Meu Maior Segredo
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Meu Maior Segredo - Ulisses Ferreira
MEU MAIOR SEGREDO
Ulisses Ferreira
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1ª edição
2014
Introdução
Meu nome verdadeiro não é Ulisses Ferreira, mas esse será o nome que usarei, para preservar minha identidade. Tenho cerca de 30 anos de idade, sou gay e descobri ser soropositivo, em maio de 2011.
Este livro nasceu influenciado pela exitosa experiência que tive com o blog Deu Positivo (www.deupositivo.com). Inaugurado em julho de 2012, pouco mais de um ano após o diagnóstico, o site me ajudou a entender e enfrentar aquela nova e dura realidade e também pude ajudar e ser ajudado por pessoas que, assim como eu, se encontravam sozinhas nessa luta.
Apesar de morar numa grande cidade, o anonimato é essencial para que eu me sinta livre para desabafar, sem medo de ser julgado ou discriminado, algo que, infelizmente, ainda acontece com muita frequência nos dias de hoje. Em geral, soropositivos são apontados como pessoas promíscuas, drogadas e o HIV é visto como um castigo merecido por causa de um estilo de vida sujo e deplorável. Mas isso não é verdade. O HIV atinge homens e mulheres, adultos e crianças, gays e héteros, usuários e não usuários de drogas, promíscuos ou recatados. As estatísticas estão aí para comprovar isso.
Como pouquíssimas pessoas sabem da minha condição, ouço muitas barbaridades sobre a doença e desconfianças sobre possíveis portadoras do vírus causador da aids. Às vezes, por causa de uma simples suspeita, pessoas são evitadas, como se fossem altamente contagiosas. Sendo ou não soropositivas, elas não podem fazer nada para mudar essa situação, pois, na maioria das vezes, nem sabem o que estão falando delas. Ninguém vai lhe pedir um exame de sangue para saber se aquela fofoca é verdadeira ou falsa. Por isso, a maioria prefere esconder todo e qualquer indício da doença. Eu mesmo, na minha rede social, onde uso meu nome verdadeiro, nunca curti, comentei ou compartilhei qualquer artigo que fale de aids.
Tudo que já escrevi até hoje no blog e nesta publicação foi fruto da minha visão e experiência em relação ao tema, mas as (muitas) mensagens que recebo me ajudam a ter uma visão cada vez mais abrangente para relatar como é o dia-a-dia de um soropositivo, as dificuldades que passamos, discriminação que somos expostos e os efeitos físicos e/ou psicológicos que essa terrível doença traz com ela.
Muita coisa mudou em minha vida desde que comecei a contar minha história publicamente. Primeiramente, passei por uma fase bem delicada em relação à minha saúde. A situação se complicava dia após dia e tenho a clareza de que poderia ter morrido se adiasse um pouco mais o diagnóstico e o início do tratamento. Por pouco nem poderia ter tido a chance de contar minha história.
Os antirretrovirais foram diminuindo os problemas e melhorando minhas taxas sanguíneas. Quando o corpo se recuperou veio a fase de focar nos cuidados com a mente. Foi a fase mais difícil, quando eu tive que enfrentar a depressão, a angústia, o medo e tentar aceitar aquela nova e dura realidade. Somente cerca de dois anos após o diagnóstico da doença que eu poderia dizer que voltei ao meu estado normal. Mesmo assim, acreditava que nunca mais seria possível me envolver seriamente com alguém. Tinha medo de ser rejeitado. Hoje, estou noivo de uma pessoa maravilhosa, soronegativa, que sabe da minha condição sorológica e me ama pelo que sou e apesar de qualquer coisa. O amor venceu o medo e eu venci os obstáculos mais difíceis da minha vida.
1- Como descobri ser soropositivo
Em 19 de maio de 2011, descobri ser portador do vírus HIV, faltando poucos dias para o aniversário da minha mãe. Com certeza, esse foi o pior dia da minha vida e o pior presente que ela poderia ganhar. Não digo isso por causa da descoberta em si, pois sabia que não era uma sentença de morte, mas pela tristeza que foi ter que contar aos meus pais.
Confesso que, quando vi o exame com o resultado positivo eu não chorei. A única coisa que pensei foi que, a partir daquele momento, tudo mudaria na minha vida. E eu estava redondamente certo.
Nos meses anteriores à descoberta eu não estava bem de saúde. Rinite, sinusite, gengivite, dermatite, rosácea, constantes febres, tosses intermináveis… Tinha acabado de fazer 30 anos e, inocentemente, imaginei que todos aqueles problemas de saúde estivessem acontecendo por causa do avanço da idade, afinal, eu estava me despedindo dos meus 20 e poucos anos para me tornar um adulto. Demorei até compreender que aquilo tudo não estava normal e que tinha algo muito errado acontecendo.
Naquela ocasião, eu já era frequentador assíduo de alergologistas, dermatologistas, otorrinolaringologistas… Vários deles me passaram medicações para controlar sintomas, mas somente um teve a sensatez de conversar abertamente sobre HIV e solicitar a realização do temido exame.
Até hoje, tenho muita gratidão à minha alergologista pelo profissionalismo e carinho que teve comigo naquele delicado momento. Ela foi bastante cuidadosa nas palavras e me mostrou que algo estava muito errado nos meus exames de sangue. O meu CD4 estava baixíssimo, ou seja, meu corpo estava com poucos soldados
para se defender de possíveis invasores.
Quando abri o exame, eu estava sozinho. Acessei o site do laboratório, vi o