A Vila Do Fim Do Mundo
()
Sobre este e-book
Leia mais títulos de Márcio Nogueira Do Amaral
Beatrice Di Valdieri Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPedro, O Diabo E A Santa Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAbominação Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCurador De Almas Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Relacionado a A Vila Do Fim Do Mundo
Ebooks relacionados
Sobrevida Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Relógio De Prata Nota: 0 de 5 estrelas0 notasNas Curvas do Tempo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPavilhão Dos Esquecidos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasNas Montanhas da Loucura e Outras Histórias Sinistras Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAutobiografia póstuma de Machado de Assis Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA casinha da colina Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Dia Do Roubo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Paladino Vermelho Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSob escombros à luz de velas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOrgia dos loucos Nota: 4 de 5 estrelas4/5Vila vermelho Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Jornada Do Herói Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA cidade inexistente Nota: 4 de 5 estrelas4/5Almas Mortas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Arte do Terror: Volume 3 Nota: 0 de 5 estrelas0 notasQuando Caem as Cinzas: Desventuras Amazônicas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAssim na terra como embaixo da terra Nota: 4 de 5 estrelas4/5Era uma vez em Ribeirão da Mata: Fragmentos do Regime Militar Nota: 0 de 5 estrelas0 notasClara dos Anjos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCidade Suspensa: Lisboa em estado de emergência Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA casa dos coelhos Nota: 4 de 5 estrelas4/5O cearense mora ao lado Nota: 0 de 5 estrelas0 notasÀ Margem Do Rio De Fogo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Andaluz Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Palácio Dos Quartos Escuros Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Menor Viajante Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDom Segundo Sombra Nota: 4 de 5 estrelas4/5Whitman e a Guerra Fria Nota: 0 de 5 estrelas0 notasVerbetes para um dicionário afetivo Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Ficção Geral para você
Pra Você Que Sente Demais Nota: 5 de 5 estrelas5/5Para todas as pessoas intensas Nota: 4 de 5 estrelas4/5O Segundo Cu Nota: 3 de 5 estrelas3/5Canção para ninar menino grande Nota: 4 de 5 estrelas4/5MEMÓRIAS DO SUBSOLO Nota: 5 de 5 estrelas5/5Palavras para desatar nós Nota: 4 de 5 estrelas4/5Poesias de Fernando Pessoa: Antologia Nota: 4 de 5 estrelas4/5Contos Eróticos Nota: 1 de 5 estrelas1/5A Morte de Ivan Ilitch Nota: 4 de 5 estrelas4/5A História de Pedro Coelho Nota: 5 de 5 estrelas5/5A Irmandade Secreta Do Sexo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasQuincas Borba Nota: 5 de 5 estrelas5/5Jogos vorazes Nota: 4 de 5 estrelas4/5Dom Casmurro Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Morro dos Ventos Uivantes Nota: 4 de 5 estrelas4/5Crime e castigo Nota: 5 de 5 estrelas5/5Para todas as pessoas resilientes Nota: 5 de 5 estrelas5/5Invista como Warren Buffett: Regras de ouro para atingir suas metas financeiras Nota: 5 de 5 estrelas5/5Sexo Na Minha Vida Sexual Proibida Nota: 5 de 5 estrelas5/5Em chamas Nota: 4 de 5 estrelas4/5
Categorias relacionadas
Avaliações de A Vila Do Fim Do Mundo
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
A Vila Do Fim Do Mundo - Márcio Nogueira Do Amaral
Márcio N Amaral
A VILA DO FIM DO MUNDO
Primeira Edição
2025
Coleção Crônica Literária
Amaral, Marcio Nogueira.
A Vila do Fim do Mundo / Marcio N. Amaral. – 1ª ed. Cunha, SP - 2025.
156 p.
ISBN 978-65-01-74659-3 (CBL)
1. Ficção brasileira. 2. Romance. 3. Literatura contemporânea. I. Título.
CDD: 869.93
CDU: 821.134.3 (81) - 31
2025
2
Nota do autor.
