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A Porta Da Sabedoria
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E-book302 páginas4 horas

A Porta Da Sabedoria

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Sobre este e-book

Difícil é falar da sabedoria, porque há muita diferença de quando falamos de uma sabedoria para outra, e usamos a mesma palavra para dizer o mesmo. Sabedoria não é falar bonito; não é ser bastante inteligente num assunto específico, um experto; não é ter a pretensão de dizer grandes verdades externamente. Sabedoria é internalizar uma experiência que dialoga com a realidade, fazendo abrir a alma para o universal. Esta união íntima com o universal não é verdadeira enquanto ela não chega a mais alta hierarquia do saber, o divino. Se não chega a Deus, toda sabedoria é falsa, é pretensão, é arrogância, é bravata do ignorante. Só o homem com Deus sabe alguma coisa. Sem Deus, o homem tateia no escuro, e acredita ver, quando nada ver, pois mesmo quando vê, vê o que Deus deixa ver. Não há pior cego do que aquele que não vê que nada vê o porquê vê. Vários foram os filósofos que tentaram pôr em prática um determinado conhecimento do que seja a Sabedoria, e a sistematização de algo assim chamado gerou o que se chama de filosofia. Filosofia é amizade com a sabedoria, ou, enamorar-se com ela. No entanto, uma pergunta que nunca vi ninguém responder, qual seja: como saber que a sabedoria é Sabedoria e não apenas uma hipótese sobre algo? E contudo, não foi buscando refutar que não é possível encontrar a Sabedoria que muitos ditos filósofos, renegaram a própria sabedoria, e degeneraram a filosofia, dizendo não ser possível saber de algo? Neste trabalho, buscaremos responder algumas dessas questões em diferentes abordagens, quer dizer, em diferentes formas de olhar o mesmo problema. Thiarles S. Silva é natural de Taiobeiras, MG, e é escritor polígrafo, escrevendo em vários gêneros e temáticas, buscando sempre dar uma visão, a um só tempo, pessoal, nova e universal da realidade a que descreve. Apesar de jovem, em seu primeiro livro ensaístico filosófico, ele aborda temas espinhosas da filosofia moderna, apontando problemas e, ou, deficiências da mesma, no que abrange sobretudo ao conflito entre fé e razão, conhecimento científico e mitologia antiga. Em 2023, estreia como autor publicado, ao lançar o livro de ensaios Bicentenário da Independência , pela Editora Nova Ágora.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento7 de jan. de 2024
A Porta Da Sabedoria

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    A Porta Da Sabedoria - Thiarles Soares Silva

    A Porta da Sabedoria

    E alguns estudos pré-filosóficos
    Thiarles S. Silva

    2024

    Thiarles S. Silva

    A Porta da Sabedoria

    Estudos pré-filosóficos

    1ª Edição

    Janeiro, 2024

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    Editora Nova Ágora

    A Porta da Sabedoria: E alguns estudos pré-filosóficos

    Thiarles Soares Silva

    1ª Edição – Janeiro - 2024

    Copyright © 2023 by Thiarles Soares Silva

    Editoração: Thiarles Soares Silva

    Imagem:

    Reservados todos os direitos desta obra. Proibida toda e qualquer reprodução desta edição por qualquer meio ou forma, seja ela eletrônica ou mecânica, fotocópia, gravação ou qualquer meio, sem autorização prévia do autor.

    Sumário

    Dedico este livro às árduas circunstâncias que me fizeram cessar de fazê-lo, bem como a Deus, sua causa motora, e à minha família, pelas paciências, ao meu gato, pelo olhar fito na humanidade.

    Meus sinceros agradecimentos;

    Novembro de 2023

    Apresentação ao opúsculo

    Por qual razão o autor da pequena obra intitularia a mesma que ora se apresenta como A Porta da Sabedoria, seria por um tipo de vaidade pretensiosa em que preze tanto o livro e o conhecimento nele embutido que se acha pleno da sabedoria? São perguntas que pessoas um tanto fúteis pensariam em primeiro lugar, e o autor da obra não se escusa de afirmar ser uma delas, por isso redargui que seria necessário explicar por qual razão dum título tão enviesado a este tom: é que o autor da obra confessa saber muito pouco, mas o que sabe, sabe que sabe e por isso afirma: não, não é ele e nem dele o conhecimento propagado neste livro, mas sim um encontro, com a realidade que ela mesma o presenteou inadvertidamente, pois que a sabedoria não é escolhida, mas escolhe seus servos, e este que vos fala, não é mais do que um servo inútil para se prestar a ela.

