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Violência da práxis: o sentido da religiosidade em Augusto Comte e Karl Marx
Violência da práxis: o sentido da religiosidade em Augusto Comte e Karl Marx
Violência da práxis: o sentido da religiosidade em Augusto Comte e Karl Marx
E-book245 páginas3 horas

Violência da práxis: o sentido da religiosidade em Augusto Comte e Karl Marx

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Sobre este e-book

O livro "Violência da Práxis: o sentido da religiosidade em Augusto Comte e Karl Marx" investiga as resistências do positivismo e do marxismo perante uma religiosidade que almeja a transcendência, pleiteando em seu lugar uma prerrogativa puramente humanista que aposte nas potencialidades sociais dos seres humanos. Alicerçadas no humanismo radical, as críticas de Comte e de Marx propõem, por meio de uma perspectiva imanente, um novo horizonte para a religião.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento4 de mai. de 2024
ISBN9786585121903
Violência da práxis: o sentido da religiosidade em Augusto Comte e Karl Marx

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    Violência da práxis - Maxmiliano Martins Pinheiro

    PRÓLOGO

    Apesar de ter escrito um livro e vários artigos sobre o positivismo e o marxismo, devo confessar que minha motivação para escrever essa obra advém de um ímpeto pessoal resultante da minha experiência religiosa. Por mais íntima que pareça essa intenção, posso assegurar que muitos leitores, independentemente de vivenciarem ou não a religião, terão a mes ma impressão desse fenômeno da radicalidade da práxis no âmbito religioso. Trata-se de um posicionamento que somente legitima a função da religião nas ações humanas, deixando em segundo plano as prerrogativas transcendentais que fazem parte do léxico religioso. Desse modo, pode-se afirmar que essa sublimação da prática como um veículo indispensável para a afirmação religiosa nas relações humanas, impelindo a religião a se legitimar exclusivamente por meio de projeções sociais, ilustra um fenômeno arraigado na nossa cultura. Prefigura-se, com efeito, um fator humano existente antes da própria modernidade.

    Conforme a minha vivência, é propício colocar que já fui um indivíduo muito mais envolvido com o catolicismo, chegando a ser seminarista. Não posso descrever uma experiência religiosa assentada numa sólida e singular vida devocional porque nunca estive nesse lugar. Mas devo confessar que, por determinados anos da minha juventude, demonstrei um comportamento um tanto beato, ancorado num fundamentalismo religioso. Percebi que há dois tipos de fundamentalismos: um resultante de uma ignorância e influência de uma autoridade religiosa (que foi justamente o meu caso), e outro assentado no cinismo e na violência, cujos praticantes imputam ditames moralistas na esfera social. Na verdade, são religiosos que descortinam uma intensidade pragmática tão forte quanto a dos positivistas e marxistas, porém com uma grande diferença: enquanto o positivismo e o marxismo são sinceros nas suas posições concretistas, esses fundamentalistas, valendo-se de uma religiosidade devocional de fachada, procuram instituir pela força uma agenda reacionária no espaço público. Retomando a minha trajetória, libertei-me do fundamentalismo, ampliando os meus horizontes por meio do contato com a teologia da libertação, resultante de uma vivência pastoral, embora tivesse algumas objeções, e do positivismo ortodoxo, quando visitei a Igreja Positivista do Rio de Janeiro, o que introduziu o meu contato com a obra comtiana. O leitor deve estar pensando que tanto essa minha relação indireta com o marxismo, por meio da teologia da libertação, quanto o meu envolvimento com o positivismo esmoreceram o meu fervor religioso. Mas não é verdade. O fato é que nunca tive vivência oracional, ou mesmo um conforto religioso. Minha crise existencial, quando estava no seminário, me certificou de que nunca fui um sujeito aberto à transcendência. Passei apenas por um período de radicalismo religioso em decorrência de algumas circunstâncias difíceis da minha vida, e somente recorro a Deus nos momentos de aflição.

