Curricularidade

De Cláudio Narcélio Rodrigues de Araújo e Marcio Antonio Raiol dos Santos

O livro Curricularidade enreda as tramas que compõem as teias curriculares. A obra propõe-se a desbravar aspectos ontológicos, históricos e epistemológicos do currículo na educação básica, trazendo à tona a diversidade de discursos sobre o campo, demarcando não só o que o currículo é a partir das diferentes concepções e perspectivas, mas o que currículo faz. Os autores desta produção mergulham em uma análise dialógica das propostas curriculares na educação básica, com base em pesquisas sólidas e discussões teóricas, abordando questões chaves que dialogam com o espaço e tempo em que o currículo se manifesta. Os textos apresentam conteúdo fluído e significativo para todos os engajados na construção de uma educação básica preparada para as demandas do século, sendo um verdadeiro convite à reflexão sobre as práticas atuais na educação básica e a repensar as concepções curriculares que se desdobram mediante as organizações sociais que são moldadas pelos contextos históricos, os valores culturais e interações humanas. Vamos enredar?!

• Idioma: Português
• Editora: Editora Appris
• Data de lançamento: 13 de mar. de 2024
• ISBN: 9786525056548

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Sumário

CAPA

INTRODUÇÃO

O CURRÍCULO INTEGRADO

Marcio Antonio Raiol dos Santos

Cláudio Narcélio Rodrigues de Araújo

CURRÍCULO MANDÁLICO OU UM CURRÍCULO PELAS INFÂNCIAS: UM ENSAIO SOBRE GIRAS POSSÍVEIS, FECUNDADAS EM EDUCAÇÕES TRANSGRESSORAS

Livia Maria Neves Bentes

DISCURSOS CURRICULARES NA PRODUÇÃO ACADÊMICA SOBRE LUDICIDADE NA EDUCAÇÃO DO CAMPO/2015-2018

Humberto de Jesus Caldas Pereira

Nilce Pantoja do Carmo

O DIREITO SUBJETIVO A EDUCAÇÃO PARA TODOS: A INCLUSÃO DOS EDUCANDOS PCD NA EDUCAÇÃO BÁSICA E A CONSTITUIÇÃO DE UM CURRÍCULO INTEGRADO

Marcio Antonio Raiol dos Santos

Cláudio Narcélio Rodrigues de Araújo

INOVAÇÃO EDUCACIONAL: SIGNIFICADOS E EXPERIÊNCIAS NA EDUCAÇÃO FÍSICA

Carlos Afonso Ferreira dos Santos

FUNDAMENTOS DIDÁTICO-PEDAGÓGIOS E BASES TEÓRICAS PARA UMA CONSTRUÇÃO CURRICULAR COM O CONTEÚDO LUTAS NO ENSINO MÉDIO

Elane Cristina Pinheiro Monteiro

Renan Santos Furtado

Alexandre Fernandez Vaz

ENCONTROS E DIÁLOGOS CURRICULARES À LUZ DE MORIN E FREIRE: POSSIBILIDADES DO CURRÍCULO HÍBRIDO

Cláudio Narcélio Rodrigues de Araújo

Fabiana Sena da Silva

Suellen Ferreira Barbosa

Marcio Antonio Raiol dos Santos

SOBRE OS AUTORES

CONTRACAPA

Curricularidade

Editora Appris Ltda.

1.ª Edição - Copyright© 2024 dos autores

Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.

Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98. Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores. Foi realizado o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nos 10.994, de 14/12/2004, e 12.192, de 14/01/2010.

Catalogação na Fonte

Elaborado por: Josefina A. S. Guedes

Bibliotecária CRB 9/870

Livro de acordo com a normalização técnica da ABNT

Editora e Livraria Appris Ltda.

Av. Manoel Ribas, 2265 – Mercês

Curitiba/PR – CEP: 80810-002

Tel. (41) 3156 - 4731

www.editoraappris.com.br

Printed in Brazil

Impresso no Brasil

Cláudio Narcélio Rodrigues de Araújo

Marcio Antonio Raiol dos Santos

(org.)

