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Aldora - Os Artefatos Divinos!
Aldora - Os Artefatos Divinos!
Aldora - Os Artefatos Divinos!
E-book431 páginas4 horas

Aldora - Os Artefatos Divinos!

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Sobre este e-book

Aldora mergulha em um profundo caos quando um importante artefato divino é roubado.
Em meio a essa desordem, um grupo improvável de aventureiros desajustados se unem pela determinação em recuperar a relíquia perdida.
No entanto, a busca vai além de simplesmente recuperar um objeto — é uma jornada de autodescoberta, superação de diferenças e quebra de preconceitos; desafios extras para uma já difícil busca. Contudo, não estão sozinhos em sua missão, e o tempo é um inimigo implacável.
Com lindas ilustrações e uma leitura cativante, Aldora é o começo de uma trilogia de aventuras que combina narrativa com elementos de jogos de RPG e anime, onde os dados decidiram os acontecimentos!
Aventureiros de todos os mundos e devotos da fantasia: vocês estão convocados para essa jornada.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento11 de mai. de 2024
ISBN9786598262983
Aldora - Os Artefatos Divinos!

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    Aldora - Os Artefatos Divinos! - Bianca G. Inácio

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    Anika

    O vento fraco gelava a pele de Anika como se os próprios deuses estivessem soprando em sua direção, mas o calor da adrenalina a impedia de sentir qualquer desconforto. Seu coração parecia disparado e ela podia sentir os próprios batimentos como se o órgão estivesse em sua garganta — o que obviamente não seria ideal, então ela estava feliz por saber que ele, na verdade, continuava no lugar certo.

    Ela era uma ladra experiente, claro, mas o que estava prestes a fazer era lendário. Enquanto estava ali, escondida em meio às árvores, ela observava o templo de Lupium, deus dos caninis, procurando por qualquer brecha de segurança. Os guardas caninis que vigiavam a entrada do templo pareciam focados, bem equipados, e Anika não podia negar que a aparência lupina daquelas pessoas lhe causava um pequeno desconforto, talvez medo. Afinal, ela era uma dhyadalis, tinha uma aparência muito diferente da deles, e a sociedade havia lhe ensinado desde criança a ter preconceitos sobre a outra raça que habitava o mundo de Aldora.

    Bom, isso não era importante naquele momento. A garota observou com cuidado os locais onde os guardas estavam, fazendo notas mentais para descobrir como entrar no templo sem ser pega, enquanto apertava o rabo de cavalo em seu cabelo castanho. Ela havia se preparado com muita antecedência, horas atrás, quando ainda estava na cidade de Kastenam perto dali, onde reviu todo seu equipamento e as tralhas e bugigangas úteis que carregava em sua mochila.

    Aquele seria o dia em que Anika se tornaria a primeira pessoa a roubar um Artefato Divino. Bom, a noite. Afinal ela não era idiota o suficiente para tentar roubar algo tão precioso em plena luz do dia.

    Ela sabia por fontes não muito confiáveis que os dois guardas na entrada leste do templo eram novatos no seu trabalho. Talvez houvessem passado por um longo processo de seleção para realizar a tarefa honrosa e todo esse blá-blá-blá religioso para o qual Anika não dava a mínima. Sorrateiramente, a ladra fez a volta no templo, indo em direção à outra entrada. E, para sua surpresa, eram dois caninis jovens que guardavam a porta, enquanto os outros pareciam bem mais velhos e experientes. Então suas fontes estavam corretas, afinal? Esgueirando-se entre as árvores e escondida entre as densas sombras, ela chegou mais perto com cuidado.

    Perto deles havia uma parede com pequenas saliências e buracos causados pela passagem do tempo. Levando em conta que os caninis não eram a raça predominante de Aldora, Anika imaginava que eles não tinham poder e dinheiro para manter o templo em melhor estado, o que era perfeito para ela. Um meio-sorriso apareceu nos lábios da dhyadalis conforme ela se abaixou e pegou uma pedra no chão. Mirando para o lado oposto do templo, ela jogou a pedra, que fez um som ecoante com o impacto.

