sem que haja um motivo pequeno, grande ou médio.

    Eu havia renascido e junto minhas expectativas de vida.

    Chamei esse período da minha vida de " a segunda chance".

    Sabe aquele dia em que você acorda totalmente disposto? Hoje eu me sinto assim.

    Olho pela janela do meu quarto e me vem sensações de paz e alegria tão fantásticas que enquanto aproveito essas emoções posso notar que, lá embaixo nas ruas as pessoas vêm e vão, conversam entre si e dão bom dia umas às outras. Alguns vão trabalhar e outros fazer compras ou resolver seus negócios cujo interesse lhes compete a cada um.

    E o mundo não parou de girar. As árvores continuam absorvendo o gás carbônico e liberando oxigênio enquanto carros passam pela cidade e os pássaros seguem seus cursos imitados pelas grandes máquinas de metal que foram construídas por simples inspiração. Tudo ao mesmo tempo me revelando um ciclo, um tango que sem perceber todos dançamos.

    Não sei como fui curado, mas acredito que deve haver um motivo maior além da frase: não era a sua hora.

    Sorte? Destino? Ciência? Nunca pensei que essas três palavras um dia fariam tanto sentido para mim. Bem, cada pessoa enxerga aquilo que quer enxergar.

    Saí do quarto e desci as escadas como de costume e não encontrei o vovô na cozinha, apenas um bilhete preso à geladeira por um imã de uns cinco centímetros em formato circular. Dizia apenas:

    Eu já volto. Não esquece o exame de rotina.

    Obrigado vovô, não sei o que faria sem você.

    Percebo que avô Bruce deixou a televisão da sala ligada e pego o controle remoto para desligá-la, mas leio o nome de Dr. Truman no rodapé da imagem no noticiário, então aumento o volume e decido assistir abastecendo minha xícara de café.

    Ele havia sido interrogado e após seu depoimento, foi declarado que a responsabilidade pelas falhas dos equipamentos médicos não era do hospital cujo ele regia e sim pela fabricante FH-CORP (Frances Health Corporation); que indenizou todas as famílias afetadas pela tragédia enquanto Truman era libertado das acusações.

    Desligo a TV.

    Na devida hora saio de casa e aguardo o ônibus que faz o trajeto até o hospital, após 20 minutos desço e sigo caminhando em direção ao meu destino que ainda estava há uma quadra de distância.

    – Benjamin! Benjamin! – Alguém me chama..., mas quem seria? Santo Deus, é ela!

    Dezembro Calloeyn, 23 anos, signo de sagitário, pele negra, cabelos pretos e olhos castanhos escuros. Quando a conheci na faculdade seus cabelos eram compridos e agora estão curtos, mas ela fica linda de qualquer maneira.

    6

    Sempre fiquei sem jeito perto dela e acho que ela nunca me deu bola. Depois de adoecer havia desistido da ideia de conquistá-la, mas agora é diferente.

    – Dezembro: – Que saudade de você Bem. Não mandou notícias após a formatura e nem me ligou mais.

    – Benjamin: – É que estive meio ocupado, eu cuido do meu avô e com a idade avançando...

    também tem o Alzheimer e tal. – Se vovô pudesse me ouvir agora eu estaria frito.

    – Dezembro: – Que pena, desejo melhoras para ele. Sabe Ben, atualmente trabalho no Canal 7, fui promovida a âncora e estamos precisando urgentemente de um repórter, pois o último veio a falecer, pobrezinho. Vou lhe dar um cartão e caso te interesse apareça por lá.

    – Benjamin: – Estou mesmo precisando de uma oportunidade e me preparei para trabalhar na área, atualmente sou subgerente de um hotel, mas ando pensando em pôr em prática tudo que estudei. – Eu virei um mentiroso. Mas o que eu deveria fazer? Dizer que não tenho emprego ou que estive depressivo durante todos esses meses? Com certeza não.

    – Dezembro: – Que legal Ben, subgerente? Eu gostaria de trabalhar ao seu lado, então pense com carinho. Agora tenho que ir. – E me beijando no rosto se despediu e partiu.

    Fiquei uns 15 segundos a observando atravessar a rua assim que passou por mim e, logo desapareceu na multidão. Assim que confiro as horas em meu celular me lembro de que deixei a Doutora Pride esperando em seu consultório médico.

    Os resultados chegaram após os exames e novamente só haviam traços de um baixo teor de radioatividade em meu sangue. Dra. Pride acreditava que a radiação já deveria ter desaparecido.

    Recolheu mais algumas amostras de sangue e disse que se houvesse qualquer novidade entraria em contato.

    Assim que saí coloquei as mãos nos bolsos da minha jaqueta e sentindo-o com as pontas dos dedos, lembrei-me do cartão que recebi da Dezembro. Enquanto olhava o cartão percebia que não tinha mesmo nada a perder, precisava ajudar o vovô com as despesas e ainda ficaria perto da garota dos meus sonhos. Ao menos pensava que sim, então fui até lá.

    Mal apresentei o cartão e já foram me colocando para dentro, me dando fichas cadastrais para preenchimento e me apresentaram o local e as pessoas de mais importância de primeira estância.

    Um estúdio de televisão pode ser bem interessante. Cada programa dividido por salas e em cada sala uma gravação que deve ir ao ar em um determinado momento do dia.

    Fui levado ao Editor Chefe de Jornalismo Nicholas Beul, responsável pelo plantão de notícias urgentes, o qual me mostrou minha sala e me apresentou a Michael Jones, o cinegrafista que me acompanharia durante as reportagens.

    Nicholas Beul possui média estatura, aparenta ter mais de 40 anos e fuma cigarros excessivamente. Tem os cabelos castanhos acima dos ombros e mantém sua barba média.

    Parece que é meu primeiro dia, colocaram sobre a mesa uma pasta contendo algumas informações dos acontecimentos atuais na cidade, deveria ser útil. Mas a cada página via que não.

    7

    Michael Jones tem 25 anos. Viciado em seu videogame portátil, não se importa muito com as coisas que eu falo para ele. Na verdade, no momento é bem simples a nossa relação. Devo escolher um tema que eu queira falar, ele me leva até o local e em seguida gravamos. Parece justo.

