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Não há finais felizes, capítulo 2 de 3: Reminiscências
Não há finais felizes, capítulo 2 de 3: Reminiscências
Não há finais felizes, capítulo 2 de 3: Reminiscências
E-book158 páginas2 horas

Não há finais felizes, capítulo 2 de 3: Reminiscências

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Sobre este e-book

Num tempo desconhecido, um grupo de estranhos, conhecidos, amigos, sai da sua vida tranquila ao embarcar numa jornada improvável para ajudar uma rapariga misteriosa a recuperar a sua identidade.

Soliari recuperou a sua identidade, mas não a sua memória, que só agora começa a regressar. No segundo capítulo da trilogia Não há finais felizes, Soliari viaja ao seu passado, onde vai encontrando mais perguntas que respostas.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento25 de jun. de 2015
ISBN9781310927317
Não há finais felizes, capítulo 2 de 3: Reminiscências
Autor

Pedro Moreira

Unknown.

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    Não há finais felizes, capítulo 2 de 3 - Pedro Moreira

    Não há finais felizes, Capítulo 2 de 3: Reminiscências

    Pedro Manuel Ramos Moreira

    Published by Pedro Moreira at Smashwords

    Copyright 2015 Pedro Moreira

    Capítulo II - Reminiscências

    As minhas memórias

    18:47 02/07/473 D. L.

    - Bem, isso é que era fome, Soliari…

    A frase de Takklin perde-se no meio do ruído de fundo da taberna, hoje praticamente cheia, sem nenhuma mesa livre. Após saírem do templo, voltaram à estalagem onde tinham pernoitado no dia anterior, pois já era de noite, a fim de se alimentarem e poderem dormir. Estavam todos sentados na mesma mesa de ontem e Soliari comia com apetite a carne de javali estufada, mas os restantes membros do grupo não lhe ficavam atrás. No entanto, estavam todos com o estômago embrulhado, exceto ela, pois tinham passado o dia inteiro a beber a cerveja do precioso barril do padre.

    - Nem era fome, senhor padre, estava realmente esganada! Nem dei pelo tempo passar enquanto tive lá com o monge.

    Maximus franziu o sobrolho. Ninguém tinha perguntado à rapariga que se tinha passado afinal lá dentro, nem de que se lembrava ao certo. Não a queria pressionar, mas a sua curiosidade era mais forte. Disse, finalmente:

    - Então conta-nos lá, Soliari, que se passou lá dentro? – Ela levantou os olhos do prato e encarou-o. Mastigava a custo um naco de carne um pouco maior do que devia e não conseguiu responder logo, atrapalhada pela boca cheia de comida. Começou a sorrir, de boca cheia e lábios cerrados, tomando nas mãos o copo de água e bebeu, tentando facilitar a árdua tarefa de engolir aquilo tudo.

    O coração frio do guarda tornou a tremer. Aquele pequeno ser, com idade para ser sua filha, encantava-o com cada um dos seus gestos. Até os mais simples, insignificantes, embaraçosos, eram mágicos. Camaal, certamente, diria que aquilo era bruxaria, pensou, mas ela enfeitiçava-o a todo o momento. Novamente, deu por si completamente preso ao brilho cada vez mais cintilante daqueles olhos castanhos e irresistíveis. Aterrorizavam-no. Pois eram algo que não podia controlar, e pior, não sabia como faria para continuar a controlar os seus sentimentos se este encanto durasse muito mais tempo.

    Tentando engolir a comida, Soliari engasgou-se. Começou a tossir, aflita, sem conseguir respirar. Feannor apressou-se a dizer-lhe para beber água, Markus e Camaal deram-lhe uma série de pancadas nas costas, mas o engasgo continuava. Takklin levantou-se da cadeira e foi até ela, levantou-lhe o braço esquerdo bem ao alto e o engasgo parou. Maximus nem se mexeu do banco. Só os seus olhos se mexiam. Mexiam-se pelos grandes e belos olhos da rapariga, agora cheios de lágrimas provocadas pelo engasgo, que autenticamente lhe pareciam estar a encandeá-lo de tanto brilho. Mexiam-se pelos cabelos longos, brilhantes e sedosos, que repetidamente dava por si a admirar. Mexiam-se pelos seus lábios, vermelhos, brilhantes, vibrantes, carnudos. Mexiam-se pelas formas arredondadas e generosas do corpo da rapariga, quase como se as tocassem: as pernas longas, esbeltas e fortes; o seu traseiro arredondado, arrebitado, proeminente, que contrastava com uma cintura muito fina, delgada, tonificada, como também contrastava o seu peito, muito cheio, arrebitado, redondo, no qual se fixou quando o padre ergueu o braço da rapariga enquanto a socorria, altura em que, estando ela esticada, ficou ainda mais saliente.