    Não é por simplicidade e humildade que o autor afirma tal coisa: o certo seria esperar chegar à maturidade, e assim dizer que foi fruto da reflexão de longas décadas o que aqui se apresenta, mas não farei isto: primeiro que não posso afirmar que estas questões serão o suficientemente importantes para que eu as escreva quando tiver lá com cinquenta anos; segundo, nada garante que quando eu chegar lá estarei mais maduro do que estou agora; terceiro, nada me assegura que viverei até lá ou que terei condições para tal. A testemunha de uma realidade deve confessá-la enquanto pode vê-la em seu tempo, porque a negação enquanto a vê, implica desvê-la, e, talvez, perdê-la para sempre. Pois assim acredito que seja a ideia deste livro: ele assegura existir uma porta, e devemos saber qual seja antes que a esqueçamos. Ao passarmos por essa porta, não escusemos de memorizá-la, a fim de que a sabedoria não se perca, mas esteja sempre em vias de ser encontrada, e quando for, será reencontrada, pois não acredito em alguém que saiba a sabedoria de uma vez por todas, exceto a Divindade, mas alguém que reencontra a Sabedoria.

    *

    Vários foram os filósofos que tentaram pôr em prática um determinado conhecimento do que seja a Sabedoria, e a sistematização de algo assim chamado gerou o que se chama de filosofia. Filosofia é amizade com a sabedoria, ou, enamorar-se com ela. No entanto, uma pergunta que nunca vi ninguém responder, qual seja: como saber que a sabedoria é Sabedoria e não apenas uma hipótese sobre algo? E contudo, não foi buscando refutar que não é possível encontrar a Sabedoria que muitos ditos filósofos, renegaram a própria sabedoria, e degeneraram a filosofia, dizendo não ser possível saber de algo? Neste trabalho, buscaremos responder algumas dessas questões em diferentes abordagens, quer dizer, em diferentes formas de olhar o mesmo problema.

    É possível conhecer? É possível desconhecer? É possível que nada possamos ter certeza? E como ter certeza? Pelo espírito ou pela matéria?

    Modo de leitura

    É um tanto decepcionante ter de dar um modo de leitura para os futuros leitores desta primeira edição, visto que um livro bom já sai como que uma obra pronta, em que os melhores estilistas já dão um acabamento e diz pronto, ponto final ao livro, dando ao leitor, a árdua tarefa de interpretá-lo, sabendo que não encontrará, naquelas mentes geniais, um paradoxo ou desleixo com a precisão de suas ideias, em suma, encontrará uma escrita coerente, por que estes homens, dotados de grande gênio e dedicação sobre-humana, assim a fizeram. Mas, escuso-me disto, porque não sou um gênio, muito menos um estilista, e em filosofia, vale aquela regra de que o didatismo e a autoexpressão são valores equívocos, não são valores absolutos, este livro é, senão filho nato da filosofia, um embrião dela, e não pode ser abortado simplesmente pelas suas aparentes incoerências. Pois é certo que deve havê-las. Deixo, porém, algumas dicas para o leitor captar melhor a evolução da leitura:

    Não é cronológico: o livro não começa do começo e nem termina no fim, ele é espiralado, o que quer dizer que, uma vez dado um tema, ele pode ser simplesmente abandonado para ser retomado depois, num outro estudo, ou pode simplesmente ser relegado ao futuro Deus dará. Um argumento num capítulo pode estar melhor desdobrado em um capítulo anterior ou posterior, e nele mesmo retomado só de passagem. Se é espiralado, quer dizer que determinadas teses são retomadas num estudo de maneira mais ou menos profunda, conforme ao que está sendo arquitetado. O que o leitor não pode pressupor é que várias questões, apresentadas de passagem, não foram vistas com a sua complexidade, e se foram abandonadas para um resposta futura, não é por desleixo, mas cuidado de apresentar o problema de maneira melhor posteriormente.

