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A Peça Perdida
A Peça Perdida
A Peça Perdida
E-book364 páginas5 horas

A Peça Perdida

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Sobre este e-book

O detetive Barry Marshall está atrás de um assassino em série cruel obstinado em destruir seus bens mais preciosos: sua carreira, sua esposa e sua reputação. Porém Marshall nem imagina que o culpado é um ex-namorado da esposa. Furioso ao ver Marshall ao lado da amada, o assassino perde o controle. Agora, decidido a punir Marshall pelo roubo da antiga namorada, o homicida inicia um jogo de gato e rato. E, à medida que o número de corpos aumenta, Marshall é forçado a enfrentar o seu pior pesadelo.

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento2 de mai. de 2024
ISBN9781667473697
A Peça Perdida
Autor

Alan Brenham

Alan Brenham is the pseudonym for Alan Behr, an author and attorney. He served as a law enforcement officer before earning a law degree and working as a prosecutor and a criminal defense attorney. He has traveled to several countries in Europe, the Middle East, Alaska, and almost every island in the Caribbean. While working with the US Military Forces, he lived in Berlin, Germany. Behr and his wife, Lillian, currently live in the Austin, Texas area.

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    A Peça Perdida - Alan Brenham

    A PEÇA PERDIDA

    Escrito por

    Alan Brenham

    Quem luta contra monstros deve tomar cuidado para não se tornar um. E se olhar por muito tempo para um abismo, ele te olhará de volta.

    Friedrich Nietzsche

    CAPÍTULO 1

    BARRY MARSHALL

    Temple, Texas

    Sexta-feira, 16h50

    Tirei o telefone do gancho correndo. Como se estivesse disputando o objeto com dez homens. É. Até parece. Era quase cinco da tarde e quase todo mundo já tinha ido embora. Exceto eu. O senhor certinho, meu apelido no escritório. Uma piadinha. Bem amigável. Mas nem sempre. Pelas minhas costas, me chamavam de puxa-saco. Ou coisa pior; eu imaginava, devia ser uma barbaridade pior que a outra. Só porque eu era pontual. Atendia meu telefone. E deixava a papelada organizada. Resumindo: fazia o meu trabalho.

    Atendi com o mesmo tom de sempre. Direto. Calmo. Profissional. — Departamento de Investigação. Marshall falando.

    Achei que ouviria a voz ríspida de um homem exigindo o pagamento de uma conta atrasada. Eu já havia recebido quatro ligações iguais hoje. Por causa do roubo dos meus dados pessoais.

    — Cê tá procurando uma caminhonete Chevy roubada? — questionou uma voz masculina rouca.

    Eu realmente tinha uma investigação aberta sobre uma caminhonete Chevy. Agora só precisava de um nome para colocar no relatório. — Com quem estou falando?

    O silêncio que veio em seguida me fez duvidar das verdadeiras intenções do sujeito, talvez fosse um trote. Segundos passaram. Será que ele desligou? — Quem está falando?

    Meu instinto policial se agitou. Quem era esse cara e como ele sabia que eu estava cuidando do caso de uma caminhonete roubada? O sotaque dele não era texano nem sulista. Parecia ser do centro-oeste ou do extremo oeste. Eu conseguia ouvir um zumbido baixo no fundo da ligação. Eram máquinas ou um motor. Não dava para ter certeza.

    — Um cidadão preocupado — disse ele. — Escuta, cara, eu sei quem roubou, estou sentado olhando para ele agora. Se quer pegar o sujeito, me encontre no estacionamento sul do Temple Lake Park. É melhor correr, o carro não vai ficar aqui por muito tempo.

    — Primeiro, preciso saber quem está falando.

    — Cê quer ficar fazendo perguntas idiotas ou quer a porcaria da caminhonete?

    Alguns sujeitos desconhecidos já me deram informações bem úteis para solucionar um caso, mas esse cara... tinha alguma coisa estranha nele. Costumo acreditar nas pessoas. Sempre tive um bom faro para saber se estavam falando a verdade. Um faro que agora estava muito desconfiado desse cidadão incógnito. Mas isso não era importante agora, eu não podia ignorar uma pista, não importava de onde viesse. Depois eu teria que explicar o porquê de não ter investigado. O que eu iria falar? Todo dia pistas precisam ser investigadas. Algumas são boas. Outras não. — Diga o que está vendo.

