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De Volta Para O Deserto
De Volta Para O Deserto
De Volta Para O Deserto
E-book274 páginas3 horas

De Volta Para O Deserto

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Sobre este e-book

É nítido que a humanidade sofre em meio a contradições destruidoras, seja no ambiente de convívio social, mas, principalmente, internamente. As mentes estão embotadas e repletas de barulho dos mais diversos e complexos, provocando cada vez mais sofrimento e dor. Será possível diminuir essa turbulência interna? Existe alguma prática que possa auxiliar a caminhada dos seres humanos nesse sentido? Há algo de paz possível para aqueles que existem nesse mundo cada vez mais complicado? A solução pode estar na história do maior ícone do mundo ocidental, enquanto esteve durante 40 dias silenciando sua mente em sua experiência pessoal de Deserto Meditativo.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento24 de dez. de 2023
De Volta Para O Deserto

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    De Volta Para O Deserto - Provocador Do Ser

    De Volta para

    o Deserto

    O mergulho profundo no Silêncio Nuclear em busca de alguma mínima Triscada no Centro do Universo em pleno Século XXI, através da prática do Deserto Meditativo

    ÍNDICE DE TÍTULOS

    Do tempo de criança em que eu meio que me escondia pra me sentir melhor por um tempo sozinho…

    Pág-16

    Relações entre o ontem e o hoje

    Pág-17

    Distração Mundo e o consequente afastamento de nosso objetivo essencial

    Pág-22

    Os cuidados com a ideia de Distração Mundo

    Pág-24

    Percebemos muitos problemas no mundo

    Pág-29

    A analogia do Deserto Meditativo, sua importância e aplicação prática nos tempos atuais

    Pág-33

    Não existe forma específica para se posicionar no Deserto Meditativo

    Pág-35

    É com essa simplicidade que seguimos abordando a ideia de meditação, de Deserto Meditativo

    Pág-36

    Aí está a essência da meditação, a essência do Deserto Meditativo

    Pág-39

    O Protetor auricular

    Pág-42

    Há um algo a mais nessa história toda

    Pág-43

    Algo para se ponderar antes de meditar sobre Deus e o Universo

    Pág-45

    O Deserto Meditativo é abstrato, imaterial e metafísico

    Pág-54

    Tentativas de definição de um Deserto Meditativo

    Pág-55

    Não somos as sensações físicas que temos

    Pág-57

    Tampouco somos nossas emoções

    Pág-58

    Sequer somos a nossa mente humana pensante

    Pág-59

    O verdadeiro retorno à casa do Pai

    Pág-64

    A Triscada no Centro do Universo como objetivo da existência

    Pág-65

    Metáforas são muito práticas para o entendimento do Universo, vamos a mais uma

    Pág-70

    Mas não funciona muito bem desse jeito como na metáfora anterior

    Pág-72

    O Silêncio Nuclear é mais profundo e significativo que a mera ausência de ruídos externos

    Pág-77

    O Deserto Meditativo faz a conexão necessária

    Pág-82

    Jesus parece ter passado por tudo isso

    Pág-87

    As pessoas ao nosso redor demandam que estejamos sempre bem pois se beneficiam de nossos estados mentais saudáveis

    Pág-94

    Dói no corpo e na mente, mas o movimento é essencialmente espiritual

    Pág-100

    O Deserto e a busca por solitude

    Pág-106

    O início do deserto como uma busca por solitude e realização interior, agora em prática

    Pág-109

    A ortodoxia do dogmatismo atrapalha a perceber que o Espírito está em toda parte

    Pág-110

    A espiritualidade pode ser encontrada em lugares não muito óbvios

    Pág-112

    Algo nada ortodoxo na iniciação ao processo de Deserto Meditativo

    Pág-114

    Um breve momento de espiritualidade religiosa em meio ao momento mais emocionalmente nebuloso e turbulento de minha vida

    Pág-118

    Uma nova caminhada religiosa na minha vida

    Pág-120

    Agora sim, a nova caminhada, especificamente naquele momento em que enfrentava dificuldade tão intensa no campo emocional, mental, psíquico e até mesmo físico

    Pág-126

    A meditação como foco do trabalho

    Pág-127

    Uma situação inusitada que serviu como embasamento teórico e pode ser considerada o estopim de todo o movimento

    Pág-129

    Voltando à experiência de assistir as atividades do terreiro de umbanda que comumente frequentava

