Avanços em Métodos Projetivos
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Avanços em Métodos Projetivos - Anna Elisa de Villemor-Amaral
Parte 1
Manchas de tintas
1
O Teste de Zulliger: panorama histórico e desenvolvimentos recentes
Ana Cristina Resende
Lucila Moraes Cardoso
Renata da Rocha Campos Franco
Silvana Alba Scortegagna
Anna Elisa de Villemor-Amaral
Fundamentação teórica
O Zulliger é um teste conhecido no cenário clínico desde 1948 quando Hans Zulliger, inspirado pelo instrumento criado por Herman Rorschach, criou um novo conjunto de manchas de tintas ambíguas e simétricas para selecionar os oficiais das forças armadas. O autor criou três cartões de manchas de tinta relativamente comparáveis aos cartões do Rorschach em termos de tamanho, cores, sombreados e forma. Contudo, ao reduzir o número de estímulos, tornava o teste mais viável para contingentes maiores de pessoas a serem avaliadas, seu principal objetivo. Dentre as três pranchas do Zulliger, a primeira é acromática, a segunda é colorida e a terceira é em preto, branco e vermelho. Em comparação, dentre as dez pranchas do Rorschach, cinco são acromáticas (I, IV, V, VI e VII), três são coloridas (VIII, IX e X) e duas são em preto, branco e vermelho (II e III).
Ao criar o seu teste, Zulliger não tinha como objetivo substituir o Método de Rorschach, mas sim encontrar uma alternativa que propiciasse avaliações rápidas e sucintas. Historicamente, na comparação entre os dois instrumentos – Rorschach e Zulliger –, o Zulliger destacou-se como técnica avaliativa rápida e suplementar ao Rorschach, portanto não equivalente em termos de profundidade e abrangência dos dados obtidos sobre a personalidade.
O desafio fundamental para um indivíduo realizar a tarefa proposta por esses dois métodos de manchas de tinta é dar significado a um estímulo que pode ser interpretado de várias maneiras. Os estímulos complexos desses dois testes foram criados de modo a proporcionar múltiplas semelhanças perceptivas, que formam imagens visuais, incompletas ou imperfeitas, as quais competem entre si, ficando o respondente responsável por selecionar aquelas que prefere verbalizar. As respostas dadas ao teste possibilitam captar a percepção e a elaboração verbal do respondente. Com base nisso, o ato de responder ao teste, a partir da pergunta O que isto poderia ser?
, fornece uma amostra padronizada do comportamento de solução de problemas que pode ser compreendido de múltiplos pontos de vista, incluindo a observação direta do comportamento na tarefa, a comparação de numerosas dimensões do desempenho visual e verbal com as expectativas normativas, bem como a análise do conteúdo, das imagens e da sequência de respostas. Essa avaliação produz uma demonstração das soluções do respondente em face das percepções suscitadas pelos estímulos das manchas (Meyer et al., 2017).
Para Verdon (2014), os estímulos também permitem uma ampla gama de respostas idiográficas de modo que as projeções e associações oferecem um espaço de transição intrapsíquica que revelam a evolução do respondente em um continuum entre o interior (introspecção) e o exterior (ambiente), entre o real e o imaginário. As manchas de tinta provocam uma experiência de intrusão, ou seja, as imagens invadem o aparelho psíquico do sujeito e solicitam uma organização e mobilização de recursos internos para que a tarefa possa ser realizada. Essa experiência de intrusão é possível em razão da ambiguidade dos contornos e limites das manchas de tinta, que definem a complexidade da verbalização associativa proposta pelo teste.
Na visão de Bornstein (2016), o desafio fundamental para um indivíduo realizar a tarefa proposta pelos métodos de manchas de tinta é criar significado em um estímulo que possa ser interpretado de várias maneiras. Para fazer isso, os entrevistados devem direcionar sua atenção para fora (em vez de para dentro) e se concentrar no estímulo (não no eu); eles atribuem significado ao estímulo com base nas propriedades da imagem e nas associações iniciadas por essas propriedades do estímulo. Depois que uma série de possíveis interpretações (ou atribuições de estímulos) é formada, os entrevistados geralmente classificam essas respostas, selecionando-as antes de fornecerem sua descrição. Para o autor, os entrevistados envolvidos com testes de autorrelato precisam voltar primeiro sua atenção para dentro (introspecção), para capturar algum aspecto de seus sentimentos, pensamentos ou comportamentos e, por fim, retratar uma autoapresentação deliberada.