    — Que porra é essa, cara?

    — É só descrever, preciso saber se o que você está vendo é o que eu estou procurando. — Não era uma pergunta difícil de responder.

    — Uma Chevy Silverado preta, ano 2010. Feliz? Agora vamô pará de perder tempo. Daqui a pouco o cara tá aqui.

    Um ladrão tinha roubado uma caminhonete Silverado 2010 recentemente. A informação era boa. Mas tinha um problema. O sujeito podia ter lido sobre o carro no jornal. Mas mesmo assim eu precisava investigar. — Chego em dez minutos.

    — Cê tem cinco. Se ele me pegar aqui, vai cortar minha garganta.

    Era compreensível. Nenhum ladrão gosta de um dedo-duro. — Me encontre em outro lugar. Que tal no estacionamento norte?

    — Se cê levantar a bunda da cadeira e entrar no carro, vai me vê aqui. Se continuar com essas perguntas de merda, vai perder a chance.

    Pelo jeito, não parecia ser uma perda de tempo continuar perguntando. — É mesmo? Se você conhece o cara, é só me dizer quem é, não é mais fácil assim?

    Ele respirou fundo no telefone. Um lembrete para eu me apressar.

    — Quê sabê — ele resmungou. — Tem uma daquelas mesas de piquenique perto da estrada e do estacionamento do lado sul. Conhece?

    — Sim. — Eu não conhecia o lugar, mas mentir agora não parecia algo ruim.

    — Me encontre lá, rápido.

    Pra que tanta pressa? Mas tudo bem. Peguei minha jaqueta pendurada na cadeira e fui para o elevador, já imaginando a reação de Erin. Como se eu não soubesse qual seria. Sexta-feira à noite era nossa noite romântica. Deveria ser. Nas últimas sei lá quantas sextas eu precisei trabalhar até mais tarde ou viajar por causa do trabalho. Pelo jeito, outra noite romântica com a minha esposa estava prestes a ser arruinada. Eu tinha feito uma reserva para dois no Dibz, um dos melhores restaurantes italianos de Temple. Lugar do nosso primeiro encontro. Assim como seis dos nossos aniversários de casamento. Agora ela deveria estar voltando para casa com nossa filha Cailey. Eu não queria contar para ela que precisávamos remarcar nosso encontro. De novo. Eu havia feito isso muitas vezes. E ela passou a semana toda dando indiretas sobre o Dibz. Algumas indiretas e outras bem diretas.

    Desde o assassinato do tio, Erin vinha insistindo para eu sair da polícia. Ela me incentivou a assumir um cargo de professor na faculdade de Temple. Sempre que eu chegava tarde em casa, sua ansiedade disparava. E não era por causa da morte de um assistente do xerife perto de Amarillo na semana passada. O tratamento de silêncio que recebi recentemente foi por eu ter perdido a festa de aniversário de cinco anos de Cailey. E eu ter ido interrogar uma testemunha, encontrada após um mês de trabalho, não foi um bom motivo. Também não adiantou eu ter comprado a bicicleta que Cailey queria e ter amarrado um laço vermelho no guidão. Eu também tinha colocado as rodinhas de treino.

    Erin e Cailey não ocupavam meus pensamentos enquanto eu dirigia rumo ao oeste pela Adams Avenue e saía do centro da cidade de Temple. Nem quando passei por vários cruzamentos. Pela construção caótica da Interestadual Central Adams. Ou pela saída que me levaria até nossa casa. Eu só conseguia pensar em encontrar quem roubou meus dados pessoais e quitar aquelas dívidas malditas. Seja lá quem fosse o culpado, merecia ser afogado. No mínimo. Ao passar por um posto policial no lado oeste, considerei mais formas de tortura. Cutucar debaixo das unhas com alfinetes. Eletrochoque nos testículos. Apertar os globos oculares com os dedões.