    Mas o leitor, que já se encontra exausto com todas essas declarações, deve estar se indagando: o que isso tem a ver com o propósito desse livro, afinal? É justamente analisar como essa potência da práxis na vida religiosa, que esvanece o apelo ao sobrenatural, é um fenômeno acima do ingresso do positivismo e do marxismo no pensamento. Na verdade, não se propõe aqui investigar quando esse fenômeno se principiou. Contudo, com essas considerações, minha finalidade é mostrar como as filosofias de Augusto Comte e de Karl Marx, conforme as suas ponderações a respeito da religião, são herdeiras dessa tendência de conferir um sentido substancialmente pragmático ao fenômeno religioso.

    PREFÁCIO

    Este ensaio sobre filosofia da religião, uma área tão prestigiosa do conhecimento filosófico atual, tem entre seus primeiros méritos o cotejo entre dois críticos da religião: Augsuto Comte e Karl Marx. O que permite o autor abordar dois pensadores díspares é o foco central desta investigação, isto é, a práxis e a violência que pode advir se a concepção de religião se limitar à sua dimensão meramente prática. É verdade que já se disse: Mostra-me a tua fé sem obras, que eu te mostro a minha fé com obras, Tg 2, 18. E o autor, Maxmiliano Martins Pinheiro, parece concordar com isto. De fato, toda experiência religiosa tende à prática do amor ao próximo.

    Contudo, é importante retroceder um pouco na história do pensamento para mostrar que nem Comte, nem Marx e nem a Teologia da Libertação, que é tratada aqui num capítulo especial, ficaram imunes à redução filosófica da religião à prática moral, detalhadamente explicada por Kant em A Religião nos limites da simples Razão. Efetivamente, lê-se nesta obra kantiana que a religião é o conhecimento de todos os nossos deveres como mandamentos divinos, ou seja, a religião aqui é considerada como mero subgrupo da atividade moral do homem. Kant assumiu essa visão racionalista da religião como ‘moral dos ignorantes’ provavelmente por influência do Spinoza do Tratado Teológico-Político. Aqueles que não estão capacitados a agir moralmente pelo mero dever, agem consoante estímulos externos à moralidade.

    Posta nestes termos, a religião não teria nada de próprio e sua benemerência residiria justamente em seu valor ético. A religião favorece a vida ética, isto é, a prática dos mandamentos. Subjaz a esta redução kantiana a concepção do homem como ser autônomo, como autônoma seria sua moral.

    A passagem da religião como estímulo à prática moral para uma noção de práxis, tal como se apresentam nos pensadores aqui estudados, dá-se, pois, por meio de uma antropologia política. Ou seja, a prática de que se trata não é um simples amor individualista ao próximo, mas uma práxis, isto é, uma prática revestida de uma consequência política.

    Essa antropologia política, que também situa o homem contemporâneo na sua relação com os outros mediante o Estado ou a sociedade, é, ela mesma, sinônimo de eticidade. Mais uma vez, o indivíduo é interpretado a partir de uma totalidade. Nada disso seria falso se esta fosse uma das dimensões humanas às quais outras se integrariam. Por isso o autor fala de violência: a violência é mutilação. Estas correntes do pensamento defendem um humanismo radical, consoante a classificação do autor, que redunda, como dissemos, na mutilação de outras dimensões do indivíduo, como a experiência religiosa livre do reducionismo prático.

    Para que a dimensão própria da religião possa ser evidenciada diante da concepção reducionista da religião como prática moral ou subordinada à práxis política, é importante mostrar que o que é próprio da religião é o culto. Pensar o culto como prática moral e não naquilo que lhe é próprio, isto é, o serviço espiritual a Deus, que se não reduz a nenhum outro fenômeno da vida humana, é libertar a religião da violência da práxis.