Kaser-Boyd e Evans (2008), por sua vez, entendem que, para além dos aspectos perceptivos, o Rorschach oferece um espaço maleável que permite os movimentos regressivos e o renascimento de experiências corporais que ainda não foram simbolizadas. Assim, as manchas de tinta têm sido consideradas um instrumento que permite desencadear memórias e sentimentos relacionados às vivências traumáticas. O processo de submissão ao teste pode ser muito semelhante à revivência da situação traumática em pesadelo. Diante dessas duas dimensões do Zulliger, a perceptiva e a projetivo-associativa, o teste pode avaliar características implícitas que podem não ser reconhecidas pelo próprio respondente.
Para a análise e interpretação dos dados, as respostas fornecidas pelos examinandos são classificadas em um conjunto de variáveis que são agrupadas para fornecer informações sobre o funcionamento do respondente em relação a fatores cognitivos, afetivos, interpessoais e de gerenciamento do estresse. É a partir de todos esses dados, resumidos no sumário estrutural e considerados a partir dos desvios da norma, que se pode realizar a interpretação do protocolo, permitindo obter uma descrição multidimensional do sujeito.
A maneira como o examinando apreende os estímulos possibilita interpretar a percepção que o sujeito tem do mundo circundante, seja no modo global ou sintético (W), seja no modo analítico ou detalhado (D e Dd). Para Chabert (2012), as respostas cinestésicas (M) e sensoriais (C) refletem a dinâmica intrapsíquica que está na origem da expressão pulsional que informa a direção da representação ou do afeto, destacados pelo tipo de ressonância íntima. Segundo essa autora, os elementos fundamentais que emergem da análise do chamado psicograma – cálculos e proporções derivados da codificação – e que orientam a análise interpretativa do teste baseiam-se na apreciação da adaptação à realidade externa e à socialização, bem como nas modalidades de expressão da realidade interna.
Além da análise quantitativa baseada no psicograma, uma análise qualitativa permite levar em consideração certos elementos da expressão de movimentos instintivos entre afetos e representações, que devem ser observados no discurso e no continuum entre rigidez e labilidade típicos do funcionamento psíquico do respondente. Nessa perspectiva, a individualidade do sujeito é valorizada por meio da análise do conteúdo verbalizado em associação com outros dados clínicos coletados durante a entrevista (Chabert, 2012).
Fundamentação empírica
Estudos iniciais, realizados nos Estados Unidos, consideraram o Z-teste de uso mais prático que o Rorschach em relação à administração, pontuação e interpretação, bem como um instrumento adequado de rastreamento psiquiátrico, identificando traços sintomatológicos nos processos perceptivos, cognitivos e afetivos. No entanto, aspectos fundamentais para assegurar a qualidade das inferências de interpretação sobre os processos psicológicos foram considerados frágeis do ponto de vista científico. As variáveis relacionadas à cor (FC e C), por exemplo, não obtiveram concordâncias satisfatórias, impossibilitando a simples transposição das expectativas no Rorschach para o Zulliger (Eble et al., 1963; Mahmood, 1990; Mattlar et al., 1990; Brinkmann, 1998; Zdunic, 1999; Peralta, 2002).
No Brasil, o Z-teste teve maior receptividade por meio dos trabalhos de Freitas (1996) e Vaz (1998) que demonstraram tanto as vantagens de aplicação (coletiva e individual) quanto as possibilidades de tendências interpretativas sobre diferentes tipos de funcionamentos psíquicos. Porém, o impasse entre o potencial clínico e os limites psicométricos era constantemente visível nas pesquisas com o Zulliger. Se, por um lado, o uso clínico desse teste vinha mostrando seu potencial para compreender a personalidade, por outro, as pesquisas com rigor psicométrico alertavam sobre os perigos de falta de consistência e de conclusões precipitadas, pautadas no que já se conhecia sobre o Rorschach.