    Voltei a pensar em Erin quando passei pela saída que me levaria até minha casa. Eu estaria ferrado se cancelasse outro encontro. Mas agora eu não podia me preocupar com isso. Lembrei-me das palavras do informante desconhecido: Você é o policial procurando uma caminhonete Chevy? Se quer pegar o sujeito, me encontre no estacionamento sul. É melhor correr, se esse cretino estivesse mentindo para mim, me fazendo dirigir até lá, estragando minha noite, era melhor ele começar rezar para eu nunca encontrá-lo. Uma Chevy Silverado, ano 2010, modelo 1500. Satisfeito?

    A West Adams Avenue terminava no Temple Lake Park. Esse parque fazia divisa com o lago Belton. O lago era um ponto recreativo e de pesca para os texanos do centro. Também era onde ficava a fonte de abastecimento de água das cidades da região.

    Ainda não sei como ele sabia que eu era o investigador do caso. Essa informação não estaria no jornal. Eu perguntaria quando o encontrasse. Se o encontrasse. Diminuí um pouco a velocidade, o suficiente para mostrar meu distintivo para o funcionário do parque. Em seguida, virei à esquerda e fui em direção ao estacionamento sul. Meu plano era passar dirigindo pelo local, dar uma olhada na caminhonete e estacionar quatro ou cinco vagas longe do carro. De lá, conseguiria ver a mesa de piquenique, atravessar a rua e passar por de trás da mesa coberta. Porém ao passar vi apenas um Mini Cooper parado no estacionamento a cerca de cinco quilômetros da costa rochosa. Não tinha nenhuma caminhonete Chevy à vista. Merda!

    O dono do Cooper deveria ser o cara da ligação. Estacionei ao lado. Não tinha ninguém dentro do carro. Vi a mesa. Não tinha ninguém por perto. Espero que ele esteja no meio do mato mijando, pelo bem dele. Andei pelo estacionamento até a mesa de piquenique coberta, a mesma mencionada por ele no telefone. Havia uma barricada de metal a poucos metros de distância. Cheguei perto, mas não vi ninguém. Quase dei meia volta e voltei para o carro; minha cabeça fervilhando com palavras nada agradáveis para seja lá quem fosse o engraçadinho idealizador dessa brincadeira. Mas meu sexto sentido me fez chegar mais perto. Foi quando vi os corpos.

    Uma jovem hispânica. De vinte e poucos anos vestindo um conjunto de corrida verde escuro. Deitada de costas a poucos metros da mesa. Olhos vidrados. Garganta cortada. Braços cruzados sobre o peito. Ao lado dela, um homem branco deitado de costas. Ele também vestia um conjunto de corrida. Mas o dele era azul escuro. E, assim como ela, a garganta fora cortada e os braços cruzados sobre o peito. Mas tinha uma diferença: uma facada na lateral do peito. Havia marcas duplas de arrasto no chão. Os dois foram mortos em outro lugar e descartados aqui. Não tinha mais ninguém no local. Apenas um Mini Cooper verde no estacionamento.

    O homem falecido provavelmente era o responsável pela ligação e a mulher sua companhia azarada. Mas por que foram mortos? Uma equipe forense do Departamento de Segurança Pública do Texas em Waco, o DSP, conseguiria a resposta. Peguei o celular, liguei para o supervisor de plantão e solicitei duas viaturas de apoio. A próxima ligação foi para a Central. Pedi para verificarem o registro da placa do Mini Cooper. O terceiro telefonema foi para meu supervisor, o tenente Cullen Mendez. Ele precisava aprovar horas extras para dois detetives e saber o motivo da solicitação.

    Fui até o Mini Cooper e tentei abrir as portas. Todas estavam trancadas. Havia duas garrafas lacradas de cerveja Corona nos porta-copos e uma carteira marrom masculina no painel. O Departamento de Comunicações retornou à ligação com informações sobre o veículo. Mini Cooper Clubman, ano 2009, registrado no nome de Jerome St. John num endereço na zona oeste de Temple. Voltei até a mesa de piquenique e esperei a cavalaria chegar. Eu não podia fazer mais nada.

