Bolsa de valores para médicos: 2ª edição

De Francinaldo Gomes e Francisco Vaz Guimarães Filho

O mundo dos investimentos pode parecer um mistério ou até mesmo algo assustador para quem não sabe como utilizar bem o seu dinheiro. O risco de perder o valor investido é o que mais assombra aqueles que ainda não se aventuraram nessa área. Para muitos médicos, mais ligados às questões técnicas da sua profissão, tudo isso pode parecer distante e fora da sua realidade.

Com o livro Bolsa de Valores para Médicos, que chega agora em sua segunda edição, os autores Francinaldo Lobato Gomes e Francisco Vaz Guimarães Filho mostram que os investimentos não precisam ser um bicho-de-sete-cabeças para os profissionais da Saúde. Aplicar o dinheiro em ações, construindo uma carteira rentável e que traga segurança financeira ao longo do tempo, é possível e pode render bons frutos para quem se dedicar a essa ação.

Nas páginas desta obra, o leitor encontra, logo de início, as noções gerais sobre o mercado de ações no Brasil, como funciona a Bolsa de Valores e o que significa fazer um bom planejamento financeiro. Em seguida, os autores trazem um passo a passo a cada novo capítulo de como se aventurar com segurança nessa nova empreitada. Quais são as estratégias ao lidar com ações? Como gerenciar o risco? Como diversificar os investimentos?

Para o médico, esta obra é um porto seguro para que possa entender melhor como seu dinheiro pode render e gerar bons frutos.

• Idioma: Português
• Editora: Doc
• Data de lançamento: 10 de jun. de 2024
• ISBN: 9788584001439

Pré-visualização do livro

PARTE I

Noções gerais e planejamento financeiro

Quem não sabe o que procura não entende o que encontra

Claude Bernard

Antes de ser médico, você precisa escolher ser médico. Da mesma forma, ter independência financeira é uma questão de escolha.

No capítulo 1, serão apresentadas as noções básicas para se familiarizar com o mercado financeiro no Brasil. Você aprenderá os termos técnicos, aprenderá sobre as corretoras e suas funcionalidades, sobre as principais formas de avaliar o mercado financeiro e sobre as regras de tributação e verá como fazer para comprar e vender ações no mercado à vista.

O capítulo 2 mostra o que a Medicina tem em comum com o mercado de ações. Você verá que o médico já tem certa vantagem em relação aos profissionais de outras áreas. Além disso, você perceberá que a falta de tempo não é impeditivo para o investimento em ações.

O capítulo 3 é de extrema importância. Sem planejamento financeiro, não sobra dinheiro para investir. O alcance da independência financeira requer a mudança de certos hábitos. Você verá, ainda, o quanto é importante a educação financeira dos seus filhos, para que eles tenham um futuro financeiro tranquilo.

CAPÍTULO 1

O mercado de ações no Brasil

A bolsa de valores não é um cassino ou uma loteria esportiva, em que as pessoas podem, se derem sorte, multiplicar seu dinheiro do dia para a noite. A bolsa é, antes de tudo, uma oportunidade de se tornar sócio de empresas e participar de seus lucros em longo prazo. Por isso, o investimento em bolsa é de longo prazo e se ajusta ao objetivo de construir uma poupança para a aposentadoria

Marcelo Guterman

Introdução

Uma carteira de investimentos segura e rentável deve conter ativos de renda fixa e ativos de renda variável em diferentes proporções. Um dos produtos de renda variável mais importante e que não pode deixar de fazer parte da carteira são as ações. Em longo prazo, o investimento em ações feito da maneira correta supera com sobra os demais tipos de investimentos (figura 1). O investimento em ações é imprescindível para o sucesso porque proporciona rendimentos acima da renda fixa em longo prazo e também tem alta liquidez.