    Ouviu isso?, um dos guardas disse, virando-se na direção do som.

    Deve ter sido só um pássaro ou algo do tipo, o outro respondeu com uma expressão entediada, franzindo seu focinho com irritação.

    E se for outra coisa?, o primeiro guarda questionou, nervoso, com as orelhas abaixadas de maneira preocupada.

    Não devemos deixar nossos postos, essa é a regra número um, Otto!

    Anika com certeza não iria ficar ali ouvindo aquela discussão idiota e desperdiçar a distração perfeita que ela havia realizado. Os movimentos da ladra eram rápidos e silenciosos, dignos de uma vida de experiência. Mais do que uma simples ladra, Anika era uma caçadora de tesouros. Em especial depois de ter deixado a guilda dos ladrões alguns meses atrás. De qualquer maneira, experiência era o que não lhe faltava.

    Com cuidado, a garota começou a escalar a parede, indo em direção ao teto. Ela ainda conseguia ouvir os dois guardas discutindo entre si enquanto se esforçava para ser silenciosa. A respiração da garota já estava pesada quando ela chegou no topo da construção. Por que, submundos, aquele templo tinha que ser tão alto?! De qualquer forma, com a graciosidade de uma raposa sorrateira, a ladra puxou seu corpo para cima da construção, respirando fundo para recuperar o fôlego.

    Olhando em sua volta, Anika percebeu um grande domo de vidro no centro do topo do templo, parcialmente coberto com folhagens e plantas selvagens. Uma grossa camada de poeira descansava sobre o vidro e era difícil enxergar a parte de dentro do edifício. Em volta do domo, havia outras pequenas janelas redondas que não pareciam estar em condições muito melhores. Anika andou agachada até uma das janelas menores, observando os encaixes do vidro. Parecia firme e robusto, então talvez a melhor opção fosse cortá-lo.

    Anika pegou sua mochila outra vez, revirando o conteúdo até encontrar um pequeno cortador de vidro. Ela nunca ouviu falar de um canini que conseguia usar magia, então torcia para que o vidro não fosse enfeitiçado enquanto passava o cortador com um leve ruído que era afogado em meio os sons de pássaros, animais, e os dois guardas ainda discutindo.

    Anika não esperava mesmo causar tanta discórdia.

    Felizmente, o vidro foi cortado com facilidade. A garota guardou o cortador e pegou uma luva especial, não sem antes desgrudar alguns objetos que ficaram presos nela. Colocando-a na mão direita, ela colou a palma no vidro cortado e o puxou para fora, criando um grande buraco por onde poderia passar. A ladra foi muito cuidadosa para colocar o vidro de lado, guardar a luva e pendurar uma corda para dentro do templo, que usou para entrar, e ela não conseguiu evitar sentir orgulho de si mesma.

    Ela deu um longo suspiro quando estava dentro do templo, olhando à sua volta. Sua fonte duvidosa estava correta: realmente não havia guardas ali dentro. Muitos desenhos elaborados decoravam as paredes, mas Anika não tinha tempo para ficar admirando a arte. Foi então que ela viu os três artefatos divinos de Lupium, um ao lado do outro, em grandes pedestais. Lá estavam eles: o Arco do Lobo, a Mochila Infinita, e o Amuleto de Comunicação. Todos tão perto dela, tão perto!

    A mochila era rústica, como uma grande sacola de pele de lobo; se ela não soubesse que aquele era um artefato divino, ela nem ao menos a olharia duas vezes. O amuleto era bonito, de algum material metálico que ela não soube reconhecer, em um formato circular como uma pequena lua. O Arco era grande, maior do que Anika esperava, mas muito elegante, com lindos detalhes e uma cor azulada. Anika podia sentir uma aura pesada e chegou a se sentir um pouco assustada durante alguns segundos.

    Em um mundo ideal, Anika seria capaz de furtar os três itens. Mas ela sabia que, se conseguisse pelo menos um deles, já seria um feito incrível. A ladra tinha conhecimento o bastante para discernir que a bolsa não era apenas um amontoado de pano, e que o amuleto não era um simples enfeite. Mas, mesmo assim, o Arco chamava mais sua atenção devido ao seu tamanho e beleza. E, claro, era impossível negar que ela sempre teve um fraco por armas bonitas.

