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Intenções Ocultas
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E-book424 páginas5 horas

Intenções Ocultas

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Sobre este e-book

Descrição do livro:

Quando a missão de Cailey, de treze anos, em uma casa abandonada do Texas dá errado, ela precisa encontrar maneiras de escapar de seus sequestradores impiedosos e sobreviver, enquanto seus pais são forçados a tomar uma decisão fatal para salvar a filha e descobrir a verdade. Cailey participa de um desafio criado por sua turma de amigos, mas tudo sai muito mal. Ao descobrir que a aventura da filha a levou a ser sequestrada por Anne e seus comparsas, o pai de Cailey, Barry Marshall, enfrenta um dilema mortal.  Anne exige que ele assassine seu próprio irmão ou Cailey morrerá. Ela recusa-se a revelar a razão pela qual o irmão dele deve morrer. Por outro lado, uma mãe faz qualquer coisa por uma filha. É Erin quem, sem pestanejar, arrisca-se para salvá-la, mesmo que, para isso, tenha que matar. Enquanto isso, Cailey precisa suportar o tormento sádico que Anne lhe impõe, para poder sobreviver.  

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento9 de dez. de 2024
ISBN9781667481883
Intenções Ocultas
Autor

Alan Brenham

Alan Brenham is the pseudonym for Alan Behr, an author and attorney. He served as a law enforcement officer before earning a law degree and working as a prosecutor and a criminal defense attorney. He has traveled to several countries in Europe, the Middle East, Alaska, and almost every island in the Caribbean. While working with the US Military Forces, he lived in Berlin, Germany. Behr and his wife, Lillian, currently live in the Austin, Texas area.

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    Intenções Ocultas - Alan Brenham

    CAPÍTULO 1

    CAILEY MARSHALL

    Eu não deveria ter chegado nem perto daquela casa velha dos Pierce. Era uma silhueta assustadora de um barraco. Não me surpreenderia se o local desabasse sobre mim logo após eu entrar lá. Se minha mãe soubesse onde me encontrava, ela teria tido um chilique. No entanto, já estive em muitos lugares sem o conhecimento de meus pais.  Vim aqui por um desafio. Algumas garotas da minha turma da oitava série tinham o seu chamado clube, e eu queria participar. Para isso, teria que visitar aquela casa após o entardecer e trazer um item que as garotas haviam deixado lá. A única dica era procurar em um local que se enchia de água.  

    De todo modo, ali estava eu, iluminando com a lanterna do meu iPhone o que tinha sido a cozinha da velha casa dos Pierce. Ainda tinha o piso de linóleo. Partes dele estavam rasgadas, outras totalmente ausentes. Uma pia dupla salpicada com fezes de ratos. Nada mais ali.  Um espaço onde havia ficado um refrigerador. Portas de armários faltando, pedaços do teto pendurados. O local todo cheirava a mofo.

    Ninguém havia habitado ali desde que os Pierce morreram, há alguns anos. Pelo menos é o que diziam as crianças da escola. Eu não sei, pois nunca tinha estado neste bairro. Era velho e decadente. Elas também diziam que os Pierce ainda assombravam a casa. Essa a parte que assustou minha melhor amiga, Teegan, ao ponto de não vir comigo. Segundo elas, os espíritos dos Pierce ainda rondavam a casa. Sim, claro. Devem ter dito isso apenas para me assustar. Eu ainda não tinha visto ninguém. Nada de correntes tilintando. Nenhum gemido estranho. O único barulho que ouvi foi o de estilhaços de vidro estalando sob meus sapatos ao passar pela porta dos fundos, provavelmente resultantes dos painéis de vidro da porta, que se haviam despedaçado. 

    Eu entrei em um aposento de tamanho mediano. Ele tinha duas grandes janelas, todas quebradas. A lareira estava coberta de poeira e teias de aranha. Palavras que fariam minha avó corar estavam entalhadas nas paredes. A sala parecia um depósito de lixo. Sacolas amassadas do McDonald’s e pontas de cigarro espalhavam-se por toda parte. Copos de papel achatados, latas de cerveja amassadas e garrafas de vinho vazias jaziam empilhados em um canto.

