O sonho de Francisco: Pequeno guia de ecologia integral

De Luca Fiorani

A energia que impele a humanidade para o bem é o amor, como todas as culturas e religiões reconhecem, condensando esse ensinamento ne "Regra de Ouro": "Faça aos outros o que gostaria que fizessem a você". Essa sabedoria milenar se entrelaça hoje com a emergência ecológica: segundo a Regra de Ouro, devemos desejar um ambiente saudável e um clima hospitaleiro para a humanidade presente e futura.

• Idioma: Português
• Editora: Editora Cidade Nova
• Data de lançamento: 10 de mai. de 2024
• ISBN: 9786588624333

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Prefácio à edição brasileira

O sonho de Francisco… e de muitos de nós!

Sonho que se sonha sozinho é somente um sonho.

Sonho que se sonha juntos torna-se realidade.

Esta frase de Yoko Ono, retomada depois por John Lennon numa conferência e transformada em canção por Raul Seixas e outros, parece resumir, de certa forma, o que vem acontecendo com o Sonho de Francisco expresso na encíclica Laudato si.

O livro de Luca Fiorani é, em primeiro lugar, um belo testemunho de um cientista que, entre seus vários compromissos de pesquisador e professor universitário, trans­põe barreiras acadêmicas e busca facilitar a compreensão dos conceitos básicos da ecologia para seus alunos e alunas e para o público em geral. No caso desta publicação, ele mostra como a Laudato si é assunto do cotidiano de quem se engaja na busca da ecologia integral, independente do território que habita ou do setor social a que pertence.

Laudato si, definitivamente, é um Documento-Movimento que adquire seu pleno sentido quando estudado e praticado, no âmbito individual e coletivo.

Assim sendo, tão importante quanto rever os principais conceitos que perpassam o documento da Laudato si, como faz Luca Fiorani nesta publicação, é sentir-se parte do movimento Laudato si ao redor do planeta, ampliando cada vez mais os que sonham como Francisco ver acontecer o cuidado da Casa Comum, na qual o Criador nos colocou como guardiões e guardiãs.

Enquanto documento, a Laudato si incorpora uma longa história da doutrina católica que se expressa em vários de seus escritos. Mas a encíclica amplia o horizonte ao explicitar as relações sociais como relações bio-sócio-ambientais, ao colocar no centro o panorama da Criação e ao trazer a abordagem da Ecologia Integral. Francisco evidencia também que ele retrata princípios e valores existentes em muitas tradições espirituais de vários séculos, particularmente de povos ancestrais, complementando-os com conhecimentos da ciência que nos levam a entender a complexidade das relações entre todos os seres da Comunidade de Vida".

Tudo está interligado... é o refrão maior desta abordagem do papa Francisco. E é o que fez com que ele se sentisse à vontade para dirigir este documento não só a quem pertence à Igreja católica presente no planeta, mas também a todas as pessoas de boa vontade, num grande mutirão planetário de pessoas adultas, idosas, jovens, crianças...muito além do âmbito pessoal, para o âmbito das organizações e instituições que regem as relações bio-sócio-ambientais.

Este livro de Luca Fiorani traz, resumidamente, as grandes ideias contidas na Laudato si, lembrando, ao mesmo tempo, situações concretas ocorridas nos cinco anos que a sucederam... para o bem e para o mal. Porque as mudanças que se impõem à humanidade na linha da Laudato si não são espontâneas. Elas demandam uma ecologização do pensamento que torne possível optar por um novo jeito de ser ecológico.

É muito grande a missão que nos é confiada pela Laudato si. Não por acaso ela adquire tanta importância neste momento planetário tão difícil da COVID-19, no qual a Mãe Terra vem deixando tão evidente que a grande responsável pelas mudanças que se fazem necessárias na forma de viver e de conviver com os demais seres da Comunidade de Vida é a humanidade.

A Mãe Terra tem condições de regenerar-se. Mas, para isso, é urgente voltar à naturalidade das coisas, promovendo avanços e inovações que permitam à Mãe Terra passar por seus processos regenerativos.

Fala-se muito, e o papa Francisco reforça a necessidade de responder ao grito da terra e dos pobres. E isto só será possível com a partilha da abundância. É o oposto da promoção de mais e mais conflitos ocasionados pela visão economicista dos Bens Comuns da Criação tratados como meros recursos dos quais se pode usar e abusar... a serviço de seres humanos. Pior: de alguns poucos em detrimento da grande maioria que compõe a humanidade e da deterioração dos bens que a Mãe Terra nos oferece.

Este fenômeno conhecido como Antropoceno, que nos afeta em nosso cotidiano individual e coletivo no âmbito local, chega também aos mais altos postos das organizações dos Estados e, inclusive, às Nações Unidas, que deveriam ser instrumentos facilitadores do convívio da humanidade e dela com os demais seres da Comunidade de Vida. Em vez disso, cada vez mais estamos globalmente submetidos a algumas poucas corporações que controlam, por exemplo, a compra e venda de alimentos no mundo, utilizando-se de verdadeiros instrumentos de guerra como são os agrotóxicos, entre outros, além de transformar em meras commodities o que poderia ser um avanço e um progresso na produção e reprodução de vida. É lucro gerando lucro para alguns poucos, que amplia exponencialmente a miséria de muitos.

Só uma real conversão ecológica que entenda e pratique o amor para a Comunidade de Vida e nela, particularmente entre os seres humanos, conseguirá reverter a situação atual, que se tornou tão drástica com o aumento do aquecimento global devido às mudanças climáticas.

São necessários processos intensivos e extensivos de educação ambiental entendida como aprendizagem transformadora ao longo da vida. Estamos vivendo num momento histórico