A identidade da ciência da religião
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A identidade da ciência da religião - Frank Usarski
O Conceito da Tradição da Segunda Ordem
como Chave da Leitura
Desde minha chegada ao Brasil, em 1998, me sinto desafiado pela insegurança de estudantes da ciência da religião quanto ao perfil e à identidade da disciplina. Um dos resultados do meu engajamento na discussão afim foi a publicação Constituintes de ciência da religião – cinco ensaios em prol de uma disciplina autônoma (Usarski, 2006). Desde seu lançamento tenho acompanhado com satisfação o bom número das suas menções tanto em artigos, dissertações e teses quanto em ementas de cursos em nossa área. Sou especialmente grato pela repercussão do raciocínio apresentado no referido livro em meu ambiente acadêmico imediato, isto é, o Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), cujos integrantes – docentes e discentes – têm se mostrado abertos para conversas construtivas e questionamentos críticos acerca da obra. Esta dinâmica tem servido como estímulo para dar continuidade às minhas reflexões, o que levou a publicações posteriores que testemunham uma busca aprofundada para os fundamentos e traços inconfundíveis de nossa disciplina.
Os quatro artigos, publicados no decorrer dos últimos anos e reapresentados neste livro fazem parte desta produção avançada. A decisão de juntá-los aqui se justifica pelo fato de que o lançamento separado dos originais dificulta a percepção da sua complementariedade argumentativa. Esta lógica integrativa subjacente é indicada pela expressão "tradição da segunda ordem (Popper, 1962, p. 127), no título do primeiro texto. O termo é emprestado da história e da filosofia da ciência a qual designa a coesão cognitiva de uma comunidade científica devido ao compromisso dos seus integrantes com o legado intelectual
profundo da sua disciplina. Esta formulação implica que uma
tradição da segunda ordem" reside em um outro patamar para além do acúmulo de um saber referente aos fatos preferencialmente enfocados pela pesquisa do respectivo grupo de cientistas. Trata-se de um consenso sobre a pertinência e legitimidade dos caminhos e procedimentos pelos quais o saber da "primeira ordem" foi adquirido. O historiador da filosofia e da ciência Mark Schiefsky discrimina os dois níveis com as seguintes palavras:
Conhecimento de primeira ordem é o conhecimento sobre o mundo, seja teórico ou prático; pode ser um conhecimento de como as coisas são, ou um conhecimento de como [...] fazer as coisas. O conhecimento de segunda ordem é o conhecimento que deriva da reflexão sobre conhecimento de primeira ordem: por exemplo, um método para gerar novos procedimentos. O conhecimento de segunda ordem é também uma imagem do conhecimento
, na medida em que estabelece uma concepção ou norma para o que é conhecimento em um determinado domínio. A ideia de prova matemática é um conceito paradigmático de segunda ordem, pois envolve uma especificação das condições sob as quais as afirmações matemáticas podem ser aceitas como verdadeiras (Schiefsky, 2012, p. 192).
Enquanto esta caracterização é consensual entre autores que se dedicam à investigação da estrutura da ciência, os termos "conhecimento de primeira ordem e o de
segunda ordem são menos frequentes do que a diferenciação entre
teoria e
metateoria" (meta, grego = além). Neste caso a expressão teoria
é um sinônimo do "saber de primeira ordem no sentido de uma descrição e análise de objetos considerados relevantes para uma ciência. Correspondente à expressão
saber de segunda ordem, o substantivo
metateoria refere-se à teoria
além da teoria, isto é, à
filosofia atrás da teoria ou ao
conjunto fundamental de ideias sobre como se deve pensar e pesquisar os fenômenos de interesse em um campo particular" (Bates, 2005, p. 2).
