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A Vila Do Fim Do Mundo
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E-book203 páginas1 hora

A Vila Do Fim Do Mundo

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Sobre este e-book

Este livro é o reflexo de uma insanidade peculiar, daquelas que só aflora quando se abandona o frenesi sufocante das gran-des cidades e se rende à quietude desconcertante de uma vila es-quecida, encravada nas serras. Um lugar de poucas ruas e ainda menos explicações, onde o tempo parece suspenso em sua pró-pria teia, e a realidade dissolve-se em camadas de surrealidade que perturbam, corrompem e seduzem. Em todas as direções o silêncio não é vazio; ele murmura segredos antigos, e cada dia afeta a mente como uma brisa inqui-eta, carregando pensamentos desconexos que se entrelaçam em devaneios e espirais de loucura. O resultado é esta história: um mosaico de fragmentos oníricos e absurdos, onde a razão não encontra guarida. Não espere coerência, pois ela foi exilada deste lugar. Não busque lucidez, pois ela se perdeu entre as curvas sinuosas das montanhas. Este é um convite para explorar um mundo onde o absurdo é imperador e a normalidade se dissolve como neblina ao amanhecer. Se decidir avançar, saiba que o normal ficou do lado de fora — junto com o que chamamos de senso. Boa leitura. Ou boa loucura.
IdiomaPortuguês
EditoraClube de Autores
Data de lançamento14 de out. de 2025
A Vila Do Fim Do Mundo

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    A Vila Do Fim Do Mundo - Márcio Nogueira Do Amaral

    Márcio N Amaral

    A VILA DO FIM DO MUNDO

    Primeira Edição

    2025

    Coleção Crônica Literária

    Amaral, Marcio Nogueira.

    A Vila do Fim do Mundo / Marcio N. Amaral. – 1ª ed. Cunha, SP - 2025.

    156 p.

    ISBN 978-65-01-74659-3 (CBL)

    1. Ficção brasileira. 2. Romance. 3. Literatura contemporânea. I. Título.

    CDD: 869.93

    CDU: 821.134.3 (81) - 31

    2025

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    Nota do autor.

    Este livro é o reflexo de uma insanidade peculiar, daquelas

    que só aflora quando se abandona o frenesi sufocante das grandes cidades e se rende à quietude desconcertante de uma vila esque-cida, encravada nas serras. Um lugar de poucas ruas e ainda me-nos explicações, onde o tempo parece suspenso em sua própria teia, e a realidade dissolve-se em camadas de surrealidade que perturbam, corrompem e seduzem.

    Em todas as direções o silêncio não é vazio; ele murmura

    segredos antigos, e cada dia afeta a mente como uma brisa inqui-eta, carregando pensamentos desconexos que se entrelaçam em devaneios e espirais de loucura. O resultado é esta história: um mosaico de fragmentos oníricos e absurdos, onde a razão não en-contra guarida.

    Não espere coerência, pois ela foi exilada deste lugar. Não

    busque lucidez, pois ela se perdeu entre as curvas sinuosas das montanhas. Este é um convite para explorar um mundo onde o absurdo é imperador e a normalidade se dissolve como neblina ao amanhecer. Se decidir avançar, saiba que o normal ficou do lado de fora — junto com o que chamamos de senso.

    Boa leitura. Ou boa loucura.

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    Capítulo 1

    DESCOMPASSO

    DO TEMPO

    No alto de uma serra que parecia existir apenas para os so-

    nhos mais delirantes, escondia-se nela a Vila do Fim do Mundo, um lugar tão esquecido que nem mesmo Deus e seus anjos pare-ciam lembrar de sua existência, um nome que, convenhamos, não ajudava em nada sua reputação. Ali, o tempo se arrastava como quem não tem para onde ir. As horas e os dias eram marcados pelo toque arrastado do velho relógio inglês, com seu martelo conec-tado ao sino da igreja, o senhor absoluto do tempo, errático ou corrético, que se arrogava o direito de reinar absoluto na torre tri-centenária. Do alto dela testemunhava o misterioso e fatídico re-lógio, na velha torre, que observava a vila, pairando sobre o luga-rejo que tinha aparência de quem desistiu da modernidade por ab-soluta falta de interesse, depois de trezentos anos de tentativas frustradas.

    As ruas, outrora pavimentadas com pedras que pareciam

    ter sido colocadas por um calceteiro com forte astigmatismo, es-tavam agora cobertas por um asfalto ralo, raro para aquela época, mas que já nascera com calvície e má reputação. Esse serviço, feito pela prefeitura, onde raramente se via o prefeito, diga-se de

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    passagem, ou não, pois na Vila do Fim do Mundo, os eleitos eram quase sempre um misto de piada e tragédia, que se desgastavam mais rápido que o humor de um velho ranzinza. E aquele asfalto, que era novidade só dos grandes centros, fora colocado ali apenas a borra dele, em troca de cifras geradas pelas falcatruas. Ninguém sabia ao certo quem governava a vila; a câmara de vereadores era habitada apenas por cadeiras empoeiradas e fantasmas de promes-sas nunca cumpridas. Era bem comum presenciar arranca rabos de eleitores com algum indivíduo revoltado.