    Estudei assunto por assunto, pasta por pasta e realmente não tive sorte alguma nas matérias.

    Durante aquela semana cobrimos o nascimento de cães abandonados, carros abandonados nas vias públicas, má coleta do lixo da cidade e, outras coisas mais desinteressantes ainda para mim naquele momento. Estava exausto e me sentindo apenas mais um novato idiota.

    Eu queria mesmo era gravar escondido o esquema dos cambistas, flagrar políticos confessando seus roubos, esse tipo de coisa. Mas me animo quando me escondo atrás do Set e assisto Dezembro atrás de sua mesa apresentando o Jornal VC-News, o mais visto por toda Vera Cruz.

    Graças à sua indicação é que estou aqui.

    Assim que terminam a gravação e ela me vê, vem até mim com seu lindo sorriso estampado no rosto e contente, me abraçando e feliz por eu ter aceitado a proposta de trabalho. Iniciamos uma breve conversa agradável. Com ela tudo é agradável, mas tudo que é bom dura pouco.

    O velho ditado se fez presente naquela ocasião.

    O primeiro âncora que está sempre ao lado de Dezembro, se apresenta a mim levando-a consigo dizendo que tem assuntos a tratar com ela. Seu nome é Jonathan Murray, 30 anos, sempre de terno mesmo em dias de folga, alta estatura e cabelo loiro repartido. O cara é cheio de si, fala de si mesmo na terceira pessoa e se vangloria de seu status profissional. Para piorar é ex-namorado de Dezembro e se intromete sempre que a encontro. Esse cara é um mala. Acho que devo ir embora agora.

    Mike às vezes me dá carona até em casa e hoje é um desses dias. Lá estávamos nós, no furgão branco da emissora com adesivos do renomado Canal 7 a caminho de minha casa.

    Conversando com meu agora amigo Mike, descubro que sua família morreu em um assalto quando ele tinha sete anos. Seu pai tentou reagir e acabou baleado, o bandido assustado fugiu.

    Tudo que pude dizer foi meus pêsames e compartilhei a história que apenas uma vez após muita insistência de minha parte meu avô me contou:

    Uma vez me foi dito que meus pais morreram num acidente de trânsito quando eu ainda era recém-nascido, nesse dia eu estava sob os cuidados de minha avó Anne. Sempre diziam que meus pais eram bons. Notei que se sentiam desconfortáveis quando eu tocava no assunto, então simplesmente parei de perguntar. Nunca falei disso com ninguém, mas Mike me inspira confiança.

    Bem, chegamos a minha casa. Após nos despedirmos eu entro e falo dos meus dias para meu avô Bruce, que estava sentado no sofá da sala assistindo o jornal noturno. Não queria jantar, então tomei uma ducha e segui para o meu quarto. Tive um dia cheio e só precisava mesmo de descanso.

    Já deitado, de repente começo a me lembrar que uma vez li na coluna de ciências que realizaram estudos sobre o sono e, segundo à fonte, uma pessoa demora em média 7 minutos para dormir e pensando sobre isso, durmo.

    8

    Não sei há quanto tempo estou dormindo, mas sinto muito frio. Tento puxar o cobertor procurando-o na tentativa de me esquentar o mais breve possível. Não o encontrando, abro meus olhos sem a mínima vontade, mas com o máximo de instinto e assim desperto.

    Mas que diabos aconteceu? Como é que vim parar aqui? – Indagava a mim mesmo.

    Estava sobre o telhado de casa olhando de um lado para o outro sem entender como havia chegado ali.

    Coloco-me em pé e tento descer, mas estando descalço escorrego e meu corpo é lançado de encontro ao chão como manda à física, ou pelo menos como mandava, por que antes de tocar o solo vejo que novamente estou no telhado. Oque seria isso? Então olho fixamente para o chão e desejando descer em instantes vejo que ali estou.

    Assustado e ao mesmo tempo curioso esboço um largo sorriso expressando interesse, me lançando aos céus de Vera Cruz. Agora sendo capaz de flutuar entre o espaço em questão de segundos em curtas distâncias de alguns metros, lanço meu corpo sequencialmente para me manter em movimento contínuo pelos ares.

    Durante a noite as luzes da cidade refletiam uma Vera Cruz tão bela incandescente e isso eu nunca havia notado. Edifícios e casas, rios e parques. Sento-me sobre um telhado no alto de um dos prédios e olhando para baixo percebo que, com todo esse poder posso fazer qualquer coisa, o que eu quiser. E não digo apenas por essa espécie de teletransporte, mas sinto que meu corpo está mais forte e mais ágil. Algo aconteceu comigo durante aquele acidente no qual fiquei exposto a doses extremas de radiação e ao mesmo tempo fui eletrocutado. Eu deveria estar morto e, se não quando enfermo, pela contaminação. Mas não aconteceu e do contrário fui curado.

    O sono novamente batia à porta me arrastando para casa. Sorrateiramente entrei, me deitei e voltei a dormir.

    E um novo dia começa. São 6 horas da manhã. Após o banho desço para tomar meu café e me preparar para mais um dia de trabalho, logo eu ouviria o som da buzina do furgão de Mike.

    Mesma rotina, vovô serve o café enquanto conversamos um pouco sobre o meu trabalho. Assim que ele se vira para pegar outra xícara e dessa vez servir o café para si mesmo, a xícara que estava em minha mão acidentalmente desaparece e reaparece há uns dois metros de distância e, aproximadamente há um metro do chão fazendo uma grande sujeira. Gravidade.

    Vovô se vira e olha para mim, mas eu apenas sorrio e disfarço.

    Não posso contar a verdade, ele não entenderia. Ninguém entenderia. Eu já estava cansado de me submeter a testes e exames para mais uma vez me sentir como um hamster em um laboratório.

    Nunca me senti tão bem quanto agora e não vou estragar isso. Acabo de ouvir a buzina, minha carona chegou.

    Voltei a pensar em meu plano de carreira. Lembro que um dia fiz uma promessa a mim mesmo de me tornar o âncora e que não iria parar até chegar ao topo. Isso foi ainda na universidade.

    9

    Às vezes me imagino sentado ao lado da garota dos meus sonhos, somente eu e ela apresentando as notícias. Sei que parece egoísmo, mas e daí? Para o meu sonho criar vida eu precisava brilhar mais forte do que Jonathan Murray já brilhou um dia. Preciso das melhores histórias para que o Sr.

