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Histórias da política autoritária: integralismos, nacional-sindicalismo, nazismo e fascismos
Histórias da política autoritária: integralismos, nacional-sindicalismo, nazismo e fascismos
Histórias da política autoritária: integralismos, nacional-sindicalismo, nazismo e fascismos
E-book801 páginas10 horas

Histórias da política autoritária: integralismos, nacional-sindicalismo, nazismo e fascismos

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Sobre este e-book

Este livro apresenta estudos feitos por pesquisadores de procedências variadas e se destaca pela diversidade das abordagens sobre política autoritária. Entre diversos outros temas, tenta responder, por exemplo, as seguintes questões: por que na Alemanha e na Itália se impuseram regimes fascistas? Que influência exerceram sobre países da América Latina? A publicação de uma obra que discute e problematiza o autoritarismo como forma política coloca na agenda do nosso tempo algo que nos é familiar e devemos compreender. O ato analítico e compreensivo parece, neste momento, a melhor forma de lidar com os desafios propostos pelas políticas de intolerância. Esperamos, como organizadores e autores, que este livro cumpra a tarefa de acrescentar mais um elemento crítico a esse debate.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento21 de dez. de 2023
ISBN9788539708796
Histórias da política autoritária: integralismos, nacional-sindicalismo, nazismo e fascismos

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    Histórias da política autoritária - Giselda Brito Silva

    capa do livro

    Chanceler

    Dom Jaime Spengler

    Reitor

    Joaquim Clotet

    Vice-Reitor

    Evilázio Teixeira

    CONSELHO EDITORIAL

    Presidente

    Jorge Luis Nicolas Audy

    Diretor da EDIPUCRS

    Gilberto Keller de Andrade

    Editor-Chefe

    Jorge Campos da Costa

    Augusto Buchweitz

    Carlos Gerbase

    Carlos Graeff Teixeira

    Gleny Terezinha Guimarães

    Lauro Kopper Filho

    Leandro Pereira Gonçalves

    Luiz Eduardo Ourique

    Luis Humberto de Mello Villwock

    Vera Wannmacher Pereira

    CONSELHO EDITORIAL DA SÉRIE MUNDO CONTEMPORÂNEO

    Leandro Pereira Gonçanlves (Editor)

    Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil

    Carlos Alberto Sampaio Barbosa

    Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho/Assis, Brasil

    Charles Monteiro

    Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil

    Daniel Aarão Reis Filho

    Universidade Federal Fluminense, Brasil

    Edgard Vidal

    Centre de recherche sur les arts et le langage, Ecole des hautes études en sciences sociales, França

    Ernesto Bohoslavsky

    Universidad Nacional de General Sarmiento, Argentina

    Francisco Carlos Teixeira da Silva

    Universidade Federal do Rio de Janeiro / Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, Brasil

    Luís Alberto Marques Alves

    Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Portugal

    folha de rosto

    © EDIPUCRS 2017

    CAPA Thiara Speth

    EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Edissa Waldow

    REVISÃO DE TEXTO Patrícia Aragão

    REVISÃO DE TEXTO EM ESPANHOL Autor

    REVISÃO DE TEXTO EM FRANCÊS Guillaume Pierre Leturcq

    Imagens fornecidas pelos autores.

    Edição revisada segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

    EDIPUCRS_HORIZONTAL

    EDIPUCRS - Editora Universitária da PUCRS

    Av. Ipiranga, 6681 - Prédio 33

    Caixa Postal 1429 - CEP 90619-900

    Porto Alegre - RS - Brasil

    Fone/fax: (51) 3320 3711

    E-mail: edipucrs@pucrs.br

    Site: www.pucrs.br/edipucrs

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


    H673  Histórias da política autoritária: integralismos, nacional-       

                    sindicalismo, nazismo e fascismos [recurso eletrônico] /  

                    organizadores Giselda Brito Silva, Leandro Pereira  

                    Gonçalves, Maurício Parada. – 2. ed. – Dados eletrônicos. –

                    Porto Alegre : EDIPUCRS, 2016.

                       (Série Mundo Contemporâneo ; 4)

                       Modo de Acesso:  

                      ISBN 978-85-397-0879-6      

                     1. Fascismo. 2. Integralismo. 3. Nazismo. 4. Brasil –

         Política e governo. 5. Portugal – Política e governo. I. Silva,

         Giselda Brito. II. Gonçalves, Leandro Pereira. III. Parada,

         Maurício. IV. Série.

                                                                           CDD 23 ed. 320.533


    Ficha catalográfica elaborada pelo Setor de Tratamento da Informação da BC-PUCRS.

    TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, especialmente por sistemas gráficos, microfílmicos, fotográficos, reprográficos, fonográficos, videográficos. Vedada a memorização e/ou a recuperação total ou parcial, bem como a inclusão de qualquer parte desta obra em qualquer sistema de processamento de dados. Essas proibições aplicam-se também às características gráficas da obra e à sua editoração. A violação dos direitos autorais é punível como crime (art. 184 e parágrafos, do Código Penal), com pena de prisão e multa, conjuntamente com busca e apreensão e indenizações diversas (arts. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais).

    APRESENTAÇÃO

    RENÉ E. GERTZ [ 1 ]

    O convite para reler minha apresentação à primeira edição deste livro mostra o acerto das considerações feitas à época. O fato de estar esgotado indica que o livro teve boa receptividade, certamente pela consistência de seu conteúdo. Assim como não houve alterações na composição dos capítulos, e os autores apenas releram – e eventualmente procederam a alterações pontuais –, também eu vou apenas revisar aquilo que escrevi cerca de seis anos atrás.

    A apresentação de uma coletânea de textos, normalmente, pressupõe uma referência a cada um dos capítulos que a compõe e aos seus autores, na ordem em que aparecem no sumário. Isso não acontecerá aqui, e eu vou proceder de forma muito subjetiva, falando do impacto que determinados textos ou conjuntos de textos deste livro causaram sobre mim.

    Nesse sentido, inicio considerando de suma importância o capítulo que se refere ao massacre dos ciganos sob o nazismo. Não há dúvida de que, tanto do ponto de vista do número de vítimas quanto do ponto de vista das referências nazistas aos supostos maiores inimigos da Alemanha, os judeus ocuparam um lamentável primeiríssimo lugar, muito distanciado em relação a outros grupos. Mas, por outro lado, os historiadores não podem deixar de lembrar as perseguições a outros grupos, como aos inimigos políticos – em especial, social-democratas, democratas, centristas (católicos) –, aos inimigos sexuais (isto é, aos homossexuais), aos inimigos genéticos ou acidentados (a vida que não merecia ser vivida, representada por deficientes físicos e psíquicos), e a outras etnias, como aos ciganos.

    Se na Alemanha do pós-Guerra o assunto foi tematizado com alguma frequência, entre nós esse campo continua pouco explorado. Talvez o texto aqui apresentado leve algum historiador brasileiro a pesquisar sobre os ciganos no Brasil durante o primeiro governo Vargas, já que não é fácil encontrar referências da presença e do modo como eram encarados por aqui, num momento em que se discutia, de forma intensa, sobre a identidade do Brasil e sobre os tipos humanos que eram bem-vindos – ou não – para a constituição de sua população.