    Uma passagem levava a um corredor curto. Um horrível cheiro de vômito indicou-me onde ficava o banheiro. Apertei o nariz ao entrar. Tanto a pia quanto a banheira estavam vazias. O vaso sanitário não havia recebido uma descarga sabe-se lá há quanto tempo. Faltava verificar mais um banheiro. Deveria ficar no quarto dos Pierce. A única coisa que restava naquele quarto era uma velha cama queen size. Ela e alguns preservativos jogados em um canto. Ouvi um estalido ao adentrar o banheiro, como se alguém ou algo estivesse caminhando pelo chão. Devia ter sido um rato. Que ótimo.  

    Um grunhido me indicou que eu não estava sozinha. Eu tinha fechado a porta traseira, portanto não poderia ser um cachorro. Nenhum rato sobre o qual já tinha lido emitia grunhidos. Podia ser uma das garotas da escola. Decidi checar, saindo do aposento. Foi quando ouvi o ruído de passos pesados e apressados. Meu estômago ficou preso na garganta.

    A voz áspera de um homem parou minha respiração:

    — Ah, sei que você está aí, garotinha.  

    Retrocedi a um canto atrás da porta. Não adianta, disse a mim mesma, esse seria o primeiro lugar que ele iria olhar. Tenho que me esconder. Mas onde? Seus passos pesados se faziam mais ruidosos. Iluminei o cômodo com a lanterna do iPhone. O armário? Não. Ele por certo procuraria lá. A cama.

    Meu único esconderijo era debaixo dela. Corri pelo quarto, deitei de barriga no chão e deslizei para baixo. Desliguei a lanterna. Teias de aranha grudavam no meu rosto e orelhas. Deveria haver alguns centímetros de pó ali. Fiquei quieta, esperando e desejando que ele fosse para o outro lado. Pedaços de colchão tocavam meu rosto. Poderiam ter sido mais teias. Eu nunca deveria ter vindo para essa casa em ruínas, no escuro, sozinha. Nunca deveria ter aceitado o desafio proposto por aquelas garotas. Provavelmente, não havia nada escondido nas pias ou banheiras. Se saísse deste lugar viva, mamãe e papai gritariam enraivecidos. Mamãe me colocaria de castigo até meu trigésimo aniversário. Minha vida estaria acabada. De qualquer forma, talvez estivesse, caso esse homem me encontrasse.   

    Avistei suas pernas quando ele entrou pela porta. Botas de trabalho. Entrando no quarto. Senti a cor fugindo do meu rosto quando ele parou em frente à cama. Sua respiração irregular parecia a de um leão ofegante. Segurei a respiração e fiquei quieta. Não faça barulho, disse a mim mesma. Cada segundo parecia durar uma eternidade. Ouvi seus passos chegando mais perto. Rezava para que não escutasse as batidas do meu coração.

    — Não há lugar para se esconder, garotinha. É melhor sair debaixo dessa cama.  Coloquei o punho na boca para não gritar. Todo meu corpo tremia, embora tentasse permanecer bem quieta.  

    — Ora, vamos, saia daí, não vou machucá-la.

    Fiquei parada.

    — Que droga, sua cadelinha loira. Não me faça arrastar seu traseiro esquálido para fora daí.

    Limpei o suor dos olhos. 

    De repente, a cama foi levantada do chão, fazendo um estrondo alto ao bater contra a parede.

    Gritei.

    Um perfil sombrio de um homenzarrão. Ele se curvou, a mão estendida na minha direção. 

    Rolei para longe e me pus de pé.  

    Ele levantou-se, esticando os braços.  

    Eu fingi ir para a direita, e corri para a esquerda.

    Ele alcançou-me pelos cabelos e envolveu-me com seus braços grossos, levantando-me do chão. Ele tinha cheiro de vestiário de academia e hálito de cerveja.

    Minha boca estava ressecada. Então urinei-me. O líquido morno escorria por uma das pernas das minhas calças. Retorci-me para me libertar.  Não deu certo, então fiz a única outra coisa que podia. Gritei tão alto quanto pude.  

    Ele colocou sua mão sobre minha boca. Uma mão tão grande quanto luva de beisebol.

    Mordi seu dedo. Ele gritou como um animal ferido. Ao me soltar, corri para fora do quarto. Saia daqui, disse a mim mesma. Afaste-se dele. Corra. Eu saí do quarto e corri passando pela cozinha.  A perna molhada das minhas calças grudava em mim. Continuei a correr. Saí pela porta traseira. Para a noite. Uma vez lá fora, o cheiro de xixi desapareceu. Contornei a esquina rapidamente. Passos ressoavam atrás de mim. Olhei rapidamente por sobre meus ombros.

