Pinóquio
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Pinóquio - Carlo Collodi / Emanuel Ferreira
PINÓQUIO
Adaptação da obra de Carlo Collodi
Ilustrações de Enrico Mazzanti, 1883
Gepeto e o pau falante
Havia antigamente na Itália um senhor chamado Gepeto que decidiu fazer um boneco especial de madeira: um boneco que dançasse e desse saltos mortais. Pensava em sair pelo mundo com ele para ganhar a vida. Gepeto era muito pobre.
Naquela época as marionetes e os fantoches faziam muito sucesso. Eram diversão para toda a família.
Pensando nisso, Gepeto foi à casa de um carpinteiro, amigo seu, chamado Mestre Cereja por causa da ponta vermelha de seu nariz.
Chegou em boa hora.
Imagine você que Mestre Cereja tinha em sua posse um pedaço de madeira muito especial: um pedaço de madeira falante.
Ninguém sabe por que o pau falava, mas que falava, falava. Talvez fosse magia, obra de alguma fada ou bruxa.
Fosse o que fosse, Mestre Cereja queria se livrar logo daquela coisa e, assim que Gepeto apareceu e pediu um pedaço de madeira, o carpinteiro entregou logo o pau falante, dizendo:
— Essa madeira serve perfeitamente aos seus propósitos, amigo. Não tenho dúvida.
E foi assim que Gepeto conseguiu um pedaço de madeira para fabricar seu boneco.
Gepeto constrói Pinóquio
Ao chegar a casa, Gepeto pôs mãos à obra e começou a construir seu boneco. Já até dera um nome a ele: Pinóquio.
Durante o trabalho, admirou-se porque o boneco começou a mexer os olhos, deu a língua e, já no final, quando Gepeto fez suas pernas, ele deu um pontapé no nariz do velhinho.
Malcriado mesmo!
Logo depois, Gepeto ensinou Pinóquio a andar. E, veja só, querido leitor, logo que aprendeu a andar, o boneco disparou pela rua.
O bom homem correu atrás dele e, ao alcançá-lo, quis dar um puxão em suas orelhas, mas percebeu que não tinha colocado orelhas em sua criação. Então, colocou-o debaixo do braço e tomou o caminho de casa.
As pessoas que viram a cena, vendo Pinóquio espernear e gritar, começaram a acusar Gepeto:
— Malvado!
— Maltrata a pobre criança!
— Deveria ser preso!
Logo apareceu um policial para saber o que acontecia. E a populaça lançou impropérios contra Gepeto, acusando-o de mau, dizendo que batia em criancinhas.
O soldado resolveu então prender Gepeto, que se lastimou assim:
— Que filho é você, Pinóquio? Deixa seu pai ser preso sem ter culpa nenhuma?
Mas Pinóquio, vendo-se livre do pai, correu serelepe em direção a casa, ágil como um coelho que corre no mato.
Pinóquio e o Grilo Falante
Pinóquio voltou à sua casa e encontrou a porta entreaberta. Deitou-se no chão de barriga para cima e, de repente, começou a escutar um barulhinho: cri , cri , cri , cri ...
— Quem está aí? — perguntou assustado.
— Sou eu.
— Eu quem?
— O Grilo Falante. Vivo nesta casa há muitos, e muitos, e muitos, e muitos anos.
— Seu cri , cri é irritante!
— Saiba que meninos maus não são bem-sucedidos na vida. Meninos que abandonam sua casa. Meninos que dão dores de cabeça aos pais.
— Ah, cale sua boca!
— Pinóquio, ainda é tempo de se corrigir. Não se deixe levar por ideias e emoções ruins, que causam sofrimento ao seu pai e vão trazer sofrimento a você.
O boneco não gostou muito da conversa do Grilo Falante. Com raiva, pegou um rolo de amassar pão e jogou contra o bichinho. Embora Pinóquio não tivesse a intenção de tirar a vida dele, foi isso que aconteceu — o rolo acertou em cheio a cabeça do grilo. Ainda que tenha ficado apiedado, logo a atenção de Pinóquio se desviou para outra coisa: a fome.
Pinóquio estava com fome e não havia comida