    Outro aspecto muito importante é a tentativa de traçar um quadro sinótico dos diferentes regimes de força que vigoraram no mundo do entreguerras. Por que na Alemanha e na Itália se impuseram regimes fascistas? Qual a influência que eles tiveram sobre países da América Latina? Todos esses regimes adotaram as mesmas políticas, interna e externamente? João Fabio Bertonha, anos atrás, tentou responder, na mesma linha de indagação, por que nunca se concretizou uma internacional fascista? Todas essas questões envolvem também uma questão ética. Os historiadores brasileiros conhecem o esforço feito pelo Estado Novo para tentar mostrar que era diferente dos regimes fascista e nazista. Além disso, uma das funções amplamente reconhecidas da Ciência é estabelecer classificações. Mas, ao classificar determinado regime como mais brando – apenas autoritário, e não totalitário, por exemplo –, não se pode estar fazendo sua apologia, ou, ao menos, demonstrando compreensão, que pode descambar para condescendência, com esse regime? Todas essas perguntas justificam a importância das tentativas de traçar quadros sinóticos.

    Na década de 1930, o caráter português, lusitano, da tradição brasileira recebeu destaque todo especial, não só de parte de funcionários estatais, mas também de intelectuais – basta citar o fato de que Gilberto Freyre publicou, em 1940, um livro intitulado O mundo que o português criou, e, em 1942, outro chamado Uma cultura ameaçada: a luso-brasileira. Sabemos também que a denominação Estado Novo para o regime implantado no Brasil em 1937 foi buscada no modelo salazarista, e que o chefe da Ação Integralista Brasileira, Plínio Salgado, ao ser obrigado a exilar-se, no final dos anos 1930, escolheu, por suposta afinidade, Portugal como destino. Por tudo isso, não pode haver qualquer dúvida de que é importante estudar a situação portuguesa do período, e a política efetiva lá desenvolvida. Os textos aqui publicados sugerem que há similitudes com a situação brasileira. Uma delas envolve a controvérsia ou a questão ética referida – Getúlio Vargas justificou a implantação do Estado Novo como medida necessária para evitar um mal maior: a tomada do poder por grupos radicais (não só de esquerda). Em Portugal, a ascensão de Salazar pode ser interpretada na mesma direção? Há diferenças significativas entre as duas situações?

    Pessoalmente, sempre tive grande interesse pela presença do nazismo no Brasil. E esse tema está contemplado aqui com três textos diferentes. E em todos eles, encontrei novidades, apesar de conhecer relativamente bem o assunto. Quem pensa nessa questão, imediatamente, volta sua atenção para as regiões de colonização alemã do sul do país. Mas o nazismo esteve presente em praticamente todo o Brasil. Há uma discussão historiográfica em torno da pergunta se a atividade nazista por aqui obedecia a um plano ou se era algo praticado a esmo por militantes eventualmente destemperados, sem rumo ou programa. Independentemente da resposta, não há dúvida de que a situação era muito diferente em uma cidade típica de colonização alemã de Santa Catarina, por exemplo, e numa cidade nordestina, com presença de poucos alemães ou descendentes. E tanto a análise da distribuição geográfica geral da existência de militantes nazistas quanto o estudo de caso num estado nordestino constituem contribuições importantes para a compreensão dessa realidade.

    Apesar de não me considerar refutado, não há dúvida de que os estudos sobre as relações entre o triângulo constituído por germanismo, nazismo e integralismo ficaram enriquecidos com a constatação de que, em alguns lugares, as relações entre os três grupos eram diferentes, e mais próximas, do que meus estudos publicados no livro O fascismo no sul do Brasil sugerem. Eu havia diagnosticado, por um lado, que germanismo e nazismo não podem ser considerados a mesma coisa, pois houve frequentes casos de conflitos profundos entre tradicionais líderes germanistas – que faziam a defesa da preservação da cultura e da identidade alemãs – e os membros do partido, em geral vindos mais recentemente para o Brasil. Por outro lado, germanistas e nazistas discordavam, por definição, dos posicionamentos nacionalistas e assimilacionistas manifestados pelos integralistas. Essas diferenças decorriam dos princípios doutrinários publicamente defendidos por cada um desses grupos. O cotidiano da convivência concreta, porém, poderia apresentar-se diferente, como mostra um estudo de caso, do interior do Rio Grande do Sul.

    Uma questão ético-historiográfica algo complicada se enfrenta quando se comparam os regimes militares sul-americanos das décadas de 1960/1970. É defensável dizer que o regime militar brasileiro foi mais brando que o argentino ou o chileno? A polêmica que eclodiu no início de 2009 a partir de um editorial do jornal Folha de São Paulo, que classificou a situação brasileira como a de uma ditabranda, ilustra o dilema. Apesar disso, um estudo sobre o nacionalismo de direita argentino inserido neste livro sugere que ele apresenta algumas características diferentes do brasileiro. Assim, por exemplo, ainda que o antissemitismo não estivesse totalmente ausente no caso brasileiro, há indícios de que ele foi bem mais acentuado na Argentina.

    Tema presente nas notícias diárias da imprensa internacional de nossos dias são as formas atuais de movimentos que retomam ideários e práticas dos regimes de força das décadas de 1930/1940, os neofascismos. Também esse assunto enfrenta questões de procedimento, de ética – será a intensa divulgação de sua existência, através da imprensa, uma estratégia adequada para seu combate, ou essa divulgação, pelo contrário, dá publicidade a movimentos que (por enquanto) são numericamente restritos? Mesmo que as respostas a essa pergunta sejam controversas, por natureza, não pode haver dúvida entre os homens de bem que é necessário buscar informações consistentes sobre esses movimentos, isto é, devem ser estudados em profundidade. Daí a correção de incluí-los neste livro.

    Por fim, o saldo mais trágico desses movimentos e dessas formas de pensar e de agir foi a Segunda Guerra Mundial, com seus muitos milhões de mortos. Só por isso, nunca será demais dar voz àqueles que dela participaram, para manter viva a memória das dores e dos horrores que ela causou.

    Essas rápidas referências a alguns temas aqui abordados dão uma ideia da riqueza e da importância do livro que o leitor tem em suas mãos.

    Notas


    [ 1 ] Professor Titular do PPG/História da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e professor associado (aposentado) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Doutor em Ciência Política pela Freie Universität Berlin.

    PREFÁCIO

    JOÃO FABIO BERTONHA [ 1 ]

    Em julho de 2007, estava prevista a minha participação no Encontro Nacional de História realizado em São Leopoldo, Rio Grande do Sul. No dia anterior ao meu embarque para o Sul, contudo, o terrível acidente aéreo da TAM, que custou tantas vidas, também teve o efeito de deixar o sistema aéreo nacional em uma situação de caos. Sem ânimo para enfrentar os inevitáveis transtornos, optei por não ir ao Rio Grande, o que muito me entristeceu, já que perdi a oportunidade de participar dos trabalhos do grupo de pesquisadores do integralismo, assim como de rever os colegas e amigos.