    — Meu voto e da minha família foi pra vossa excelência.

    — reclamava o homem que não conseguia acessar a sua própria rua, de tantos buracos que ela tinha. — O senhor nos deve este serviço.

    — Devo nada, seu Tião. Já te paguei os votos que me deu.

    Não tá lembrado da carroça de tijolos que me pediu, e eu entre-guei?

    Assim transcorria o embrolho, que, na verdade verdadeira,

    o ilustre vereador realmente dera ao eleitor a carroça de tijolos em troca dos votos da família.

    Assim transcorriam as atividades da vereança, que quando

    se reunia, o ar ficava tão denso que até as palavras pareciam fora de lugar. As sessões se restringiam ao despautério da proposição de monções destinadas às pessoas, para levarem os nomes das ruas, geralmente homenageando algum defunto falecido na famí-lia do próprio vereador. Resultado? Ruas com três nomes diferen-tes em um mesmo quarteirão, bagunçando a vida para o carteiro que nunca entregava as correspondências no endereço certo.

    A vila, em sua crise constante, carecia de tudo. Pão na pa-

    daria? Luxo só! Restaurantes? Os gatos pingados e minguados fe-chavam nas horas das refeições. Turistas pareciam cabelo de frei-ras; ninguém jamais os via. Apenas nos sonhos da secretaria de turismo, que promovia eventos, que quando saíam do papel, já

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    elaborados com desvios de finalidade, beneficiavam apenas os ha-bitantes locais, com seus shows de qualidade duvidosa; desespe-táculos barulhentos que espantavam os turistas em busca de sos-sego, pensando terem se hospedado em alguma estância climática, cuja tranquilidade e a serenidade buscadas não eram encontradas. Fiscais para verificar isso ou aquilo de errado eram raridades. Tal-vez fossem seres místicos, porque ninguém jamais os via. O fiscal do saneamento, por exemplo, costumava se esgueirar atrás das imundícies para as quais sempre fechava os olhos, mas, nunca o nariz. Também pudera! O dono da quitanda com frutas apodreci-das, o do açougue com fedor de carniça e da padaria com ratos inquilinos aos montes, já no usucapião, espalhando as partes pelu-das nas famosas coxinhas de frango cabeludas, todos estes estabe-lecimentos citados pertenciam aos parentes dos fiscais. Na Vila do Fim do Mundo era assim: o juiz que acusava, era o mesmo que inquiria, que também era a vítima e o próprio advogado. Resu-mindo, se o azarento caísse as garras da lei fajuta, não tinha a quem recorrer.

    Naquela manhã, Dona Marta atravessou a praça com uma

    sacola vazia, murmurando sobre o preço do pão, que com muita sorte encontraria.

    — Dizem que é por causa da farinha, mas até os ratos da

    padaria têm comido melhor que a gente. — resmungava sempre, com seu passo curto, batendo chinelos nos calcanhares.

    A praça, que antes abrigava feiras e festas, agora era ape-

    nas um espaço desbotado pelo tempo, com bancos vazios de gente sã, ocupados apenas pelos ávidos pelo álcool. No entorno, lem-branças das árvores cujas sombras abrigaram pássaros que esque-ceram os seus próprios cantos, resultado também do esquecimento de como se alimentar por conta própria. O chão ornado por pasti-lhas de pedra que nunca foram lavadas, oferecendo o aspecto en-cardido da sujeira acumuladas.

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    Havia também a polícia que não policiava, na delegacia

    que não abria, com um delegado que não delegava nada, onde o velho telefone era ignorado. Na vila existiam os ladrões que não roubavam por conta de tanta preguiça, pois, eram contemplados com abonos mensais distribuídos pelos que mandavam.

    A vila, na verdade, pertencia a poucos. Nos seus mais de

    três séculos as propriedades foram gradativamente convergindo para as mãos de três espertalhões inescrupulosos. Portanto, o lu-garejo tinha três donos; o da Rua de Cima, o da Rua do Meio e o da Rua de Baixo. Estes três foram aqueles mais espertos, ao longo dos anos, que ao tomarem para si a responsabilidade dos processos de herança, como inventariantes, inventaram tanto que deixaram os parentes ignorantes a verem macacos, porque navios nem pas-savam perto.

    — Passam sim! — afirmava o bêbado de plantão na porta

    na matriz. Jurava que Dona Agnes deixava a reclusão em sua casa de janelas sempre fechadas, se arrumava dizendo que faria uma viagem, e que ela ia para o porto embarcar no Titanic com destino à América.

    — Nem porto tem, seu maluco! — ralhava o padre. — Tem sim! Escuto o apito, ora! — teimava o miserável,

    sorvendo mais um gole na boca da garrafa.

    Uns dizem que nem viva Dona Agnes era, fazia parte da

    comunidade dos mortos, que de vez em quando escapavam do limbo e migravam para a vila.

    No centro da Vila do Fim do Mundo, a igreja dominava a

    paisagem, com sua torre imponente guardando o misterioso reló-gio centenário, com o sino e seu martelo-badalo. Ao redor, as casas

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