    O vulto sombrio corria. Sua voz grunhiu:

    — Vou chutar-lhe o traseiro quando conseguir pegá-la.

    Sim, claro. Corri além dos arbustos, passando por minha bicicleta. Meu coração batia forte.

    Ele rosnou:

    —  Você não irá escapar.

    Senti uma dor aguda e pungente nos ombros. Bem quando ouvi um certo barulho crepitante. Uma sensação ruim de ardência percorreu meu ombro. Tentei correr, mas apenas tropecei. Em seguida, uma segunda sensação de ardência. Desta vez nas minhas costas. Doía muito. Minhas pernas se transformaram em borracha e caí de barriga contra o chão. Meu cérebro ficou confuso.  

    Braços fortes me levantaram do chão. Ele colocou-me no porta-malas de um veículo. Uma mulher usando máscara curvou-se sobre mim, agarrando meu braço. Senti uma picada aguda como de uma agulha. Lembro-me de implorar a ela para deixar-me ir para casa. Esses foram meus últimos pensamentos.

    CAPÍTULO 2

    Acordei em uma cama, mas não a minha. Num quarto escuro cheirando a mofo. De novo, não era o meu. Parecia mais frio do que o freezer dos meus pais. Meu ombro esquerdo e minhas costas doíam. Um pouco de claridade passava por debaixo da porta. Movi minhas pernas para fora da cama, com a intenção de ir na direção daquela porta.  Um som metálico acompanhou meu primeiro passo. Algo apertado e pesado prendia-se a meu tornozelo esquerdo. Uma corrente, como a que meu avô usava para rebocar seu carro. Para quê?  Eu era um cachorro na coleira?

    Caí no chão e puxei e amarra de plástico em volta do meu tornozelo. Ela enrolava-se num elo da corrente. Dei um puxão tão forte quanto pude na corrente. Era dura demais para mim. Rastejando pelo quarto, segui a corrente até uma argola parafusada no chão. Depois de alguns minutos puxando a argola sem chegar a lugar nenhum, limpei o suor de meu rosto. Olhando para a corrente, comecei a chorar. Com as mãos em concha em volta da boca, gritei o mais alto que pude:

    — Ei! 

    Não houve resposta, mas vi sombras movendo-se por baixo da porta. Sombras de pessoas.

    — Alguém aí — gritei —ajude-me!

    A porta abriu-se. Uma luz foi acesa. O monstro estava na entrada, usando máscara de ski preta e macacão de fazendeiro. Tinha que ser o mesmo cara que me perseguiu na velha casa dos Pierce.   

    Retrocedi para a cama, arrastando a corrente barulhenta pelo caminho.

    ––––––––

    Ele entrou, detendo-se junto à cama. Levantou a corrente e deu-lhe um puxão, quase me derrubando da cama.

    — Sim, isso deve deter você.

    —  Por favor, deixe-me ir. — Limpei as lágrimas do rosto — Nunca lhe fiz nada.

    Ele levantou o dedo.

    —  Conversa. Chama essa mordida de nada?

    —  Sinto muito.

    — Ah, sinto muito — Disse em um tom agudo. Seu lábio inferior destacava-se, como se estivesse tirando sarro de mim. — Que fez? Xixi na cama?

    —  Não.

    —  Está cheirando a isso.

    —  Por que está fazendo isso?

    Ele não disse nada.  

    — Por favor. Prometo não dizer nada a ninguém. Quero ir para casa.  

    Seu sorriso desapareceu.

    —  Cale a boca.  

    —  Se você me deixar ir....

    — Eu disse para calar a boca. — Apontou o dedo na minha cara. —Se você abrir a boca, chorar, nem que seja para fungar, vou fazer você desejar não ter feito isso. Tente qualquer coisa e você se arrependerá. — Ele moveu a mão para trás como para me bater.

    Eu me encolhi e segurei a mão na frente do rosto.

    — Se as coisas fossem do meu jeito, você seria ração de verme lá naquela casa. Sorte sua que não. Deveria tê-la atropelado de carro quando você saiu pedalando da casa da sua amiga. Melhor ainda, deveria tê-lo feito quando vi você saindo da sua própria casa. Então, esta é sua nova moradia, pirralha. Não se acostume muito com ela. Não ficará aqui por muito mais tempo.