    Fechou os olhos. Tentou pensar noutra coisa, mas tinha aquela imagem cravada na memória, aquela figura arrebatadora que o dominava. Pensou que já tinha bebido demais. Era a única explicação. A única que encontrava e que lhe parecia plausível. Não apenas plausível, mas decente. Decente porque não achava correto que um velho, como ele, se sentisse atraído desta forma por uma miúda, uma jovem, quase uma criança. Abriu os olhos e levantou-se do banco, afastando-se da mesa, sem esperar pela resposta da rapariga à sua questão. Cambaleante, sentindo-se já bastante alcoolizado, arrastou-se por entre a multidão e dirigiu-se ao balcão, onde o taberneiro conversava alegremente com alguns clientes.

    - Senhor taberneiro, dê-me aí qualquer coisa forte. – O taberneiro olhou-o, demorando-se alguns segundos. A voz de Maximus saía tremida, condicionada pelo álcool e pelo nervosismo.

    - Não acha que já bebeu muito? – Perguntou o taberneiro, com um tom quase paternal de preocupação sincera.

    - Ainda nem comecei. Traga aí. – O taberneiro encolheu os ombros e trouxe uma garrafa de vidro com um líquido incolor abriu-a e dela saiu um cheiro forte a álcool quase puro. Serviu Maximus num pequeno copo, próprio para estas bebidas mais fortes, e quando ia guardar a garrafa foi interrompido. – Deixe a garrafa. – O taberneiro hesitou por instantes, abanou a cabeça em condenação e deixou-lhe a garrafa, quase cheia.

    O guarda pegou no copo e cheirou-o, mas o cheiro era tão nauseabundo e intenso que quase o fez hesitar. Quase. Bebeu o copo de um só trago, encheu-o de novo, e bebeu um segundo copo logo de seguida. Sentia o peito, a garganta, a boca, o estômago, a arder em chamas. Gostava desta dor. Esta sim, porque a podia controlar, porque era ele quem a provocava. Infelizmente, mesmo dali, ouvia ao longe a voz da rapariga, misturada com os restantes sons da taberna, mas tão diferente, tão destacada. Tão luminosa e brilhante, na verdade. Sim, a própria voz da rapariga lhe parecia agora melodiosa, cristalina, doce. Música para os seus ouvidos, uma música terrível que o atormentava, que o fazia pensar nela, na imagem que tinha cravada nos olhos, cérebro e coração. Nem ali, de costas, longe da sua vista, conseguia esquecer a rapariga que já tinha nome. Soliari.

    - Com que então o teu nome é Soliari. – Declarou Takklin, com voz pausada, tentando contornar os efeitos dos muitos copos de cerveja que bebeu durante a tarde. – É um nome bonito, mas pouco comum. Sabes que significa? – Ela olhou para ele e abanou a cabeça negativamente. – É um nome antigo e vem de um dialeto antigo da nossa língua, falado logo depois de o dia ter nascido pela primeira vez. Significa Dádiva do Sol.

    - Dádiva do Sol… Como se fosse Luz, não? – Questionou Camaal.

    - Precisamente. – Respondeu o padre, sorrindo.

    - Como é que sabes isso? – Perguntou Feannor. – Ou estás inventando?

    - Achas? Claro que sei. Já conhecia esse nome. – Calou-se, mas os outros continuavam a olhar para ele, como se indagassem de onde conhecia o nome. – Lembro-me de uma bebé que levei para o orfanato chamada Soliari. Há muitos anos. – Calou-se e olhou para o fundo do copo, meio cheio de cerveja. Disse esta última frase com um tom de voz mais triste que pausado. Os restantes voltaram a comer, em silêncio.

    - Seria eu? – Perguntou Soliari, quase com medo, vendo que o padre não estava confortável com aquele assunto. Ele levantou os olhos, sorriu e respondeu:

    - Não, não podias ser tu, descansa. – Afirmou esta fase com uma tal convicção que Soliari ficou convencida.

    - Espera lá, mas tu não te lembras de mais nada? Ainda não sabes quem és? – Questionou Feannor, interrompendo Takklin, deduzindo pela pergunta da rapariga que ela ainda não tinha recuperado completamente a memória.

    - Por agora, só sei o meu nome. Já a questão das minhas memórias… Enfim, queria explicar-vos tudo com calma, por isso é que quis vir comer e voltar para aqui. Deixem-me só chamar o senhor guarda e falamos. – Levantou-se, dirigindo-se ao balcão.

    Reparou que a taberna estava realmente cheia de gente. Ontem, parecia um sítio tranquilo, frequentado por poucos, mas hoje estava completamente a abarrotar. Para dizer a verdade, estava agora muito mais cheia do que estava quando entraram, não havia mesas nem cadeiras livres, havia muita gente de pé, conversando, comendo e bebendo. Pensou, inclusivamente, do onde teria vindo tanta gente. Deteve-se depois de dar dois passos na direção do balcão, pois os inúmeros clientes que estavam de pé barravam-lhe a passagem, e só conseguia passar pedindo licença e furando aquela autêntica multidão. A custo, avançou mais uns metros por entre homens e mulheres que socializavam, enquanto matavam a fome e a sede. Por cada pessoa que passava, Soliari ia deixando um rasto de graciosidade, retribuído com um olhar mais longo dos clientes da taberna em direção a ela, já após a sua passagem. Teve medo que fosse alguém que a reconhecesse. Olhou para trás e temeu mesmo ter sido reconhecida por alguns homens que ainda a observavam, por longos segundos, depois de ter passado por entre eles.