    É, assim, uma tarefa ao mesmo tempo triste e prazerosa que está diante de mim. Triste porque, ao ler os trabalhos oriundos daquele encontro, consigo perceber como devem ter sido ricas as discussões e os debates dos quais, infelizmente, nao pude participar. Mas prazerosa, porque, ao menos, tenho a oportunidade de acompanhar, ainda que a posteriori, um pouco do que foi feito naqueles dias.

    O sentimento positivo, contudo, supera amplamente o negativo. Afinal, podemos ver o resultado de um trabalho coletivo de 12 historiadores dedicados ao tema e que, a partir dos mais diversos prismas teóricos e perspectivas, se esforçam para ampliar o nosso entendimento a respeito do movimento dos camisas-verdes.

    Dentre estes trabalhos, alguns abordam aspectos quase clássicos, como a relação do catolicismo com a formação do pensamento integralista ou os trabalhos literários publicados por Plínio Salgado. O viés regional, sempre presente na historiografia do Integralismo, também continua presente, porém, curiosamente, vemos aqui capítulos não apenas sobre o Ceará e o Espírito Santo, mas também sobre São Paulo e Rio de Janeiro.

    Isso parece indicar um novo momento, em que novos artigos e livros continuarão a ser escritos a respeito dos Estados sobre os quais a historiografia já dispõe de razoável quantidade de informação (como os do sul, Pernambuco, Ceará e Espírito Santo), mas suplementados por outros, sobre Estados-chave e a respeito dos quais pouco se conhece em termos de atividade integralista. Os casos mineiro e paulista são, nesse contexto, os mais óbvios, mas temos ainda outras imensas lacunas, especialmente no tocante ao Centro Oeste e à região amazônica, a serem preenchidas.

    Outra questão interessante que parece estar começando a receber um melhor tratamento é o problema dos arquivos e de como gerenciar a informação neles constante para escrever a história do movimento integralista. Todos os historiadores de formação são treinados para lidar com os problemas tradicionais de gerenciamento de informação, como quem reuniu os documentos, para que e com qual intenção, e qualquer trabalho de historiador tem que lidar com esses problemas, seja com qual tema se esteja trabalhando.

    No caso do Integralismo, contudo, a questão tem um caráter político tão acentuado que tais cuidados metodológicos merecem ainda mais consideração. Uma pesquisa sobre um tema específico dentro do arquivo pessoal de Plínio Salgado, por exemplo, pode conduzir a resultados distorcidos se não for suplementada por pesquisa em outras fontes e documentos. Ele reuniu a sua documentação com um fim muito específico, ou seja, o de construir a sua memória para a posteridade, e isso nos obriga a utilizar seus papéis com imensa cautela.

    O mesmo pode ser dito de órgãos governamentais. As Delegacias de Ordem Política e Social, por exemplo, estavam sob a autoridade dos Estados, e não espanta, portanto, que a vigilância delas sobre os integralistas refletissem, muitas vezes, a relação do movimento com cada governador ou interventor no poder naquele momento. Assim, algumas delegacias de alguns Estados mantinham apenas uma vigilância esporádica sobre os integralistas entre 1932 e 1937, enquanto outras estavam muito mais atentas já nesse período.

    Os órgãos federais, igualmente, refletem, nos seus fundos, os vaivéns das relações entre o governo federal e o Integralismo ou mesmo entre os vários grupos e instituições do governo federal com a AIB. Devemos, pois, redobrar os cuidados metodológicos para evitar generalizações e outros riscos sempre à espreita do historiador, mas que, no caso dos que se dedicam ao integralismo, parecem ser ainda maiores.

    O que mais chama a minha atenção neste conjunto de capítulos, contudo, é a crescente expansão temporal do Integralismo. Anos atrás, conhecíamos apenas o período entre 1932 e 1938, como se o movimento não tivesse uma história posterior nem antecedentes. Um pouco depois, os estudos se expandiram para abordar os anos 50 e 60, incluindo o Partido de Representação Popular e a participação integralista no golpe e no regime de 1964. Muito resta ainda a ser estudado sobre esse período, e vários capítulos deste livro o indicam. Não obstante, já começamos a ter um quadro mais claro do período que vai da formação do PRP à morte de Plínio Salgado.

    A presente edição indica, porém, como outras lacunas estão sendo preenchidas e novas dilatações temporais estão na hora do dia. Não é por acaso, nesse sentido, que vários trabalhos estão estudando os novos integralistas, ou seja, aqueles em atuação nos dias de hoje, e suas conexões com o passado. Numa época em que se valoriza a história do tempo presente e em que as evidências de ressurgimento do integralismo, ainda que embrionárias, se acumulam, não espanta a mudança de rota dos historiadores.

    Nada me parece mais curioso, contudo, do que a recente ênfase no período do Estado Novo. Ao contrário do que antes se imaginava, ou seja, que o movimento e seus seguidores tinham sido completamente calados ou cooptados pela ditadura, ressurgindo apenas depois da queda de Vargas, o que percebemos é um contexto muito mais dinâmico. Assim, acompanhamos, neste livro, não apenas a tentativa de reciclagem política e ideológica de Plínio Salgado em Portugal como as atividades de remanescentes integralistas no Brasil, incluindo casos como o da barbearia capixaba, que se aproximam da micro-história. Uma dilatação da nossa perspectiva temporal do movimento continua a se renovar e progredir.

    Notas


    [ 1 ] Professor na Universidade Estadual de Maringá/PR e pesquisador do CNPq. Doutor em História pela Universidade Estadual de Campinas.

    PARTE I

    NAZISMO, FASCISMO, NACIONAL-

    -SINDICALISMO, SALAZARISMO

    E INTEGRALISMO LUSITANO

    1

    NAZISMO DO OIAPOQUE AO CHUÍ:

    A DISTRIBUIÇÃO DOS GRUPOS NAZISTAS

    NO BRASIL DOS ANOS 30 [ 1 ]

    ANA MARIA DIETRICH [ 2 ]

    Eles preservaram fora do país a sua raça pura e evitaram se miscigenar com a população local. [ 3 ]

    Nas décadas de 1930 e 1940, podia-se encontrar a presença do partido nazista em 17 estados do Brasil. Uma presença expressiva em termos numéricos: este grupo foi o maior contingente do movimento nazismo no exterior com 2.900 integrantes. É nosso objetivo identificar como este grupo encontrava-se distribuído entre os estados brasileiros, verificando semelhanças e diferenças quanto à estrutura do partido, forma de divulgação de ideias, apoio dos governantes locais e intercâmbio com sua matriz alemã.