Lentamente, entretanto, os avanços de caráter mais quantitativos eram otimistas, mostrando que o Zulliger era capaz de propiciar boas inferências sobre os aspectos psicodinâmicos, essenciais para uma compreensão multidimensional da personalidade. Em 2009, o manual técnico do Zulliger pelo Sistema Compreensivo – ZSC (Villemor-Amaral & Primi, 2009) recebeu parecer favorável para uso profissional do Conselho Federal de Psicologia (CFP). Para além do contexto histórico, este capítulo tem por objetivo discorrer sobre os fundamentos empíricos e a aplicabilidade do Teste de Zulliger trazendo como ilustração o relato de um caso clínico.
Nos últimos dez anos, os estudos brasileiros agregaram ao ZSC diversos estudos de evidências de validade, incluindo aspectos patológicos (Villemor-Amaral & Machado, 2011; Gregoleti & Scortegagna, 2017) e uso no contexto organizacional (Grazziotin & Scortegagna, 2012, 2013). Além disso, recentemente foram desenvolvidos estudos que indicaram evidências de validade para uso com crianças (Biasi & Villemor-Amaral, 2016; Tavella & Villemor-Amaral, 2014; Villemor-Amaral & Vieira, 2016; Villemor-Amaral, Pavan et al., 2016; Cardoso et al., 2018; Cardoso & Oliveira, 2018).
É importante lembrar que o maior acúmulo de dados empíricos sobre validade e fidedignidade foi fortemente associado à aplicação individual e ao Sistema Compreensivo de Exner. Isto é, as mesmas normas de aplicação, critérios de codificação e cálculos contidos no Sumário Estrutural do Sistema Compreensivo do Rorschach foram adaptadas para o ZSC, tornando-o particularmente uma ferramenta adequada para abordagens comparativas, dado o potencial de exploração quantitativa dos resultados.
Nesse sentido, destacam-se alguns estudos que buscaram fazer correlação entre os dois métodos: Cárpio e Lugón (2011), Franco e Villemor-Amaral (2012), Villemor-Amaral e Cardoso (2012) e Villemor-Amaral, Pianowski et al. (2016). Entre esses, merece destaque o estudo mais recente descrito a seguir.
Villemor-Amaral, Pianowski et al. (2016) investigaram os alcances e limites dos estímulos de cor (C), do movimento humano (M) e do número de resposta (R) do ZSC usando o Rorschach pelo Sistema Compreensivo como referência. A pesquisa foi estruturada em duas etapas. Na primeira, foram analisados os estímulos C, as respostas populares (P), as respostas populares envolvendo movimento humano e a sequência de apresentação dos estímulos. Verificou-se que as características dos estímulos do Zulliger não são proporcionalmente equivalentes aos do Rorschach, podendo levar a discrepâncias na quantidade de respostas C e M.
Na segunda etapa, considerararam-se os tipos de vivência (EB) de 51 participantes que responderam ao Zulliger e ao Rorschach. Essa amostra foi distribuída em dois grupos: os concordantes, definidos como os que apresentaram o mesmo EB em ambos instrumentos, e os discordantes, que apresentaram EB diferente em cada um dos testes. Em seguida, verificou-se a diferença na quantidade de respostas em função dos estímulos da prancha (acromáticos/coloridos/preto, branco e vermelho). A amostra total apresentou baixas magnitudes de diferença nos estímulos cromáticos (d = 0,34) e acromáticos (d = 0,33). No grupo concordante, os estímulos cromáticos apresentaram fraca magnitude (d = 0,43), e os acromáticos revelaram moderada magnitude (d = 0,55) entre os dois testes. Nos grupos discordantes, os estímulos cromáticos (d = 0,24) e preto, branco e vermelho (d = 0,34) apresentaram fracas magnitudes. Esses achados refletem uma diferença entre os dois testes maior do que se esperava. Observou-se também um índice maior de concordância do EB em protocolos que tinham nove ou mais respostas no Zulliger. Os autores concluíram que os estímulos apresentados no Zulliger não são proporcionalmente equivalentes aos do Rorschach e que a frequência das variáveis de cor e movimento não interage na mesma proporção, e, principalmente, constataram que o número de respostas fornecidas no protocolo interfere na consistência dos resultados.