    Beul, o Editor Chefe, implore para que eu assuma o cargo e me dê o devido respeito que mereço além de toda a fama. Eu ganho a garota mais linda da cidade, dinheiro e um pouco de prestígio.

    Nada mal, não é mesmo?

    – Calma lá, Ben! – Mike me interrompia.

    – Você tem que ter em mente que o reconhecimento da profissão não se resume a essas figuras da mídia que nós vemos por aí, o grande espaço da profissão são as pessoas que estão por trás, fazendo tudo funcionar. – Mike tinha razão.

    O jornalista pode atuar na área de impressos, rádio e TV, assessorias de comunicações, redação publicitária, etc. Toda a equipe é quem faz isso funcionar. Eu precisei ouvir para lembrar.

    E seguindo a Avenida Vargas, a principal do Centro, havia grande tumulto nas ruas e viaturas policiais vindas de todos os lados fechando a saída do Banco Nacional de Vera Cruz.

    Paramos o furgão e descemos. Os cidadãos em volta assustados comentavam ser um assalto ocorrendo no interior do Banco. Mais um nessa semana tão turbulenta e natural de Vera Cruz.

    – Essa é sua grande chance, Ben! – Mike tentava me animar com seu bom humor.

    Talvez fosse.

    Retiramos os equipamentos do veículo e em seguida ajustamos o som, assim dei início ao meu primeiro furo de reportagem. Fomos os primeiros da mídia a chegar ao local, não era ao vivo, mas já era alguma coisa.

    Eu só não esperava ver quem estava para ver e nem sentir o que estava prestes a sentir.

    Quando Mike ajusta o alcance da lente de sua câmera, avista pela vidraça que há clientes e funcionários mantidos como reféns e, uma dessas pessoas ali presente era Dezembro.

    Não pude me conter sabendo que a polícia estava despreparada e que na menor das hipóteses havia a possibilidade de invadirem o local e colocar a vida das pessoas em risco, a vida de Dezembro. Eu não podia deixar.

    Certifico-me que nenhuma das pessoas na multidão esteja com os olhos voltados para mim, me concentro para mais uma vez utilizar aquela espécie de teletransporte me lançando para o beco mais próximo. Estando vazio o beco, retiro a camisa e cubro meu rosto me lançando adentro ao Banco.

    Havia pelo menos cinco homens armados. Pistolas, metralhadoras e fuzis. Derrubo o primeiro lançando-o Banco à fora e os policiais terminam o serviço. Os outros criminosos disparam em minha direção e lançando-me sequencialmente me esquivo dos projéteis derrubando mais dois que, caem desacordados pelas pancadas. Sobraram dois. Um deles se acovarda de medo e somente quando o outro que parecia ser o líder o ordena, ele parte em minha direção e antes que pudesse perceber já estava derrotado.

    10

    – Agora somos apenas eu, você e ela. – Disse o canalha tomando Dezembro pelas costas fazendo-a refém. Espantei-me com sua coragem quando me disse para acabar com ele.

    Aparentemente eu me rendia e, somente quando o bandido apontou a arma para mim e então acreditei que ela não corria mais perigo, em segundos lancei-me até o inimigo segurando o seu punho direito, direcionando-o em direção ao teto. Com o disparo Dezembro fecha os olhos jogando-se no chão.

    Apertava seu punho com muita força o forçando a largar a arma e, ouvia a pergunta que eu também faria a mim mesmo durante longos anos.

    – O que é você? – O criminoso perguntava. Por muito tempo eu não saberia responder.

    O chefe de polícia dá a ordem para que a equipe tática invada o local, disseram para eu colocar as mãos onde eles pudessem ver. Deveria me virar e me entregar. As pessoas temem o que não entendem. Eu simplesmente desapareci e, reapareci em meio à multidão me aproximando de Mike, que estava ao lado da ambulância com Dezembro. Ela não havia se ferido, porém era o procedimento. Todas as outras vítimas também recebiam atendimento e verificavam a pressão ou possíveis ferimentos e traumas.

    Dezembro espantada e curiosa diz que precisava saber quem era aquele herói mascarado e, Mike me chamou de covarde por ter fugido do local e perder a grande oportunidade de gravar aquela matéria. Aleguei que tive medo de levar uma bala perdida. Entrei na dança e me tornei o covarde.

    Observando os policiais que estavam alocando os bandidos nas viaturas pude notar que, aquele que parecia ser o líder foi colocado sozinho em um dos carros e o oficial que o conduziu possuia a mesma tatuagem de guilhotina no antebraço. Os dois tinham as mesmas tatuagens.

    Oque significava aquela guilhotina vermelha? Eu tinha de segui-los, então me despedi e pedi a Mike para levar Dezembro embora. Novamente cubro meu rosto e passo a viajar por entre os edifícios e casas do bairro Jd. Goulart, localizado à leste do Centro.

    Mantive a perseguição dos três carros até que, dois deles chegando em um cruzamento segue para a esquerda destino o departamento de polícia mais próximo, enquanto o outro que estava levando o possível cabeça da gangue seguiu para a direita. Decidi seguir pela direita e naquele momento após tal decisão minhas dúvidas se tornariam certezas.

    O sol começa a se pôr. A viatura estaciona em frente a um aparente armazém abandonado e então os dois policiais descem. Aquele que possui a tatuagem abre a porta traseira, o bandido desce sorrindo ficando de costas para que as algemas fossem retiradas de seus punhos. Mas não se engane, já estava liberto no momento em que foi algemado. Sem muito assunto eles entraram no armazém e eu os segui.

    O local tinha dois andares e por fora parecia abandonado, mas dentro me lembrava duma espécie de laboratório, com máquinas de última geração e um tonel cilíndrico contendo um líquido prateado e um mexedor automático. Talvez um metal qualquer derretido.

    11

    Ali havia um homem já idoso, mas aparentemente com uma saúde de ferro, vestindo um terno preto com listras brancas na vertical, sapatos brancos, bengala e fumando charuto, envolto de dez guarda-costas. Referiam-se a ele como Patrão. Era quase certeza que já ouvi algo sobre essa pessoa, então de primeiro momento apenas escutei a sua conversa com um homem anão.