    Erin precisava saber sobre o cancelamento do nosso jantar. Eu preferia andar descalço em uma cama cheia de cascavéis do que fazer essa ligação. Meu relógio marcava 17h35. A essa altura, ela estaria dando o jantar para Cailey, o cardápio seria nuggets de frango, e se preparando para receber a babá. Digitei o número da nossa casa. Assim que ela visse meu número no identificador de chamadas, ela saberia. Eu me preparei para a explosão. Eu tinha planejado nosso encontro. Comprei flores e pedi para serem entregues na nossa mesa no Dibz. Ela ficaria furiosa, mas o que eu podia fazer?

    — Ei, escuta, é, desculpa, mas preciso cancelar nosso jantar. Estou em uma cena de homicídio. — Esperei pela explosão. Essa seria, sei lá, a sexta noite romântica seguida cancelada. Nos últimos meses eu não estava sendo muito caseiro, não passava muito tempo em casa. Eu não queria pedir para remarcar. Ela já tinha ouvido essa mesma frase muitas vezes.

    — Que droga, Barry. Planejamos essa noite a semana toda. Precisei insistir para outro farmacêutico ficar no meu lugar para eu sair mais cedo.

    — Eu sei, querida. Eu...

    — Por que você faz isso? Você cancelou nossa noite nas últimas oito sextas-feiras.

    — Vou te compensar. Eu prometo.

    — Você sempre diz a mesma coisa — ela resmungou. — Você prometeu a mesma coisa depois do fim daqueles dois casos, você ia trabalhar menos. Você jurou que íamos passar mais tempo juntos. Os outros detetives passam as noites e os fins de semanas com as esposas e os filhos. Por que você não pode fazer o mesmo?

    Tentei ficar calmo, mas não consegui. Ela tem me irritado há semanas. Primeiro, reclamou sobre as minhas horas de trabalho. Depois das semanas que passei fora de casa. Ainda teve os encontros desmarcados. E por último veio a encheção de saco sobre o trabalho de professor. Reclamação. Reclamação. E mais reclamação. — Não começa, Erin. Você sabia que eu era um policial quando se casou comigo.

    — Tudo bem. Vai fazer seu trabalho de policial. Enquanto estiver aí, é melhor descobrir porque está recebendo ligações de cobradores.

    — Foi um ladrão de identidades, já estou investigando isso. O pessoal do Serasa me deu uma lista de contas. Registrei um boletim de ocorrência com o Departamento de Polícia. Eles e o Serviço Secreto estão cuidando do caso.

    Um momento de silêncio se passou.

    — Tanto faz. A babá chegou, vou ligar para a Liz. Vou jantar com ela. Pelo menos quando ela diz que vai fazer uma coisa, ela cumpre a promessa.

    — Preciso desligar.

    Voltei para a mesa de piquenique, remoendo as palavras de Erin. Liz. A mulher era uma figura. Ela era uma assistente social do Serviço de Proteção à Criança e ao Adolescente responsável pela destruição de alguns lares. Tenho certeza que ela dará vários conselhos sobre como a Erin deveria lidar com o marido ausente. Aposto que estará ansiosa para adicionar meu nome à sua coleção de casamentos arruinados. Eu não podia fazer nada sobre isso agora nem sobre o caso atual antes da cavalaria chegar. Vagar pela cena do crime estava fora de cogitação. Também não podia deixar o local desprotegido.

    O cara da ligação me direcionou para essa mesa de piquenique por um motivo. Resumi várias teorias em duas. Primeira, a vítima masculina me ligou e o ladrão o matou. A mulher foi uma testemunha eliminada. Ou, a segunda, o casal assassinado não tinha nenhuma conexão com a ligação nem com a caminhonete roubada. Ou seja, eles eram o alvo do assassino ou foram escolhidos aleatoriamente e mortos. Se essa última teoria fosse verdade, a coisa toda havia sido uma estratégia bem inteligente para me pegar. Uma armadilha. Se esse fosse o caso, por que eu? Seja lá quem tenha feito a ligação, qualquer que fosse a motivação, fez uma bela pesquisa para descobrir que eu estava trabalhando no caso da caminhonete.