A discussão de Villemor-Amaral, Pianowski et al. (2016) faz ainda mais sentido quando se consideram os estudos recentes com base nas neurociências, que têm correlacionado exames de neuroimagem funcional, tais como a ressonância magnética, para evidenciar quais áreas do cérebro são estimuladas a partir de características específicas do estímulo das manchas de tinta do Rorschach. Segundo Finn (2012), para responder a instrumentos projetivos, tais como os de manchas de tinta, o examinando acessa mais diretamente o hemisfério direito e o funcionamento cerebral subcortical, onde as sequelas emocionais negativas provenientes de traumas normalmente ficam registradas. Logo, esse instrumento favorece o acesso às informações que os examinandos não podem relatar diretamente por meio da linguagem, pois frequentemente são inconscientes e mais facilmente acessíveis por meio de imagens e desenhos que evocam lembranças autobiográficas traumáticas ou negativas não elaboradas.
Embora não tenham sido encontrados estudos de neuroimagem específicos com o Zulliger, quando se considera a semelhança entre o tipo de estímulo e de tarefa do Rorschach e do Zulliger, acredita-se que as mesmas áreas do cérebro seriam estimuladas a partir das características semelhantes entre eles. Entretanto, por não serem idênticos quanto à distribuição das características de cor, sombreado e movimento, pertinentes a cada conjunto de pranchas, a começar pelo quantidade diferente de imagens, muito menor no Zulliger (Villemor-Amaral, Pianowski et al., 2016), evidencia-se ainda mais a necessidade de realização de estudos psicométricos independentes para cada um desses instrumentos, não apenas considerando a frequência de cada indicador isoladamente, o que vem sendo feito habitualmente, mas sobretudo verificando como se dá a proporcionalidade dos vários indicadores entre si em cada teste, o que não foi levado em conta até os estudos de Cárpio e Lugón (2011), Franco e Villemor-Amaral (2012), Villemor-Amaral e Cardoso (2012) e Villemor-Amaral, Pianowski et al. (2016).
Em paralelo ao desenvolvimento do Zulliger no Brasil, estudos de metanálises sobre o Rorschach (Mihura et al., 2013) indicaram que o número de respostas dadas ao teste era um fator que interferia na estabilidade das demais variáveis e que protocolos muito longos ou muito curtos interferiam de modo significativo não apenas nas médias esperadas, mas também na interpretação de determinados indicadores. Por exemplo, quanto maior o número de respostas, maior a probabilidade de surgirem indicadores que poderiam ser considerados psicopatológicos em protocolos mais curtos, pois ocorriam mais devido à maior expressividade da pessoa, não chegando a ser patológicos quando se considerava o contexto total do protocolo. Ou seja, há indicadores psicopatológicos que podem aparecer com maior frequência devido ao estilo da pessoa ao responder ao teste e não a fenômenos psicopatológicos.
As diversas pesquisas citadas nessas metanálises evidenciaram a necessidade de um sistema com qualidades psicométricas mais bem delimitadas e culminaram na publicação do Sistema de Avaliação por Performance no Rorschach (Rorschach Perfomance Assessment System – R-PAS), que propõe um novo modo de administração, codificação e interpretação do teste (Meyer et al., 2017). Pelas razões expostas anteriormente, uma das principais mudanças introduzidas na nova proposta foi relativa ao controle do número de respostas dadas em cada prancha. Ou seja, em vez de deixar a pessoa associar com quantas coisas achasse semelhanças nas manchas, pede-se que ela dê duas ou três respostas por prancha. Isso delimitou a extensão dos protocolos, que ficaram relativamente homogeneizados entre 20 e 30 respostas para a maioria das pessoas, reduzindo-se assim a frequência de protocolos com menos de 17 respostas, que não teriam validade, ou muito longos, que poderiam distorcer algumas interpretações.
Considerando que os estudos com o Zulliger no Brasil têm sido precedidos pelos avanços demonstrados com o Rorschach e o indicativo de que seria recomendável um número mínimo de nove respostas no Zulliger para melhorar a consistência dos índices quando comparado ao Rorschach (Villemor-Amaral, Pianowski et al., 2016), as primeiras pesquisas referentes à administração do Zulliger com R-optimizado começaram a ser conduzidas no Brasil (Gonçalves et al., 2019; Gelain, 2019).