    – Patrão: – Trouxe a encomenda, Sr. Green, ou melhor, Senhor Gnomo?

    – Gnomo: – Sim senhor. A maleta que carrego contém mais cinco quilos daquele metal desconhecido. – Entregando-lhe a maleta de cor prata.

    – Patrão: – Imperionix? Não sei como consegue esconder dos federais, mas continue fazendo sua mágica e sua recompensa será numerosa. – E manda que um de seus empregados lhe entregue uma maleta de cor preta.

    Nesse instante os policiais e o bandido chegam àquela mesma sala e então as coisas passaram a fazer mais sentido para mim.

    – Patrão: – Estou cansado de limpar a sujeira para você, Baxter. Deveria executar com êxito os trabalhos que lhe dou, mas do contrário, pela segunda vez tenho que molhar as mãos desses lacaios corruptos. Já me basta encher o bolso de todo um departamento para que se façam cegos.

    – Baxter: – Me desculpe chefe. É que apareceu um cara mascarado, uma anomalia. Ele andava de um lugar para outro em segundos e acabou com a gente num piscar de olhos.

    – Patrão: – Anomalia?

    – Benjamin: – Dá licença, é preciso tratar as pessoas com respeito mesmo quando não estão por perto. Nunca aprenderam que falar pelas costas é feio?

    – Baxter: – É ele chefe, o anormal!

    Os dois policiais atiravam em minha direção, enquanto dois dos guarda-costas subiam por uma escadaria até a ponte que ligava os dois polos do segundo andar. Os outros empregados cercavam o Patrão protegendo-o. Subitamente agarrei os dois e utilizando a minha habilidade arremessei-os sobre os dois policiais abaixo. Já eram quatro a menos.

    – Benjamin: – Vão ter que fazer melhor do que isso!

    Descendo as escadas golpeei mais um deles e quando estava prestes a tomar a maleta de cor prata da mão do velho, ele me acertou de raspão com uma lâmina que saia de sua bengala transformando-a numa espécie de baioneta e, claro que me afastei.

    – Patrão: – Vejam seus tolos, ele sangra! É só um homem!

    Então um deles se armou com uma barra de ferro e tentava me acertar com seus golpes, percebi que meus reflexos diminuíam pouco a pouco, esquivei três vezes e o peguei quando baixou a guarda.

    12

    Novamente começaram a disparar e me lancei sequencialmente em mais dois dos guardas enquanto Baxter se escondia e o Patrão em companhia de Gnomo fugia pelos fundos, levando as maletas com o conteúdo pertencente ao governo e o possível pagamento respectivo.

    Cada vez que me atiro a longas distâncias o ferimento me causa mais dor, sendo assim, utilizo essa habilidade mais poucas vezes para desarmar os capangas que ainda estavam em pé forçando-os a um combate corpo a corpo. Meu corpo havia se tornado mais forte após o acidente, acreditei ter uma chance.

    Atacaram-me em conjunto. Chutei o tórax de um deles em seguida me abaixando para esquivar do golpe de outro, me levantando e lhe acerto também. Acabo por levar um golpe na costela, o local do ferimento, enquanto sentia a dor me agarraram um em cada braço.

    Não sendo capaz de me soltar, arremesso-nos até a ponte novamente atirando-os em direção a parede, uma pancada violenta e em seguida caem sobre alguns barris e caixas que estavam abaixo.

    Eu estava exausto, ferido e com muita dor.

    Ajoelhado, estancava o sangramento contínuo que aparentemente não era nada grave. Cada vez que olhava a ferida tinha mais certeza de que realmente era um corte supérfluo. Mas então por quê?

    Por que tanta dor e tanto sangue?

    E atrás de mim vinha mais um homem, mais um capanga que eu havia me esquecido completamente. Portando uma adaga com um cabo artisticamente detalhado em sua mão esquerda e com passos astutos, vinha lentamente em minha direção planejando o elemento surpresa. Seu último passo no instante segundo que armou o golpe foi agressivo e pude ouvir o som de sua bota tocar o aço do qual era formada a ponte. Uma vez mais me lanço vendo que o ataque veio de Baxter, que por errar o alvo se desequilibrou e escorregou. Caía ponte abaixo em direção ao tonel cujo conteúdo continha metal derretido. Eu decidi salvá-lo por que tinha o poder e a capacidade para isso. Senti obrigação em fazê-lo, mas não consegui.

    Minhas habilidades se esgotaram e o corpo não reagia aos meus comandos. Não conseguia utilizar meu dom para tirar Baxter da morte certa. Apenas o vejo cair substância adentro e seguido de um grito de horror o tonel se quebra fazendo o líquido fervente escorrer pelo chão, enquanto Baxter se debatia de um lado para o outro e assim derretiam sua pele e carne. Até que em um último suspiro, houve apenas o silêncio.

    Eu falhei.

    Alguém na região ouviu os tiros disparados no armazém e chamou a polícia que invadiu o local.

    Nesse instante eu salto para fora atravessando uma janela já velha e enferrujada que antes estava bloqueada com ripas de madeira, assim caindo no chão. Levanto-me e mancando apressadamente dou início a minha fuga, retirando do rosto a camisa que havia utilizado para manter minha identidade em segredo. Eu podia ouvir e ver por entre os becos mais reforços policiais e ambulâncias indo de encontro ao armazém.

    13

    Minha visão era pouca, já embaçada. Estava perdendo meus sentidos, já quase não sentia as pernas, mas precisava seguir em frente. Lembrei-me que perto dali morava a única pessoa que eu podia confiar minha vida, só tinha dúvidas quanto ao segredo, mas sabia que se lhe pedisse não me levaria ao hospital.

    Havia chegado ao meu destino, Bairro Tancredo, Avenida Neves, casa 1985. É o endereço que dizem os inúmeros cartões que eu pegava em seu consultório sem nenhum motivo válido. As luzes estavam apagadas e já era noite. Via a luz ofuscada do poste na rua e batia à porta tentando gritar, mas só fazia sussurrar: – Doutora Pride. Doutora Pride. Melissa... – a luz da entrada se acende e em seguida a porta se abre.

    – Dra. Melissa Pride: – Oh, meu Deus! Oque aconteceu com você? – Me carregando para dentro.