    Anika se aproximou devagar do pedestal do Arco e olhou para a saída. Os guardas ainda não haviam percebido sua presença. A ladra esticou os braços em direção ao objeto e segurou-o com cautela. No mesmo segundo, Anika sentiu uma onda de energia passar de suas mãos até seus ombros, quase como um pequeno choque, e, com a surpresa da sensação, acabou deixando o Arco cair.

    A terra pareceu tremer, e quem por ali passava podia jurar que o céu havia escurecido — e estaria correto. As nuvens se juntaram e o chão parecia continuar vibrando. Anika ouviu os guardas se agitarem, e um O que foi isso?! ecoou pelas paredes do templo.

    Há alguém no templo!, a outra voz lá fora respondeu. A garota sentiu uma gota de suor descer pelo lado de seu rosto, desde a testa até o maxilar, enquanto pegava o Arco de novo. Ela estava acostumada a roubar itens valiosos, mas, apesar de seus anos de experiência, ela se via assustada e nervosa naquele momento.

    Era isso. A vida de Anika passou diante seus olhos ao imaginar-se presa em uma prisão em algum vilarejo canini para o resto da vida. Qual seria a sentença para quem rouba um artefato sagrado do deus deles? De certo, nada bom. Ela se escondeu atrás do pedestal com rapidez, abriu sua grande mochila e começou a procurar por um item. Lutar contra os guardas não era uma opção: ela preferia não ter que machucar seriamente alguém que estava somente fazendo seu trabalho. Entre seus pertences, finalmente encontrou um pequeno pergaminho, o qual agarrou enquanto ouvia os guardas chegando cada vez mais perto.

    Ali!, soou uma das vozes, e Anika sentiu algo que conhecia bem: a intensa ansiedade quando estão prestes a te capturar. Seus anos de roubos haviam lhe ensinado bem e, apesar de ter sido pega algumas vezes — nas primeiras, ela era criança demais e acabou saindo ilesa, mas já teve que passar um tempo na cadeia, visto que ninguém é perfeito —, ela estava confiante nas suas habilidades.

    Ela levantou-se em um pulo e abriu o pequeno pergaminho na frente dos guardas, que enrijeceram como pedra com a magia do objeto, e caíram no chão, movimentando apenas seus olhos em desespero. Eles ficariam bem: a magia dissipava com um ou dois minutos decorridos.

    Anika aproveitou a oportunidade e saiu correndo na maior velocidade que conseguia pela entrada de onde os guardas vieram. Que ridículo, como os guardas não tinham nenhum tipo de proteção contra um pergaminho daqueles? Claro, era um pergaminho raro; Anika havia passado por uns bons bocados até consegui-lo e infelizmente ele só tinha um uso, então agora não era nada além de simples papel. Mesmo assim, ela ,de certo modo, esperava que não fosse funcionar. As defesas canini estavam mesmo baixas, já que o povo estava cada vez mais recluso, uma vez que eram tão malvistos pelos dhyadalis. Pobrezinhos.

    O que ela faria com aquele artefato? Obviamente, ia mantê-lo na sua coleção. Muitos ladrões diriam para o vender, mas Anika os chamaria de tolos. Um ladrão de verdade não vende seus bebês, como ela chamava sua coleção. Se vendesse, ele não viraria apenas um mercenário? Claro, ela também se considerava uma caçadora de tesouros. Mas mercenária? Não, não ela.

    Ela correu por volta de vinte minutos na densa floresta, se escondendo entre as árvores, até que começou a ouvir ruídos à sua volta. A jovem parou, olhando para os dois lados, ansiosa, ainda com o Arco em mãos. De repente, uma flecha cortou o vento do seu lado, pousando fincada no chão. Os olhos de Anika se desviaram para frente, e lá surgiam seis figuras familiares, vindas das sombras, todas com armaduras leves. Duas dessas pessoas levavam arcos e flechas em suas mãos, outras três carregavam adagas e espadas curtas, e no meio ela reconheceu um indivíduo em especial.