Aplicabilidade do instrumento
O Teste de Zulliger tem se mostrado útil em contextos em que a análise da personalidade é necessária. Devido à redução de pranchas e de respostas obtidas, e, consequentemente, pelo fato de ser menos trabalhoso para corrigir que o Rorschach, ele é mais frequentemente empregado nas situações externas ao contexto clínico. Assim, o teste tem sido utilizado em processos de seleção em empresas, concursos públicos e avaliações psicológicas para porte e manuseio de arma de fogo. Além disso, nas pesquisas, tem-se mostrado útil para uso com crianças acima de 6 anos, por ser menos exaustivo, não exigir um nível específico de escolarização, habilidade de leitura ou de autorreflexão, que são capacidades menos desenvolvidas nas faixas etárias mais novas. Para melhor ilustrar a utilização clínica desse instrumento, apresenta-se a seguir o estudo de caso de uma paciente com estilo de funcionamento ciclotímico.
Estudo de caso: Funcionamento do estilo ciclotímico no Teste de Zulliger
Flávia (nome fictício), 26 anos, foi encaminhada para avaliação por seu neurologista. Ela se queixava de fortes dores de cabeça, tensões, dificuldade para trabalhar, insônia e falta de concentração. Tinha algumas opiniões bastante rígidas. Mostrou-se cooperativa, mas também intranquila, indicando que estava a ponto de desistir da realização do teste. Aos 16 anos, após um acidente automobilístico em que seu amigo ficou gravemente ferido, ela foi lançada para fora do carro em um gramado, ficando com várias escoriações nos braços e nas pernas. Nesse período, ela fez cinco meses de psicoterapia, mas achou perda de tempo. Afirma que o tratamento tornou a sua vida mais difícil, pois na época tinha que terminar o segundo ano do ensino médio e ajudar a mãe em casa com os irmãos mais novos, e a terapia atrapalhava bastante. Após abandonar o tratamento, ficou grávida de um colega de sala, de um relacionamento escondido de seus pais. Nesse período, Flávia acreditava que se casaria com ele. Contudo, ele mudou de cidade e nunca mais se viram. Até o momento de dar à luz uma menina, afastou-se do colégio. Aos 17 anos, teve a filha, que foi adotada por sua mãe e, até o momento, são consideradas irmãs. Flávia acredita que essa foi a melhor solução, pois assim pôde se dedicar mais aos estudos e passar no vestibular para jornalismo. Assim que se formou, um jornal local a contratou, e já foi promovida duas vezes. Ela sempre vê defeitos no que as pessoas escrevem. Acha que não escreve muito bem, mas aprendeu a ser uma excelente profissional.
Flávia morou com um namorado, mas se separaram quatro meses antes do processo avaliativo. Um dia tudo parecia bem entre eles, mas no outro as coisas ficavam difíceis, e ela nunca sabia como estava a relação, se boa ou ruim. De acordo com Flávia, o namorado era uma pessoa muito temperamental e difícil de conviver. Ela não acredita que seus problemas com o namorado estivessem relacionados com suas dores de cabeça ou tensões. Para ela, esses sintomas estão relacionados com o acidente de carro. A visão que tem de si é de uma pessoa bem-sucedida no trabalho, descolada, com muitos amigos, que já comprou sua casa própria e tem um carro ótimo. Para a idade que tem, acredita que não poderia desejar mais nada. As questões feitas pelo neurologista ao encaminhá-la para a avaliação foram: Quais as possíveis causas de tanta dor de cabeça e tensão?
, Há evidência de depressão?
, Há indicação para psicoterapia?
e Em caso positivo, o que deveria ser trabalhado?
.
Protocolo do Teste de Zulliger
Codificação do Protocolo de Zulliger
Sumário estrutural da parte superior
Sumário estrutural da parte inferior e interpretações
No âmbito da autoimagem, as respostas de Flávia foram típicas de alguém com tendências marcadas a superdimensionar o seu valor pessoal e tornar-se preocupada com suas próprias necessidades em detrimento da preocupação com as necessidades dos outros, bem como a tendência de culpar os outros por seus problemas ou dificuldades. Mas essa postura pode ser uma forma de não entrar em contato com os sentimentos de culpa e remorso por atitudes que considera condenáveis, de inferioridade e baixa autoestima observados em suas respostas, ao mesmo tempo que geram sentimentos de tristeza e insegurança. Desse modo, Flávia pode mostrar-se uma pessoa instável em seu funcionamento psicológico, de modo que um dia aparenta estar segura de si e passando a imagem de uma pessoa capaz de superar quaisquer limites e obstáculo, e, em um momento seguinte, revelar-se insatisfeita consigo mesma, com autocríticas destrutivas. Assim, é possível compreender por que, mesmo com tantas queixas de que não está se sentindo bem, Flávia se vê como uma pessoa descolada
e que já conquistou tudo o que uma pessoa de sua idade poderia desejar. Ou seja, para não entrar em contato com sentimentos dolorosos sobre si mesma, ela desenvolve uma autoestima bem elevada.