    Pág-133

    Um breve paralelo entre as práticas kardecistas e umbandistas

    Pág-135

    O caso específico e plasticamente belo das rodas de caboclo na umbanda

    Pág-137

    Uma breve e simplista visão pessoal sobre a roda de descarrego dos caboclos nas giras de umbanda e a relação não tão óbvia com o Deserto Meditativo

    Pág-140

    A Egrégora deve ser considerada sempre

    Pág-143

    Detalhe interessante sobre o estado de espírito na saída do centro que frequentava

    Pág-145

    Voltando aos movimentos de percepção do Deserto Meditativo em situações não tão óbvias

    Pág-148

    A música pode nos ajudar no alcance do Senso de Unidade

    Pág-155

    Na verdade, qualquer coisa pode nos levar a sentir o Senso de Unidade

    Pág-162

    Supõe-se que agora esteja bem mais evidente a importância do Deserto Meditativo e sua verdadeira utilidade

    Pág-167

    Mais uma tentativa de cunho religioso

    Pág-169

    O momento chave para mais um renascer espiritual

    Pág-170

    O questionamento interno

    Pág-176

    Fora da caridade não há salvação

    Pág-179

    Uma bela Triscada no Centro do Universo no momento de abertura da gira

    Pág-182

    Quarenta dias de Deserto Meditativo proposital

    Pág-187

    Ensaio sobre compartilhar alegrias versus saboreá-las individualmente

    Pág-190

    O Deserto Meditativo involuntário em meio a uma epidemia global

    Pág-193

    Sempre há um lado positivo, mesmo nas situações mais caóticas

    Pág-196

    O combustível para os pensamentos desordenados e incessantes

    Pág-198

    Uma percepção ainda mais ampla

    Pág-200

    Ele, porém, retirava-se para os desertos, e ali orava.

    Lucas, 5 – 16

    Livro Sagrado Cristão

    ----------------------------------------------------------------------------------------

    - Será que tem alguém aqui comigo?

    Tenho a impressão de que não estou sozinho no quarto.

    Que agonia!

    Não vou abrir os olhos!

    Não vou abrir!

    Isso vai atrapalhar a meditação.

    Mas tenho certeza de que não estou sozinho…

    Será?

    O que será que tá acontecendo aqui?

    Não ouço barulho nenhum, mas tenho certeza total de que não estou sozinho.

    Só uma espiadinha pra ficar tranquilo…

    Nada! Só eu mesmo!

    Como que pode?

    A sensação era de total certeza de que alguém estava aqui comigo.

    Vou respirar lentamente pra diminuir a agonia.

    Acalmar um pouco mais.

    Um poco mais de tranquilidade.

    Vou tentar voltar a meditar…

    Respirar de forma mais profunda pra me acalmar.

    Calma!

    Calma!

    ……

    ----------------------------------------------------------------------------------------

    ----------------------------------------------------------------------------------------

    - Qual será o patamar de evolução espiritual que já alcancei?

    Consigo ficar quietinho aqui, tranquilo, em meditação.

    Isso deve ser sinal de despertar.

    Pelo menos em algum nível, né?

    Será que estou muito mais avançado que as outras pessoas?

    Será que tem um contador de evolução espiritual?

    Deve ter uma escala de medição pra comparar quem já está desperto e quem ainda não está.

    Certamente já avancei muito em minha jornada.

    É muito fácil meditar, só fechar os olhos e readequar a respiração.

    Vou voltar pra meditação.

    É massa demais dominar isso.

    Medito profundamente quando quero.

    Agora vou voltar.

    Fechando os olhos, e…..

    ----------------------------------------------------------------------------------------

    ----------------------------------------------------------------------------------------

    Caramba!!

    Devo ser um bosta mesmo!

    Não consegui até agora voltar a meditar.

    Minha cabeça não para um segundo sequer.

    Que merda!

    A maioria destes pensamentos nem faz sentido.

    Eu tô é na sarjeta da evolução espiritual, certamente.

    Não consigo nem silenciar minha mente.

    É, eu sou um bosta!

    Chega!

    Cala a boca!

    Vou tentar de novo.

    Fechando os olhos…

    ----------------------------------------------------------------------------------------

    ----------------------------------------------------------------------------------------

    - Nada feito!

    Que monte de pensamento inútil.

    Não consigo nem vencer minha mente, como achei que poderia evoluir de alguma forma?

    Que derrota gigantesca!