Losee (2001) tangibiliza a estrutura tripla de qualquer empreendimento científico deste jeito:
O esquema deixa entender que cada ciência se refere ao mundo fenomenológico na base de uma hierarquia de relevância que coloca, no centro de atenção, aquele segmento da realidade que é de interesse para a respectiva comunidade científica. Em nosso caso, contam aqueles dados e fatos que são relacionados à religião. A interpretação do material levantado é uma operação intelectual da primeira ordem
. Essas operações não ocorrem de maneira aleatória, mas são regulamentadas por normas e princípios metateóricos
. A análise de procedimentos da explanação
(nível 2) garante que os procedimentos teóricos
(nível 1) sigam as regras estipuladas pela comunidade científica em cujo nome a pesquisa é realizada. Segundo Losee, este controle é feito de acordo com perguntas como estas:
Que características distinguem a investigação científica de outros tipos de investigação? Quais procedimentos os cientistas devem seguir para investigar a natureza? Que condições devem ser satisfeitas para que uma explicação científica seja correta? Qual é o estado cognitivo das leis e princípios científicos?
Segundo Losee,
fazer estas perguntas é assumir um ponto de vista um passo distante da prática da própria ciência. Há uma distinção a ser feita entre fazer ciência e pensar sobre como a ciência deve ser feita. A análise do método científico é uma disciplina de segunda ordem, cujo objeto são os procedimentos e estruturas das diversas ciências (Loose, 2001, p. 2).
Mais do que em outros momentos da prática científica, reflete-se na análise de procedimentos da explanação científica
o caráter coletivo do campo acadêmico. Os critérios para as reflexões sobre a adequação metateórica de uma pesquisa representam um consenso da comunidade [sic!!!] científica e um compromisso de cada integrante com as normas consensuais, o que qualifica o acadêmico singular como parte integral do grupo.
A identidade de uma disciplina é uma função do segundo nível de reflexão. Isso tem duas implicações. Primeiro, a identidade disciplinar transcende as escolhas de teorias e métodos preferidos por cada membro individual da comunidade. Segundo, a análise de procedimentos da explanação científica
não é uma operação ad hoc. Ela consta na aplicação de parâmetros coletivamente construídos ao longo prazo. Por isso, faz sentido afirmar que uma disciplina possui uma "tradição da segunda ordem."
Tomando como garantido que a estrutura da ciência da religião se organiza na forma acima resumida, os primeiros dois artigos do presente livro dedicam-se à identificação dos elementos que constituem a "tradição da segunda ordem" da nossa disciplina.
O primeiro ensaio A tradição da segunda ordem como fonte identitária da ciência da religião – reflexões epistemológicas e concretizações cumpre essa tarefa mediante uma leitura de publicações lançadas no final do século XIX e nas primeiras décadas do século XX. Uma vez que este período coincide com a época da institucionalização da ciência da religião em universidades europeias, os autores dos livros escolhidos podem ser considerados pioneiros da nossa disciplina.
O segundo texto, Demarcando as fronteiras da ciência da religião: um esboço com referências à discussão epistemológica na Alemanha, visa demonstrar que as articulações de segunda ordem na fase fundante da nossa disciplina universitária iniciaram uma tradição
propriamente dita. Com esse objetivo foram abordados pronunciamentos de língua alemã lançados por instituições e autores representativos para a ciência da religião nas últimas décadas. O levantamento desse material, sua leitura e o resumo dos seus resultados foram feitos junto a minha colega conterrânea, Astrid Reuter, professora catedrática de ciência da religião e pesquisadora do cluster de excelência Religião e Política
na Universidade de Münster, Alemanha.
O terceiro ensaio intitulado O pesquisador como benfeitor? Reflexões sobre os equívocos da ciência prática da religião e sua Alternativa é uma reação metateórica
à recepção ingênua
do conceito da ciência da religião aplicada
. No Brasil, essa abordagem ganhou visibilidade a partir dos esforços de Udo Tworuschka de propagar aquilo que ele chama a ciência prática da religião
(Tworuschka, 2013). O fato de que a questão sobre as funções extra-acadêmicas da ciência da religião aparece hoje com frequência em nossas agendas acadêmicas é, sem dúvida, mérito de Tworuschka. Um olhar detalhado na proposta do colega, porém, revela pontos nevrálgicos na abordagem e a necessidade de adaptá-los às exigências metateóricas da "tradição da segunda ordem" no sentido dos dois primeiros ensaios do presente livro.
O quarto texto, A ciência da religião aplicada