Quanto aos relacionamentos interpessoais, infere-se que a supervalorização de si mesma pode gerar consequências prejudiciais em suas interações com as pessoas, tais como: conflitos nas relações interpessoais porque os outros tendem a vê-la como uma pessoa sem humildade e que culpa os outros por suas dificuldades; relacionamentos pouco duradouros; predisposição para perseguir metas fora do seu alcance, uma vez que sente que o problema quase nunca está em si, mas nos outros. No entanto, Flávia desenvolveu capacidade de administrar de modo eficiente seus relacionamentos, tais como demonstrar interesse no que as pessoas falam e fazem, ser capaz de interagir de modo solícito e cooperativo, compartilhar seus afetos e sentimentos de modo maduro e empático, como será observado no âmbito dos afetos. Pessoas assim tendem a ser muito prestativas e amigáveis, e a mostrar o que têm de melhor em si quando são admiradas pelos seus esforços, reconhecidas pelas suas competências, recompensadas pelas suas conquistas. Contudo, quando não reafirmadas por suas habilidades por meio de elogios, ficam muito frustradas, irritadas e tristes, como é o caso de Flávia.
Considerando os recursos e a capacidade de controle, as respostas de Flávia foram típicas de uma pessoa mais ansiosa, tensa, irritável e com menos tolerância à frustração que a maioria dos adultos de sua faixa etária. Isso a torna mais suscetível às perdas de controle episódicas, indesejáveis e desagradáveis. Sua principal fonte de estresse é proveniente de uma série de demandas emocionais que ela não está conseguindo administrar em sua vida. É bem provável que o seu autocentramento e as autocríticas negativas estejam gerando problemas em seus relacionamentos, o que tem sido fonte de estresse e, consequentemente, predisposição para vivenciar mais momentos de tristeza que a maioria das pessoas.
Quanto aos afetos, apresenta recursos afetivos saudáveis, tais como capacidade de compartilhar seus sentimentos de modo empático, modulado e, quando necessário, espontâneo e com mais calor nas trocas afetivas. No entanto, uma carga de afetos e sentimentos ansiogênicos e angustiantes, que produzem mal-estar e desconforto emocional, tem propiciado a vivência de mais episódios de tristeza do que a maioria das pessoas. Além disso, observou-se também uma marcada tendência a se sentir confusa e insegura quanto ao que sente. Normalmente, isso indica a presença de incertezas, confusões ou mesmo ambivalência sobre os sentimentos. Ou seja, a pessoa tende a evocar sentimentos de prazer e dor associados ao mesmo evento, o que a prejudica a discriminação de suas emoções, sentindo-se culpada pelos seus sentimentos e limitando suas possibilidades de bem-estar, podendo até mesmo evitar os afetos em sua vida. Quando Flávia disse que nunca sabia como estava a relação, se boa ou ruim
, parece que ela estava evitando entrar em contato com os seus sentimentos ambivalentes no tocante ao seu relacionamento, o que provavelmente limitava as suas possibilidades de bem-estar enquanto vivia com o namorado.
Considerando o desempenho de Flávia no que diz respeito aos aspectos cognitivos, trata-se de uma pessoa inteligente que capta e organiza as informações com facilidade e eficiência (processamento). Além disso, mostrou-se capaz de compreender as consequências de seus atos, de reconhecer os comportamentos mais adequados para a maioria das situações, bem como reconhecer as regras para uma boa convivência em grupo (mediação). Embora quase sempre revele uma linha de raciocínio lógica, coerente e voltada para resolução dos problemas de forma proativa, sem indício de qualquer distúrbio do pensamento grave, há dois aspectos que podem ser mais bem administrados (ideação). Em primeiro lugar, são os pensamentos pessimistas muito mais frequentes em Flávia que na maioria dos jovens de sua idade, o que é próprio de pessoas que têm inclinações às expectativas ruins, que acredita que tudo continuará mal, independentemente do que possa fazer. Esses pensamentos em Flávia favorecem ou alimentam estados depressivos. Em segundo lugar, nota-se na examinanda a predisposição para a inflexibilidade do pensamento, ou seja, trata-se de uma pessoa que se apega rigidamente a suas convicções e reluta em reavaliar sua postura com base em novas informações. Desse modo, poderá ser difícil administrar os pensamentos destrutivos e pessimistas de Flávia em relação à forma como percebe a si mesma e o outro, e o mundo ao seu redor.