    Era um homem de cabelos vermelhos curtos, um olho verde e outro turquesa e longas cicatrizes atravessando seu rosto. Ele sorria com desdém, uma linda espada escura com uma pequena curva e desenhos esculpidos nela em mãos.

    A próxima não vai ser só de aviso, viu?, ele falou e as pessoas à sua volta deram pequenos risinhos. Anika conhecia todos eles: eram membros da Guilda dos Ladrões, da qual fez parte durante um tempo. Sua visão e a visão da guilda, porém, acabaram entrando em conflito, e Anika decidiu ser uma ladra solitária. Mas as pessoas não deixam a Guilda dos Ladrões sem estarem mortas antes, então ela vinha fugindo durante um bom tempo.

    Klaus? O que te fez vir me mostrar essa sua cara feia? Achei que todos vocês estavam nos seus esconderijos, que nem os ratos que são, a garota respondeu, sorrindo docemente de volta.

    O sorriso de Klaus se desfez por um segundo, e ela podia jurar ter visto uma expressão de raiva no rosto dele, mas foi logo trocada por uma de superioridade. Sabe como é… as paredes têm ouvidos. Ficamos sabendo do seu planinho de roubar um artefato de Lupium. Ele chegou mais perto devagar, enquanto Anika deu um passo para trás. Você sabe melhor que todos nós que a guilda nunca se atreveu a roubar um Artefato Divino com medo de serem amaldiçoados pelo respectivo deus. O que te fez querer desafiar isso?

    Ora, estou aqui, não estou? Pareço amaldiçoada para você? Seus lábios sorriram de canto. É isso que importa.

    Klaus fez que sim com a cabeça. Entendo. Ele ficou em uma postura de batalha, e Anika pôde se sentir suar com nervosismo. Não iria aguentar lutar contra seis pessoas sozinha. Bom, é uma pena, porque o Arco é nosso agora. Pode passar pra cá.

    Quanta arrogância sua pensar que eu iria desistir tão facilmente. Anika segurou o Arco nas mãos em posição de batalha e, para sua surpresa, uma flecha de fumaça azul se materializou nele.

    Os dedos de Anika levantaram a flecha e o Arco, e ela mirou na direção do peito de Klaus. Com certeza uma flecha dessas não ia lhe tirar a vida, certo? Klaus nunca foi muito mais que um colega de trabalho… porém Anika não queria que a Guilda dos Ladrões ficasse mais ainda no seu pé. E ela tinha que admitir: havia passado muito tempo com ele ainda na guilda. Eles se davam bem. Então ela decidiu pegar leve, pelos velhos tempos.

    Foi um pensamento um pouco ingênuo, pois ela estava certa de que iria acertar. Não foi o que aconteceu.

    Ao tensionar a corda, Anika não estava acostumada com o peso leve da flecha, e acabou atirando ao lado de Klaus em vez de seu peito. O jovem conseguiu desviar, e Anika xingou-o em sua cabeça, mas ela não esperava o que aconteceu em seguida. Da flecha que havia acertado a terra atrás dos ladrões, saíram grandes espíritos e tanto Anika como os ladrões pareciam espantados.

    Eram os espíritos de dois lobos enormes, bem maiores do que o tamanho de um lobo normal, quase transparentes senão por uma fina fumaça azul que formava seus corpos. Anika ficou nervosa vendo a cena, porém, quando os lobos se voltaram para os ladrões e rosnaram, ela compreendeu que estavam do seu lado. E isso era muito, muito incrível.

    Klaus pareceu ficar irado com a cena e, após uma rápida olhada nos lobos, ele se voltou para Anika, correndo em sua direção com a espada em riste para atacá-la.