Curricularidade

PREFÁCIO

O currículo é um campo contínuo de tensionamento dado seu caráter político, que contribui para a formação do sujeito que se espera para a sociedade. Desde um viés tecnicista — restrito ao planejamento sob responsabilidade dos curriculistas — à compreensão de que se configura práxis — portanto constitutivo também na ação docente numa relação dialética teoria e prática, ou mesmo uma produção discursiva, constituída nas micro relações sociais —, o currículo é objeto de disputa, estratégia de controle, fazedor e condutor da função social da escola, a partir e por meio dos diferentes e contraditórios pressupostos que podem orientar a definição dessa função.

A resposta sobre onde e quem produz o currículo sempre dependerá da perspectiva teórica que o sustenta, contudo, nele sempre encontraremos as forças que gravitam em torno da sua elaboração/produção. Como elemento central na organização da educação formal desenvolvida em instituições escolares, compreendidas como espaço-tempo da formação intencional do sujeito, o currículo pode ser analisado em diferentes níveis de elaboração. Desde as orientações oficiais, compreendidas como currículo prescrito, configuradas por contraditórios oriundos de disputas pelo poder, ao currículo vivido, aquele configurado no cotidiano do espaço-tempo da escola, por meio das relações estabelecidas entre os sujeitos educacionais, particularmente professores/as e alunos/as, sujeitos inventados com funções específicas nas instituições educacionais.

Assim, o currículo como campo de investigação e objeto produzido para/com/na escola pode ser compreendido e analisado a partir de diferentes matizes e na intercessão e diálogo com um conjunto de elementos que circundam o campo educacional.

É nesse contexto que se situam as discussões e intercessões presentes no livro Curricularidade, organizado pelo Prof. Dr. Marcio Raiol e pelo mestrando Cláudio Araújo, a partir das tramas e diálogos produzidos por alunos, pesquisadores e professores da educação básica integrantes do Grupo de Pesquisa em Práticas Pedagógicas Para o Ensino na Educação Básica (Grape), vinculado ao Núcleo de Estudos Transdisciplinares em Educação Básica da Universidade Federal do Pará (Ufpa).