• Respostas às três questões para a avaliação:
1) Quais as possíveis causas de tanta dor de cabeça e tensão? O desempenho de Flávia no teste revelou predisposição para constrição afetiva ou supressão dos sentimentos, o que predispõe a pessoa a ficar sobrecarregada e muito mais irritada e angustiada, e isso pode gerar facilmente sintomas psicossomáticos como dores de cabeça e tensão, uma vez que se trata de afetos que a pessoa não consegue canalizar por vias de expressões diretas. Todas as pessoas já guardaram os seus sentimentos somente para si uma vez ou outra em algumas situações, mas Flávia tem feito isso mais frequentemente, e as razões para essa excessiva inibição parecem estar fortemente relacionadas à sua ambivalência afetiva, ou seja, confusão com seus sentimentos, preferindo não lidar com eles diretamente.
2) Há evidência de depressão ? Como o Zulliger não é um teste específico para diagnósticos psiquiátricos, não há como afirmar que existe evidência de depressão, mas Flávia tem vivenciado mais momentos de angústia e tristeza que a maioria das pessoas, o que, aliado às suas queixas, sugere indícios de sintomas depressivos. Estão evidentes o seu sofrimento e a sua autodesvalorização frequente. Toda a sua dor emocional fica ainda maior porque ela controla rigidamente qualquer expressão dos seus sentimentos. Além disso, seu desempenho no teste indica uma predisposição para alternância de humor muito fácil: com períodos de normalidade, muita eficiência, elevada autoestima, autoconfiança e expressão de sentimentos agradáveis, porém intercalados com períodos de muita tristeza, sentimentos de inferioridade, muitas autocríticas negativas e ambivalência em relação aos seus sentimentos, o que diminui a sua capacidade de sentir prazer na vida e a deixa predisposta a se irritar e ter menos tolerância às frustrações. Isso sugere um funcionamento do tipo ciclotímico.
3) Há indicação para psicoterapia? Em caso positivo, o que deveria ser trabalhado? Sim. Flávia encontra-se em um nível de estresse alto o suficiente para impedir que pense com clareza e, consequentemente, não se sente satisfeita consigo mesma. Pessoas assim, quase sempre, estão motivadas para mudanças e receptivas a intervenções voltadas para a redução do estresse. Além disso, a examinanda mostrou capacidade de introspecção, de compartilhar seus afetos e sentimentos, bem como abertura a novas experiências. Todos esses aspectos confirmam a necessidade de que Flávia se engaje para que possa ter progresso num tratamento psicoterapêutico. Todavia, é importante que o terapeuta esteja atento para a pouca flexibilidade de Flávia na forma de pensar, bem como para necessidade que ela tem de ser reconhecida por seus esforços. A desatenção a esses aspectos poderá favorecer o abandono precoce do tratamento. O trabalho psicoterapêutico poderá focar os aspectos de sua autopercepção que tem favorecido problemas nas interações interpessoais e gerado sentimentos ambivalentes e de tristeza, diminuindo sua capacidade de administrar suas demandas de estresse do dia a dia. Provavelmente tanto a desistência de sua filha quanto o término do relacionamento há quatro meses, que pode estar desencadeando culpas provenientes de relacionamentos antigos, sejam fontes de autocríticas negativas e de estresse emocional.