    Uma mulher usando máscara de ski vermelha adentrou o quarto. Ela me lembrava minha professora de ginástica. Nem magra, nem gorda. Parecia ser da altura de minha mãe. Uma camisa xadrez sobre um par de jeans.

    — Pode ir — disse ao homem. — Eu cuido dela a partir de agora.  

    Ele apontou-me o dedo.

    — Melhor lembrar-se do que lhe falei.

    Olhou para meu tênis.

    — Melhor tirá-los para que a pirralha não corra.  

    — Não se preocupe— disse a mulher.

    Por que isso aconteceu? O que queriam eles? Aposto que mamãe e papai estavam super irritados com a minha ausência. Mamãe já deve ter telefonado para a mãe de Teegan a essas alturas. Imagino se Teegan quebrou nosso pacto e falou-lhes aonde eu fui. Esperava que sim. Contudo, conhecendo-a, ela não disse nada. Ou então mentiu, como prometera fazer. Papai estava provavelmente dirigindo a minha procura. Apostaria que conseguiu que a polícia também me procurasse.  

    A mulher pegou a ponta da corrente onde se conectava com o prendedor de plástico. Puxou-a por duas vezes e depois deixou cair, fazendo um barulho metálico ao atingir o solo. Ela tinha olhos azuis, como os meus. Talvez cabelos loiros também. No entanto, não tinha como eu saber.

    — Você está bem desperta. Que bom. Aqui vão algumas regras básicas. Não tente escapar. Deixaremos Clint feri-la gravemente se tentar. Não grite nem berre. Não que isso adiante de alguma coisa, já que ninguém irá ouvi-la. Vê aquele balde ali? — Ela apontou para um balde de metal junto a parede. —Será seu banheiro. Espero que goste de biscoitos de manteiga de amendoim, pois são o que você terá durante um bom tempo. 

    Ela tinha um sotaque esquisito. Certamente não era do Texas. Deu a volta para ir-se. 

    Eu desci da cama, arrastando a corrente barulhenta atrás de mim. Minhas mãos juntaram-se como se estivesse rezando.

    — Por favor. Deixe-me ir. Juro que não direi nada a ninguém.

    — Eu deixaria de implorar, se fosse você. Primeiro, vai irritar o grandalhão.  E segundo, não vai acontecer.

    — Por que está fazendo isso comigo? —Limpei lágrimas da face— O que eu lhe fiz? 

    Seus olhos fitaram-me através dos buracos da máscara por um longo período, como se ponderando o que dizer.

    —Tenha muito cuidado com o que fala com ele. Ele tem uma tendência ao mal que vai longe.  E odeia crianças, caso não tenha reparado nisso ainda.  

    Não me importava se ele gostava de mim ou qual era seu problema em relação a crianças. Eu queria sair daquele lugar.

    — Por favor, deixe-me ir embora. Prometo não contar a ninguém. Juro.

    — Deixá-la ir? —Ela riu. —Nem que a vaca tussa. Acostume-se a ficar aqui por uns tempos.

    Dirigiu-se para a porta.

    — Espere! Alcancei seu braço.

    Ela me fitou, retirando meus dedos do braço.

    —Uns tempos significam quanto tempo?

    — Até que certa pessoa esteja morta, e é melhor desejar que não seja você.

    CAPÍTULO 3

    Ela apagou a luz e fechou a porta, deixando-me na escuridão total. Era como se uma cortina preta gigante tivesse caído do teto. Um solavanco, depois uma sombra oscilante fez me recuar o mais que pude na cama. Primeiro, pensei que ele tinha se esgueirado para cá. 

    Meu estômago revirou-se. Um arroto. Mal consegui ir para a beira da cama quando vomitei tudo que meu estômago continha, espalhando pelo chão. Deitei-me na cama. Um segundo ou mais depois, debrucei-me sobre a borda e vomitei o resto. Meu estômago continuava embrulhado, mas nada mais saía. Minha cabeça latejava, então deitei-me. Um frio glacial envolveu-me. Puxei as cobertas até o queixo. Deitei-me de lado. A corrente machucou-me, ao puxar os joelhos para a frente. O comentário da mulher de que certa pessoa tinha que morrer ou então eu morreria fez-me chorar. Enterrei meu rosto no travesseiro fino para que não me ouvisse.  

    A luz foi acesa. Agarrei-me ao cobertor o mais que pude. Eles iriam me bater por chorar. Um deles afastou o cobertor do meu rosto.