    Enquanto isso, Anika viu um dos ladrões à direita virar para trás e atacar um dos lobos. Junto dele, um dos arqueiros mirou no mesmo lobo e disparou. Os outros ladrões também pareciam virar sua atenção aos lobos, e Anika se sentiu agradecida pela ajuda. Ela tentou puxar outra flecha, mas ela parecia demorar um pouquinho para se materializar, então ela pendurou o Arco nas costas com sua grande mochila e recorreu às suas espadas curtas. No entanto, não as levantou a tempo de parar o ataque e a espada de Klaus acertou em cheio seu braço esquerdo. Como vestia uma roupa encantada, ela sentiu que o dano não havia sido tão forte quanto com uma veste qualquer.

    Aquela camisa verde decotada, o corset escuro, as luvas sem dedos, os shorts cobertos por uma saia de pele animal cheia de pelos, as longas botas e até a ombreira que ela usava… Anika sentiu um alívio por ter encantado todas as peças antes de se atrever a roubar aquele lindo item. Porém, ela sabia que Klaus teria feito o mesmo com suas vestimentas.

    Os espíritos sumiam quando eram atacados pelos ladrões, as armas deles atravessando as figuras fantasmagóricas. Logo um deles se virou para o ladrão mais próximo e mordeu com força sua perna, que pareceu levar o ataque como se fosse algo sólido o mordendo. Anika pôde ver um pouco de sangue saindo do machucado. O outro lobo correu para cima de um dos arqueiros, mas ele desviou.

    Anika torcia em silêncio para que os lobos continuassem lutando por mais tempo, e ela percebeu que não iria conseguir continuar a observá-los e ainda lutar contra Klaus. Focando-se no inimigo à sua frente, ela agarrou com força as espadas que carregava e desferiu um ataque. A lâmina robusta de sua mão direita se arrastou pelo peito de Klaus, que pareceu recuar com o impacto. Ele deu um leve passo para trás e a olhou com uma expressão resoluta e irritada antes de atacar com sua espada novamente.

    Ao levantar o braço, Klaus não percebeu que a garota voltou a focar em seu peito e completou o ataque anterior com a outra espada.

    Klaus arfou de dor com o impacto, recuando dessa vez alguns passos curvado para frente e ainda respirando alto. Golpe de sorte, ele disse com um olhar arrogante.

    O outro também?, Anika perguntou com outro sorriso. Ela observou a armadura de Klaus começando a se desfazer com um X marcado pelas suas espadas curtas, e ele soltou um riso abafado.

    Nesse momento ela deu uma olhada na cena atrás de Klaus, e ela viu os lobos novamente escapando dos ataques dos ladrões. Um dos arqueiros percebeu Anika observando enquanto Klaus recuperava o fôlego e mirou sua flecha na direção da garota.

    Pega de surpresa, Anika recebeu o golpe no ombro, adentrando sua armadura e rasgando a carne. A ladra gritou de dor e caiu de joelhos no chão frio e úmido, largando as espadas e levando uma das mãos ao ombro em um instinto de tentar aliviar a dor e estancar o sangramento. Aquela flecha com certeza estava encantada para destruir armaduras…

    Enquanto Anika sofria com a dor da flechada no chão, Klaus caminhou em sua direção segurando a espada com sua mão direita.

    Hora de me passar esse Arco, ele disse seriamente, um olhar calculista em seu rosto. Era claro: ele não estava mais brincando.

    Anika detestava a ideia de entregar um objeto raro, principalmente um que a tornaria uma lenda. Mas, mais que uma ótima ladra, ela também era esperta e sabia que estava sem condições de lutar.

    Ela virou-se para trás e pegou o Arco, ainda sentindo a dor aguda no ombro. Então ela o segurou na sua frente, olhando para ele conforme fazia menção de entregá-lo para Klaus. Mas ela parou por alguns segundos.

    Não tem outro jeito mesmo?, Anika disse, segurando firme a arma mais próximo do próprio corpo.

    Claro, é só você voltar pra Guilda dos Ladrões. Aí podemos todos juntos desfrutar da sensação de ter um objeto divino. Ele disse a última parte com um leve tom de deboche e deu de ombros.