    Fui levado ao quarto de hóspedes e ela chamou pelo marido Larry que, ajudou a deitar-me sobre a cama.

    Lembro do lençol branco, ao lado um criado-mudo e um abajur. Nas janelas de madeira haviam cortinas de cor bege, um pequeno guarda-roupa de um lado e do outro uma estante.

    Examinando o meu ferimento colhia amostras de sangue, a última coisa que vi antes de apagar.

    Após 6 horas recobro a consciência e vejo a pequena Eve, filha de Melissa, parada na porta e olhando para mim aguardando o meu despertar. Uma garotinha esperta de apenas sete anos, a vi muitas vezes no consultório, a tenho como minha irmãzinha.

    Ela grita alegremente: – Mamãe, mamãe! O Benjamin acordou! – E logo a doutora e seu marido entram fazendo perguntas, querendo entender o motivo que me deixou naquele estado. Disse que me cortei quando caí de uma cerca, enquanto perseguido por dois ladrões que nada levaram e nem mesmo pude ver seus rostos.

    Larry e Eve acreditaram, mas Melissa me olhando com desconfiança disse uma única frase antes de eu me levantar:

    – Quero te mostrar uma coisa! – Ela me levou a sua pequena sala de pesquisa no porão.

    Tinha encontrado uma substância altamente venenosa em meu sangue a partir das amostras coletadas e por sorte, ela pôde isolar a hemotoxina e criar um antídoto.

    E acrescentou que aquele ferimento não foi causado por uma cerca e sim por uma lâmina.

    Pegou seu computador que estava sobre a mesa e deu play em um vídeo já pré-carregado.

    E ali estava eu com o rosto coberto pela camisa azul no Banco de Vera Cruz salvando o dia. No fim do vídeo a repórter da RD-News (Reportagem-Direta) do canal concorrente, diz que aquelas eram imagens gravadas do celular de um refém na hora do assalto.

    – Quem será o súbito herói mascarado? Não temos a resposta, mas toda Vera Cruz ecoa pedindo por sua vigilância. Eu sou June Dallas, direto de Vera Cruz. – Dizia a jovem repórter.

    Eu negava, mas Mel ficava dizendo: – Eu te dei aquela camisa! – Não podia continuar mentindo.

    Não para ela.

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    – É muito perigoso, não pode arriscar sua vida desse jeito. E como você faz essas coisas?

    – Começou poucos dias depois do acidente, mas é totalmente seguro. Confia em mim, estou legal...

    – Legal? Por dias eu fiquei sem dormir tentando salvar sua vida e por um milagre ainda vive. Eu não vou permitir que...

    – Eu sei que me entende! Tive outra oportunidade, uma nova chance acompanhada de um dom.

    E por quê? Não podia virar as costas sabendo que poderia ajudá-los assim como você. Também se esforçou por mim, Mel. Sei que você é a pessoa que mais pode entender. – E enquanto eu falava a doutora compreendia meus sentimentos sem mais questionar.

    – Ok. Mas farei testes para ter certeza que não está se prejudicando gradativamente. – Propondo um encontro no dia seguinte.

    Nos encontramos na Frances Desenvolvimento, uma das indústrias de tecnologia de Francesco Torloni, o homem mais rico da cidade. Há anos ele investe em tecnologia e pode-se dizer que ele emprega metade de Vera-Cruz.

    Fiquei curioso em saber como conseguiu um passe livre, o local é vigiado 24 horas por homens armados e é necessário um cartão chave para acessar cada setor do prédio. Respondeu-me que foi cortesia do Prof. Segall, Troy Segall, um velho amigo de Dra. Melissa que ela conheceu na faculdade. Ele é o chefe do departamento de pesquisas da Frances Desenvolvimento e como planejado por ela, ele não especularia o motivo da visita.

    Chegamos a uma sala espaçosa onde havia equipamentos de todos os modelos e tipos, mas o que mais interessava no momento era a Cápsula Termostática, por haver um contador de átomos capaz de simular a medição nuclear. Ou seja, queremos saber quanta radiação meu corpo emite quando uso minhas habilidades e se essa porção poderia aumentar.

    Não é normal colocar um humano nessa máquina, mas tenho as mesmas dúvidas de Mel acrescentando que quero entender como exatamente funciona, então entro na cápsula. Na mesa de controle ela inicia o teste com o apertar de um botão e ao terminar, na tela de monitoramento as medidas são as mesmas já conhecidas. Novamente inicia o teste e dessa vez me pede para usar minhas habilidades ali. Após a conclusão analisa os algoritmos apresentados e é quando diz ter encontrado a resposta chave para o meu segredo.

    Que dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço já sabemos. No entanto o que eu não sabia, é que todo corpo é formado por moléculas e um conjunto destas, formam os átomos, que podem ser divididos como estáveis e instáveis.

    Para que esteja estável, a soma de seus prótons e nêutrons deve ser igual à quantidade de elétrons que ele possui. Se um átomo tiver mais prótons e como consequência mais nêutrons que a quantia de elétrons, ou mais elétrons que a soma dos prótons e nêutrons, esse átomo está instável positivamente ou negativamente tornando-se um íon.

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    Uma grande quantidade de íons em conjunto é chamada de fótons, que nada mais é que um pacote de energia. Ou seja, meu corpo se torna energia e posso viajar há uma velocidade próxima da luz, transmutando a energia em massa e vice-versa quando eu quiser. Sou uma prova viva de que Einstein sempre teve razão com sua teoria: E=MC².

    Eu virei um pacote de energia com um botão de liga e desliga, uma lâmpada ambulante e, quanto a dúvida de ser prejudicial ou não, quando não uso a habilidade a radiação em meu corpo retorna ao seu estágio natural de sequela.

    Mel se sentiu segura em relação a mim e fixamente olhando em meus olhos jurou pela própria vida nunca revelar meu segredo. Sei que posso confiar em Melissa.

    Vejo que em meu coração sempre existiu o desejo de que minhas ações fizessem a diferença.

    Passei por uma fase turbulenta e acabei com a certeza de que as injustiças não teriam um fim.

    Talvez fosse esse o motivo que me levou a desesperança. As pessoas mudam de fato.