    Relacionar Comte, Marx e a teologia da libertação parece chocar o leitor ao início, mas a habilidade intelectual e a erudição de Maxmiliano Martins acertaram no seu foco: a práxis. Estas três correntes do pensamento são tão influentes no Brasil que se destaca aqui este outro mérito do autor: uma revisão das premissas que formam o pensamento ético, político e religioso de nossa sociedade.

    Carlos Frederico Gurgel Calvet da Silveira

    Membro da Academia Brasileira de Filosofia

    Professor Titular da Universidade Católica de Petrópolis

    Professor Agregado da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

    INTRODUÇÃO

    Conforme exposto anteriormente, minha pesquisa acerca das filosofias de Augusto Comte e de Karl Marx é algo que tem me ocupado há algum tempo. No entanto, devo ressaltar que minha experiência consubstanciada num livro já lançado, assim como em alguns artigos já publicados como capítulos de livro, reside no fato de que toda produção anterior tinha como relevo um enfoque sociopolítico do positivismo e do marxismo, por ter sido resultado de estudos sociológicos decorrentes do meu segundo mestrado em sociologia política. Nesse sentido, a investigação do fenômeno religioso nos pensamentos de Comte e de Marx designa a grande novidade da presente obra, tanto por explorar o tema da religião entre esses filósofos numa perspectiva inicialmente comparada, como por ressaltar, por meio dessa temática, a inscrição filosófica do positivismo comtiano e do marxismo, que por muitas vezes é ofuscada.

    Todos os meus trabalhos em torno do pensamento político de Comte e de Marx desvelaram uma análise comparativa, destacando as confluências e as assimetrias entre ambos. Este livro, embora empregue uma metodologia comparada, não procura asseverar os pontos de interseção e as diferenças, mesmo fazendo-o em alguns momentos, mas investigar o protagonismo que esses filósofos conferem à ação humana no horizonte religioso. A expressão violência da práxis, inserida no título desta obra, designa a radicalidade do agir humano que faz com que a religiosidade só tenha sentido se for confinada à condição humana conforme suas perspectivas morais e políticas. Tal ênfase, dada à legitimidade da religião unicamente como organicidade das potencialidades sociais dos seres humanos, está patente tanto no positivismo quanto no marxismo. Não se trata somente de uma postura intelectual perante a religião, mas, sobretudo, de um estado de religiosidade. Com efeito, essa violência da práxis ilustra precisamente as circunstâncias, e principalmente os comportamentos de atores religiosos que, em defesa da efetivação de prerrogativas sociais segundo desígnios meramente humanos, aviltam as experiências devocionais pertencentes tanto ao cristianismo quanto a qualquer outro credo voltado ao sobrenatural. Por essa razão, um dos objetivos específicos desta obra é mostrar Comte e Marx não como os precursores dessa tendência pragmática, mas como intérpretes de um fenômeno religioso que, por longa data, já está ancorado no social, apesar de todo o empenho do primeiro em erigir sua Religião da Humanidade.

    Adentrando o desdobramento desta obra, o primeiro capítulo perscruta como Augusto Comte e Karl Marx assimilaram suas concepções de práxis a partir da tradição filosófica que os precedeu. Sendo assim, cumpre examinar a herança iluminista no pensamento comtiano, tendo como bússola as influências de Denis Diderot, Jean Le Rond d’Alembert e Marques de Condorcet, considerados seus predecessores; assim como no marxismo, em que tal prerrogativa decorre de uma oposição ao idealismo de Georg Wilhelm Friederich Hegel e ao materialismo de Ludwig Feuerbach, e no qual a práxis surge como superação da bifurcação entre pensamento e ação. Embora Comte e Marx descortinem um forte teor pragmático à práxis como um guia para a ação no qual a teoria e a prática constituem uma unidade, torna-se necessário asseverar a diferença da práxis nesses filósofos, pois tal vocábulo assume uma conotação muito mais crítica no segundo.