    A historiografia brasileira concentrou-se até hoje em estudos relativos à colônia alemã no Sul do Brasil (GERTZ, 1987; BREPOHL, 1998), e isso se explica, em parte, pela expressiva imigração alemã para tais estados no século XIX. As levas mais recentes de alemães que chegaram ao Brasil no século XX durante o Entreguerras europeu e no caso alemão, no contexto de crise econômica e política da República de Weimar, foram menos estudadas. Tais grupos de imigrantes diferenciavam-se dos primeiros que vinham para trabalhar nas fazendas em plantios de gêneros agrícolas variados. Os imigrantes alemães que se estabeleceram nas metrópoles incipientes no Brasil como Rio de Janeiro e São Paulo nos anos 20 e 30 do século XX, atendiam, principalmente, à demanda por mão de obra técnica e especializada proveniente da recém-acontecida Revolução Industrial brasileira. Esses grupos seriam os que – potencialmente – iriam se engajar nos ideais nazistas em voga no seu país de origem e divulgá-los no Brasil. Alguns se tornariam nazistas e carteirinha, ou seja, integrantes oficiais do partido, e são estes que aqui nos interessam (DIETRICH, 2007b).

    A presença numérica desses partidários do nazismo nas grandes cidades brasileiras das regiões Sul e Sudeste é um reflexo da expressividade e importância política dentro da comunidade alemã estabelecida nesses locais. Nossa pesquisa mostra que esses alemães tiveram representantes ligados ao governo do III Reich e estabeleceram critérios organizacionais semelhantes ao partido nazista da Alemanha, com grupos maiores que se ramificavam em regionais e locais, pontos de apoio e células. Quanto à divulgação de ideias, comemoravam datas festivas do III Reich, organizavam-se em clubes, escolas e publicavam jornais em língua alemã.

    Os estados do Sudeste contabilizavam o maior número de partidários e alemães de nascimento, seguidos pelos estados do Sul, que apesar de possuírem a maior colônia de descendentes, perdia em número de germânicos possuidores da cidadania, condição que poderia ser observada principalmente nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo e influenciou diretamente o número de partidários.

    Mas seria mentira dizer que o movimento nazista no Brasil se restringiu apenas a essas duas regiões. Os registros documentais mostram que grupos se espalharam Brasil adentro com representantes – ainda que em menor escala, e em ordem decrescente – no Nordeste, Centro-Oeste e Norte. No Nordeste, o maior grupo era de Pernambuco (43), seguido pelo da Bahia (39). No Norte, destacou-se o partido no Pará (27). No Centro-Oeste, Mato Grosso e Goiás, tinham representatividade de nazistas, com 31 e 23 partidários, respectivamente. Ao todo, somavam-se 109 partidários na região Nordeste, 54 na região Centro-Oeste e 31 no Norte. Um número pequeno comparado com os principais núcleos (Sudeste, 1339 partidários, e Sul, 1152), porém, pelos documentos observados, pode-se notar que a sua presença interferiu no cotidiano das comunidades alemãs locais, desenvolvendo atividades partidárias em clubes, firmas e jornais (Tabela 1).

    Tabela 1 – Número de Filiados/alemães por região do Brasil (1930/ 1940).

    Ao analisar os números dos grupos partidários do Brasil, uma de nossas primeiras conclusões é que eles são proporcionais aos de alemães/descendentes em cada estado (Tabela 2). Os estados com maior expressividade de imigrantes alemães eram os que tinham o maior grupo de nazistas, sendo o contrário também verdadeiro. Tais grupos tinham um perfil sectário não desejando se envolver com a sociedade brasileira como um todo e com a política local, daí a estreiteza da relação entre imigração e partido. A divulgação das ideias e a participação nas atividades e associações estavam restritas a um público bastante específico: os alemães e seus descendentes. Raros são os registros de brasileiros que se tornaram integrantes do partido nazista.

    Esses números não incluíram a parcela flutuante de partidários, ou seja, os alemães que não faziam parte dos quadros do partido do grupo do Brasil, mas que faziam viagens e expedições às terras brasileiras com fins etnográficos e de observação. Por exemplo, apesar de o grupo de partidários ser pequeno no Norte do País, houve uma expedição nazista liderada pelo geólogo e piloto alemão Otto Schulz-Kampfhenkel, que durou de 1935 a 1937, para fazer um reconhecimento da fauna e da flora da Amazônia.

    Tabela 2 – Número de filiados/número de alemães no Brasil [ 4 ] (1930/1940).

    Fonte: MORAES, 1996.

    Ao traçar a história do partido nazista no Brasil em seus múltiplos núcleos regionais, privilegiamos algumas questões. A primeira é a dimensão do Brasil aliada às diferenças regionais. Instalar um partido no Pará, próximo à selva Amazônica, no litoral de Recife e entre as colônias agrícolas alemãs do interior de Santa Catarina guarda diferenças monumentais, tanto de clima, como de costumes, de hábitos, de conjuntura política e de economia local. A história do partido foi marcada por tais peculiaridades que aqui serão interpretadas como as múltiplas formas de tropicalizações do nazismo. [ 6 ]

    Tais diferenças foram analisadas sob a perspectiva dos próprios partidários ou representantes do povo alemão, uma vez que os documentos aqui analisados foram produzidos por eles. Pretendeu-se, assim, recuperar a visão e vivência desses alemães a respeito do território brasileiro, desnudando o olhar sobre o país tropical – considerado ora como um País de Hospedagem (Gastland), ora como uma colônia da Alemanha, tendo como ponto principal de comparação a Pátria Mãe (Heimat). São ressaltados aspectos como o estabelecimento das colônias em meio à selva e a resistência nativista [ 7 ] ao Deutschtum (espírito de ser alemão).

    As lideranças partidárias e os membros dos consulados e da embaixada preocupavam-se em mostrar ao Reich o desvendamento dessa realidade para eles tão obtusa e estranha, fornecendo inúmeros detalhes sobre as regiões – o tipo de agricultura, dados sobre a economia, movimentos políticos e modus vivendi de seus habitantes. O intuito mostra-se claro: quanto maior fosse o conhecimento dessas realidades singulares ao olhar europeu alemão, tanto mais fácil seria para o governo do Reich fortalecer suas instituições em solo estrangeiro, principalmente o partido nazista.

    A Alemanha, nesse momento, voltaria seus olhos para o desenvolvimento do nazismo tropical nessas áreas caracterizadas como colônias e terras nativas. De norte a sul, o interior do Brasil foi descrito como uma grande selva, e os alemães, corajosos aventureiros. Segundo a propaganda difundida aos alemães no exterior, o nacional-socialismo – por meio de seus representantes – procuraria alcançar cada colono alemão, mesmo aquele que morasse na mais distante picada de mato. Esta é a primeira grande semelhança entre os grupos do partido nazista espalhados pelo Brasil: seja no meio da floresta amazônica ou nos pampas gaúchos, eles estavam instalados – ao olhar desses alemães – em meio a um país tropical.

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    Figura 1 – A imagem da selva tropical: colonos alemães fazem cabana com folhas de palmeira em lugar não identificado.

    Fonte: Revista Der Auslandsdeutsche. Stuttgart, Jahrgang 21, fevereiro de 1938, Heft 2. IFA/S, Alemanha.