    E já em casa, havia um tecido dobrado e guardado em uma antiga caixa de madeira que avô Bruce deixou em uma estante da velha garagem. Era uma bandeira nas coisas da vovó Anne, já empoeiradas, mas de grande valor sentimental trazendo lembranças nostálgicas.

    Tenho certeza que quando meu avô desce por aquelas escadas e faz frente aos objetos que aqui estão é o mesmo que senti-la ou quase poder vê-la novamente.

    Passei tão pouco tempo com ela, mas posso afirmar que a vejo no par de luvas brancas que ela adorava tanto, nas botas de couro marrom e nas estrelas do céu, que ela me ensinou a observar pela velha luneta quebrada ainda sobre a mesa, quando eu era apenas um garoto.

    Para inspirar paz eu precisava ser um ícone, um modelo de justiça. E para infligir medo naqueles que eu tomava por inimigos eu me tornaria um símbolo, um justiceiro mascarado, para que me temam e acima de tudo proteger os meus entes queridos.

    Havia uma chance de mudar a cidade e fazê-los aspirar por esperança.

    E estendendo a bandeira nas mãos, fascinei-me, decidindo usá-la como símbolo de justiça.

    Eu seria um instrumento para forçar o mundo a alcançar ordem e progresso, me tornando o Súbito.

    Como homem, devo sacrificar minha vida evitando meus maiores sonhos.

    Como símbolo, darei um motivo para minha existência .

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    Reflexão. 2 - Hino da Bandeira

    Salve lindo pendão da esperança!

    Salve símbolo augusto da paz

    Tua nobre presença à lembrança

    A grandeza da Pátria nos traz.

    Recebe o afeto que se encerra

    Em nosso peito juvenil,

    Querido símbolo da terra,

    Da amada terra do Brasil!

    Em teu seio formoso retratas

    Este céu de puríssimo azul,

    A verdura sem par destas matas,

    E o esplendor do Cruzeiro do Sul.

    Contemplando o teu vulto sagrado,

    Compreendemos o nosso dever,

    E o Brasil por seus filhos amado,

    Poderoso e feliz há de ser!

    Sobre a imensa nação brasileira,

    Nos momentos de festa ou de dor,

    Paira sempre sagrada bandeira,

    Pavilhão da justiça e do amor!

    Hino da Bandeira- Olavo Bilac, Francisco Braga.

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    CAP. 2- CONEXÕES

    No Centro de Vera Cruz, há um condomínio fechado e na chamada Torre C, no quarto andar, se encontra o apartamento 408, onde morava o Dr. Ethan Truman. Perguntava a mim mesmo como uma pessoa que respondia a tantos processos e sendo culpada, conseguia colocar a cabeça no travesseiro e dormir durante a noite. Há alguns anos sua esposa pediu o divórcio levando seus dois filhos, talvez não conseguiu permanecer casada com uma pessoa de índole duvidosa ou de fato descobriu seus crimes um a um.

    Em mais uma noite de solidão, Truman se senta em sua cadeira em frente a escrivaninha e de uma das gavetas retira uma garrafa de uísque importado com seu conteúdo já pela metade e, um copo de vidro do tipo americano. Gira com sua cadeira a 180 graus e ali se afoga em suas mágoas e decepções.

    Talvez tenha acontecido algo para ele vir a ser o que se tornou, talvez. Lá fora, a aproximadamente 800 metros sobre a cobertura de um edifício vizinho, havia um homem o observando. Vestindo um traje do tipo militar, porém de cor negra. No parapeito havia um rifle de longo alcance sobre o devido suporte e, o homem aguardava a hora certa, assistindo-o pelas lentes de sua potente arma de fogo. E de repente, se ouve o som de um tiro. É necessário um único disparo e o projetil corta o vento percorrendo os aproximados 800 metros, estilhaçando o vidro da janela e acertando o coração de Truman, que em seguida larga seu copo deixando-o cair e, quando seu corpo já morto vai ao chão se misturam sangue e álcool, espalhando-se pela sala de estar sobre o piso laminado.

    O atirador desmonta o rifle e o guarda na maleta que estava ao chão, descendo pelo elevador do edifício em que se encontrava. Segue seu caminho portão à fora calmamente como se nada tivesse acontecido.

    Têm muita gente nessa cidade que pagaria um bom preço pela cabeça de Truman, dificultando o trabalho das autoridades no decorrer da investigação. Provavelmente o caso será arquivado.

    Vovô Bruce sentiu-se curioso ao ver que Truman foi assassinado, assistindo as notícias do acontecido pelo noticiário. Ele desliga a televisão e apenas fecha seus olhos ainda pensativo.

    Amanhece na Cidade de São Paulo e, o Ministro da Defesa Marcus Maia convoca uma reunião na Secretaria de Defesa para tratar do assunto do extravio do metal Imperionix. Junto dele está o Ministro de Minas e Energia Milton Rocha, o Superintendente da Agência Brasileira de Investigação Artur Goldwyn e o General do Exército Carlos Krueger.

    – Ministro Maia: – Senhores aqui presentes, eu convoquei essa reunião e o real motivo é que recebemos um relatório oficial das Forças Armadas sobre algo de muito valor que nos foi roubado.

    – Ministro Rocha: – O que é tão importante?

    – General Krueger: – Paleontólogos da Europa descobriram um extenso metal com pouco mais de 15 metros de diâmetro em uma região remota na Cidade de Varginha, localizada à 320 km da cidade de Belo Horizonte, capital do Estado de Minas Gerais. Descreveram o material sendo composto por uma liga metálica desconhecida na Terra, então confiscamos.

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    Nosso pessoal estudou e realizou testes na matéria comprovando que não há nada parecido na tabela periódica e desconhecendo sua autenticidade. É quase inquebrável, mais resistente que o Grafeno e 48% mais denso que o Titânio, é o mais poderoso condutor de calor e energia. Em um reator nuclear devidamente preparado, apenas 300 gramas do material seria o bastante para abastecer o Estado de São Paulo com energia elétrica por 6 meses.

    – Ministro Rocha: – Seria uma revolução em tecnologia sem contar o quanto o país cresceria.

    – General Krueger: – Foi aberta uma investigação interna para apurar o ocorrido, mas nada foi constatado. Exatamente 12kg do material nos foi roubado.