Referências
Biasi, F. C., & Villemor-Amaral, A. E. (2016). Evidências de validade no Zulliger-SC para avaliação do relacionamento interpessoal de crianças. Psico, 47(1), 13-23. 10.15448/1980-8623.2016.1.19990
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Teste de Zulliger no sistema Escola de Paris
Aline Cristina Antonechen
Maíra Stivaleti Colombarolli
Gabriel Vitor Acioly Gomes
Fundamentação teórica
O Teste de Zulliger, ou Z-Teste, foi idealizado pelo psicólogo, filósofo e psicanalista suíço Hans Zulliger (1893-1965). Zulliger tornou-se amigo e colaborador de Herman Rorschach, interessando-se pelos estudos do método projetivo com manchas de tinta. Com outros autores, ambos fundaram a Sociedade de Psicanálise de Zurique. Em 1942, ao tornar-se psicólogo do Exército, Zulliger percebeu a necessidade de um método que fornecesse indicadores da personalidade para seleção de oficiais de combate, porém que fosse de rápida aplicabilidade. Foi então que criou o Teste de Zulliger, baseado nos mesmos princípios do Método de Rorschach, porém com número reduzido de pranchas ou diapositivos (Resende & Nascimento, 2019).
O Teste de Zulliger é um método projetivo composto por três pranchas com manchas de tintas. O primeiro cartão apresenta uma mancha compacta acromática (tons de preto, branco e cinza), que remete aos cartões I, IV, V, VI e VII do Rorschach. O segundo cartão apresenta predomínio das cores cromáticas (vermelho, rosa, verde e marrom), podendo ser associado aos cartões coloridos do Rorschach (cartões VIII, IX e X). E o terceiro cartão é o mais vazado, com maior probabilidade de interpretação de detalhes, fazendo alusão aos cartões II e III do Rorschach (Resende & Nascimento, 2019). Em sua aplicação, os cartões são apresentados ao respondente, ao qual é solicitado que responda à seguinte instrução básica: Com o que isso se parece?
. As repostas, fornecidas por meio de associação livre, são anotadas pelo aplicador, e posteriormente é realizado inquérito a fim de averiguar quais elementos favoreceram as interpretações fornecidas e em que partes do cartão o percepto foi visto. A partir da análise do conjunto de variáveis, é possível identificar aspectos da psicodinâmica do respondente.
Há diversos sistemas avaliativos que fundamentam interpretações do Teste de Zulliger. Esses sistemas diferem-se pelas escolhas teóricas e metodológicas, que influenciam na codificação e interpretação das variáveis do instrumento. Entre essas vertentes, encontra-se a Escola Francesa, ou Escola de Paris, como é conhecida atualmente.
A Escola de Paris tem como referencial os pressupostos psicanalíticos para interpretação e análise de variáveis. Os estudos iniciaram-se com o Método de Rorschach, posteriormente, e se estenderam ao Teste de Zulliger. Após a Segunda Guerra Mundial, o Método de Rorschach passou a ser mais conhecido nos países de língua francesa, com estudos liderados por Marguerite Loosli-Usteri, Nella Canivet, Cécile Beizmann e André Ombredane – esse último traduziu a obra Psychodiagnostik, de Hermann Rorschach, para o francês (Anzieu, 1986). Outros pesquisadores forneceram contribuições importantes a essa abordagem, como Didier Anzieu, Nina Rausch de Traubenberg, Chaterine Chabert e Vica Shentoub. A expressão Escola de Paris
foi postulada em 1990 por Chabert, para diferenciar os estudos dessa abordagem teórico-metodológica de outras correntes teóricas (Pasian & Amparo, 2018).
No Brasil, o sistema francês foi amplamente difundido com a vinda de Ombredane para o país. Uma pesquisadora relevante na área foi Monique Augras, que produziu o primeiro atlas normativo do Método de Rorschach para a população brasileira (Resende & Nascimento, 2019). Desde então, diversos pesquisadores se dedicaram aos estudos normativos do Método de Rorschach no sistema Escola de Paris, como Jacquemin (1976), Japur (1982), Pasian (2000), Gavião (2002), Jardim-Maran (2011), Freitas (2016), entre outros.
O sistema Escola de Paris tem como ênfase os processos associativos do respondente, enfatizando a análise qualitativa das respostas fornecidas. Nesse sistema, pretende-se compreender o funcionamento geral e as especificidades do funcionamento psíquico de cada indivíduo avaliado, reforçando a validade clínica do instrumento (Pasian & Amparo, 2018). Dessa forma, as informações coletadas são transformadas em indicadores quantitativos e qualitativos, que serão interpretados e fornecerão significados simbólicos.
De acordo com Chabert (1998, p. XXV), nesse modelo teórico cada fator é estudado na perspectiva dinâmica da sua pluralidade de sentido e da sua interação com outros fatores
. Sendo assim, as variáveis obtidas no protocolo são consideradas em conjunto com as demais