    — Não me bata — Cobri meu rosto com as mãos, pois sabia que levaria bofetada ou soco. Não conseguia parar de chorar.

    — Quero ir para casa. 

    Olhei para cima e vi-a naquela máscara de ski vermelha, agachada à minha esquerda. Uma outra mulher, usando máscara de ski marrom, sentou-se na cama junto a mim. Ela era mais robusta do que a mulher de máscara vermelha. Olhos castanhos. Mesmo sotaque do que a primeira mulher. 

    — Pare de chorar— disse a mulher de máscara vermelha.

    A mulher mais robusta pegou o celular e sinalizou para mim.

    —Vou ligar para seus pais. Se você gritar ou emitir qualquer som, o fará pela última vez. Está bem claro o que lhe digo?

    — Deixe-me falar com eles, por favor.

    —Vou lhe dizer o que farei. Se me der o número de seu pai, considerarei deixá-la ir para casa. Até mesmo a levarei lá.

    Passei-lhe o número do celular do meu pai.

    Ela digitou os números e pressionou o celular no lado da máscara. Passaram-se uns segundos antes que dissesse:

    — Alguém aqui deseja falar-lhe.

    Ela colocou o fone no meu ouvido.

    — Diga oi e o seu nome.

    — Papai, é a Cailey. Ajuda-me.

    Anne puxou o telefone. Disse mais qualquer coisa, levantou-se da cama e dirigiu-se à porta. 

    — Não. Espera!—Alcancei-a, mas ela se desvencilhou.

    — Você disse que se lhe passasse o número, você me levaria para casa.

    Ela tapou o fone com a mão e olhou para mim como se eu fosse uma idiota.

    —Você deve ser surda ou simplesmente estúpida— riu no trajeto para a porta.

    —Você prometeu— eu virei-me e caí de cara no travesseiro.

    —A mulher com máscara vermelha colocou a mão nas minhas costas.

    — Cailey....

    Eu a afastei.

    —Deixem-me em paz. Vocês são mentirosas.

    — O melhor que faz é ficar quieta e se comportar. Não piore as coisas, certo? Entende o que estou dizendo?

    — Não. Por que não posso ir embora?

    —Ela suspirou e levantou-se da cama.

    —Vou trazer-lhe um par de calças jeans limpas. 

    Bem depois que saíram, continuei deitada, pensando na mamãe e no papai, no que eles deveriam estar passando. Mamãe deveria estar chorando. Ela sempre ficava chorosa quando as coisas iam bem mal. Quanto mais pensava nela, mais chorava. E o papai, ele deveria estar furioso.

    Eu tinha que libertar-me e fugir. Essa a única solução para mim. Pensando que, se eu puxasse bastante o prendedor de plástico poderia fazê-lo se romper, usei toda minha força até minhas mãos doerem. Não importava o quanto eu puxasse, a amarra de plástico não se mexia. Não havia mais nada a fazer a não ser gritar o mais alto que podia, esperando que alguém do lado de fora me ouvisse e chamasse a polícia. Alguém me ouviu, sim. Ele. A porta se chocou contra a parede. A luz se acendeu. Ele pisou no chão como um tiranossauro rex furioso.

    —Eu lhe disse o que aconteceria se você abrisse a maldita boca. Acho que você pensou que eu estava brincando. Bem...

    Ele puxou a corrente, arrastando-me pela cama, para mais perto dele. Levantou a mão como se fosse dar-me um tapa.

    Protegi o rosto com ambas as mãos.

    —Quero ir para casa. Deixe-me ir. Por favor.

    —Deixe-me ir— disse ele, tentando me imitar. Abaixou a mão.

    —Você não vai a lugar nenhum, então cale a boca.

    Soltou a corrente e fez menção de ir, no entanto, voltou-se e apontou o dedo para mim.

    —Se chorar ou gritar novamente— disse, pegando um canivete do bolso e abrindo-o —A lâmina parecia um dos facões do vovô.

    Não ousei mover-me. Não que quisesse. Ele poderia me cortar com isso.

    — Entrarei aqui e cortarei suas cordas vocais para não gritar nunca mais—dirigiu-se para a porta, e então olhou para mim.— Entendido, sua pirralha?

    A mulher de máscara marrom abriu a porta e gritou para ele.

    —Traga sua bunda para cá, agora!