Figura 1. Retorno de diferentes ativos ao longo de 200 anos no mercado americano, partindo de um dólar investido em diferentes produtos. O retorno mostrado é o retorno real, já descontada a inflação do período. O investimento em ações é o que oferece o melhor retorno comparado aos demais produtos. Esse estudo foi reproduzido em vários países, todos com resultados semelhantes, mostrando que não se trata de uma particularidade do mercado americano

Ações são ativos de renda variável, porque não há como saber com certeza absoluta qual será o ganho ao longo do tempo. Nesse tipo de investimento, reina a incerteza quanto à rentabilidade e à volatilidade (variabilidade). Entretanto, como podemos ver na figura 1, fica evidente que as oscilações se tornam irrelevantes ao longo do tempo, fazendo com que a evolução do patrimônio seja crescente. É exatamente por conta dessa incerteza que o retorno do investimento em ações é também mais elevado em longo prazo, embora ocorram variações.

Um dos obstáculos mais importantes a ser vencido para que você tenha sucesso com o investimento em ações é entender e aceitar o fato de que o preço varia, tanto para cima quanto para baixo.

Neste capítulo, você aprenderá os conceitos básicos para ficar familiarizado com o mercado de ações, aprenderá os principais jargões usados nesse mercado, entenderá o funcionamento da bolsa de valores, saberá como escolher a corretora, como usar o home broker e também os aspectos tributários envolvidos no investimento em ações.

Ações

Ações são títulos que representam a menor parte negociável de uma empresa de capital aberto (figura 2), também chamada de sociedade anônima (SA). Ao adquirir ações, você se torna sócio da empresa, passando a usufruir dos resultados da empresa.

Os ganhos do investimento em ações podem vir de parte do lucro da empresa na forma de proventos (dividendos, juros sobre o capital próprio, bonificação em ações e direito de subscrição), do crescimento da empresa e com a consequente valorização das ações em longo prazo e também das estratégias com opções. Para alcançar esses objetivos, é preciso ser sócio de empresas boas e lucrativas e manter-se sócio enquanto as empresas continuarem boas e lucrativas.

A principal vantagem em ser acionista de uma empresa boa e lucrativa é que você ganhará dinheiro sem ter que trabalhar na empresa. O acionista é o sócio ausente da empresa. Isso permitirá que você continue exercendo suas atividades enquanto seu dinheiro trabalha para você.

Figura 2. Ação é a menor parte negociável de uma empresa de capital aberto

B3 (Brasil, Bolsa, Balcão)

A B3 é o local onde são negociadas ações e outros ativos das empresas de capital aberto devidamente selecionadas. É a bolsa de valores brasileira, a maior da América Latina e uma das maiores do mundo em valor de mercado. A B3 está sediada na cidade de São Paulo. Todas as negociações são feitas eletronicamente pelo home broker.

O índice Bovespa (Ibovespa ou IBOV) é o principal indicador do desempenho médio das cotações do mercado brasileiro de ações. Ele é ajustado em tempo real e baseado em uma carteira teórica composta pelas ações que preenchem critérios pré-estabelecidos, sendo a liquidez o principal critério. A carteira teórica é revista quadrimestralmente.

No momento em que esse índice foi criado, foi atribuído a ele o valor de 100 pontos. Acompanhá-lo significa ter um panorama geral de como as ações das principais empresas de capital aberto estão se comportando. Atualmente (abril de 2023), o IBOV está em 100 mil pontos.

As ações que compõem o índice correspondem a cerca de 80% do volume total de negócios e do volume financeiro do mercado da B3. A cada quatro meses, a carteira é reavaliada e vigora para os seguintes períodos: janeiro a abril, maio a agosto e setembro a dezembro.

No momento atual, são negociadas ações de cerca de 400 empresas, distribuídas em setores. Apesar de parecer grande, o mercado brasileiro de ações ainda é incipiente se comparado ao americano, por exemplo. Para se ter uma ideia, cerca de 65٪ dos americanos investem em ações para aposentadoria, enquanto apenas 2٪ dos brasileiros investem em ações.