    O segundo capítulo, por sua vez, em continuidade ao anterior, desvela a consistência da práxis nos pensamentos de Comte e de Marx, quando investigados no âmbito religioso. Com efeito, a prerrogativa pragmática desses pensadores assume tamanha congruência, a ponto de dispensá-los do ateísmo teórico. Neste sentido, Comte e Marx consideram o ateísmo como um posicionamento medíocre da parte do indivíduo que pretende se emancipar de qualquer orientação religiosa. Não se nega Deus por meio de argumentos ou de demonstrações filosóficas, uma vez que essa postura designa uma teologia às avessas. Tanto para o positivismo quanto para o marxismo, os indivíduos simplesmente relegam o absoluto, apostando nas potencialidades humanas cujos resultados podem ser efetuados a longo prazo. As pessoas que buscam justificativas teóricas para asseverar a inexistência de seres divinos ainda se encontram atreladas aos dilemas teológico-metafísicos. Tal emancipação que Comte e Marx revelam diante de Deus e do mundo sobrenatural indica que ambos estão filosoficamente ancorados em um humanismo radical. Esse radicalismo pode muito bem suscitar um estado de religiosidade.

    No terceiro capítulo, serão expostas tanto as críticas quanto as perspectivas que esses pensadores descortinam em torno da religião. Por isso, cumpre elucidar primeiramente as resistências do positivismo e do marxismo no tocante às leituras teológicas como ineficazes às exigências do mundo moderno. Em seguida, deve-se assinalar as prerrogativas religiosas que podem ser verificadas nessas filosofias. Uma vez que Comte foi um pensador que teve um interesse bem mais profundo do que Marx no que concerne ao fenômeno religioso, como atestam muitos de seus escritos, torna-se imprescindível afirmar de antemão que, neste capítulo, a obra comtiana logrará de muito mais referências do que a marxista.

    O quarto capítulo tem como finalidade investigar as manifestações do marxismo e do positivismo na teologia da libertação. Como já sabido, há inúmeros estudos que compreendem uma literatura a respeito da influência do marxismo na teologia da libertação, porém há raríssima fonte bibliográfica em torno dos indícios do positivismo nessa matriz religiosa. Por conseguinte, um dos objetivos específicos desse livro é principiar análises acerca da presença da filosofia religiosa de Comte na teologia da libertação. Deve-se esclarecer que não se cogita aqui estabelecer um estudo comparativo entre o cristianismo, o positivismo e o marxismo, mas escrutinar, por meio das diferentes manifestações desse movimento religioso, os possíveis influxos dos pensamentos de Comte e de Marx no vasto território do catolicismo. A questão da radicalidade da práxis como modus operandi do fenômeno religioso configura a pedra de toque que propicia uma leitura da ingerência dessas vertentes filosóficas na teologia da libertação.

    Já o quinto capítulo ilustra a parte mais nevrálgica dessa obra, uma vez que examina os indícios do totalitarismo nos pensamentos de Comte e de Marx, tendo em vista os limites do humanismo radical que os alicerça. Todavia, é imperativo enfatizar, desde já, que não se pretende classificar o positivismo e o marxismo como filosofias totalitárias, como muitas vezes o fazem estudiosos liberais, existencialistas, neotomistas, pós-estruturalistas, entre outras linhas. Em contraposição a esse aviltamento teórico e acadêmico, este capítulo desconstrói primeiramente as asserções que, respectivamente, indiciam Comte e Marx como responsáveis pelas ditaduras ocorridas na América Latina e na União Soviética, já que esses filósofos teriam sustentado conotações políticas ditatoriais em seus escritos. Desse modo, a presente análise visa elucidar que as ditaduras apresentadas por esses pensadores foram substancialmente diferentes das que se efetivaram nessas regiões, e que suas críticas à democracia pleiteavam um aprimoramento do sistema democrático. Portanto, esta obra tem como finalidade sugerir que os excessos do positivismo e do marxismo, que colocam Comte e Marx sob a suspeita de totalitarismo, não se encontram no âmbito político, mas precisamente no ético. Trata-se, com efeito, do resultado dos limites do humanismo radical assumido por esses pensadores, pois fixando o gênero humano, por meio da práxis, no domínio da imanência, imputa ao indivíduo a projeção social como finalidade última de sua existência.