    Eu enxuguei minhas lágrimas e olhei para ele, desejando que caísse morto. Ela fechou a porta após ele sair. Eles discutiram e gritaram um com o outro.

    —Temos que matar a maldita pirralha. Tudo o que ela faz é nos atrapalhar — gritou ele —Alimentá-la. Cuidá-la.

    — Se pegá-lo de novo balançando essa faca no rosto dela, vou enfiá-la em você.

    —  Quando quiser, pode tentar.

    Fez-se um silêncio.

    —Você não tinha essa intenção. Mas agora, eu digo para livrarmo-nos dela. Ninguém sentirá sua falta.

    A mulher gritou-lhe:

    — Faça seu maldito trabalho. Isso significa assegurar-se de que ela viva. Entendeu?

    CAPÍTULO 4

    BARRY MARSHALL

    Estava corrigindo provas quando tocou o telefone. Peguei-o sem olhar. Uma mulher, com sotaque típico de New England, disse:

    — Alguém aqui quer falar com você.

    A voz de Cailey suplicando-me que a ajudasse fez-se ouvir. Assustada. Chorando. Que diabos?  

    — Cailey, isso não tem graça. Melhor você vir para casa agora.  

    — Não posso, pai. Por favor, me ajude.

    Senti o sangue fugir do meu rosto, ao constatar que ela não estava brincando.

    — Onde você está?

    Houve um breve silêncio antes que a mulher interviesse.

    — Os pais sempre dizem que fazem o que seja para manter os filhos seguros. O que você está disposto a fazer, professor?

    Meu olhar desviou-se para a porta.

    — Quem fala?  

    — Quão longe você iria?

    — O que quer que queira, por favor não a machuque.

    — Fico contente de ouvir isso. Até onde você está disposto a ir?

    — Quanto você quer? Preciso de um tempo para sacar dinheiro do banco.

    — Não quero dinheiro. Quero que você assassine seu irmão. Tem até a meia-noite da segunda-feira. Sete dias inteiros. Se falhar, Cailey morre. Se for à polícia, Cailey morre.

    — Por que quer meu irmão morto? O que ele fez?

    — Por quê? Porque ele se meteu com as pessoas erradas.

    Meteu-se com as pessoas erradas?

    — O que quer dizer com meter-se com pessoas erradas?

    — Pergunte a ele.

    O que será que ele fez? Teve relações com a filha do um mafioso de Nova Orleans? Isso é tudo o que me ocorria. Suas traições custaram-lhe a esposa, Hannah. Mesmo assim, tinha dificuldades em acreditar que Stuart seria estúpido o bastante para relacionar-se com a filha de um mafioso. Stuart é um corretor de investimentos bastante respeitado. Inteligente demais para se envolver numa confusão como essa.

    Então ela falou:

    — Diga eu entendo.

    — Eu... eu entendo. Não a machuque.— Pisquei para eliminar o suor. — Por favor, não!

    — Ela ficará bem, contanto que faça o que lhe ordeno.

    Desligou sem mais palavras.

    Erin abriu a porta de nosso escritório em casa. Tinha trocado o top branco e preto e calças jeans por uma camiseta sem manga e shorts. Olhando-a, ficava óbvio de quem Cailey herdara os olhos azuis e cabelos loiros cacheados.

    — Quem era no telefone?

    Só conseguia olhar para ela. Tentei falar, mas as palavras não saíam. Surreal.

    Ela deve ter captado isso. Parou no vão da porta.

    — Meu Deus, Barry, o que houve? Você parece ter visto um fantasma.

    — Eles estão com Cailey—gritei.

    — O quê? Quem está com a Cailey?

    — Na ligação — apontei para o telefone — Uma mulher dizendo que estava com a Cailey.

    — Isso é um trote. Cailey está na casa de Teegan.

    — Não. Colocaram Cailey na linha. Ela implorou-me que a ajudasse. Estava chorando e alterada.

    Erin ficou pálida. Cambaleou para trás e apoiou-se na parede. Pegou o telefone discou um número.

    —Vamos ver.

    Entre a cruz e a espada. Salvar um e perder o outro. Se eu não tivesse ouvido a voz de Cailey, teria achado que era um trote.

    — Joyce? Aqui é a Erin. A Cailey está aí?  

    Duas rugas sobre o nariz. Ela olhou para mim.

    — Não. Ela não está em casa.— Seus olhos se arregalaram.—Há quanto tempo?

    Uma pausa.

    — Ela disse aonde ia?