    Não possui um único eixo de assunto: não se deve procurar uma unidade argumentativa ascendente, há argumentações paralelas sendo desencadeadas de modo concorrentes, ao modo cíclico, espiralado. Não se trata de zigue-zagues, nem interrupções que os críticos, com naturalidade, acusariam de amadorismo o desenvolvimento das argumentações, é que o texto foi composto conforme a vivacidade da questão no momento, portanto, ele revela tanto quanto possível a um texto o estado de espírito de seu autor, e a testemunha de sua reflexão e apreensão no ato da realidade, pois é importante dizer que: estes textos são construídos e raciocinados, filosofados no instante mesmo em que se põe a escrevê-los, e faz parte da filosofia do autor o não corrigir-se a posteriori com um texto morto ou seco de vida, só para atender aos apelos da estilística, pois o caráter testemunhal do filósofo é tão importante quanto sua filosofia. Aristóteles, um dos maiores gênios e produtores de filosofia, cuja obra é estudada até os dias de hoje, e nunca foram esgotadas, nunca escreveu com preocupação estilística profunda, mas sim meramente documental, pois sua filosofia viva era ensinada aos seus discípulos, por isso mesmo que o leitor da filosofia aristotélica se depara com a primeira questão: o que é a filosofia de Aristóteles? E uma das respostas erradas que os filósofos posteriores deram foi de que ele era oposto a Platão! Na verdade, Aristóteles apenas desenvolveu o que aprendeu com Platão, a diferença é que ele conseguiu metodizar alguns de seus ensinamentos em formas mais concretas. Platão, por sua vez, tentou conciliar a escrita com a testemunha fiel da filosofia, e o resultado disto são os diálogos, que ninguém tem poder de dizer com certeza aonde começa a ficção, e onde começa a documentação, e onde o mito e a precisão científica tocam-se e afastam-se na ligeireza de uma ave de rapina. Os escritos deste autor, portanto, possuem a preocupação testemunhal, não a modo de tratado, mas a modo de apreensão e registro.

    Não se trata de um único livro: A Porta da Sabedoria é uma coletânea de estudos interdependentes, em que o autor procurou dar-lhes alguma ordem criteriosa para reuni-los, mas eles não são capítulos de um livro, são capítulos de opúsculos em que são constituídos: A Porta da Sabedoria, A Escada de Jacó, Livro dos Tempos do Sol e da Lua, e Comparações Civilizacionais.

    Este livro, que é uma obra múltipla, contudo, não deve ser visto como o caos do mundo, sem ideias e sem alianças. Possui uma aliança espiritual, tal qual uma catedral medieval, que é construída aos poucos, possui; se se observa algumas vergas e pilastras, algumas abóbadas e cúpulas, pode parecer sombria e confusa de vários modos, pode parecer inacabada e rústica, entretanto, as artes cruzadas, as somas dos tijolos e de vários trabalhos, dos vários artistas que ajudaram a construí-la, tomando um pouco daqui, e dali; da longa experiência e da inovação que os tempos permitem, formam um diálogo: um livro, um olhar, um trabalho, e até mesmo numa discussão, tudo serviu de base para a composição desta construção, que não obstante, não está pronta; pode ser que se trata de uma catedral gótica interminável aos séculos… pelo menos para o autor que não vê no presente estado de coisas, tempo e ânimo suficientes para dedicar-se com o esmero dos antigos. Mesmo uma das maiores catedrais da vida intelectual, a de São Tomás de Aquino, sua Suma Teológica, fora construída às pressas, e não ficara pronta, e nunca estará, porque sua obra é para ser completada pela tradição que o seguiria, o que dirá dos reles mortais que habitam este mundo de pólvora e concreto, onde a correria do mundo moderno não nos permite chegar a Roma e nem às Índias por falta de tempo? Este livro, ele mesmo como uma catedral gótica não terminada, de novo que é, já se parece transparecer entre suas páginas as ruínas de um mundo esboroado.

    Parte I: A Porta da Sabedoria

    Livro I: A Porta da Sabedoria

    A Porta da Sabedoria

    "Meu filho, ouve-me, adquire uma instrução sadia,

    torna o teu coração atento às minhas palavras.