No mercado americano, existem cerca de 5 mil empresas que negociam ações (mais de dez vezes o número de empresas brasileiras). Portanto, a bolsa de valores brasileira é, na verdade, uma pochete se comparada às bolsas de valores de países desenvolvidos. Por outro lado, o mercado acionário brasileiro apresenta um enorme potencial de crescimento, o que vem ocorrendo nos últimos anos com várias empresas, inclusive da área da Saúde, abrindo capital e fazendo oferta pública de ações.

Segmentos de listagem da B3 e o tag along

As diferentes empresas de capital aberto que têm ações negociadas na B3 ocupam diferentes segmentos de listagem com base em diferentes regras que se propõem a cumprir (figura 3). Essa segmentação visa a dar aos investidores o máximo de segurança e transparência para, dessa forma, funcionar como uma ferramenta para impulsionar o mercado de capitais como financiador do crescimento econômico do país.

Basicamente, existem cinco segmentos de listagem ou níveis de governança corporativa, cada um deles tendo um objetivo diferente. Em cada nível, existem diferentes regras que as empresas se comprometem a cumprir. Para nós, pequenos investidores, a concessão de tag along é o mais importante, pois o grande medo de quem compra ações é de que a empresa venha a falir e se perca tudo.

O tag along é um mecanismo previsto na Lei das Sociedades Anônimas que visa a dar mais garantias aos acionistas minoritários no caso de mudanças no controle da empresa. Isto é, quando uma empresa garante um tag along de 100%, significa que o acionista minoritário receberá 100% do valor por ação recebida pelo acionista controlador no caso de venda da empresa. Se o tag along for de 80%, o acionista minoritário receberá essa proporção do valor pago ao controlador. Segundo a legislação, o tag along só é concedido aos acionistas que possuem ações ordinárias (ver adiante). Para os acionistas que possuem ações preferenciais, fica a cargo da empresa decidir (ela não é obrigada) sobre a concessão do tag along, devendo constar em seu estatuto.

As empresas que participam do Segmento Tradicional limitam-se apenas a cumprir a regulamentação determinada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Apenas as ações ordinárias possuem tag along de 80%.

As empresas listadas no Nível 1, além de cumprirem a regulamentação determinada pela CVM, se comprometem a serem mais transparentes na divulgação das informações aos investidores. Tal como no segmento tradicional, apenas as ações ordinárias têm tag along de 80%.

As empresas listadas no Nível 2, além de cumprirem a regulamentação determinada pela CVM, se comprometem a serem mais transparentes, a concederem direitos aos acionistas e a assumirem compromissos societários. As empresas que fazem parte desse segmento oferecem tag along de 100% para as ações ordinárias e preferenciais.

As empresas listadas no Novo Mercado, além de cumprirem a regulamentação determinada pela CVM, se comprometem a serem mais transparentes, a concederem direitos aos acionistas e a lançarem apenas ações ordinárias no mercado. As empresas que participam desse segmento, considerado o nível mais elevado de governança corporativa, só podem ter ações ordinárias e com tag along de 100%.

As empresas listadas nos segmentos Bovespa Mais e Bovespa Mais Nível 2, além de cumprirem a regulamentação determinada pela CVM, se comprometem a serem mais transparentes, a concederem direitos aos acionistas e a negociarem apenas ações ordinárias no mercado, embora possam existir ações preferenciais. Esses segmentos se destinam, basicamente, a preparar empresas para entrarem no Novo Mercado.

Figura 3. Diferentes segmentos de listagem na B3. Atente para a concessão de tag along e para o fato de o Novo Mercado permitir apenas ações ON e o Nível 2 permitir ações ON e PN com direitos iguais aos acionistas (destacados dentro dos quadrados vermelhos)

Fonte: B3. Segmentos de listagem. [Internet] Acesso em 5 abr 2023. Disponível em: <www.b3.com.br/pt_br/produtos-e-servicos/solucoes-para-emissores/segmentos-de-listagem/sobre-segmentos-de-listagem>.