    — Viu alguém com ela?— pausa — Oh meu Deus. Sim. Ok. Obrigada

    Encerrou a ligação e colocou o telefone sobre a mesa.

    — Cailey saiu da casa de Teegan há duas horas de bicicleta.

    Erin pegou o telefone e discou 911.

    — Não — tomei o aparelho dela.— Ela disse para não contactar a polícia ou Cailey morre.

    — O que ela quer?

    Inspirei longamente como para me acalmar, mas não teve o efeito esperado.

    — Ela quer que eu mate meu irmão. Quer que eu mate Stuart.

    Erin encarou-me com incredulidade no olhar. 

    Dei um pulo da cadeira.

    —Vou procurá-la.

    — Por quê? Você disse que eles estão com ela. O que espera encontrar?

    — Não sei. Sua bicicleta. Algo. Qualquer coisa. Talvez algum vizinho tenha visto alguém.

    — Irei junto.

    Descemos pela rua sem saída em direção a Linwood Road. Ao alcançarmos a interseção, nos separamos. Erin foi para a direita e eu fui para a esquerda, a um quarteirão de Vista Court. Ninguém por perto. Perscrutei arbustos e árvores em busca de sua bicicleta. Nada. 

    Ficar calmo era fácil quando eu era um policial procurando pelo filho ou filha de outra pessoa. Essa era MINHA filha. A calma evaporou-se. E agora, quase desejo que ainda portasse um distintivo. Mas, após liquidar o maníaco que havia ameaçado minha esposa, não tenho mais estômago para isso.

    Corri de volta, passando pelo beco sem saída na direção que Erin fora. Vasculhamos os dois quarteirões seguintes. Não encontrando nada, voltamos ao mesmo beco. Perguntas invadiam minha mente. Por que queriam Stuart morto? O que ele fizera desta vez? Quem é a mulher e onde está prendendo Cailey?

    — Por que agora? —  Erin perguntou.

    Tirei as chaves do carro do bolso da frente.

    —Vou dirigir para a casa de Teegan e iniciar por lá.

    — Cailey poderia ter ido explorar. Não seria a primeira vez.  

    — Deixe-me pegar a bolsa.

    Erin girou e correu de volta à casa. Eu quase disse para ela não vir, pensando que um de nós deveria ficar em casa. Num carro, porém, poderíamos esquadrinhar ambos os lados da rua. Cobriríamos mais terreno com maior rapidez.

    Alguns minutos depois, paramos em frente à casa de Teegan.  

    — Não acho que seria boa ideia mencionar qualquer coisa sobre o sequestro de Cailey. A última coisa de que precisamos é que Joyce contate a polícia.

    Pressionei a campainha até Joyce Greer abrir a porta o tanto quanto a corrente de segurança permitia. 

    — Erin. Eu não esperava você. Só um minuto — Joyce fechou a porta para remover a corrente e então abriu-a, apertando o cinto ao redor do seu roupão.

    —Vamos, entrem. Desculpem a bagunça.  

    — Onde está Teegan?  

    — Em seu quarto.  

    Avistei um cara de cabelos castanhos, de cerca de trinta anos, sentado no sofá com uma cerveja Miller. Vestia calças marrons claras e uma camisa xadrez marrom escura. Joyce não nos apresentou. Erin o cumprimentou com um tenso Olá, Farrel. Presumi que fosse o namorado de Joyce ou seu irmão. Ele acenou com a cabeça e eu devolvi o gesto.  

    Joyce levou-nos por um corredor estreito que dava para uma sala de bom tamanho.  Um sofá com estampa florida e duas poltronas de pano ficavam em frente a uma TV de tela plana na parede. Uma taça com um quarto de vinho branco e um livro repousavam sobre uma mesa lateral. 

    — Encontraram a Cailey?

    Deixei Erin assumir a liderança, uma vez que ela conhecia a Joyce muito melhor do que eu.

    — Não, e por isso estamos aqui. Cailey mencionou alguma coisa sobre ir para outro local?

    — Não.

    — Notou alguém suspeito nas redondezas recentemente?

    — Não.— Ela apressou-se pelo corredor e virou em um canto, com a gente não muito atrás. Joyce abriu a porta e acendeu a luz.

    —Teegan! — Caminhou até a cama e sacudiu Teegan gentilmente. — Acorde, querida.

    Uma Teegan de olhos turvos mexeu-se e então

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