    Sou um fracasso na meditação.

    Sou um fracasso em tudo.

    Bom, já que tô fudido mesmo, vou tentar de novo.

    Respirando profundamente outra vez…

    ----------------------------------------------------------------------------------------

    ----------------------------------------------------------------------------------------

    - E agora, o que foi?

    Ah, o despertador.

    Tá na hora de levantar, senão perco o compromisso.

    Não serviu de nada esse tempo todo em que estive aqui sozinho.

    Que inferno!!

    Depois tento de novo, agora já era.

    ----------------------------------------------------------------------------------------

    Sinto a necessidade de me recolher ao interior de mim mesmo. Preciso ficar alheio aos ruídos do mundo por um tempo. Tenho a necessidade de periodicamente me desconectar do resto do mundo e me fechar dentro de minha consciência. É um movimento que me acostumei a fazer e aprendi a praticar com certa frequência, mesmo que porcamente, mas essa frequência ainda não é o suficiente.

    Minha intenção declarada é a de desenvolver algo próximo de um processo meditativo. Parecem existir várias formas de considerar o que é meditação, dependendo das diferentes e extremamente ricas culturas do mundo. Dentro de meus limites de consciência almejo, na atual conjuntura, realizar constantemente esta atividade, de forma que reflita em melhor condição de existência.

    Atividade de, simplificando e resumindo consideravelmente, trabalhar para conduzir a mente para um estado de calma e relaxamento, com o intuito de atingir algum grau de tranquilidade e paz interior, que acredito que encontrarei a partir da execução deste empreendimento individual auto realizável. Esse seria o objetivo mais visível, um tanto quanto superficial até. Algo que é consequentemente alcançável através da prática.

    Muito mais profundo, entretanto, é o objetivo que acredito que realizarei neste processo. As breves experiências que já vivenciei realizando o referido trabalho, ao qual me propus, indicam que há algo mais profundo a ser sentido e incorporado à minha existência. Sinto intensamente que a essência do universo inteiro habita exatamente aqui, com o alcance dependendo apenas de minha vontade de meditar.

    Vivemos nesse mundo, humanamente, como nos apresentamos agora com este corpo que movimentamos por aí, de um lado para o outro. Interagimos uns com os outros e realizamos atividades e ações diversas. Criamos situações de vida, nos envolvemos nelas e colhemos as consequências dessa criação diretamente neste processo.

    Todavia, algo me diz que isso que visualizamos, ouvimos, tocamos, cheiramos, sentimos, com os sentidos externos é apenas um minúsculo floco de neve perdido na imensidão da pontinha visível do iceberg. Representa quase nada se comparado à nossa essência como um todo, ao nosso verdadeiro Ser.

    Essa sensação fica cada vez mais evidente ao longo de todas as vezes que me recolho em meditação, o que acaba por trazer uma ideia de certeza quanto a sua validade. Desta forma, a motivação para viver esta certeza fica ainda mais intensa e inflamada, me levando a buscar cada dia mais a execução das tentativas.

    Suponho que seja um movimento natural, que a prática constante da meditação me leve a encontrar esse Algo profundo que busco. Acredito ainda que a ansiedade por almejar esse fim atrapalha todo o processo, ainda que seja quase impossível não querer cada vez mais alcançá-lo. Na medida do possível tento seguir tranquilo, praticando e praticando.

    O objetivo mais profundo segue constantemente em meu campo de visão. É meu leitimotiv, aquilo que me move e justifica a minha existência. Contudo, há uma espécie de obstáculo inicial a ser vencido. As mazelas do mundo e toda a problemática referente à interação entre os seres humanos me atrapalham a realizar uma conexão satisfatória com aquilo que procuro incansavelmente. É algo que precisa ser considerado a priori.

    Às vezes parece que o contato constante e ininterrupto com a humanidade é extremamente nocivo e destruidor para minha saúde psicológica, mental, física, espiritual. É como se eu fosse levado por uma espécie de onda de pensamentos coletivos que me tomam de assalto e me fazem aderir às paranoias do resto do mundo.

    A impressão que às vezes tenho é a de que viver é uma turbulência constante. Tipo quando estamos em um avião que entra em uma densa nuvem de tempestade. Mas no caso da vida essa tempestade dura toda a viagem. Aquele sentimento de pânico que toma conta dos passageiros e tripulantes nas viagens aéreas desse tipo parecem nunca passar na vida cotidiana.