    A imagem deste país tropical perpassou os relatórios de viagem produzidos por diplomatas, partidários e funcionários do III Reich. Nas fotos que circulavam na Alemanha e dentre a colônia alemã no Brasil eram recorrentes as imagens de palmeiras, matas, cabanas, enfim, a imagem de um país pobre, rural e tropical. Desejava-se retratar, principalmente, a precariedade dos alemães estabelecidos no Brasil, o lado exótico da fauna e flora, a população local e a queima da mata. Das cidades brasileiras, a escolhida como cartão-postal era o Rio de Janeiro. Associações como a Jugend-Gemeinschafts-Siedlung Heimat (Fundação Jovem de Colonização da Pátria) procuravam divulgar a ideia, por intermédio da propaganda, que elas iriam auxiliar o imigrante a desbravar esta selvagem floresta brasileira. [ 8 ] Transmitiu-se, então, uma imagem bastante negativa do Brasil associada à ideia de barbárie, mas que não impediu a emigração de 238 mil alemães para o Brasil, de 1884 a 1933. [ 9 ]

    Várias foram as viagens dos dirigíveis alemães ao Brasil com o intuito de conhecimento e reconhecimento do território. Em outubro de 1935, por exemplo, o então prefeito de Frankfurt am Main (Alemanha), Friederich Kreps, voou para o Brasil a bordo de um dirigível. Deseja-se conhecer melhor não só o Brasil, mas a América do Sul. Para tal aventura, o prefeito teria levado – a bordo – 50 garrafas do mais puro vinho. O dirigível portava a bandeira do Reich. Após a viagem, Krebs enviou cartas de agradecimento à hospitalidade dos brasileiros e alemães que encontrou. [ 10 ]

    O Brasil nos anos 1930 era predominantemente rural: dos 30 milhões de residentes, 75% moravam no campo, portanto, muitos grupos locais e pontos de apoio do partido foram estabelecidos em colônias rurais. Tais imigrantes alemães que se adentraram no interior do Brasil rural tiveram que construir, de maneira precária, as próprias residências e plantar seu alimento, o sustento de suas famílias. Este pioneirismo era constantemente ressaltado nos relatórios como um aspecto positivo, mas ao mesmo tempo associado à ideia de perigo dessa condição de desbravadores. Isto era uma grande preocupação para a Alemanha.

    Como o maior grupo de partidários fora da Alemanha, a expressividade do partido nazista no Brasil não passou desapercebida pelas autoridades nacional-socialistas. O enviado da Alemanha Schmidt-Elskop, por exemplo, descreveu a situação da seguinte maneira: Em nenhum lugar nas terras do além-mar vivem alemães e descendentes em tal número em colônias fechadas como no Sul do Brasil. [ 11 ] A propaganda nacional-socialista reforçava a ideia de que os alemães residentes no exterior deveriam oferecer uma espécie de sacrifício à Pátria Mãe para que acontecesse, também no estrangeiro, algo similar ao processo que a Alemanha tinha passado. Segundo tal propaganda, teria havido um despertar da primavera, no qual a Alemanha, pela ascensão do nacional-socialismo, superou uma profunda crise econômica e política e renasceu da noite escura.

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    Figura 2 – Colônia de alemães de Ijuí e Nova Württemberg (RS) em festividade pela ascensão do nazismo em 1933: os costumes locais afetaram a divulgação da ideologia nazista no Brasil.

    Fonte: StB/B, Alemanha.

    A maioria desses alemães se mantinha fiel à terra de seus antepassados, mesmo vivendo em vilas em meio à mata, distantes dias a cavalo ou a carro. Aqueles que já estavam no Brasil há cinco ou seis gerações haviam germanizado a língua portuguesa ou abrasileirado a alemã. Por exemplo, palavras como Schacker (chácara) e Kabocler (caboclo) não existiam na língua alemã e eram adaptações criadas pelos imigrantes e descendentes estabelecidos no Brasil. Ao contrário do pensamento vigente na época, que acreditava que os alemães viviam em guetos fechados étnica e socialmente, houve um processo de interação com a sociedade brasileira em diferentes escalas.

    Isso fez com que mesmo a língua, considerada um dos elementos de manutenção da cultura alemã, se transformasse em contato com a sociedade brasileira e se tornasse não apenas uma língua germânica, mas uma língua alemã falada no Brasil com seus abrasileiramentos, sotaques e dialetos. Estes abrasileiramentos da língua alemã não iriam satisfazer à Política de Nacionalização do governo de Getúlio Vargas. Tal política, principalmente após 1939, atingiu as áreas coloniais. As consequências foram muitas. Desejava-se que o português fosse a única língua nacional que conseguiria expressar o sentimento de brasilidade. No ensino, houve a substituição de professores estrangeiros pelos nacionais, na imprensa, jornais étnicos foram censurados ou fechados e, no cotidiano em geral, proibiu-se falar idiomas estrangeiros em público. Jovens descendentes de estrangeiros foram recrutados para o Exército e foram criados entraves às organizações comunitárias culturais. Com a entrada do Brasil na Guerra, em 1942, os ânimos contra as comunidades de alemães, italianos e japoneses se exaltariam ainda mais (DIETRICH, 2007b).

    Mesmo que muitas ideias e hábitos de germanidade tivessem sido preservados ao longo de gerações, havia grande resistência ao nazismo da parte dos descendentes de alemães. Alguns se diziam nacionalistas e, ao mesmo tempo, leais ao governo brasileiro. Além disso, se recusavam a seguir a liderança dos alemães integrantes do partido, a partir do seguinte pressuposto: Nós nada temos contra o nazismo, apesar de não querermos que nossos jovens sejam guiados por estranhos. Queremos nós mesmos os guiar e realizar nossas festas. [ 12 ]

    Haveria, portanto, certa dificuldade para os colonos – que até então haviam vivido sob um regime liberal – incorporarem os valores da nova Alemanha, como o país passou a ser chamado na época do III Reich. Essa foi a opinião de Elskop, o enviado alemão ao Brasil, que afirmou também que os alemães e descendentes estabelecidos no Brasil desenvolveram um novo sentimento no lugar do tradicional Deutschtum, que seria o Deutsch-Brasilianertum (germanismo brasileiro ou abrasileirado). Sua característica, além da estranheza aos integrantes do partido, seria a reivindicação para participar da política local. Os adeptos do germanismo brasileiro queriam eleger governantes que protegessem seus interesses. Isso viria contra a política da não interferência na política local, umas das premissas instituídas pelo partido nazista. [ 13 ]

    Para a resistência dos teuto-brasileiros se transformar em conflito aberto não demoraria muito. Ao observar tal tensão no ar, as autoridades alemãs tanto no Brasil quanto na Alemanha se preocuparam em encontrar soluções viáveis. Uma delas foi confiar na competência e no espírito de conciliação de Hans Henning von Cossel, o chefe do partido nazista no Brasil, que empreendeu inúmeras viagens para estabelecer diálogo com colônias alemãs espalhadas pelo Brasil. A outra solução – que partiu das autoridades do nazismo exterior da Alemanha – foi criar uma associação exclusiva para os teuto-brasileiros, que pretendia formar personalidades da colônia alemã que se destacassem no contexto político brasileiro, como foi o caso dos irmãos Konder. [ 14 ]

    Especificamente na região Sul, houve grandes conflitos na década de 1930 na ocasião da chegada de representantes da matriz alemã do partido. Muitos dos alemães que moravam nesses estados já estavam na 2ª e a 3ª geração no Brasil e, por isso, eram chamados de Volksdeutsche (alemães do povo). Os que chegaram décadas depois teriam uma nomenclatura para os diferenciar dos demais, seriam os Reichsdeutsche (alemães de sangue). Os Volksdeutsche, há tempos instalados no chamado País de hospedagem, não aceitavam a liderança dos alemães natos recém-chegados, muitos deles vistos como radicais ou sectários na maneira como divulgavam as ideias do III Reich. Os Reichsdeutsche – em sua maioria jovens partidários – se sentiam intimamente superiores pela questão da cidadania e por se sentirem incumbidos pelo Führer da missão de desenvolver o partido em terras distantes.