    Quis sair dali, mas teve novamente de parar. A multidão barrava-lhe o caminho. Tinha feito um círculo à volta de um bardo, que começava agora a cantar. Todos batiam palmas, mas Soliari não. Olhou de novo para trás e notou que os mesmos homens ainda a observavam, comentando algo entre si, que não ouviu graças ao barulho que se fazia ouvir. Maximus, sentado ao balcão, voltou-se para trás, alertado pelo barulho das palmas e pelos acordes dedilhados pelo bardo na sua guitarra. No entanto, sentado na cadeira numa posição mais baixa, apenas via as costas de um sem número de pessoas.

    O bardo nunca mais se calava, pensou Soliari. Cantou, cantou, cantou, durante horas e horas. Ou pelo menos foi isso que lhe pareceu, a ela que estava a ser observada. Finalmente, o bardo calou-se, fez uma vénia, e todos o aplaudiram de pé. Viu-o a sair da taberna e, com ele, grande parte da multidão abandonou o estabelecimento, que mesmo assim continuava muito cheio. Quis avançar para o balcão, outra vez, mas agora estava lá uma amálgama de gente que tentava chegar ao taberneiro para pagar as contas, tapando por completo Maximus. Olhou de novo para trás, tentando descobrir se ainda era observada, e viu que os mesmos três homens continuavam no mesmo sítio a olhar para ela e segredar algo. Sentia o coração acelerado e as mãos a tremer. Olhou para a mesa, para o resto dos seus companheiros, para ver se conseguia chamar algum deles, mas estavam demasiado bêbedos, apenas falavam e riam, sem sequer olhar para ela.

    O tempo não passava. O taberneiro, todo suado, fazia contas e dava trocos a uma quantidade infinita de gente, que cada vez parecia maior, sempre a crescer, pois todos pareciam querer sair da taberna ao mesmo tempo. Vinda da rua, ouviu-se uma explosão. Soliari, assustada, olhou em redor, mas as pessoas não pareciam nada assustadas, mas sim apressadas em sair. Ouviu em seu redor várias vozes a dizer que estava a começar. Só não entendeu o que estaria a começar, mas o ar de alegria e satisfação nas caras de todos deixava transparecer que estavam ansiosas para sair dali. Ouviu-se uma segunda explosão. Continuava a sair gente da taberna, sem parar, e as mesas estavam já vazias. Até os homens que a observavam estavam a preparar-se para sair, embora a continuassem a observar enquanto se dirigiam para a saída.

    Maximus estava encostado ao balcão, com a cabeça apoiada sobre os braços, como se estivesse a dormir. Ao seu lado estava um copo pequeno, caído sobre a mesa, e uma garrafa quase vazia. Tocou-lhe no ombro, mas ele não respondeu, nem se mexeu sequer, pareceu nem dar pela sua presença.

    - Maximus! Anda para a mesa! – Disse, segurando-lhe o braço com a mão, abanando-o. Ele levantou a cabeça, lentamente, e olhou para ela de olhos semicerrados. A rapariga aproximou a boca do ouvido do guarda, e sussurrou-lhe. – Maximus, aqueles tipos ali atrás não param de olhar para mim. Será que me reconheceram?

    O guarda olhou para os homens, reconhecendo um deles. Era um dos que ontem estavam a olhar para a rapariga, apreciando a sua beleza. Calmamente, respondeu-lhe:

    - Não te preocupes, só querem mesmo é olhar para ti. – Ela estranhou a resposta, sem entender o que ele queria dizer. O bafo que ele emanava fê-la piscar os olhos e virar a cara para respirar.

    - Estás tão bêbedo… Tresandas a álcool! – Maximus piscou os olhos. Mesmo sentado, parecia estar a cambalear, a sua cabeça bandeava como a copa de uma árvore ao sabor do vento. – Vá, anda lá para… - Ouviu-se uma terceira explosão, que lhe interrompeu a fala. – Mas que barulho é este?

    - Fogo-de-artifício. É bonito. – Maximus ia levantar-se, mas caiu novamente para o banco, sentando-se.

    - Olha bem para essa figura… - Disse Soliari, reprovando o que via. – Nem te consegues levantar. Porque é que bebeste tanto?

    - Porque me apeteceu. E agora vou dormir. – Virou-se novamente para o balcão e voltou a cruzar os braços, apoiando a cabeça sobre eles, como se fosse voltar a

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