Cine Despertar
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Cine Despertar - Provocador Do Ser
CINE
DESPERTAR
VOLUME 1: O Real da Realidade
ÍNDICE
Episódio Piloto: Matrix, o início da jornada
Não deve ser muito difícil encontrar pessoas que assistiram Matrix pela primeira vez em 1999, o ano em que o filme foi lançado oficialmente, e enxergaram apenas mais um filme de ação, com lutas coreografadas, explosões, tiros infinitos e muita adrenalina, sobretudo aqueles que estavam próximos da idade adulta naquela mesma época, recém-saídos da adolescência e prestes a adentrar na casa dos dezoito anos. Bastante gente deve ter até cochilado durante aquela parte mais explicativa da trama, logo após o resgate do Neo da realidade ilusória da Matrix. Sem críticas, entretanto. Afinal, não dá pra ser muito cult com uma idade dessas, cheio de hormônios transbordando, no auge da avidez por ação e aventura pra colocar um pouco de tempero no cotidiano de uma vida morna.
Entretanto, aqueles que se enquadram nessa descrição acima, os que buscavam apenas um pouco da ousadia cinematográfica na obra, que inclusive é o marco da ousadia dos filmes do gênero pelo pioneirismo em uma série de efeitos demonstrados pela primeira vez na história exatamente ali, certamente não perceberam toda a história oculta que se desenrolava por baixo dos panos quentes e excitantes do desenrolar daquela ficção fantástica.
Igualmente comum é encontrar aqueles que assistiram Matrix não apenas uma única vez, mas duas, três, quatro, oito vezes, dez vezes, principalmente depois de sua popularização, com a sua exibição sendo executada em TV aberta e, principalmente depois de se transformar em um dos maiores fenômenos de todos os tempos do mundo da indústria cinematográfica de ficção científica e de ação. E essa é que é verdadeiramente a parte interessante da coisa toda. O que leva uma pessoa qualquer a assistir a um filme tantas vezes assim? Na verdade, a pergunta deveria ser outra. O que leva um filme a atrair tanto a atenção, de forma a levar um espectador a repetir a sua reprodução por tantas e tantas vezes?
Matrix é um filme conhecido por ter sido assistido incontáveis vezes pelo mesmo espectador, em algumas ocasiões após um período de tempo considerável entre uma visualização e a próxima, em outras circunstâncias uma reprodução é repetida imediatamente após o término da anterior. Mais interessante ainda, dificilmente alguém mantém a sua percepção após a nova revisita a esse longa-metragem. Via de regra, aquele jovem que cochilou em seu primeiro contato com a obra começa a enxergar novas nuances que não tinha percebido quando de sua interação inicial. Em outras palavras, uma exibição nunca é igual à outra. Detalhes anteriormente ocultos passam a ser percebidos, ficando a cada ocasião mais e mais explícitos, passando a agregar muito mais ao filme que o percebido no início.
Esse filme é um exemplo, logicamente, esplendoroso exemplo, mas ainda um exemplo. É importante citá-lo pelo marco que se tornou e, sobretudo, pela complexidade de seu enredo. Há quem o tenha assistido incontáveis vezes sem conseguir entender completamente seu conteúdo, se é que isso é mesmo possível. Isso o torna ainda mais especial, pois é uma obra relativamente intrincada, que exige muito de seus expectadores, e que mesmo assim é assistida em repetição escalar. Impossível negar que é muito mais cômodo assistir um romance ou uma comédia café com leite mais de uma vez, é lógico.
A verdade é que esse trabalho da sétima arte instiga uma gama multivariada de sensações e percepções por parte daqueles que têm contato com ele, de forma cada vez mais intensa e profunda conforme se assiste novamente, chegando a alcançar campos ainda mais diversificados além do mundo sci-fi, como a filosofia, a religião, a sociologia, a psicologia, e tantas outras abordagens possíveis.
Mas qual a relevância disso tudo? E a grande pergunta que justifica todas as páginas subsequentes: O que, afinal, significa esse trabalho literário específico que inicia sua exposição mencionando o filme Matrix, qual a relação do assunto a ser abordado com este famoso título e seu estrondoso sucesso? Além do ambiente do mundo da academia, dos críticos de cinema que analisam atuações, fotografia, originalidade de adaptação de roteiro, figurino e tantos outros quesitos para a entrega do Oscar e dos outros prêmios similares, há algo de muito significativo a ser explorado nessa coisa toda. Essas questões técnicas interessam muito pouco aqui, inclusive. Tão nobre tarefa compete aos profissionais gabaritados e devidamente formados para exercer ofício tão importante.
