Telenovelas, Discurso Sobre O Real E A Hiper-realidade Baudrillardiana
De Roberto Bern
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Telenovelas, Discurso Sobre O Real E A Hiper-realidade Baudrillardiana - Roberto Bern
Telenovelas, discurso
sobre o real e a hiper-
realidade baudrillardiana
uma relação em análise
Roberto Bern
Rio de Janeiro
2010
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) B523
BERNARDO, Roberto Aguiar
Telenovelas, discurso sobre o real e a hiper-realidade baudrillardiana: uma relação em análise / Roberto Aguiar Bernardo – Rio de Janeiro, 2010.
Monografia (Graduação em Jornalismo) – Universidade Estácio de Sá, 2010.
Orientador: Patrícia Cardoso D’Abreu.
1. Jornalismo 2. Telenovela 3. Hiper-realidade 4. Agenda Setting I. Título.
CDD 070.4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus pais Heider e Cecília.
Mestres na arte de guiar a vida de seus frutos com apoios irrestritos e amor incondicional.
AGRADECIMENTOS
Agradeço, especialmente, aos professores Ricardo Severiano da Silva Filho, por me apresentar a hiper-realidade, e Patrícia Cardoso D’Abreu, pelas mágicas e emocionantes noites de orientações intelectuais. Gratidão esta, que se estende a todos os mestres que, dentro de suas particularidades, foram preciosos em minha jornada acadêmica.
Faltam superlativos para agradecer minha família, como os irmãos Renato e Ronaldo pelo companheirismo e força.
Finalmente, gostaria de agradecer ao amigo Marcio Canuto, que me fez acreditar quando tudo era um oceano de incertezas.
"Negada a verdade, não temos com o que
entreter-nos senão a mentira. Com ela nos entretenhamos, dando-a porém como tal, que não como verdade; se uma hipótese metafísica nos ocorre, façamos com ela, não a mentira de um sistema (onde possa ser verdade) mas a verdade de um poema ou de uma novela
– verdade sem saber que é mentira,
e assim não mentir".
Fernando Pessoa
INTRODUÇÃO .................................................................... 13
Elenco: Teledramaturgia e Sociedade .................................. 21
Entretenimento: uma categoria que salva a pátria
da programação brasileira ........................................................................................................ 21
Garimpagem na história: uma busca pelo diamante que originou a telenovela ...................................................................................................... 29
Folhetim eletrônico: um formato que explode coração........................ 35
Direção: Mediações e Hiper-Realidade................................ 45
A nova esfera pública: viver a vida mediatizada? ................................... 45
Hiper-real dentro e fora da TV: um mundo que foi sem nunca ter sido?............................................................................................................... 53
Agendamento: a mídia tá
certa ou tá
errada?.................................. 62
Autor: o mundo escrito em parceria...................................... 69
Laços familiares: o impacto das tramas em cinco décadas de novela . 69
Uma relação de corpo e alma: a intercessão entre narrativas reais e ficcionais ....................................................................................................... 90
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................. 103
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................ 109
Usadas ......................................................................................................... 109
Pesquisadas................................................................................................. 116
ANEXOS ............................................................................. 123
Telenovelas, discurso sobre o real e a hiper-realidade baudrillardiana: uma relação em análise INTRODUÇÃO
A televisão brasileira, indubitavelmente, faz parte da vida dos brasileiros. Desde quando ela foi apresentada pela primeira vez durante a Feira de Amostras do Rio de Janeiro em 1939, o aparelho já prometia mudanças significativas no dia a dia das pessoas. Quando despontou no Brasil, nos anos 50, pelas mãos de Assis Chateaubriand, boatos sobre os efeitos causados pela transmissão se espalharam rapidamente. Entre os mais esdrúxulos, há a afirmação do Dr. G. M. Wilbum, da Universidade de Glasgow, garantindo que o vídeo emanava radioatividade capaz de afetar os descendentes de um ser humano por dois mil anos
(RIXA e BRAUNE, 2007:13)1. Isso, posteriormente, foi desmentido por cientistas, no entanto, é inegável que a vida de milhões de cidadãos brasileiros se transformou com o advento da televisão no Brasil.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, se em 1950 existiam 1.000 receptores de TV
no Brasil, em 1972 já havia mais televisores do que geladeiras nos 13
Roberto Bern
lares brasileiros. No CENSO2 do ano de 2000 o número de aparelhos ultrapassou os 39 milhões, um crescimento exponencialmente devastador. Numa lufada descontrolada, a televisão rapidamente se desenvolveu pelas suas características singulares, invadiu as casas dos brasileiros e se instaurou como companheira de todas as horas.
Com ela, vieram programas de auditório, reality shows, festivais de música, telejornais e, principalmente, as telenovelas, que surgem a partir dos folhetins da literatura do século XVIII e XIX, e que vão encontrar na televisão o espaço ideal para se difundirem: o espaço que lida com imagem e som, juntamente.
Assim a telenovela se estrutura nos anos 1960 e 1970, no Brasil e também na América Latina.
E, com isso, o brasileiro passou a conviver com uma nova tecnologia e com um novo formato de comunicação. Ainda 1 RIXA; BRAUNE, Bia. Almanaque da TV. Rio de Janeiro: Ediouro, 2007. p. 13.
2 Os censos populacionais produzem informações imprescindíveis para a definição de políticas públicas e a tomada de decisões de investimento.
(...) Constituem a única fonte de referência sobre a situação de vida da população nos municípios e em seus recortes internos. IBGE.
Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/default_censo_20
00.shtm, em 02/05/09.
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Telenovelas, discurso sobre o real e a hiper-realidade baudrillardiana: uma relação em análise hoje, a televisão se coloca como um dos principais nós da informação. Um dos principais elementos pelo qual a massa da população tem acesso à informação e à cultura. Nela, uma série de elementos semiológicos opera oferecendo a possibilidade de uma grande massa da população ter acesso a uma linguagem simples. O
que fez o brasileiro passar, cotidianamente, a produzir e a receber as formas simbólicas de maneira mediada e simplificada. E se quisermos entender a natureza da recepção, deveremos nos aproximar dela com uma sensibilidade para os aspectos rotineiros e práticos da atividade receptiva.
(THOMPSON, 2008:42)3.
O foco deste trabalho, no entanto, não é a televisão como um todo, mas a telenovela e, mais especificamente, a relação de seu discurso com a realidade – tanto pela sua capacidade de promover uma série de mitos, como pela presença constante na vida cotidiana; e como tudo isso se relaciona com a teoria da hiper-realidade de Baudrillard: como a telenovela constrói a realidade e como ela é afetada pela realidade. Logo, diante de tantas formas de expressão, a teledramaturgia será destacada para estudar a linguagem televisiva.
3 THOMPSON, John B. A Mídia e a Modernidade. S/L: Vozes, 2008. p.
42.
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Roberto Bern
Quando a Rede Globo surge a partir da década de 60
atrelada a Time Life4, nasce a principal rede televisiva do Brasil que, até hoje é uma referência em telenovelas em todo o mundo.
Desde a primeira telenovela brasileira, Sua Vida me Pertence, escrita por Walter Forster em 1951, até Passione, de Silvio de Abreu, atual novela das oito
da Rede Globo, o brasileiro é retratado na telinha. Mas só a partir da década de 70, que os autores como Janete Clair começaram a trabalhar com elementos do cotidiano, da realidade que, cada vez mais, tornam-se a temática central da teledramaturgia.
Esta forma de abordar a realidade será estudada, analisada