    Alguns momentos divertidos e prazerosos contrastam com uma permanente sensação de angústia e ansiedade pelo que enfrentaremos ali na próxima esquina da existência terrena. Ficamos meio que mergulhados nesse clima de tensão e aflição o tempo inteiro, lutando para poder desfrutar de alguns instantes de uma tênue e passageira paz interior.

    De alguma forma percebi que me desligar momentaneamente da dinâmica padrão do mundo traz um mínimo dessa paz, um pequeno resquício de uma tranquilidade que não dura nem a metade do que eu gostaria. É como se me desligasse dessa confusão toda que é a vida humana e por alguns instantes pudesse respirar aliviado.

    No entanto, no fundo eu sei que aquela sensação de desespero vai voltar. Assim que terminar meu momento de refúgio precisarei voltar a interagir normalmente com o mundo e daí todas aquelas sensações tão pesadas voltarão a me permear, como se fossem tangíveis, visíveis. Muitas vezes é quase possível ver a ansiedade, o medo, o pânico me rodeando. Parece uma massa coletiva de destruição psicológica.

    A única coisa que sei é que sentar quietinho por alguns instantes ajuda a combater todo esse liquidificador de sentimentos densos. Sempre que possível, parto em busca de algo que parece estar em algum lugar dentro de mim mesmo. Não sei bem o que é, mas, no fundo, parece que está ali. E quando me calo por um tempo pareço um pouco mais próximo desse algo. Consequentemente fico mais distante de toda problemática do planeta.

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    - Como assim fuga?

    Não estou fugindo!

    Apenas tentando me resguardar, me reestabelecer.

    Seguindo nessa batida em que estou certamente vou ficar doente. Talvez até louco.

    O mínimo de sanidade mental deve ser alcançado, caso contrário, a vida não se desenvolve.

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    -Eu sei! Eu sei que não sou o único a passar por essa sensação.

    Mas não posso fazer esse movimento pelos outros não é mesmo?

    O máximo que posso fazer é compartilhar a percepção que tenho de tudo isso.

    Cada um tem que escolher realizar esse processo também.

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    - A única coisa que sei é que a simples ação de me retirar um pouco do cenário mundo diminui algo do medo que sinto de tudo.

    Isso é nítido!

    Eu sei que continuo envolvido em tudo isso, sei que continuo aqui no mundo, propenso a passar por todas as dificuldades que qualquer outra pessoa também está passando.

    Entendo que nada que eu possa fazer vai salvar o planeta como se num passe de mágica.

    Certamente não tenho a menor pretensão de resolver nada. Apenas preciso me afastar um pouco, de vez em quando, quando possível, para a manutenção de minha própria saúde interior.

    Muitas vezes é pra dar uma respirada mesmo, recuperar as energias, reiniciar o sistema, algo do tipo. É muito difícil manter uma rotina imerso nesta dinâmica tão tóxica e continuar saudável.

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    - Nada disso! Não estou tentando fugir! Já disse!

    É claro que não vou resolver os problemas do mundo. Já disse que não consigo interferir no que os outros vão fazer, apenas naquilo que está se passando em minha própria mente.

    E isso por si só já é de uma dificuldade surreal.

    Não! Não é pra fingir que não está acontecendo.

    Eu simplesmente me sinto seguro quando me retiro um pouco.

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    - É, pode ser…

    Bem lembrado!!

    É exatamente como quando era criança.

    Naquele tempo eu meio que me escondia pra me sentir melhor por um tempo sozinho. Uma forma inconsciente para vencer temporariamente o medo que sentia.

    Parece ser uma boa correlação.

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    Do tempo de criança em que eu meio que me escondia pra me sentir melhor por um tempo sozinho…

    Lembro-me agora, meio que de relance, dos meus tempos de criança. Toda vez que me sentia indefeso, inofensivo, incapaz, impotente, tentava me recolher de alguma forma para algum lugar onde ninguém entraria por algum tempo. Aliás, me sentia assim por muitas vezes. Quando mais novo tinha alguns problemas severos quanto à falta de autoestima. Era um moleque um tanto complexado.

    Constantemente me via encurralado desta forma e acabava buscando exílio em locais onde apenas eu frequentava. Debaixo da cama, atrás das portas, entre os sofás da sala, debaixo da mesa, ou em algum outro local que dificilmente algum adulto acessaria. Não consigo me lembrar com exatidão, mas tenho certeza que foram incontáveis escapes em busca de um conforto que talvez não consiga sequer expor a contento.