    Outro problema iria preocupar as autoridades ligadas ao movimento nazista no exterior. O fato que os Volksdeutsche não poderem entrar no partido nazista fez com que optassem por aderir a um movimento político brasileiro, mas com elementos simbólicos de inspiração fascista, o integralismo. Este problema aconteceu principalmente no estado de Santa Catarina onde o integralismo se fez muito expressivo na década de 30 elegendo prefeitos e outros cargos políticos. Esta adesão ao partido integralista causou desconforto à matriz do partido na Alemanha e foi foco da correspondência diplomática do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha.

    Quanto à política local, nos estados do Sul, houve diferenças na recepção e no acolhimento dos grupos locais do partido nazista pelas autoridades brasileiras. Em Santa Catarina, houve uma oposição marcante dos interventores Aristiliano Ramos (1933-1935) e seu primo Nereu Ramos (1935-1945), este último responsável por uma série de nacionalizações em escolas e associações alemãs. [ 15 ] Enquanto isso, os interventores do Paraná, Manoel Ribas, e do Rio Grande do Sul, Flores da Cunha, apoiaram a difusão do chamado germanismo e as manifestações pró-nazistas.

    Outro foco de conflito eram as ingerências entre as organizações alemãs estabelecidas no Brasil. No Paraná, entraram em choque os interesses do partido nazista, da Frente de Trabalho Alemã – DAF – e do Centro Agrícola na colônia Cruz Machado, localizada próxima a Curitiba (PR). Todos teriam, em tese, papéis semelhantes: proteger e preservar os interesses dos alemães e teuto-brasileiros. Após algumas negociações, ficou estabelecido que o partido nazista, juntamente à DAF, se responsabilizaria por questões políticas, enquanto o Centro Agrícola cuidaria dos interesses econômicos e culturais.

    Tais divisões não solucionaram os problemas de divisão de tarefas. Sempre que possível, o partido nazista reivindicava poder atuar no campo cultural, do que o Centro Agrícola discordava. O centro argumentava que não seria possível que o partido cuidasse dessas questões, uma vez que os colonos se sentiriam melhor em uma organização brasileira. Mas, mesmo assim, o centro admitiu que houvesse uma tentativa de trabalho em conjunto com o partido, tolerando a presença de um partidário na direção do centro. Os colonos – em carta aberta à liderança do círculo local do partido – reclamavam da presença e interferência do partido: Nós somos gente da terra, que duramente ganha seu pão e existência [...] temos todos a dura batalha pela preservação da raça e da língua. Além da política, nós precisamos trabalhar aqui. [ 16 ]

    Na região sudeste, São Paulo foi o maior grupo nacional do partido, fato que pode ser explicado pela grande colônia de alemães de nascimento. Pode ser considerado também o grupo de maior importância devido à presença da sede nacional do partido [ 17 ] e do seu chefe máximo Hans Henning von Cossel, da publicação do Deutscher Morgen, órgão oficial do partido, e da expressidade das organizações nazistas, desenvolvidas em diversas células e instituições. [ 18 ]

    A imigração para São Paulo, estado considerado – já na década de 1930 – como importante polo econômico e industrial, atraiu mão de obra técnica qualificada estrangeira. Muitos alemães, desiludidos com a crise que se instaurava na Alemanha com o fim da I Guerra Mundial e o estabelecimento da República de Weimar, emigraram para outros países, inclusive para o Brasil. Mais tarde, com a ascensão ao nacional-socialismo, este grupo de alemães recém-imigrados se juntou em torno dos ideais nazistas, constituindo o partido em território paulista. Isso se deu até mesmo antes de Adolf Hitler se tornar chanceler alemão. [ 19 ]

    Outro polo importante do partido foi o Rio de Janeiro. Sua importância se explica não só pelo expressivo grupo do partido que lá se desenvolveu (apenas atrás numericamente de São Paulo e Santa Catarina), mas também por ser a capital federal, centro irradiador da política nacional e sediar a Embaixada Alemã. As festas nazistas, a organização de células do partido em bairros cariocas, a difusão de ideias antissemitas nos periódicos de linha nacional-socialista – tudo isso aconteceu – sem repressão ou controle das autoridades nacionais pelo menos até 1938 – na capital brasileira da época.

    No Norte, Manaus se destaca pela presença da colônia alemã Tomé Guaçu, apesar de poucos deles terem aderido ao partido. Na região amazônica, houve também, em 1936, uma expedição de cientistas nazistas que queriam – segundo a documentação oficial – pesquisar a flora e a fauna local. Não há explicações mais detalhadas do porquê de tal interesse, nem mesmo a razão que o governo brasileiro os deixou passar anos se aventurando pela foz do Rio Jarí (PA).

    DSC09154 - alemaes navegando

    Figura 3 – O número por estado não previa o contingente flutuante do partido: na foto, expedição nazista (1935-37) pela região amazônica. Preparo de embarque no rio Jarí, Pará.

    Fonte: Schulz-Kampfhenkel, 1954, p. 32.

    No Nordeste, os estados da Bahia e de Pernambuco tinham os maiores grupos de nazistas. Ao analisar registros de seu cotidiano, podem ser percebidos traços de tropicalização deste nazismo. Como exemplo elucidativo do amalgamento dessas práticas, observa-se que os grupos de imigrantes alemães comemoravam assiduamente datas do calendário nazista como o aniversário de Hitler em abril e o 1º de maio – grande festa do trabalhador alemão, mas também acabaram por incorporar em seus hábitos, a prática de comemorar eventos tipicamente locais como as festas juninas. Há registros que, ao comemorar a tão tradicional Festa de São João, eles fizeram fogueiras e cozinharam canjica.

    Na região Centro-Oeste, temos a presença do partido nazista apenas nos estados de Goiás e Mato Grosso. A grande maioria destes germânicos se concentrava na colônia Uvá, no norte do estado de Goiás. Tal colônia foi fundada com incentivo do governo local, em 1924, especialmente para colonizar essa parte do Brasil. Esta região era a menos desenvolvida do estado, com grande instabilidade social e presença do banditismo dos jagunços. Nessa época, a população de Goiás era de um pouco mais de 500 mil habitantes.