    – Ministro Maia: – Sr. Goldwyn, quero o paradeiro e recuperação do material imediatamente. É

    hora da Inteligência entrar em ação. E quanto ao restante quero lacrado e vigiado pelos melhores homens.

    – Superintendente Goldwyn: – Sim senhor.

    E se passam alguns dias.

    Tenho enfrentado ladrões, traficantes e arruaceiros malfeitores saqueadores de velhinhas.

    Também salvei uma criança de ser atropelada e um limpador de janelas que não se prendeu devidamente a seu equipamento de proteção quando no andaime e escorregou.

    Mike é fã do Súbito e comprou até um boneco. Achou inteligente a jogada de usar um traje na cor azul escuro com luvas e botas douradas contendo cinco estrelas de prata em cada par, no peito um detalhe também dourado que vem desde os ombros lembrando o losango da atual Bandeira Nacional e, no meio um círculo com mais cinco estrelas de prata formando o Cruzeiro do Sul e o Distrito Federal, sendo essa imagem o brasão símbolo dos Estados Unidos do Brasil, como foi chamada a Nação no período de 1889 a 1967. A soma total das estrelas em meu uniforme são de 25, mas simbolizando os Estados como na bandeira e brasão, eu me tenho como a vigésima sexta estrela, o Astro da Justiça.

    Na Unidade de Tratamento Intensivo do Hospital de Vera Cruz, Jason Baxter se recuperava do estado de coma. Em sua mente as lembranças vinham como flashes e se repetiam como pesadelos retraídos o atormentando naquela noite. Em seu devaneio seu corpo era mutilado por diversas e diversas vezes, quando finalmente reconstituído, tudo começava outra vez. Sabia que estava vivo, pois respirava.... Quanto as dores? Elas eram reais?

    E o sustento do leito já não sustentava mais seu peso, cedendo. As agulhas que injetavam os medicamentos foram expelidas para fora de seus braços, que aumentavam assim como o restante de sua estrutura física. E desperta.

    Ao levantar-se vê seu reflexo na janela do quarto, o grito de terror da enfermeira que entrava pela porta confirma que havia se tornado repulsivo e hediondo. Enfurecido ele à mata.

    Em seu caminho para fora deixa uma trilha de sangue e profundas pegadas cravadas ao chão. No corredor os corpos se misturavam entre médicos, enfermeiros, atendentes e pacientes.

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    Dia de folga.

    Aquela manhã parecia um dia comum. Peguei o ônibus e fui ao centro da cidade comprar um presente. Era aniversário de Hannah, uma amiga de Mike que ele conheceu há pouco tempo de uma forma nada encantadora e, mais tarde nos encontraríamos no Alvorada, um bar onde combinamos comemorar.

    Como presentear uma pessoa que eu não conhecia? Não sabia ao certo o que deveria comprar, porém sabia que ela trabalhava como publicitária o que ajudou na escolha do presente e se agradaria ou não, já era outra história.

    Passando por uma banca de jornal parei para comprar o Diário Popular, gostava da forma como expressavam e editavam as matérias. Na capa de hoje uma imagem do Súbito fotografada de uma distância razoável ou o autor era mesmo um ótimo fotógrafo, o nome dele era Gregory Lloyd.

    O jornaleiro perguntou a minha opinião sobre o vigilante fantasiado que anda por aí combatendo o crime, respondi que somente um maluco faria tal coisa. O impressionante é que não havia notado a quantidade de pessoas ao redor e todos passaram a expor suas opiniões.

    – Velha Senhora: – Foi a melhor coisa que já aconteceu nessa cidade em cinquenta anos.

    – Pequeno Garoto: – Eu quero ser como ele quando crescer.

    – Homem que estava de passagem: – A polícia já não é capaz de limpar as ruas.

    – Jornaleiro: – Eu sou um ex-policial e concordo que somente um maluco seria capaz de desafiar o crime nessa cidade suja, onde a máfia controla até mesmo o gabinete do prefeito.

    – Benjamin: – Mas a taxa de crimes teve queda de apenas 4%.

    – Velha Senhora: - E o que esperava? Um milagre? Se o jovenzinho que hoje olha por nós fizer com que o crime caia 15% antes de ele morrer já é o bastante. – E todos ali concordaram.

    As palavras daquela senhora não foram muito agradáveis. Tinham fé em mim, mas se eu viesse a cair também já não seria surpresa. Aqui tudo isso era normal e era a verdade. O desespero por mudanças fazia de uma proporção tão pequena uma saída, um almejo de esperança, quando a margem criminal de 15% nem deveria existir numa cidade tão rica quanto Vera Cruz, tampouco a taxa atual de 90%. Eu ainda tinha muito trabalho a fazer.

    No vai e vem da cidade, enquanto refletia sobre tudo que já acontecera, num momento de distração olho pela janela de um renomado restaurante da cidade. Sentada e como sempre bem vestida e atraente, de costas está a pessoa que ainda hoje ao meu ver reflete a imagem da mulher ideal. Minha mente ditava que eu deveria entrar e fingir que aquele momento seria um momento casual, enquanto o meu corpo sem perceber aos poucos com passos miúdos me arrastava para dentro.

    Assim que cheguei à porta, antes mesmo que pudesse aproveitar a companhia de Dezembro, a vejo se levantar para receber um homem. Branco, bem vestido com o tradicional corte militar e de cabelos castanhos. Como qualquer outro em minha situação eu paralisei, esperei, observei.

    Eu queria ver o que aconteceria dali em diante. Então eles se abraçaram. Um abraço tão apertado que nitidamente revelava que se conheciam há tempos. Ele se sentou à mesa junto dela e sorridentes iniciaram uma conversa. Eu apenas me retirei.

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    Há poucas quadras dali chego ao meu combinado destino, o Alvorada. Por fora o lugar parecia bem caído, mas meu avô me ensinou a não julgar um livro pela capa. Por dentro o velho ditado se fez jus à dogmática. Ambiente agradável, com pessoas de todos os tipos cada uma a seu propósito.

    Descoberta interessante. Nunca imaginei que pudesse existir um lugar assim em Vera Cruz. Não em Vera Cruz.

    Nunca fui de sair muito, sempre fui de poucos amigos e os mais recentes logo após a formatura desapareceram um a um.