    Eu teria respostas após descobrir a identidade das vítimas quando a equipe forense começasse a trabalhar. Se eu soubesse do crime, não teria andado pela cena. Nem posso entrar na floresta para checar se tem mais alguém machucado ou morto. Preciso manter a cena segura até o reforço chegar. Se eu soubesse o que encontraria aqui, com certeza teria passado a bomba para o detetive de plantão e curtido a noite com a Erin. Eu não estaria aqui no meio de um homicídio duplo. Mas... estou aqui agora, então a bomba é minha.

    Certo, o que temos aqui. Uma ligação para encontrar uma suposta fonte de informação sobre uma caminhonete roubada. Mas nenhuma caminhonete nem o sujeito da ligação estavam aqui. Duas vítimas de homicídio, uma que pode ser o dono do carro. E talvez também seja o cara da ligação. Ele tinha dito que o ladrão da caminhonete iria cortar sua garganta.

    Duas viaturas chegaram. Logo atrás delas veio um terceiro carro dirigido por um detetive: Don Rheims. Ótimo! De todos os detetives disponíveis por que tinha que ser ele? Ele e eu discutimos há três meses sobre sua apresentação dos fatos de um caso durante nossa reunião com promotor. Eu precisava de um mandado para encerrar um caso e Rheims apareceu despreparado. Por causa disso, eu não consegui o mandado até o tribunal definir o indiciamento. Com esse mandado, eu poderia ter persuadido o suspeito. Ter convencido ele a ajudar na recuperação de vários itens roubados. Eu deveria ter falado com nosso chefe, o tenente Mendez. Não fiz porque isso causaria ressentimentos. Se eu precisasse de ajuda e estivesse com pressa, não ia querer Rheims me atrapalhando.

    Contei a todos sobre minhas descobertas e sobre o telefonema anônimo. Como o detetive principal, eu era o responsável por delegar as tarefas. Um dos policiais usou sua viatura para bloquear o acesso a esta área do parque. Outro ficou de guarda, registrando a entrada das pessoas na cena de crime.

    Rheims, minha última opção de auxílio em uma cena de crime entre os detetives disponíveis, grudou em mim. Se existisse um site para ranquear os investigadores, a melhor nota de Rheims seria uma estrela. Ele tinha a menor taxa de resolução de casos do departamento. Além disso, era um dos homens que saía do trabalho às cinco da tarde em ponto.

    — Então... sr. Certinho. Você já não tem muita coisa para fazer? Precisava tropeçar em um homicídio duplo?

    Ignorei o comentário maldoso por trás do apelido sr. Certinho. — Não tropecei em nada. Na verdade, me trouxeram aqui.

    — Hum, sei. Você não sabe quem é o cara misterioso da ligação?

    — Não faço ideia.

    — Ele parece conhecer você. Pelo jeito, ele sabia que você estava trabalhando no caso da caminhonete. Tem certeza que não conhece ele?

    — Se eu conhecesse, eu teria dito, não acha? — Olhei para o portão de entrada do parque. Nem sinal do DSP, dos peritos criminais ou do promotor.

    — Acho que sim. Você também não deve saber quem são as vítimas.

    — Já falei que não.

    — Tudo bem. Então... parece que os dois sentaram na mesa, então o assassino veio por trás e cortou a garganta deles — disse Rheims.

    — Não encontrei nenhum indício deles por aqui. Nenhuma embalagem de comida ou de bebida. Nenhum lixo. Sem respingos de sangue, mas a perícia vai espirrar luminol em todo lugar. Aí você vai descobrir. — Apontei para as marcas de arrasto no chão. — Parece que eles foram mortos em outro lugar e colocados aqui. — Olhei para o Mini Cooper. — Provavelmente ali.

    Com dois locais possíveis para a equipe forense vasculhar em busca de evidências, eu precisava que Rheims cuidasse de um. Se a perícia encontrasse algo em um dos lugares, Rheims e eu teríamos que anotar nos nossos relatórios.

    — O que precisa que eu faça enquanto esperamos?

    — Vigie o Mini Cooper. Pode começar a fazer anotações sobre aquela parte da cena. Vou fazer o mesmo com a área da mesa de piquenique.

    Enquanto Rheims atravessava a rua do lago, imaginei se ele iria estragar o caso como fez com a investigação do roubo no Walmart.