Além desse mundo do tapete vermelho e de seus holofotes e paparazzis há algo menos óbvio, um tanto quanto encoberto, que requer muito para ser encontrado. Há aspectos passíveis de serem classificados como segredos, mistérios, enigmas, escondidos nas entrelinhas dos filmes e obras cinematográficas em geral, ou entre telas, entre películas, o que talvez ficaria mais plausível.
Aqueles clássicos enredos, mesmos os mais inocentes, podem ocultar gigantescas lições capazes de modificar vidas inteiras, de expor assuntos complexos com a sutileza dos véus das histórias mais evidentes. Sob uma encenação desinteressada muitas intenções podem ser ocultadas, pipocando em neon apenas para aqueles mais atentos, abertos, sensíveis, consonantes e, principalmente dispostos a percebê-los.
Cabe a cada um perceber aquilo que compete a si mesmo, retirar de tudo o que tem contato exatamente o necessário para seu desenvolvimento dentro da dinâmica da interação com o que o cerca no Universo. Aliás, a totalidade do que existe auxilia nessa percepção, de uma forma ou de outra. O cinema é uma das fontes disponíveis dessa sabedoria que se origina de algo além da percepção mental do ser humano, que tanto pode beneficiar a sociedade. Mas ela precisa ser percebida, sentida, decodificada, aprendida, apreendida, entendida, integrada, assimilada, acionada, compartilhada.
Esse é apenas um dos caminhos possíveis, apenas um dos canais utilizados pela Vida para auxiliar a humanidade nessa jornada temporária que está sendo vivenciada aqui. Todo o Universo está a todo instante tentando demonstrar os caminhos da realização, para que cada indivíduo alcance o ápice possível de sua expansão consciencial. Essa abordagem tende a utilizar a sétima arte para decifrar essas mensagens de forma a torná-las inteligíveis e humanamente mais compreensíveis. Contudo, nada poderá ser alcançado sem que aquele que lê esteja genuinamente empenhado nessa realização. Sem a sua vontade de assimilar o conteúdo que encontrará aqui, esse trabalho não serve para absolutamente nada.
Agora, fica aquele velho convite à escolha. Em uma das mãos a pílula azul, na outra a pílula vermelha. Ambas estão à sua disposição, prontas para serem selecionadas conforme seu desejo, sem pressão, sem opressão, sem coação, simplesmente uma decisão. Isso é incrível pois logo no início da obra é possível selecionar deliberadamente qual o melhor caminho a ser tomado, sem o direito a posteriores reclamações. O jogo vai ficar exposto exatamente agora, no capítulo piloto desses tantos episódios que se seguirão durante a exibição deste livro. Todas as cartas serão viradas com suas faces para cima e todos poderão vê-las imediatamente, sabendo exatamente qual a mão que enfrentarão. O blefe do adversário não servirá de nada pois as cartas dele estão visíveis. Agora cabe a cada jogador que chegou até esse manuscrito tirar os olhos da carta de seu oponente e olhar para as próprias, analisar aquilo que carrega consigo, o que tem nas mãos. Apostar ou não é uma escolha muito mais fácil a partir de agora.
Voltando ao momento do discernimento consciente, a primeira pílula, a azul, representa deixar tudo pra lá e desconsiderar essas poucas linhas lidas até o instante corrente, seguindo a vida exatamente como se apresenta. Significa que tudo está ótimo como está, que não existe nenhum tipo de incômodo mental, nada de questões internas. Aquele que mandar a azulzinha pra dentro está completamente confortável e não enfrenta qualquer tipo de dúvida em relação à própria existência. O da azul retornará ao cotidiano comum de sempre sem maiores ideias permeando sua mente. A dinâmica do mundo é suficientemente agradável exatamente como está, nada está em desacordo e tudo pode seguir na mesma, exatamente do jeitinho que está agora. Escolher a pílula azul é aceitar aquilo que se sabe sobre si mesmo e sobre o resto do Universo, sem maiores questionamentos, sem maiores estranhamentos e, espera-se, sem nenhum tipo de contestação a posteriori.
Agora, a pílula vermelha é a escolha daqueles que querem mais, que precisam entender um pouco melhor a natureza deles mesmos, é o caminho dos que não se conformam com aquele simples é assim porque é.
Esse é a opção dos que estão sedentos por respostas, daqueles que precisam entender eles mesmos, para então tentar captar algo mais sobre aquilo que os rodeia. Essa perna da bifurcação significa seguir assimilando cada vez mais informações, é a estrada do Buscador, a trajetória dos insatisfeitos, a jornada dos questionadores. A pílula vermelha é aquela dos que querem mais do que o simplório, mais do que o comum, mais do que o manjado. Ela significa seguir firmemente na leitura, aprofundando a história proposta aqui, independente dos incômodos