    Enfim, com esses tópicos de argumentação acima expostos, espera-se que essa obra contribua para futuros estudos filosóficos acerca da religiosidade nos pensamentos de Augusto Comte e de Karl Marx.

    CAPÍTULO 1

    DE ONDE VEM A PRÁXIS EM COMTE E EM MARX?

    A palavra práxis designa tanto uma ação concreta voltada para um determinado fim como um conjunto de atividades que podem transformar o mundo, informando sobre as causas ou condicionando as estruturas sociais. Logo, o termo significa conduta, conforme sua acepção grega, ou uma atividade que só tem sentido quando o homem altera sua relação com a natureza, segundo a concepção marxista que será explorada mais tarde. De qualquer forma, práxis denota algo concreto em ambos os sentidos.

    A tradição filosófica, desde a antiguidade, sempre trabalhou com o conceito de práxis. Aristóteles, por exemplo, considerava-a o fundamento da teoria. Com a modernidade, os campos do conhecimento tendem a ser mensurados através de suas eficácias ou resultados práticos para a vida humana. Por essa razão, a ciência, a arte, a teoria do conhecimento, a política e a religião são cada vez mais consideradas consoante suas relações diretas com as ações humanas. Neste sentido, a tarefa deste capítulo é investigar como Augusto Comte e Karl Marx se inserem de modos distintos nessa tradição moderna que já viabilizava a necessidade de práxis vinculada às diversas esferas antropológicas.

    Diante da tradição iluminista que o precedeu, Comte procurou dar continuidade à ideia de práxis que se encontrava nas concepções científicas, artísticas, religiosas e políticas da modernidade, aprimorando-a conforme as situações de seu tempo. Desta forma, torna-se mister observar algumas observações de Denis Diderot, Jean Le Rond d’Alembert, e o Marques de Condorcet, a respeito desses tópicos, já que Comte os considerava seus percussores legítimos na busca de uma reconstrução social. Segundo as palavras do filósofo: Desde, porém, que a reconstrução está na ordem do dia, a atenção pública volta-se cada vez mais para a escola de Diderot e Hume, que há de caracterizar realmente o século XVIII, ligando-o ao anterior por Fontenelle e ao seguinte por Condorcet (Comte, 1934, p. 5). A figura de d’Alembert está implícita na escola de Diderot já que ambos eram os enciclopedistas do século XVIII. É pertinente observar como as considerações de Diderot quanto à origem das ciências e das artes descortinam uma visão prática dessas potencialidades humanas, vinculando-as às necessidades dos homens em relação ao meio:

    Foi a indústria, a habilidade dos homens, empregadas nas criações da natureza, em razão de suas necessidades, de seu luxo ou divertimento, e ainda por curiosidade, que deu nascimento às Ciências e às Artes. E os pontos de reunião de nossas diferentes reflexões receberam as denominações de Ciência e de Arte, segundo a natureza de seus objetos formais, como afirmam os lógicos. Se o objeto é elaborado, o conjunto e a disposição técnicas das regras com as quais é elaborado dão-lhe o nome de Arte. Se o objeto é apenas contemplado sob diferentes ângulos, o conjunto e a disposição técnica das regras de observação relativas ao objeto dão-lhe o nome de Ciência (Diderot, 2011, p. 37).

    Conforme a descrição de Diderot a despeito da gênese das ciências naturais e das artes, foi a atividade industrial, consubstanciada nas intervenções humanas na natureza, que propiciou o surgimento da ciência e da arte. Portanto, o filósofo desvela que a práxis está inserida nesses campos do conhecimento. A concepção de Diderot em torno da práxis assume também um viés crítico às influições metafísicas e teológicas na arte e na religião em um de seus escritos que averigua as diversas expressões da pintura na vida humana. Há uma passagem em que

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