    Ficava ali encolhidinho e de repente era tomado por uma espécie de arrepio, uma agitação interna que percorria meu corpo todo. Não um arrepio de medo, apesar de estar com medo de alguma forma naqueles momentos. Era mais um arrepio de alívio. Eu estava enfim em segurança e nada podia me ferir ou me prejudicar ali, nem mesmo as palavras. Pelo menos era assim que eu imaginava.

    Os esconderijos eram minha fortaleza. Ali eu era imbatível, intocável, inatingível. Chego quase a sentir aquela sensação de conforto agora, relembrando alguns casos. Depois de alguma das minhas raríssimas brigas com colegas, depois de ser repreendido por alguém mais velho, depois de cometer um erro em alguma coisa, ou mesmo quando me sentia sozinho e indefeso. Sempre recorria aos meus lugares mágicos.

    Ficava em silêncio. Não falava uma palavra. Tentava evitar até mesmo os menores ruídos. Imóvel ali, esperava pela minha recompensa de sempre, aquela sensação de conforto que não poderia explicar mesmo se passasse por um estudo científico da Nasa. Era algo realmente mágico, principalmente sob a ótica de minha tenra idade.

    Algo me dizia, de alguma forma, que naquela situação que eu podia relaxar, que era a hora de experimentar um pouco de paz e quietude. Obviamente não pensava nisso, mas era a certeza de que existe muito mais no universo que estes problemas cotidianos que podemos perceber e visualizar, aqueles que tememos em nosso dia a dia.

    Para um garoto com algo em torno de dez anos os problemas do mundo estavam resumidos a desagradar os pais, tomar um esporro por fazer alguma travessura ou quebrar alguma coisa, ser rejeitado pelos amigos ou ridicularizado na rua, não ter a atenção que se deseja, não ter os desejos de criança atendidos prontamente, medo de que algo de ruim acontecesse e me privasse da companhia de meus parentes, coisas do tipo. No meu caso, nada muito traumático.

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    - Eu sei que isso não é problema.

    Eu sei que as crianças da África sofreram muito mais que eu.

    Não precisa me lembrar, meu pai dizia isso o tempo todo.

    Era minha visão de criança na época. Isso era o que me aterrorizava.

    Eu sei também que outras crianças passaram por problemas muito mais complexos.

    Não sei se isso resolveria o caso Deles, tô considerando a minha situação específica.

    Pra mim funcionava muito bem, mesmo que eu não fizesse ideia do que estava fazendo.

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    Relações entre o ontem e o hoje

    Ali no meu castelo mental eu era feliz, mesmo que por uns míseros momentos. Tudo o que existia eram aqueles pequenos e simplórios momentos. Uma paz sem sentido algum me invadia e eu sentia aquele formigamento pelo corpo que sugeria que eu estava completamente seguro e poderia relaxar e aproveitar.

    O que aliás me parece bem engraçado agora. Consigo perceber algumas fortíssimas semelhanças entre aquela minha estratégia instintiva e o movimento que venho tentando fazer com um pouco mais de constância e lucidez atualmente. Desconsiderando-se o fato de que agora estou um pouco mais consciente sobre o que estou fazendo e sobre os objetivos que almejo, em algum nível este e aquele procedimento estão muito relacionados um com o outro.

    São dois aspectos interessantíssimos que consigo usar como comparativo entre o processo meditativo atual e o de recolhimento instintivo da época em que era criança e não tinha a menor intenção de fazer isto. Em um primeiro momento, há uma imensa relação entre o fato de me camuflar das situações que me traziam algum desconforto, me escondendo debaixo da cama ou atrás da porta, e a estratégica autoproteção que busco promover atualmente ao me retirar de ambientes perigosamente agitados em momentos em que estou começando a sentir que aquilo me prejudica de algum modo.

    Na infância pretendia imaturamente me distanciar de certas situações, normalmente envolvendo os adultos, que me causavam algum desagrado. Minha mente pueril se fartava daquilo tudo e eu automaticamente me isolava onde ninguém me procuraria, o que me deixava brevemente em paz. Quando tinha que voltar ao ambiente anteriormente hostil geralmente nem me recordava mais do problema originador.

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    -Não fazia a menor noção do que estava fazendo.

    Pode esquecer essa coisa de criança iluminada.

    Esses cortejos não

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