    Eu te darei um ensino muito exato,

    Vou tentar explicar-te o que é a sabedoria;

    Torna o teu coração atento às minhas palavras,

    Pois vou descrever-te com exatidão as maravilhas que Deus,

    Desde o início, fez brilhar nas suas obras,

    E vou expor, com toda a veracidade,

    O conhecimento de Deus." Eclesiástico 16, 24 e 25;

    §1º Difícil é falar da sabedoria, porque há muita diferença de quando falamos de uma sabedoria para outra, e usamos a mesma palavra para dizer o mesmo. Sabedoria não é falar bonito; não é ser bastante inteligente num assunto específico, um experto; não é ter a pretensão de dizer grandes verdades externamente. Sabedoria é internalizar uma experiência que dialoga com a realidade, fazendo abrir a alma para o universal. Esta união íntima com o universal não é verdadeira enquanto ela não chega a mais alta hierarquia do saber, o divino. Se não chega a Deus, toda sabedoria é falsa, é pretensão, é arrogância, é bravata do ignorante. Só o homem com Deus sabe alguma coisa. Sem Deus, o homem tateia no escuro, e acredita ver, quando nada ver, pois mesmo quando vê, vê o que Deus deixa ver. Não há pior cego do que aquele que não vê que nada vê o porquê vê.

    Quando sabemos alguma coisa, sabemos porque sabemos que saberemos algo. Não há um grande mistério nisto? Penso que isto seja um grande mistério que os grandes nunca investigaram, porque sabiam, e os pequenos ignoravam porque ignoravam. Sabemos porque sabemos que saberemos algo, e não há nada que o ser humano pense nada saber de algo, porque do contrário, nem passaria pela sua mente a tal ideia. Deixemos essas indagações à parte.

    §2 O nosso conhecimento das coisas se dá ao aceitarmos que delas podemos obter alguma coisa que nos impregne, esta espera por obter não é sem fruto e sempre traz algo. Este algo é a própria impressão que a coisa é e chega a nós mediante uma imagem que entra na nossa memória e fica, conforme nossa memória apreende este algo, é com ele que aprofundaremos e intuiremos mentalmente, mas ainda não verbalmente, a sua forma. A forma é aquilo que a coisa é. Quando vemos uma bola azul com bolinhas vermelhas pintadas na sua superfície, temos impressão de ver esta bola ou vemos a bola realmente? Vemos a bola realmente, e a sua impressão na nossa mente é real, justamente porque a bola é real.

    §3 Ver é ver alguma coisa, se não existisse o ver, não existiria o conceito de ver, é por isso que, o objeto que vemos possui primazia sobre o que vemos, e a nossa visão antecipa à nossa inteligência o que a coisa é. Só é visto o que é visível, e só é visível o que é possível de ser visto por alguém que vê. Não é preciso ser um gênio para perceber este óbvio, mas porque nossa in-teligência está viciada em falsos raciocínios, é bom que façamos este exercício sempre:

    Vemos o que se pode ver;

    Comemos o que se pode comer;

    Andamos onde se pode andar;

    Bebemos o que podemos beber;

    Respiramos o que podemos respirar;

    Com isto eu quero trazer à tona justamente a volta desta relação entre a ação e a linguagem, entre a linguagem e o pensamento, entre o pensamento e o querer, entre o querer e a possibilidade de realizá-lo. Se agora decido escrever estas palavras, é porque posso escrevê-las nalgum lugar, e ao registrar, eu sei que estou realizando o poder de minha vontade. A minha vontade internalizada tornou-se ato e este ato se tornou algo, uma coisa, um objeto a que chamo texto, e este é até passível de ser tocado, se eu imprimi-lo num papel.

    Sim, descobrir que podemos fazer algo e que este algo corresponde à realidade, quer dizer que nós somos capazes de afetar o ambiente, mediante nossa reflexão sobre este ambiente, é confortante, mas nos traz responsabilidades também, a de que não somos meros mareantes num mundo incognoscível, antes o contrário, vivemos e andamos num mundo onde muito sabemos, e sabemos porque sabemos que sabemos. Por isso se diz que o homem é Homo Sapiens Sapiens, Homem que Sabe que Sabe. Reconhecer isto é a primeira sabedoria.

