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Hegemonia, intelectuais e educação nos escritos de Gramsci
Hegemonia, intelectuais e educação nos escritos de Gramsci
Hegemonia, intelectuais e educação nos escritos de Gramsci
E-book258 páginas3 horas

Hegemonia, intelectuais e educação nos escritos de Gramsci

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Anita Helena Schlesener nos presenteia nessa obra "Hegemonia, intelectuais e educação nos escritos de Gramsci", com uma reflexão rigorosa sobre uma temática cerne no pensamento de Antonio Gramsci, absolutamente atual e necessária para pensarmos os problemas e desafios do nosso tempo. Não à toa a preocupação com um estudo sobre os intelectuais figurava o projeto mais audacioso pretendido por Gramsci no cárcere, como apontado em correspondência à cunhada Tatiana e já em esboço do primeiro caderno, justamente pelo importante papel conectivo e organizativo que os intelectuais assumem na luta política e social, no combate ou propagação de concepções de mundo, na conformação de vontade coletiva operante e inerente a organização prática da vida.
Organizada em sete capítulos, perpassa: "Hegemonia e intelectuais"; "Por uma história dos intelectuais italianos"; "Achille Loria na leitura de Gramsci nos Escritos Políticos"; "O 'Lorianismo' nos Cadernos do Cárcere"; "A formação do 'Brescianismo' e a crítica gramsciana"; "O professor enquanto intelectual orgânico", finalizando com "A atualidade da leitura gramsciana dos intelectuais".
Anita traz uma ampla cobertura de tratamento sobre essa temática, com elementos inéditos no âmbito das obras sobre o pensamento de Antonio Gramsci publicadas no Brasil, como a análise sobre lorianismo e brescianismo (categoria de intelectuais considerados escusos, mas muito influente no senso comum), ausente em livros brasileiros. Trata-se de um elemento muito importante para compreendermos a capacidade organizativa desses sujeitos que, em nosso tempo, respondem também pelo avanço da extrema direita.
O primoroso trabalho aqui exposto reflete a maturidade intelectual de um longo percurso de estudos e pesquisas de Anita. Pela cuidadosa e profunda fundamentação e análise teórica, ancorada principalmente nos escritos originais do teórico sardo, essa obra mostra-se absolutamente relevante tanto para os já iniciados nos estudos gramscianos quanto aos que buscam se aproximar da produção do autor.

Deise Rosálio Silva
Doutora em Educação pela USP e Docente da Universidade Federal de Minas Gerais
IdiomaPortuguês
Data de lançamento30 de abr. de 2024
ISBN9786586234619
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    Hegemonia, intelectuais e educação nos escritos de Gramsci - Anita Helena Schelesener

    HEGEMONIA E INTELECTUAIS

    A questão se cabe ao pensamento humano uma verdade objetiva não é teórica, mas prática. É na praxis que o homem deve demonstrar a verdade, a saber, a efetividade e o poder, a criteriosidade de seu pensamento (Marx, 1974a/b/c, p. 57).

    Iniciamos recordando a Tese 2 das Teses contra Feuerbach, de Marx, a fim de explanar os conceitos de hegemonia, bloco histórico e intelectuais no contexto dos escritos de Antonio Gramsci, concentrando-nos nos Cadernos do Cárcere. Esta tese nos remete à unidade entre teoria e prática, fundamento do materialismo histórico e fonte da reflexão gramsciana que sinaliza a impossibilidade de uma prática vazia de pensamento. A reflexão gramsciana leva até as últimas consequências a questão formulada nesta tese, ao desenvolver a proposição inovadora da tradutibilidade. Este intercâmbio recíproco entre teoria e prática, como fundamento gnosiológico da compreensão do movimento do real, perpassa os escritos gramscianos na definição de filosofia da praxis e permeia os conceitos de hegemonia e bloco histórico.

    O conceito de hegemonia é um dos conceitos fundamentais para a leitura e compreensão dos escritos de Gramsci; articulado ao conceito de bloco histórico permite a apreensão do conjunto de relações que se apresentam em uma estrutura. O conceito de bloco histórico expressa a articulação necessária e vital entre estrutura e superestrutura, assim como no corpo humano entre a pele e o esqueleto, junção que mantém o homem ereto, e não é pouco, visto que a pele não é uma coisa aparente e ilusória (Q. 4, § 15, p. 437), nas relações sociais as forças materiais são o conteúdo e as ideologias a forma, distinção de forma e conteúdo meramente didática, porque as forças materiais não seriam historicamente concebíveis sem forma, assim como as ideologias seriam singularidades individuais sem as forças materiais (Q. 7, § 21, p. 869). Portanto, a estrutura e as superestruturas formam um ‘bloco histórico’ (Q. 8, § 182, p. 1051, articuladas, interdependentes, condicionantes e condicionadas.

    Se seguirmos a senda do conceito de hegemonia desde o Caderno 1 podemos identificar três sentidos que, no fundo, se articulam: hegemonia define-se, em alguns momentos como direção, em outros como domínio (em tempo de crise o domínio se reforça) e, num terceiro momento, como equilíbrio entre domínio e direção:

    O exercício normal da hegemonia no terreno clássico do regime parlamentar se caracteriza por uma combinação de força e de consenso que se equilibram sem que a força supere em muito o consenso, mas, ao contrário, apoie-se no consenso da maioria, consenso expresso pelos assim chamados órgãos da opinião pública. (Q. 1, § 48, p. 59).

    Daí em diante, o conceito de hegemonia se apresenta em vários momentos dos Cadernos, a propósito da análise de situações históricas diversas, que vão desde a consideração da Revolução Francesa até a ascensão do fascismo na Itália. Uma das definições mais claras é encontrada no parágrafo 24 do Caderno 19 na análise da correlação de forças presente na Revolução burguesa italiana: a supremacia de um grupo social se manifesta de duas maneiras: como ‘domínio’ e como ‘direção intelectual e moral’. Um grupo social é dominante dos grupos adversários que tende a ‘liquidar’ ou a submeter inclusive com a força armada e é dirigente dos grupos afins e aliados. A direção intelectual e moral apresenta-se como uma das principais condições tanto para a conquista quanto para o exercício do poder, o que gera a necessidade de modificar a estratégia revolucionária das classes dominadas: Um grupo social pode e mesmo deve ser dirigente já antes de conquistar o poder governamental e, depois, tornando-se dominante, deve continuar a ser dirigente (Q. 4, § 38, p. 457).

    Desta perspectiva, o conceito pode funcionar como instrumento de análise e de crítica das relações econômicas, sociais, políticas e ideológicas da sociedade capitalista. Na análise das diversas situações de exercício da hegemonia em determinadas formações sociais, Gramsci retoma o Prefácio de Contribuição à Crítica à Economia Política (1859), de Marx, como o problema crucial do materialismo histórico, salientando a articulação entre estrutura e superestrutura, conforme, por exemplo, o parágrafo 38 do Caderno 4, intitulado Análise das situações: relações de força, que começa ressaltando explicitará a relação entre estrutura e superestrutura e, para tanto, é necessário mover-se no âmbito de dois princípios, que

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