    CAPÍTULO 2

    ASSASSINO

    Sexta-feira à noite

    O sol desaparecia por de trás da lua crescente surgindo em uma colina em frente ao lago Belton. Um novo visual brilhante laranja avermelhado tomava conta do cenário. Sombras alongadas de cedros, carvalhos, pinheiros e algarobas se estendiam pelo morro.

    O matagal espesso a cerca de um quilômetro na subida da colina depois da estrada do lago escondia o assassino. Sentado em um tronco de árvore jogado no chão, ele tinha a visão perfeita dos policiais na cena do homicídio duplo. Era perfeito, exceto quando precisou se levantar para espantar as formigas-de-fogo de suas botas e calça jeans. O tronco estava lotado de formigas. Era uma merda. Tantos lugares para escolher e tinha que escolher a merda de um formigueiro. Parecia ter um milhão dessas coisinhas malditas embaixo do tronco. Já haviam deixado três mordidas do tamanho de espinhas em sua perna. A coceira era horrível. Então, resolveu pegar suas coisas e mudar de lugar, andando abaixado até chegar em outro toco de árvore.

    Ele analisou o detetive pelo binóculo camuflado. Precisou baixar as lentes algumas vezes para estapear mosquitos mordendo seu pescoço e sua nuca. Devia ter lambuzado a pele exposta com repelente.

    Era a melhor parte nos doze anos que havia passado procurando Marshall. Agora tinha o senhor Valentão exatamente onde queria. Saboreou cada momento observando Marshall se contorcer ao vento. A vingança seria esplêndida.

    Enfiou a mão na jaqueta camuflada e tirou o maço de cigarro do bolso da camiseta. Bateu o maço na palma da mão e deu uma olhada no pacote antes de guardá-lo novamente no bolso. Não queria que nenhum policial espertinho avistasse o fósforo ou o brilho do cigarro acesos. É melhor esperar até voltar para a caminhonete. Em vez disso, pegou o cantil de água, desrosqueou a tampa e levou-o até os lábios secos. — Um brinde ao começo do seu fim, Marshall. Seu maldito desgraçado. — Tomou dois goles grandes, limpou a boca com as costas da mão e tampou o cantil.

    Tirou uma grande faca de caça do cinto e fez entalhes no tronco. Adoraria que Marshall estivesse no lugar da madeira. Colina abaixo, Marshall andava da mesa de piquenique até o carro pequeno antes de voltar para o mesmo lugar, assim como as malditas formigas-de-fogo que havia deixado a alguns metros de distância. Havia conseguido a ficha completa de Marshall. Até tinha resgatado algumas informações úteis com um prisioneiro chamado Robin Jackson. Também havia achado um informante local. Uma fonte local amargurada, gananciosa e cruel. Alguém que lhe forneceu muitas coisas sobre Marshall. — Preste atenção no caro morto, Marshall. Lembra do rosto dele? Deveria.

    Duas pessoas vestindo macacões brancos saíram da van. Ele levantou o binóculo. É. Os transportadores de corpos chegaram. Eles iam colocar as etiquetas mortuárias nos pés do rapaz e de sua muchacha. Era uma bela vadia mexicana. Em uma escala de um a dez, ela era um oito. Em uma época e em um lugar diferentes, teria transado com ela. Seria uma conquista sexual excelente. Mas era diferente de seu verdadeiro interesse amoroso, uma maravilha que chegaria em quinze ou vinte na escala de beleza. Dependia se estivesse maquiada ou não.

    Diversas pessoas saíram de duas vans. Eram equipes de reportagem dos canais KTVZ News e WGPT News. Os recém-chegados cercaram os policiais. E ligaram suas câmeras para capturar as imagens do local. Antes tarde do que nunca. Havia ligado para eles logo após encerrar a ligação com Marshall. Se fizessem um bom trabalho, não esqueceriam dos primeiros passos de Marshall. Se esse policial cretino o tivesse tratado com um pouco de respeito em Dayton. Se Marshall não o tivesse feito de idiota na frente da namorada. Mas não, Marshall. Nananinanão. Ele era um valentão com um distintivo e uma arma. E agia como se estivesse acima da lei. Mas agora isso não era importante. Porque havia chegado a hora de Marshall pagar por seus pecados. E o preço seria muito alto.