    Sobre o partido nazista no Mato Grosso, não encontramos muitos registros a não ser anúncios publicados no jornal Deutscher Morgen estimulando os imigrantes alemães a irem para colônia Tannenberg, pela Cia. de Viação São Paulo – Mato Grosso. Segundo o anúncio, havia nessa colônia solo frutífero para todas as culturas: farinha, arroz, batata e plantas de fibra. Outra vantagem seria a abundância de madeira. [ 20 ]

    Ao observar este quadro sobre o partido nazista no Brasil, podemos dizer que, embora distintos entre si, quer em termos quantitativos, quer pelos diferentes níveis de complexidade das organizações partidárias, é incontestável a presença de grupos nos anos 30 do século XX em todas as regiões do Brasil. Em algumas regiões, caso do Sul e Sudeste, tais grupos foram bastante expressivos. No Nordeste, foram de médio porte e nas regiões Norte e Centro-Oeste, pequenos. Como foi aqui explorado, há uma relação direta entre a imigração alemã e a presença de grupos nazistas. Como partido sectário, apenas voltado para os cidadãos daquele país, os grupos nazistas foram criados nos lugares que haviam recebido imigrantes alemães. Na cidade ou no campo, estabeleceram-se células do partido que tinham intercâmbio direto com a matriz alemã do movimento nazista no exterior e serviam para sustentar e divulgar o ideário do regime nazista no Brasil. Isso não impediu, no entanto, que tais grupos sofressem uma espécie de anuançamento das relações e das ordens recebidas por essa matriz, o que viemos a chamar de tropicalização do nazismo.

    REFERÊNCIAS

    BREPOHL, Marionilde Dias. Pangermanismo e nazismo: a trajetória alemã rumo ao Brasil. Campinas, 1998.

    DIETRICH, Ana Maria. Nazismo tropical? O Partido Nazista no Brasil. 2007. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo/FFLCH, São Paulo, 2007a.

    ______. Caça às suásticas: o partido nazista em São Paulo sob a mira da polícia política. São Paulo: Humanitas; Imprensa Oficial; FAPESP, 2007b.

    GERTZ, René, O fascismo no sul do Brasil: germanismo, nazismo, integralismo. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1987.

    MORAES, Luís Edmundo de Souza Moraes. Ein Volk, Ein Reich, Ein Führer! A seção brasileira do Partido Nazista e a questão nacional. 1996. Dissertação (Mestrado) –Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1996.

    ______. Konflikt und Anerkennung: Die Ortsgruppen der NSDAP in Blumenau und in Rio de Janeiro. Berlim: Zentrum für Antisemitismusforschung. Tecnische Universität zu Berlin – Tese de Doutorado, 2001.

    SCHULZ-KAMPFHENKEL. Rätsel der Urwaldhölle. West-Berlin: Ullstein AG, 1954.

    Notas


    [ 1 ] Adaptação do capítulo 3 da tese de doutorado Nazismo Tropical? O Partido Nazista no Brasil (São Paulo: Universidade de São Paulo/FFLCH, 2007).

    [ 2 ] Professora adjunta da Universidade Federal do ABC. Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo com estágio de pesquisa na Technische Universität Berlin.

    [ 3 ] Sobre a preservação da raça dos alemães no Espírito Santo. Tradução do original: Sie haben draußen ihre Rasse rein gehalten und jede Vermischung mit der eingeboren Bevölkerung unterlassen. Der Auslandsdeutsche, jan. 1937, p. 32. IFA/S, Alemanha.

    [ 4 ] Não são considerados os teuto-brasileiros.

    [ 5 ] No Doutorado, o autor trabalha com o número de 2.900.

    [ 6 ] "Tropicalização do nazismo é aqui entendida como ‘abrasileiramentos’ na difusão ideológica e nas estruturações partidária (DIETRICH, 2007a).

    [ 7 ] Os alemães classificavam, de maneira pejorativa, de nativismo, o sentimento nacionalista brasileiro.

    [ 8 ] Ata 127503. AA/B, Alemanha.

    [ 9 ] KUNDT, Ernst. Auslandsorganisation der NSDAP. Bonn, 21 jun. 1965. Ata R127875. AA/B, Alemanha.

    [ 10 ] Magistratsakten – 47/69. Signatur 5318. Dienstreisen des Herrn Oberbürgermeisters. 1115/10a, 1935-1938. Staat/F, Alemanha.

    [ 11 ] Relatório de Schmidt-Elskop. Deutsche Gesandtschaft. Deutschtum. Anlage 3. 25 abr. 1935. AA/B, Alemanha.

    [ 12 ] Relatório de Schmidt-Elskop. Deutsche Gesandtschaft. Deutschtum. Anlage 3. 25 abr. 1935. AA/B, Alemanha.

    [ 13 ] Ibidem.

    [ 14 ] Adolfo Konder foi governador de Santa Catarina entre 1926 e 1930. Victor Konder foi ministro da Viação do governo Washington Luís. Ibidem.

    [ 15 ] Disponível em: .

    [ 16 ] Carta aberta de Cruz Machado à liderança do partido nazista. Ata R127503. 16 set. 1937. AA/B, Alemanha.

    [ 17 ] A partir de 1934, antes a sede era no Rio de Janeiro.

    [ 18 ] Para Luís Moraes, no entanto, o grupo de maior importância era o da Capital Federal, Rio de Janeiro (MORAES, 2001).

    [ 19 ] Sobre o partido nazista em São Paulo, ver: DIETRICH, 2007b.

    [ 20 ] Deutscher Morgen, 1934. IFA/S, Alemanha.

    2

    PERSEGUIÇÃO, TRABALHO FORÇADO

    E EXTERMÍNIO DE CIGANOS DURANTE

    O NAZISMO, 1938-1945

    ANIA CAVALCANTE [ 1 ]

    Enquanto os termos Holocausto e Shoah se referem ao extermínio de 6 milhões de judeus (2/3 da população judaica da Europa e 1/3 de judeus do mundo, o grupo com o maior número de vítimas da política nazista), a historiografia europeia mais recente cunhou o termo, em romani, Porrajmos para denominar o extermínio dos ciganos pelos nazistas e seus colaboradores na Alemanha e nos países ocupados. O Porrajmos vitimou aproximadamente metade da população cigana da Europa (500 mil ciganos) e foi resultado de uma política planejada, direcionada, sobretudo, contra os ciganos nômades, de exclusão socioeconômica, guetoização, trabalho forçado para firmas alemãs em campos de concentração (extermínio pelo trabalho), fuzilamentos pelas Einsatzgruppen (forças-tarefa especiais), experiências pseudocientíficas, eutanásia, fome, doenças e gaseamento por gás Zyklon B nos campos de extermínio. Todo esse processo de extermínio cigano é desconhecido em pesquisas no Brasil e passou a ser objeto de estudos na Europa a partir de 1972 e em especial, a partir da década de 90.

