Turma da Mônica Jovem - Mudando o jogo
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Sobre este e-book
Mauricio de Sousa
Mauricio de Sousa nasceu em 27 de outubro de 1935, numa família de poetas e contadores de histórias, em Santa Isabel, no interior de São Paulo. Ainda criança, mudou-se para Mogi das Cruzes, onde descobriu sua paixão pelo desenho e começou a criar os primeiros personagens. Com 19 anos, foi para São Paulo tentar trabalhar como ilustrador na Folha da Manhã (hoje Folha de S.Paulo). Conseguiu apenas uma vaga de repórter policial. Em 1959, publicou sua primeira tira diária, com as aventuras do garoto Franjinha e do seu cãozinho Bidu. Em seguida, viriam Cebolinha, Cascão, Mônica, Magali, Piteco, Horácio, Astronauta e tantos outros, e as tiras de Mauricio de Sousa espalharam-se por jornais de todo o país, levando-o a montar um estúdio que hoje dá vida a mais de trezentos personagens. Em 1970, lançou a revista Mônica e, em 1971, recebeu o mais importante prêmio do mundo dos quadrinhos, o troféu Yellow Kid, em Lucca, na Itália. Seguindo o sucesso de Mônica, outros personagens também ganharam suas próprias revistas, que já passaram pelas editoras Abril e Globo e atualmente estão na Panini. Dos quadrinhos, eles foram para o teatro, o cinema, a televisão, a internet, parques temáticos e até para exposições de arte. Pela Girassol, publicou mais de uma centena de livros de fábulas e contos clássicos interpretados pela Turma da Mônica. Desde maio de 2011, Mauricio de Sousa ocupa a cadeira número 24 da Academia Paulista de Letras.
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Turma da Mônica Jovem - Mudando o jogo - Mauricio de Sousa
Torneio de games
Mal toca o sinal na sexta-feira e os alunos da Escola Limoeiro saem apressados pelos corredores da escola. Hora de ir para casa. Afinal, o fim de semana promete: no sábado, é a final do Supertreta Fighters, o maior torneio de games do momento. Por isso, desde cedo, não se fala em outra coisa, estão todos querendo saber quem vai ser o vencedor... com exceção da Mônica e da Magali, que descem as escadas da escola conversando, enquanto Magali mexe no celular para ver que filme está passando no cinema.
– Olha, Mônica! Capitão Pitoco: A Penúltima Batalha... Estou doida pra ver este filme. Vamos? Tem sessão às sete e às nove. Qual você prefere?
– Tanto faz, só vai a gente mesmo! O Cebola e o Cascão não querem saber de cinema. Eles só pensam numa coisa – responde Mônica, um tanto resignada.
Magali arregala os olhos, aflita só de imaginar o que poderia ser.
– O quê? – resolve perguntar.
– Videogame, ué – diz ela, de braços cruzados e com ar de aborrecida.
Enquanto isso, do lado de fora do portão, Cebola e Cascão conversam ao verem o cartaz da propaganda do torneio colado no muro da escola. Desde que se entende por gente, Cebola é alucinado por games e aquela era uma oportunidade imperdível de vencer um torneio que teria a participação da escola inteira.
– Pô, Cascão! Você não vai me deixar na mão nessa, né? A gente sempre foi parceiro em tudo...
– Parceiro, sei... – comenta Cascão lembrando-se das furadas em que já havia entrado por causa do amigo, sobretudo quando era criança.
– Olha a data do cartaz! As inscrições para o torneio terminam hoje! Bora se inscrever, a gente sempre jogou em dupla, vai!
– Em dupla? Ahã – ironiza Cascão. – Você esqueceu como foi a última vez em que a gente jogou juntos? Eu estava de boa, tranquilo, quando você ficou transtornado do nada e partiu pra cima de mim, arrancou o controle da minha mão e disse que eu não sabia jogar. – Cebola faz cara de desentendido. – Portanto, nem pensar! Não vou cair no seu papinho outra vez.
– Ah, Cascão, fala sério! Que exagero! Não foi isso tudo. Você só está pensando em você, imagina como vai ser irado se a gente ganhar! A escola toda vai saber que somos os melhores jogadores de Supertreta Fighters do bairro, já pensou nisso?
Enquanto Cebola fica viajando, Cascão revira os olhos, sem vontade alguma de ceder ao pedido do amigo. Antes que os dois continuem a conversa, Cebola ouve a voz doce da Mônica se aproximando.
– E aí, Cebola? Rola um cinema hoje?
Cebola se vira, mas fica sem reação. Por que isso sempre acontece quando ela fala com ele? Ele não sabe dizer. Só sabe que, de uns tempos para cá, toda vez que Mônica chega, surge um frio na barriga, suas mãos começam a suar, ele se sente um pouco perdido. Mil pensamentos passam pela sua cabeça numa fração de segundo e ele se perde no olhar da menina. É a voz impaciente de Magali que o desperta do transe.
– Cebola? Tá tudo bem?
Cebola chacoalha a cabeça, um pouco sem graça.
– Hããã... Cinema? Hoje não vai rolar. Eu preciso achar alguém para formar uma dupla para o torneio de Supertreta Fighters.
– Taí, Cebolones! Joga com a Mônica – sugere Cascão, só para provocar o amigo.
– De jeito nenhum! A Mônica, não! – recusa ele, desesperado. Só de pensar, Cebola começa a suar frio.
– Ué! Por que comigo não? – questiona ela, em tom desconfiado e franzindo o cenho.
– Ah... Veja bem... É... É complicado... – tenta explicar ele, sem encontrar as palavras. Nem mesmo Cebola sabia dizer ao certo, mas com certeza essa história dos dois jogarem juntos não funcionaria.
– Aaaahhh... Deixa eu ver se entendi: você está me dizendo que seu joguinho é complicado demais pra mim, é isso?! – pergunta ela perdendo a paciência, com as mãos na cintura.
– Nãooo! Não é isso... – responde ele, enrolando. Como eu vou sair dessa agora?, pensa. Não rola jogar com a Mônica. Primeiro, porque ela é inexperiente; segundo, porque vou ficar mais nervoso do que já fico se tiver que jogar do lado dela; terceiro, que...
O fato é que ele não sabia como dizer tudo isso para ela. Toda vez que Cebola se via perto da Mônica, ficava extremamente nervoso. Agora, então...
– Eu quis dizer que... que... o Cascão já topou! É isso! Ele pediu pri-primeiro – gagueja ele, encon-trando uma saída para encerrar logo a conversa e sair de perto da Mônica.
– Oi?! Eu pedi? Eita! Calma aê, Cebola! – exclama Cascão, enquanto é puxado por seu amigo para longe dali.
Os dois viram as costas e vão embora, apressados. Estava na cara que era enrolação do Cebola, Mônica sabia disso. Furiosa, ela desabafa com Magali.
– Ele só pode estar de brincadeira. Então, o Cebola acha que não consigo jogar um gamezinho
de luta?! – questiona, cerrando os punhos.
– Mas você não sabe jogar mesmo, amiga! – responde Magali.
– E como é que você sabe que eu não sei jogar, se nunca joguei?
– Por isso mesmo?... – pergunta Magali, meio desconcertada, enquanto se delicia com uma barri-nha de cereal para não ficar de barriga