    Algo subiu em sua perna. Quando levantou a calça, deu de cara com uma formiga-de-fogo. Merda! Talvez pensassem que ele estava invadindo a propriedade delas. Tirou os bichos da perna e do jeans. Mas não conseguiu ser rápido o suficiente. As malditas o morderam várias vezes. Sua perna estava cheia de bolhas. Conseguiu se livrar de mais algumas quando bateu as botas no chão. Elas venceram. Pegou o cantil e o binóculo antes de subir a colina. No caminho de casa, comprou uma garrafa de álcool isopropílico para passar nas picadas. Isso acabaria com a coceira. Mais tarde naquela noite, planejou o próximo passo em sua própria versão do Plano Marshall.

    CAPÍTULO 3

    BARRY MARSHALL

    Sexta-feira à noite

    O Chrysler azul-metálico brilhante estacionou atrás do carro de Rheims. Em seguida, o promotor de cabelos brancos e rosto inchado, Andrew Larkin, rastejou para fora do veículo. E com seu caderninho colorido em mãos, caminhou até mim. Ele e sua bengala. O homem era o promotor desse distrito há muito tempo. Rabugento. Sem papas na língua. E ríspido.

    — O que tem aí? — disse ele com a voz rouca.

    — Carmen Marie Espinosa, vinte anos. — Guiei-o até a mesa de piquenique. Ele analisou o rosto da mulher. Talvez conhecesse a família dela.

    Apontei para a vítima masculina. — Jerome St. John, vinte e um anos. — Entreguei as carteiras de habilitação dos dois para ele.

    Ele olhou para o documento de Espinosa. — Garota bonita. O que diabos tem de errado com as pessoas hoje em dia? Na minha época, pessoas como eu queriam dar uns amassos com garotas como ela, não matá-las. Na minha opinião, esse mundo está perdido.

    Ele me devolveu as duas CNH. — Como eles morreram?

    — A garganta dos dois foi cortada.

    Ele fez uma careta e negou com a cabeça. — Se dependesse de mim, aquela porcaria de internet, aquelas malditas mensagens de textos e e-mails que as crianças usam hoje em dia... — ele fez um movimento exagerado com a mão, como estivesse afastando as coisas citadas. — Iam para o lixo junto com todos esses filmes horríveis lançados hoje em dia. — Ele pigarreou enquanto encarava o corpo de Espinosa. — Essas coisas transformam as crianças em matadores e carniceiros. Aposto que seu assassino estava drogado. A vida não deve significar nada para ele.

    — Talvez, promotor. — Era melhor não jogar gasolina na raiva fumegante do homem. Eu precisava que ele autorizasse a autópsia para a equipe do necrotério recolher os corpos.

    Ao ver o sangue escorrendo na garganta de St. John, ele voltou a falar. — Você encontrou alguma droga neles? Pode ter sido um daqueles casos de venda de drogas que deu errado?

    — Nenhuma droga e nenhuma porcaria parecida foram encontradas no local. O legista vai cuidar da autópsia e fazer um exame toxicológico. Vou ter certeza quando receber os resultados.

    — Tem alguma pista do culpado?

    — Ainda não. — Alguns suspeitavam que Larkin costumava fornecer informações para a imprensa. Uma fonte anônima próxima a investigação.

    Larkin abriu seu caderno, preencheu os formulários, assinou, colocou a data e entregou os papeis para mim. — Espero que encontre quem fez isso antes que ele faça de novo. — Depois deu meia volta e voltou para o carro.

    — Eu também.

    A experiência é uma professora excelente. Eu não precisava me iludir, eu sabia que não era possível pegar todos os assassinos. Eu jamais esqueceria Robin Jackson. Ele só foi preso quando cometeu outro crime.

    Havia três pegadas parciais em direção à rua do parque. Talvez o assassino tivesse escalado a encosta rochosa ou estacionado seu carro na estrada. Enquanto eu observava a cena do crime, uma nova voz surgiu atrás de mim.

    — O que tem

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