    Mas a sabedoria de saber que algo se sabe, que é possível saber, implica que a sabedoria das coisas é apreciável. Já na Bíblia, diz o autor sagrado:

    Deus aspergiu a sabedoria em todas as suas obras

    §3 A primeira sabedoria é aquela de que podemos saber algo porque tudo o quanto existe contém sabedoria, e por isso é passível de ser conhecido por sua cognoscibilidade. A outra sabedoria, a divina, é aquela que explica e sustenta o que é esta sabedoria. A sabedoria humana vive na sabedoria divina, se remete a ela, vive nela, e é sustentada por ela, porque as coisas são feitas com sabedoria. Sabedoria é também ver.

    §4 Já tiramos a experiência, o homem pode ver coisas, como pode não ver coisas que outros animais veem, no entanto, mesmo não vendo como os animais veem, o homem consegue saber como os animais veem, esta capacidade vem de outras observações, ao passo, que não esperaremos nunca que um macaco vá descobrir a Lei da Gravidade ou vá refutar a Teoria da Evolução, o que seria uma situação tragicômica. Mas é esperado do ser humano a capacidade de ter uma linguagem e que esta remeta ao real, porque se pressupõe que assim como ele, vê o mesmo e vê o real. O real é repetível e sua repetibilidade o torna eterno, mas se fosse único e irrepetível, uma vez para sempre, bem se poderia dizer ser uma mera ilusão, uma vaga impressão de algo, mas não algo.

    Por isso, julguei que fosse bom comentar os primeiros versículos do livro de Eclesiástico, para mostrar que há ali muito mais do que afirmações bonitas sobre a sabedoria, ela explica realmente o que é a verdade do saber.

    1 - Toda a sabedoria vem do Senhor Deus, ela sempre esteve com ele.

    §4 Porque todo ser humano procura saber algo quando vê algo, não importa se este ver é físico ou intelectual, todo ser humano sabe então que todas as coisas são passíveis de serem sabidas, pois elas contém inteligibilidade, possuem um conteúdo que pode ser transmutado em ideias, ideias que podem ser expressas em palavras, e palavras que podem ser reconhecidas. Por essa razão sabemos, tudo o quanto existe possui algo que pode ser entendido e compreendido, o contrário não seria concebido, e assim, se tudo é concebível, é porque esta inteligibilidade existe antes de todas as coisas.

    Não é por acaso que Platão afirmava a existência de um mundo das ideias, um mundo espiritual onde pairava as formas universais, porque sem as formas universais, não haveria as formas materiais particulares que as revelam. Platão estava certo, antes de existir o cachorro, a ideia cachorro existia, e se ela não existisse, o cachorro não existiria; antes de existir o homem, a ideia de homem já existia, pois se não existisse a ideia de homem, o homem em si não existiria. Sem a ideia de televisão, televisão não existiria, sem a ideia de um livro, um livro não existiria. Assim, os seres existem porque a ideia deles existe antes deles. A pergunta que nos ficaria seria saber onde elas ficam quando não estão no ente que as manifestam concretamente, onde elas existem ou existiam antes de existir de fato? Existiam como ideia apenas? Mas ideia é algo consciente, não tangente. Existia metafisicamente na potencialidade da matéria? Mas nem tudo existe na matéria, e antes da matéria existir, existia a possibilidade do ser ser infinita, de sorte que infinita seriam as possibilidades de nenhum dos seres que ora existem, ou que existiram no tempo, algum tempo existirem, o que faz a existência do que existe um árduo mistério. E há, além disso, coisas que só existem porque a inteligência as cria, segundo uma subjetividade que não é encontrada na matéria; por exemplo, qual a utilidade do samba enredo do Carnaval do Rio de Janeiro antes dele ser criado para que fosse criado? Qual a necessidade ontológica do Samba-enredo para que surgisse em dado tempo? No entanto, o samba-enredo de um cantor qualquer era metafisicamente possível de existir, mesmo assim não existiu nenhum samba enredo sendo cantarolado por algum asteroide no universo em algum lugar, foi necessário que um ser humano concreto existisse para que numa dada circunstância ele a compusesse, e o elemento mais importante ainda de tudo isto seria cabal para a sua concreta existência: a vontade! O samba enredo só existiu porque existiu tal ser humano, em dadas questões, em dado momento, e com tal criatividade o fez, e somente ele ali, e naquele momento o poderia ter feito aquele samba enredo, absolutamente nada mais o poderia lhe ter dado o ser. Assim, quem poderia medir todos os meandros de antemão para que tal coisa viesse a existir antes de existir? Mesmo no cantorio de um samba enredo, ele não seria capaz de pensar passo por passo como se fez a escolha dos processos cognitivos diversos que o levaram a criar aquela coisa naquele momento, e em vários momentos, e só foi possível dadas as circunstâncias da vida pessoal dele, de suas experiências de linguagem, de seu aprendizado, de seu domínio com a própria técnica musical, e a misteriosa vontade que a ensejou, entre outros fatores. São uma infinidade de elementos que você, certamente, não pensou que estava embutido num único samba-enredo, não é mesmo? Assim, também na realidade, tudo o quanto aconteceu, acontece e acontecerá, só será possível pelo contexto que o permitira. Dessa forma, podemos até agradecer pelo emprego dos sonhos que não tivemos aos dezoito anos, porque graças a isto, temos o emprego dos sonhos aos cinquenta ou trinta e cinco. A existência de coisas inúteis para o funcionamento do Universo, e que não estão lá, mas foram feitas pelo homem, e era passíveis de serem feitas, é a evidência de que o Universo é composto por elementos necessários e não-necessários, e a simples evidência disto comprova que a matéria existe como predisposição para a existência daquilo que se queria que existisse conscientemente. Existente a matéria, existiu-se as possibilidades dela. A própria matéria, o que ela é em si, é uma existência concreta em meio a uma infinidade de possibilidades de ser ou de não-ser, porque e-la não era obrigada a ser algo antes de ser, exceto, que a fosse impelida conscientemente para tal.