Este livro é o reflexo de uma insanidade peculiar, daquelas
que só aflora quando se abandona o frenesi sufocante das grandes cidades e se rende à quietude desconcertante de uma vila esque-cida, encravada nas serras. Um lugar de poucas ruas e ainda me-nos explicações, onde o tempo parece suspenso em sua própria teia, e a realidade dissolve-se em camadas de surrealidade que perturbam, corrompem e seduzem.
Em todas as direções o silêncio não é vazio; ele murmura
segredos antigos, e cada dia afeta a mente como uma brisa inqui-eta, carregando pensamentos desconexos que se entrelaçam em devaneios e espirais de loucura. O resultado é esta história: um mosaico de fragmentos oníricos e absurdos, onde a razão não en-contra guarida.
Não espere coerência, pois ela foi exilada deste lugar. Não
busque lucidez, pois ela se perdeu entre as curvas sinuosas das montanhas. Este é um convite para explorar um mundo onde o absurdo é imperador e a normalidade se dissolve como neblina ao amanhecer. Se decidir avançar, saiba que o normal ficou do lado de fora — junto com o que chamamos de senso.
Boa leitura. Ou boa loucura.
3
4
5
Capítulo 1
DESCOMPASSO
DO TEMPO
No alto de uma serra que parecia existir apenas para os so-
nhos mais delirantes, escondia-se nela a Vila do Fim do Mundo, um lugar tão esquecido que nem mesmo Deus e seus anjos pare-ciam lembrar de sua existência, um nome que, convenhamos, não ajudava em nada sua reputação. Ali, o tempo se arrastava como quem não tem para onde ir. As horas e os dias eram marcados pelo toque arrastado do velho relógio inglês, com seu martelo conec-tado ao sino da igreja, o senhor absoluto do tempo, errático ou corrético, que se arrogava o direito de reinar absoluto na torre tri-centenária. Do alto dela testemunhava o misterioso e fatídico re-lógio, na velha torre, que observava a vila, pairando sobre o luga-rejo que tinha aparência de quem desistiu da modernidade por ab-soluta falta de interesse, depois de trezentos anos de tentativas frustradas.
As ruas, outrora pavimentadas com pedras que pareciam
ter sido colocadas por um calceteiro com forte astigmatismo, es-tavam agora cobertas por um asfalto ralo, raro para aquela época, mas que já nascera com calvície e má reputação. Esse serviço
, feito pela prefeitura, onde raramente se via o prefeito, diga-se de
6
passagem, ou não, pois na Vila do Fim do Mundo, os eleitos eram quase sempre um misto de piada e tragédia, que se desgastavam mais rápido que o humor de um velho ranzinza. E aquele asfalto, que era novidade só dos grandes centros, fora colocado ali apenas a borra dele, em troca de cifras geradas pelas falcatruas. Ninguém sabia ao certo quem governava a vila; a câmara de vereadores era habitada apenas por cadeiras empoeiradas e fantasmas de promes-sas nunca cumpridas. Era bem comum presenciar arranca rabos de eleitores com algum indivíduo revoltado.
— Meu voto e da minha família foi pra vossa excelência.
— reclamava o homem que não conseguia acessar a sua própria rua, de tantos buracos que ela tinha. — O senhor nos deve este serviço.
— Devo nada, seu Tião. Já te paguei os votos que me deu.
Não tá lembrado da carroça de tijolos que me pediu, e eu entre-guei?
Assim transcorria o embrolho, que, na verdade verdadeira,
o ilustre vereador realmente dera ao eleitor a carroça de tijolos em troca dos votos da família.
Assim transcorriam as atividades da vereança, que quando
se reunia, o ar ficava tão denso que até as palavras pareciam fora de lugar. As sessões se restringiam ao despautério da proposição de monções destinadas às pessoas, para levarem os nomes das ruas, geralmente homenageando algum defunto falecido na famí-lia do próprio vereador. Resultado? Ruas com três nomes diferen-tes em um mesmo quarteirão, bagunçando a vida para o carteiro que nunca entregava as correspondências no endereço certo.