    Antes de 1972 não houve uma sistematização de relatos e pesquisas a respeito dos ciganos durante o nazismo, ano em que o estudo The Destiny of Europe´s Gypsies (O Destino dos Ciganos Europeus) de Donal Kenrick e Grattan Puxon foi publicado. Apesar desse e de outros estudos, eles ainda são bastante escassos. No entanto, um estudo sistemático a respeito dos ciganos durante o Holocausto é tarefa difícil, sobretudo pela falta de fontes escritas do período, praticamente restritas aos documentos nazistas. Procedentes de uma tradição oral, os ciganos não deixaram relatos de testemunhos a respeito do período, ao contrário do que ocorreu com os judeus, que deixaram uma grande quantidade de relatos e escritos durante a tragédia, além da vasta literatura de testemunhos e de documentação a respeito do tema, levantada nas décadas posteriores, em maior escala a partir da década de 60. Só recentemente, o romani tem se transformado em língua escrita, o que tem auxiliado no estudo do Porrajmos, com recentes – e ainda escassas – publicações de sobreviventes, como é o caso da biografia do cigano alemão Otto Rosenberg, Das Brennglas, publicada em 1998.

    A população cigana é dividida em alguns grupos: 1) os sinti, a ramificação estabelecida na Alemanha, França e Itália no final do século XV; os roms, o grupo maioritário da Europa oriental, de procedência húngara, que viviam na antiga província austríaca de Burgenland e cuja maioria é de crença católica; os jenische, provenientes sobretudo de Rheinland, são ciganos nômades não rom e que também não falam a língua comum dos ciganos, o romani; e os gitanis, de procedência meridional, estabelecida na Espanha, os quais, em decorrência da situação de penúria material, imigraram para a França no final de 1400.

    Atualmente vivem cerca de 60 mil ciganos na Alemanha, dos quais 40 mil ciganos sinti e 20 mil ciganos rom. São até hoje discriminados, embora sejam cidadãos alemães e trabalhem como comerciantes, operários, artesãos, artistas, funcionários, dentre outras profissões. Antes do genocídio nazista, também trabalhavam como funcionários, notadamente dos correios e dos meios de transporte, e muitos tinham residência fixa, em especial os ciganos sinti. Portanto, ao contrário da propaganda nazista, tanto ciganos como judeus viviam integrados na sociedade alemã como cidadãos, embora houvesse discriminação. Os mitos e preconceitos em torno dos ciganos perduraram ao longo dos séculos, muitos até os tempos atuais. Eles eram considerados como feiticeiros, detentores de doenças perigosas e sequestradores de crianças. Era e permanece, ainda, muitas vezes, uma constante desconfiança em relação aos ciganos e ao seu estilo de vida.

    Na década de 30, os ciganos viviam em toda a Europa, muitos deles não viviam mais em caravanas, mas tendo uma vida urbana fixa. As estimativas de ciganos quando da ascensão de Hitler ao poder variam: o historiador alemão Till Bastian [ 2 ] refere-se a cerca de 15 mil ciganos, dos quais 13 mil sinti, enquanto outros autores, como  Frediano Sessi [ 3 ], fala em 20 mil (0,03% da população) e outros, como Leon Poliakov e Herbert Heuss, de 30 mil ciganos na Alemanha, ou seja, 0,045% da população total de 60 milhões de habitantes, vivendo tanto em caravanas como fixos em cidades.

    Também os judeus e outras vítimas, como as testemunhas de Jeová, eram grupos minoritários na Alemanha. Quando da ascensão de Hitler ao poder, em 1933, viviam 500 mil judeus na Alemanha, o que representava 0,77% da população. [ 4 ] Vale, porém, lembrar, que em outros países da Europa a população judaica e cigana era muito mais numerosa do que na Alemanha. A maior população judaica da Europa, a polonesa, contava com 3.300.000, e foi a mais massacrada: de 90% exterminada pelos nazistas. Já segundo Frediano Sessi [ 5 ], as testemunhas de Jeová eram 20 mil em território alemão, ou seja, representavam 0,03% da população.

    Antes do nazismo, a discriminação contra os ciganos já existia. No início do século XX começou a funcionar na Alemanha uma oficina de informação cigana, cuja função era registrar os ciganos, considerados como uma ameaça contra a qual o Estado necessitava defender-se. Em 1905, foram publicados registros com dados genealógicos e fotografia de centenas de ciganos alemães. Já nessa época, a mistura de raças era declarada como um perigo. Havia no entreguerras também muitos pedintes, mas estes não eram ciganos, como se propagava errônea e vulgarmente. De qualquer modo, a imagem do cigano como um vagabundo ou errante nômade, por conseguinte atrelada à imagem de ladrão perigoso, prevalece desde o fim do século XIX na Europa pela sociedade que, desde a era industrial, cultua a eficácia e a produtividade.

    Mesmo durante a República de Weimar, os ciganos sofreram algumas discriminações e prisões pelo Estado. Por exemplo, em 1926, um dos Länder da Alemanha, a Baviera, promulgou uma lei para combater ciganos, a-sociais (Asozialen) e indivíduos sem hábitos de trabalho. Qualquer cigano que não pudesse provar que possuía um emprego fixo corria o risco de ser levado à prisão.  Antes mesmo da ascensão de Hitler ao poder, a agência de informações do Partido Nazista do Serviço de Segurança do Reichsführer da SS em Munique começou a realizar um levantamento a respeito das duas consideradas raças estrangeiras não europeias na Alemanha, os judeus e os ciganos, embora ambos fossem cidadãos alemães e tivessem, por exemplo, servido no Exército Alemão na Primeira Guerra Mundial.

    Durante a República de Weimar, no entanto, como afirma a historiadora francesa Henriette Asséo, [ 6 ] a política ainda não procurava sistematicamente por ciganos. Ela só prendia aqueles nos quais esbarrava acidentalmente e isso ocorria com o objetivo claro de obrigá-los a viver de acordo com as normas sociais predominantes. Hitler trouxe uma modificação na perspectiva de discriminação dos ciganos, imbuindo o fim da desordem social com a propagação da higiene da raça. As teorias formuladas pela biologia racial e antropologia, um século antes nos países de língua alemã, serão desenvolvidas pelos nazistas para justificar as medidas de extermínio que vitimizaram as consideradas raças inferiores, por causa de suas características antropológicas ou pelo seu estilo de vida. Os ciganos, considerados como o modelo dos denominados a-sociais (Asozialen), deveriam ser separados da comunidade alemã. A partir daí, ainda na época da República de Weimar, as medidas anticiganas passaram a apresentar similariedade com as medidas antijudaicas.

    Logo depois da ascensão de Hitler ao poder, em 1933, entraram em vigor leis e decretos que passaram a excluir os ciganos da sociedade alemã, além de leis que dificultavam a sobrevivência, como as de aumento do aluguel ou o pagamento de 15% do salário como imposto sobre salários. O Serviço de Raça e Povoação da SS em Berlim fez a exigência de esterilização de ciganos e meio-ciganos (Zigeuner und Zigeunermischlinge). O programa de esterilização forçada, adotado pelos nazistas desde o início da década de 30 para eliminar qualquer inferioridade racial e preservar a pureza da raça ariana, voltou-se contra doentes físicos e mentais alemães, filhos de pais negros e ciganos. De 1933 a 1939, 200 mil jovens alemães deficientes foram esterilizados.

    Desde 1934,

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