Ao entrar em um determinado segmento de listagem, cada empresa recebe um selo que a identifica (figura 4). É muito importante conhecer os segmentos de listagem, porque será um dos critérios utilizados para você escolher quais empresas são boas para ser sócio e quais não são.

Figura 4. Selos representativos dos diferentes segmentos de listagem das empresas na B3

O funcionamento do mercado de ações

O horário de funcionamento do mercado de ações é chamado pregão. O pregão ocorre de segunda a sexta-feira, exceto em feriados, das 9h45 às 17 horas, no horário de Brasília, e apresenta os seguintes segmentos para o mercado à vista (figura 5).

Figura 5. Horários de funcionamento da B3

¹Correções de operações poderão ser efetuadas em todos os mercados até às 19 horas.

²Na data de vencimento, a negociação das séries vincendas se encerra às 16 horas.

Fonte: B3. Horário de negociação. [Internet] Acesso em 5 abr 2023. Disponível em: <www.b3.com.br/pt_br/solucoes/plataformas/puma-trading-system/para-participantes-e-traders/horario-de-negociacao/acoes>.

Tipos de ações

Resumidamente, há três tipos de ações negociadas no mercado (figura 6).

Ações ordinárias (ON): o acionista tem direito a voto nas assembleias gerais. Costumam ter liquidez menor do que as ações preferenciais (ver adiante), porque os detentores de ações ordinárias quase não têm interesse em se desfazer delas para não perderem o direito a voto. As empresas pertencentes ao Novo Mercado só podem ter ações ordinárias.

Ações preferenciais (PN): o acionista não tem direito a voto, mas costumam ter preferência sobre os detentores das ações ordinárias no recebimento dos proventos. Costumam ter mais liquidez que as ações ON. Se a empresa fizer parte do segmento de listagem Nível 2, o tag along será de 100% para as ações PN (figura 3).

Units: na verdade, não são uma única ação, mas, sim, um pacote formado de ações ON e PN em diferentes proporções, funcionando como um certificado de depósito de ações. Costumam ser pouco negociadas.

Figura 6. Características dos tipos de ações mais comumente negociadas na B3

Nomenclatura das ações: ticker

Para negociar ações, utiliza-se o ticker ou nome abreviado da ação. O ticker é formado por quatro letras designativas da empresa e por um número que informa o tipo de ação. O número 3 é usado para as ações ordinárias, os números 4, 5 e 6 são usados para as ações preferenciais e o número 11 é usado para designar as units.

As ações ordinárias e preferenciais têm maior importância para as estratégias ensinadas neste livro por serem as mais negociadas. A figura 6 resume as características dessas ações.

Desdobramento e grupamento

O termo desdobramento, também chamado split, consiste em um aumento do número de ações em circulação acompanhado de redução do preço na mesma proporção, de forma que o financeiro permanece o mesmo.

Por exemplo: as ações ITUB4 (ações preferenciais do Itaú Unibanco) estavam sendo negociadas a R$547 cada. Em janeiro de 2015, foi feito o desdobramento na proporção de 10 para 1, com cada ação passando a custar R$54,70. Dessa forma, o número de ações foi multiplicado por 10 e o preço foi dividido por 10. Quem possuía 100 ações a R$547 passou a possuir 1 mil ações a R$54,70. Em ambos os casos, o financeiro permaneceu o mesmo, isto é, R$5.470.

O termo grupamento, também chamado inplit, consiste na redução do número de ações em circulação acompanhado de aumento no preço na mesma proporção, de forma que o financeiro do acionista permanece o mesmo. Por exemplo: as ações INEP4 (ações preferenciais da Inepar Indústria e Construção) estavam sendo negociadas a R$1 cada. Em junho