A vila, em sua crise constante, carecia de tudo. Pão na pa-
daria? Luxo só! Restaurantes? Os gatos pingados e minguados fe-chavam nas horas das refeições. Turistas pareciam cabelo de frei-ras; ninguém jamais os via. Apenas nos sonhos da secretaria de turismo, que promovia eventos, que quando saíam do papel, já
7
elaborados com desvios de finalidade, beneficiavam apenas os ha-bitantes locais, com seus shows de qualidade duvidosa; desespe-táculos barulhentos que espantavam os turistas em busca de sos-sego, pensando terem se hospedado em alguma estância climática, cuja tranquilidade e a serenidade buscadas não eram encontradas. Fiscais para verificar isso ou aquilo de errado eram raridades. Tal-vez fossem seres místicos, porque ninguém jamais os via. O fiscal do saneamento, por exemplo, costumava se esgueirar atrás das imundícies para as quais sempre fechava os olhos, mas, nunca o nariz. Também pudera! O dono da quitanda com frutas apodreci-das, o do açougue com fedor de carniça e da padaria com ratos inquilinos aos montes, já no usucapião, espalhando as partes pelu-das nas famosas coxinhas de frango cabeludas, todos estes estabe-lecimentos citados pertenciam aos parentes dos fiscais. Na Vila do Fim do Mundo era assim: o juiz que acusava, era o mesmo que inquiria, que também era a vítima e o próprio advogado. Resu-mindo, se o azarento caísse as garras da lei fajuta, não tinha a quem recorrer.
Naquela manhã, Dona Marta atravessou a praça com uma
sacola vazia, murmurando sobre o preço do pão, que com muita sorte encontraria.
— Dizem que é por causa da farinha, mas até os ratos da
padaria têm comido melhor que a gente. — resmungava sempre, com seu passo curto, batendo chinelos nos calcanhares.
A praça, que antes abrigava feiras e festas, agora era ape-
nas um espaço desbotado pelo tempo, com bancos vazios de gente sã, ocupados apenas pelos ávidos pelo álcool. No entorno, lem-branças das árvores cujas sombras abrigaram pássaros que esque-ceram os seus próprios cantos, resultado também do esquecimento de como se alimentar por conta própria. O chão ornado por pasti-lhas de pedra que nunca foram lavadas, oferecendo o aspecto en-cardido da sujeira acumuladas.
8
Havia também a polícia que não policiava, na delegacia
que não abria, com um delegado que não delegava nada, onde o velho telefone era ignorado. Na vila existiam os ladrões que não roubavam por conta de tanta preguiça, pois, eram contemplados com abonos mensais distribuídos pelos que mandavam.
A vila, na verdade, pertencia a poucos. Nos seus mais de
três séculos as propriedades foram gradativamente convergindo para as mãos de três espertalhões inescrupulosos. Portanto, o lu-garejo tinha três donos; o da Rua de Cima, o da Rua do Meio e o da Rua de Baixo. Estes três foram aqueles mais espertos, ao longo dos anos, que ao tomarem para si a responsabilidade dos processos de herança, como inventariantes, inventaram tanto que deixaram os parentes ignorantes a verem macacos, porque navios nem pas-savam perto.
— Passam sim! — afirmava o bêbado de plantão na porta
na matriz. Jurava que Dona Agnes deixava a reclusão em sua casa de janelas sempre fechadas, se arrumava dizendo que faria uma viagem, e que ela ia para o porto embarcar no Titanic com destino à América.
— Nem porto tem, seu maluco! — ralhava o padre. — Tem sim! Escuto o apito, ora! — teimava o miserável,
sorvendo mais um gole na boca da garrafa.
Uns dizem que nem viva Dona Agnes era, fazia parte da
comunidade dos mortos, que de vez em quando escapavam do limbo e migravam para a vila.
No centro da Vila do Fim do Mundo, a igreja dominava a
paisagem, com sua torre imponente guardando o misterioso reló-gio centenário, com o sino e seu martelo-badalo. Ao redor, as casas