    Anika sentiu um amargor na boca ao pensar em voltar para a guilda. Ela havia se desentendido muito com a chefe de lá, ambas com visões muito diferentes sobre o que era ser um ladrão. Ela sabia também que, se voltasse, teria que dar o Arco à chefe, e que ela provavelmente o venderia para algum reino em Aldora. Isso a deixava muito receosa, até raivosa, porém ela de fato não estava em condições de lutar…

    Anika passou alguns segundos considerando suas opções, enquanto Klaus parecia estar ficando sem paciência. A garota chegou a considerar a oferta, mas, quando pensou em como seria voltar, percebeu que iria sentir como se estivesse fazendo isso por obrigação, algo que ela odiava. Ela suspirou e jogou o Arco para frente, na direção dos pés de Klaus, sem colocar muita força.

    Você vai se arrepender por isso, ouviu bem?, ela disse com a voz calma, sabendo que não havia nada que pudesse ser feito naquele momento.

    Klaus bufou triunfante e se abaixou para pegar o Arco. No instante que ele tocou o objeto, Anika conseguiu ver os espíritos dos lobos de dissipando em fumaça azul. Quando ela olhou para cima, percebeu que a expressão dele não era mais de arrogância, e sim de algo diferente. Angústia? Culpa? Ela não sabia dizer.

    Sinto muito, Nika, ele falou baixinho, de modo que somente ela pôde ouvir. Klaus prendeu o Arco nas costas rapidamente e virou-se para os seus companheiros. Vamos embora daqui.

    A garota observou todos darem-lhe as costas e irem embora, e ela sentiu que aquela cena ficaria entalhada na sua memória para sempre. As silhuetas dos ladrões adentraram a floresta e sumiram em meio às árvores. Ela sentou-se no chão e pegou sua grande mochila, procurando por algumas bandagens. Dando uma olhadinha rápida para o lado, ela viu a flecha ainda presa em seu ombro e fez uma careta de dor. Ela teria que remover aquilo mais cedo ou mais tarde.

    E ela precisaria ir logo para a cidade mais próxima e procurar um subtemplo onde poderia buscar ajuda para tratar seu ferimento.

    Páginas de ALDORA - FINALIZADO_Página_04cap22

    Eleanor, Garreth e Magnus

    Era uma noite fria, porém o fogo da pequena lareira no primeiro andar da estalagem mantinha Eleanor aquecida. Os tons de luz laranja agraciavam o local, sua única fonte de iluminação e calor. Kastenam parecia tão silenciosa naquela noite, diferente de como era durante o dia: as ruas cheias de dhyadalis caminhando por todas as direções ou parados vendendo algo em uma bancada improvisada. Os guardas passavam por perto, andando por um caminho pré-definido em patrulha. Se você prestasse atenção, podia ver também um canini ou dois, sempre escondidos nas sombras, vivendo uma existência simplória.

    Eleanor não se considerava uma pessoa ruim. Ela havia feito coisas que qualquer mago consideraria imprudentes ou proibidas, mas era impossível se sentir mal por ter ressuscitado alguém quando essa pessoa te agradece com tanto apreço. Garreth e Magnus estavam felizes por ela ter os ajudado. Eleanor tentava se segurar a esse pensamento. Apesar de tudo isso, ela não podia evitar o pequeno preconceito que tinha contra os canini.

    Quer dizer… eles se tornavam bestas selvagens quando comiam carne de alguma pessoa. E como saber que não iam ceder e acabar devorando alguém do nada? Para ela, era claro que precisavam ser mantidos à distância.

    As paredes da pequena hospedaria, chamada Dente de Dragão, ecoavam a música baixa que saía do alaúde batido de uma barda ao canto. A construção contava com o andar térreo, onde eram servidas comidas e bebidas, enquanto os quartos ficavam no andar de cima, subindo uma pequena escada de madeira já velha. O plano de Eleanor era ficar em um dos quartos enquanto Garreth e Magnus ficavam de guarda, já que eles não precisavam dormir como ela. Mas, antes de ir se deitar, ela foi desafiada a um jogo de parla amarela, seu jogo de cartas favorito. Claro, mesmo com os olhares desaprovadores de seus companheiros, Eleanor

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