Em sua trama, o livro se estrutura em sete capítulos, que dialogam a partir e com o currículo com as etapas e modalidades da educação básica, os conhecimentos escolares e as políticas educacionais em diferentes recortes e bases conceituais, conforme apresento a seguir: o primeiro capítulo, intitulado O currículo integrado, dos autores Marcio Antonio Raiol dos Santos e Cláudio Narcélio Rodrigues de Araújo, dá o tom do que será apresentado no decorrer dos demais capítulos, por meio de análises e reflexões sobre o currículo integrado e seus desdobramentos multidisciplinar, interdisciplinar, transdisciplinar e sua relação com o conhecimento — considerando elemento central quando se discute currículo. As análises evidenciam a forma como nos relacionamos com o conhecimento e as barreiras que devem ser enfrentadas para a superação de perspectivas fragmentadas do currículo. No texto de Lívia Maria Neves Bentes, intitulado Currículo mandálico ou um currículo pelas infâncias: um ensaio sobre giras possíveis, fecundadas em educações transgressoras, a autora tece reflexões muito interessantes sobre pensar um currículo transgressor, que fuja à lógica colonialista que domina o campo. Humberto de Jesus Caldas Pereira e Nilce Pantoja do Carmo, autores do capítulo intitulado Discursos curriculares na produção acadêmica sobre ludicidade na educação do campo/2015-2018, objetivam analisar os discursos dessa interseção entre currículo-ludicidade-educação do campo, por meio do estado do conhecimento em produções acadêmicas disponíveis na Biblioteca Digital de Dissertações e Teses do Centro de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (BDTD/Capes). Os autores relacionam os discursos às teorias tradicionais, críticas e pós-críticas do currículo. O capítulo O direito subjetivo a educação para todos: a inclusão dos educandos PCD na educação básica e a constituição de um currículo integrado, de autoria de Marcio Antonio Raiol dos Santos e Cláudio Narcélio Rodrigues de Araújo, tem como objetivo discutir o currículo integrado, como uma alternativa possível para a garantia do direito subjetivo à educação, considerando o caráter desse proposta mais ampliada de currículo, para além dos conteúdos escolares, mas efetivamente voltado à formação integral do sujeito, particularmente no contexto da inclusão de pessoas com deficiência que historicamente tiveram o direito à educação negligenciado. O texto de autoria de Carlos Afonso Ferreira dos Santos, intitulado Inovação educacional: significados e experiências na educação física, tem como objetivo analisar o significado de inovação em Educação Física e as práticas pedagógicas de docentes da Escola de Aplicação da Universidade Federal do Pará (Ufpa), evidenciando a necessidade de revisão da tradição desse significado pelos docentes para a orientação de práticas mais articuladas às necessidades da formação do estudante. Já o texto Fundamentos didático-pedagógicos e bases teóricas para uma construção curricular com o conteúdo lutas no ensino médio, dos autores Elane Cristina Pinheiro Monteiro, Renan Santos Furtado e Alexandre Fernandez Vaz, apresenta reflexões a partir da experiência sobre o ensino das lutas para alunos do ensino médio da Escola de Aplicação da Ufpa, de dois autores-docentes desse texto, com o objetivo de discutir as orientações didático-pedagógicas, os conhecimentos e as perspectivas teóricas mobilizadas para o ensino desse conteúdo curricular. Numa dimensão mais teórica, no texto Encontros e diálogos curriculares à luz de Morin e Freire: possibilidades do currículo híbrido, os autores Cláudio Narcélio Rodrigues de Araújo, Fabiana Sena da Silva, Suellen Ferreira Barbosa e Marcio Antonio Raiol dos Santos centram a discussão do currículo híbrido a partir da interface entre a educação libertadora, pautada no diálogo de Paulo Freire, e a teoria da complexidade, de Edgar Morin. O currículo híbrido, oriundo do cruzamento de orientações críticas e pós-críticas, se coloca como enfrentamento ao currículo fragmentado que historicamente se faz presente no contexto educacional.

O conjunto dos textos traz reflexões, diálogos, apontamentos, ressignificações que contribuem para pensar/problematizar/produzir o currículo a partir de fontes e lentes teóricas mais integradas, contextualizadas, dinâmicas como alternativa ao currículo tradicional — conteudista e tecnicista — que historicamente orientou a seleção/organização do conhecimento no espaço-tempo escolar.

Portanto, o mergulho nas leituras produzidas no livro Curricularidade, além de grande contribuição para o campo do currículo, particularmente o pensado/produzido/desenvolvido na educação básica, também se configura convite e fonte de orientação para ressignificação de práticas curriculares, pedagógicas e docentes que vislumbram uma educação mais humanizada, integradora e com respeito a formação crítica do sujeito.

Amélia Maria Araújo Mesquita

Doutora em Educação; professora da Universidade Federal do Pará (Ufpa)

Lattes: 9074927290515299

Orcid: 0000-0003-4630-116X

INTRODUÇÃO

Este livro representa um complexo epistemológico curricular que vem abrigar as diferentes perspectivas teóricas e práticas inerentes ao campo do currículo, que é um espaço plural e diverso. As multivozes curriculares expressam diferentes visões sobre a epistemologia do currículo e estão presentes na diversidade de falas inerentes a esse campo denso e ao mesmo tempo movediço.