    O caminho da sabedoria é árduo e difícil, porque exige de nós a boa vontade. Mas o que é esta senhora muito meiga e exigente chamada Boa vontade? A Boa vontade é uma senhora que nos visita nos momentos em que estamos desarmados de nós mesmos, de nossa falta de fé e esperança, e ela nos pede algo que está para além das nossas forças, porque exige a liberdade de nosso olhar infantil, infantil sim, pueril não, no amplo sentido da palavra. A criança vê a realidade com uma visão límpida e serena, mas sem atordoar-se por não saber algo, e acha encantador a ideia de subir uma montanha, mas o homem adulto e carrancudo, acha absurdo ter que subir o monte, para depois descer, ou se sobe, já não quer descer, o que Platão explicara no Mito da Caverna, e Jesus, no Monte Tabor. Mas para buscar a sabedoria tem que subir algo, tem que escalar a montanha, e se subindo ainda não for possível ver o horizonte, o que devemos fazer? Continuar a subir, subir e subir, porque o monte tem seu píncaro, e o horizonte tem seu plaino.

    Onde está a Sabedoria

    §5 No momento em que buscamos a sabedoria, ela se perde, faz-nos como bobos a buscar o vento, nossas palavras caem de sua força como caem as pedras que esboroam da montanha. Sentimo-nos impotentes, as palavras se perdem e se perde a força que outrora crepitava em nós. A sabedoria é uma confissão, e já dizia o Eclesiástico, o que adianta o saber do sábio que se esconde? Mais vale o ignorante que esconde sua ignorância.

    §6 Não podemos buscar o conhecimento como quem busca uma memorização, a sabedoria é livre e trabalha a nossa consciência, utilizando muitas vezes do nosso conhecimento. Onde está a sabedoria? Está na humildade de cada coisa, e o saber está na consciência humilde que a nota.

    Perguntei-me diversas vezes se deveria ousar falar da sabedoria como um objeto de estudo, o que é ledo engano, e já noto quando escrevo, ela não é objeto de estudo, porque para isso teria de ser superior a ela, ela é o sujeito de toda a coisa, e objeto em que ela age sou eu mesmo, a minha consciência conscientizada da sabedoria e de seu comportamento manifesta deficitariamente a sabedoria, sem que ela, contudo, seja deficitária.

    §7 Saber é saber algo, mas é saber que este algo pode ser sabido, donde vem esta consciência? Enquanto o homem não se ensimesma, ele não tem consciência do que sabe, e o que sabe não é saber, mas repetição, uma alusão, uma intuição próxima do que se fala, mas há rodeios, há enigmas, e o saber se não traduz em atos. O homem que sabe algo, sabe agir, sabe ser o que deve ser, como que despertando nele nova força de ação. Sua ação ganha a firmeza de quase um deus, e por isso a

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