    Nós seguimos nossos próprios caminhos e às vezes estamos ocupados demais para nos reunirmos com aqueles que fizeram parte de nosso passado, mas isso não quer dizer que os esquecemos. Na verdade, acho que nunca esquecemos. Aqueles que fazem diferença em nossas vidas e ocupam um lugar em nosso peito por direito nunca são de fato esquecidos.

    O local não estava cheio, mas eu até que podia levar algum tempo para encontra-los. Logo ouvi a voz de Mike, acenando para mim, sentado à mesa com duas garotas que em seguida olharam para trás. Levantei minhas sobrancelhas e acenei indo de encontro à mesa.

    – Benjamin: – Como vai você, amigo?

    – Mike: – Não é possível notar que estou ótimo? – Disse sorrindo. – Acompanhado de belas garotas e a mais incrível dessa dupla é Hannah Holmes, a aniversariante!

    – Benjamin: – Muito prazer Hannah, feliz aniversário.

    – Hannah: – Obrigada. Seu amigo é sempre tão atencioso assim?

    – Benjamin: – É, também tem sido uma surpresa para mim.

    – Hannah: – Oh, essa é minha amiga June. Deve ter visto ela na TV ao menos uma vez.

    – Benjamin: – June Dallas? A reporter da RD-News.

    – June: – E você é Benjamin Brown, o garoto da reciclagem! Acompanhei seu primeiro dia. Me lembro que estava tenso, mas já está se saindo muito bem. – Um deboche seguido de um elogio?

    – Benjamin: - É, esse sou eu, o cara da coleta.

    – June: – Pegue um copo, me ajude a beber toda essa cerveja. – Entre um copo e outro...

    – June: – Ah, por favor Mike, me conte mais uma vez como foi mesmo que conheceu Hannah?

    – Hannah: – Não precisa, o importante é que estamos aqui!

    – June: – Eu insisto em ouvir, além disso acho que o Reciclagem Brown ainda não conhece a história. Não é mesmo, Brown? – De fato não conhecia até o momento.

    – Benjamin: – Não, não conheço.

    – Mike: – Então tá! Foi assim.... Teve aquela semana que você visitou sua amiga médica algumas vezes e por esse motivo eu chegava em casa mais cedo. Mas em um desses dias, eu estava trafegando normalmente quando Hannah de repente começou a atravessar a faixa de pedestre. O

    sinal estava verde para mim e por sorte freei a tempo de não a ferir gravemente.

    – Hannah: – Eu fui jogada ao chão, mas acho que o pior mesmo foi o susto que levei. Mike insistiu que eu entrasse na van e me levou ao hospital. Ele não saiu de lá até a enfermeira confirmar que eu estava bem. – Dizia sorrindo. Hannah é muito carismática. Cabelos longos ondulados e loiros combinando com seus lindos olhos azuis. Já a June era um saco, mas tinha uma rara beleza e seu cabelo era longo e castanho assim como os seus olhos.

    – June: – Por Deus Hannah, o cara te atropelou e você fica de sorrisinhos esbanjando felicidade.

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    – Hannah: – Eu não estaria distraída se não tivesse preocupada com a senhora perfeitinha, que me ligou chorando pelo menos umas cinco vezes naquele dia.

    – Ben: – Se bem que chata desse jeito deve ter levado um fora. – E o silêncio se fez.

    Um olhava para o outro até que June se levantou e se retirou, cabisbaixa.

    – Ben: – Alguma coisa que eu disse?

    – Hannah: – Na verdade tudo o que disse. O ex-namorado dela é um ator revelado recentemente e terminou com ela sem dizer o motivo. Achamos que ele só queria um tempo, na verdade ele fugiu com a empresária. – Eu pisei na bola feio.

    – Ben: – Bem, aqui está seu presente.

    – Hannah: – Um livro de Artes? Como adivinhou?

    – Ben: – Um passarinho me contou.

    – Hannah: – E suponho que esse pássaro se chame Mike. – Rimos juntos e conversamos por pelo menos mais uma hora antes de nos despedirmos. Sempre via Mike sorrindo e esse era mesmo o seu jeito natural de ser, mas eu nunca o vi feliz de verdade. Nunca o vi tão feliz.

    Algo me perturbava naquela noite. Senti um arrepio, mas não por que ventava forte. Tinha que trabalhar no dia seguinte, mas ainda era cedo para voltar para casa então passei a vagar sem rumo.

    Talvez até tivesse um rumo enquanto guiado pelos meus instintos. Vaguei por entre os edifícios e construções, quando finalmente parei, ao olhar para baixo parece que havia encontrado oque ou quem procurava.

    June acabara de entrar em outro bar. Fazia um gesto obsceno com a mão para os homens na entrada que falavam obscenidades para ela. Era um toma lá dá cá no jogo da noite.

    Desde sua saída repentina do Alvorada Bar vi algo familiar nos olhos dela. Eu vi os meus olhos.

    Ela me parecia perdida, triste e na certa estava bem mais do que imaginei naquele dia.

    Sentou-se em um banco e se debruçou sobre o balcão. Logo foi atendida e pediu uma dose de uísque. Tomando-a, logo pediu outra e, foi quando cheguei.

    – Acho que está um pouco longe de casa, mocinha!

    Recicla-Boy?

    – Acho que precisa de um pouco de companhia.

    – Preciso é verdade. Só não precisava ser tão desagradável.

    – Aí, o que eu fiz para você? Desde quando nos conhecemos me trata assim. E está bêbada.

    – Tem razão, estou enchendo muito a sua bola.

    – Eu não queria dizer aquilo... sobre o fora e tal... eu não sabia.

    – Tudo bem, imaginei que não. É que.... Eu não pareço boa o bastante? Tipo.... Será que eu...

    – Ei, não é culpa sua. Você até que é legal. As coisas acontecem na vida da gente e temos que seguir em frente. Se serve de consolo eu fui curado de um câncer recentemente.

    – Nossa!

    – E aquele cara é um babaca!

    – Está falando do meu ex-namorado? – Sorrindo.

    – Sim, dele mesmo.

    – Ele devia ter algo com aquela mulherzinha mesmo antes de me conhecer. Como fui ingênua.

    22

    – Não...

    Está gostando da amostra?
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