Por esse motivo, juntamos a dimensão do significado da palavra currículo ao sufixo idade, que indica condição ou qualidade, utilizado para criação de palavras abstratas, que tenta unir o radical de um sentido, colocando nele qualidades e condições. Embora seja um neologismo, cunhamos essa palavra e empregamos ao título desta obra, que é uma compilação do resultado de uma pequena parte das pesquisas realizadas pelo Grupo de Pesquisa em Práticas Pedagógicas Para o Ensino na Educação Básica (GPRAPE), da Universidade Federal do Pará, vinculado ao Núcleo de Estudos Transdisciplinares em Educação Básica (NEB) coordenado pelo professor Marcio Raiol.

A partir da linha de pesquisa Currículo da Educação Básica, responsável por reunir as várias mãos dos pesquisadores que teceram os textos deste livro, convidamos o leitor a navegar pelas epistemologias curriculares. Nesta perspectiva, gostamos da ideia de associar o currículo a um rio que acompanha a lógica de algo que começa singelo e pequeno, mas, com o passar dos anos, vai crescendo e fluindo, como um caminho sinuoso na educação básica.

As águas que correm em um rio, assim como o conhecimento que flui no currículo, se renovam e se aprofundam, mesmo com a mudança das estações do ano, o rio segue o seu percurso sem cessar. Enquanto o currículo da educação básica segue sua jornada no processo de ensino-aprendizagem.

O rio atravessa várias paisagens, enquanto o currículo da educação básica cria novas perspectivas. E diante dessa lógica de pensar no currículo, associado a ideia de rio, como um processo fluído, em que o conhecimento se renova constantemente, navegaremos pelo rio ou pelas concepções de currículo explorando diferentes áreas de conhecimento, descobrindo novas maneiras de se relacionar com o mundo, de pensar e assim encontrar respostas para questões fundamentais para a educação básica.

Então, diante desse entrelaçamento da concepção de currículo com um rio, este livro está organizado em capítulos que são independentes e não exigem uma linearidade para sua leitura, pois o objetivo dessa organização é navegar pela diversidade nas abordagens, concepções, formas de pensar nos jeitos de ser o currículo e sua constituição epistemológica, contribuindo e ampliando, ainda mais, o entendimento sobre o currículo na educação básica.

Assim, esperamos que a leitura ofereça um diálogo e estímulos a novas reflexões sobre o campo do currículo.

O CURRÍCULO INTEGRADO

Marcio Antonio Raiol dos Santos

Cláudio Narcélio Rodrigues de Araújo

Introdução

Ao longo dos anos, o currículo passou por diversas transformações, influenciadas por mudanças sociais, políticas e culturais. A partir desse movimento, se emergiram diferentes concepções do currículo para responder aos desafios do mundo contemporâneo, devido ao fato de o currículo não ser neutro, mas, sim, um reflexo das escolhas políticas e ideológicas das demandas sociais.

Essas demandas sociais moldam o currículo conforme as prioridades da sociedade, impactando na construção do conhecimento. À medida que a sociedade evolui, novas demandas e conhecimentos emergem, exigindo do currículo as mudanças necessárias para preparar os aprendentes para o mundo contemporâneo. Muito embora, mesmo mediante a essas diversas e distintas definições que os estudos sobre currículo têm trazido, existe uma aproximação em comum, que são as definições no que diz respeito ao conhecimento (LOPES; MACEDO, 2011). Essa relação interdependente entre currículo e conhecimento é o que nos impulsiona a transitar pelo campo teórico, sem pretensão de exaustão. Mas trazendo para este capítulo aspectos que caracterizam o currículo integrado. Deste modo, realizamos uma imersão analítica e dialógica, convidando-nos a pensar sobre o currículo integrado, os seus desdobramentos multidisciplinar, interdisciplinar, transdisciplinar e sua relação com o conhecimento.

O currículo integrado

O currículo integrado possuí raízes profundas na história da educação, historicamente não podemos ancorar seu surgimento a um período específico ou local que tenha surgido. Mas, com o passar do tempo, a ideia do que deveria ser ensinado passou a ser discutida. "Num momento marcado pelas demandas da industrialização, a escola ganha novas responsabilidades: