Corações Valentes

De Samantha L'Ile

Francesca Mare é uma mulher de trinta anos, lindíssima e segura de si. Leva a vida e os relacionamentos de acordo com as suas regras - livre como o mar e solta como o vento. Vive de sua arte e não tem laços com ninguém, exceto com suas amigas, mas quando Margherita se transfere para o Japão e Sabrina fica distante, Francesca se encontra subitamente sozinha. Por uma coincidência, Leo entra em sua vida bem naquele momento, mas talvez as coincidências não existam e o destino deles estivesse escrito nas estrelas - um encontro entre dois corações valentes.

• Idioma: Português
• Editora: BadPress
• Data de lançamento: 14 de out. de 2017
• ISBN: 9781507119143

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Corações Valentes

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Traduzido por Elaine Beatriz de Sousa Pagliaro 

Corações Valentes

Escrito por Samantha L'Ile

Copyright © 2015 Samantha L'Ile

Todos os direitos reservados

Distribuído por Babelcube, Inc.

www.babelcube.com

Traduzido por Elaine Beatriz de Sousa Pagliaro

Editado por Marta de Camargo Fernandes

Babelcube Books e Babelcube são marcas comerciais da Babelcube Inc.

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Qualquer referência a fatos ou pessoas reais é mera coincidência. Alguns lugares mencionados no romance são frutos de pura imaginação.

Dedicado a todos os Corações Valentes

que amam apesar das adversidades.

Prólogo

06 de Junho de 2013 – Gavirate

Despedir-se de uma pessoa querida que parte para uma longa viagem é realmente difícil, especialmente se é uma das duas melhores amigas que tem no mundo. Conheço Margherita há tantos anos e se me tivessem dito que um dia teria largado tudo, num piscar de olhos, para ir morar no Japão, teria morrido de rir. E agora, eis que ela começa uma nova e emocionante vida a dez mil quilômetros de distância. Claro que o fator Tazio não pode ser desprezado, ele foi seu colega e melhor amigo por anos e agora, finalmente, estão juntos. Megs está perdidamente apaixonada e eu cruzo os dedos por ela. Se algum dia ele a trair e não importando como, eu o alcançarei em solo japonês e o dependurarei pelas bolas na torre de Tóquio.

No entanto, eis-me aqui, a admirar a minha amiga previsível a atirar-se em uma aventura enquanto eu fico em casa a me ocupar em alugar o seu apartamento. Porque ela pediu isso para mim é um mistério. Eu tinha certeza que teria confiado esta tarefa à Sabrina, a nossa melhor amiga, que se iguala a ela em precisão e perfeição. Ou aos seus pais ou ao seu futuro e antipático cunhado ou a qualquer outra pessoa. Ao invés disso, a incumbência coube a mim, a imprevisível e não confiável Francesca Mare!

1

O último casal que se apresentou para ver o apartamento era o pior de todos - um aspirante a baterista que quer transformar o quarto em sala de ensaios e uma bailarina que quer instalar um poste de pole dance. Os pegaria como inquilinos só para ver a reação de Tommasina que mora no andar de cima; seria divertido assistir a luta entre uma vivaz octogenária e aqueles dois pseudoartistas. Cederia à tentação se o apartamento não pertencesse a uma das minhas melhores amigas.

Antes de se transferir para Tóquio com o seu noivo, Megs me pediu para acompanhar a imobiliária que se encarrega de alugar o seu apartamento e prestar atenção em quem escolhe. Ela tem muito carinho pelo apartamento por que é a casa que comprou como um sinal de independência depois de um traumático rompimento com o seu ex que era um grandessíssimo bastardo e eu o teria castrado com prazer. Ele a tinha deixado em pedaços, mas por sorte, Megs tinha a mim e Sabrina para consolá-la e o seu melhor amigo para mimá-la e fazê-la se apaixonar como nunca.

Desejo a eles tudo de bom mesmo, honestamente, mesmo não crendo em alma gêmea e em final feliz. São fábulas inventadas para as crianças e eu sei por que um homem me ensinou - próprio aquele que eu acreditava ser um cavalheiro branco, sem mácula e nem medo - me presenteou com esta lição muitos anos atrás.

Os sinos da igreja de Gavirate batem seis vezes ressaltando o meu notável atraso. Tinha um compromisso na imobiliária há trinta minutos, mas tenho certeza que serei perdoada.

Boa tarde, Francesca.

Oi Mario, me desculpe pelo atraso.

Não tem importância, adiantei alguns trabalhos burocráticos enquanto aguardava.

Naturalmente, como se pode notar, quando o assunto a tratar é com pessoas do sexo masculino é tudo mais fácil porque são seres simples e previsíveis. Com as mulheres tenho um probleminha maior, mas só porque se colocam em competição e perder não agrada a nenhuma.

Vejo que está em esplêndida forma, como sempre. Como vai?

Muito bem, obrigada. Marcou um compromisso para esta noite?

Sim, temos o tempo exato para chegar a casa.

Você já tinha calculado que eu não chegaria na hora marcada. Então, aprendeu a me conhecer.

Sim minha cara, a senhorita é sempre pontualmente atrasada, mas é muito agradável para ser recriminada. Vamos?

Mario abre a porta e me deixa passar e na rua o sigo enquanto se dirige a pé até o nosso destino. É o proprietário da imobiliária na qual a Megs confiou. Os escritórios se encontram a pouquíssimos passos do apartamento e assim para os empregados é fácil marcar visitas com possíveis inquilinos. No início, agora já faz um mês, era Massimo que estava se ocupando da tarefa - um rapaz jovem e recém-contratado - e quando vi a sua dificuldade em olhar nos olhos as pessoas compreendi que nunca conseguiria. E Megs precisa do aluguel para pagar o empréstimo, e por isso, interferi.

Sabia que encontraria uma solução. Convencer os homens a fazerem o que desejo é uma tarefa tão fácil que chega a ser chata, às vezes. Persuadir o diretor para se ocupar pessoalmente do caso foi brincadeira de criança. Mario é o clássico cinquentão, pai de família em crise de meia idade e começou a babar por mim assim que passei pela soleira da porta de seu escritório. Limitou-se a me radiografar com longas olhadas e me fazer elogios galantes. Não passará disso por que não é o tipo que trai a esposa, e no geral, é um bom homem, no entanto, não invejo a sua esposa.

Hoje à noite encontraremos uma pessoa especial e acredito que será a certa. Infelizmente é deficiente físico, mas verifiquei pessoalmente as medidas do apartamento e este é adequado.

A imagem de um rapaz incrível que voa na ciclovia com a sua cadeira de rodas me encheu a mente. Eu o tinha visto apenas duas vezes e ambas as ocasiões me atingiram como um raio, bem como neste momento, que estou ficando nervosa só em pensar em revê-lo. Chama-se Leonardo e tenho certeza que se trata dele. Mario continua a falar sobre estribos para a cozinha e pequenas adequações para o banheiro, assegurando-me que para tornar a casa perfeita para um cadeirante, serão necessárias modificações mínimas e reversíveis. Tinha prestado pouca atenção na conversa até que Mario diz o seu nome:

Leo é um ótimo rapaz, muito responsável.

Quantos anos ele tem?

Vinte e quatro. É mais jovem do que requerido pela sua amiga, mas garanto que cuidará do apartamento da melhor maneira possível.

Entre as solicitações de Megs havia também detalhes sobre idade e estado civil que excluía completamente os solteiros, mas somente os do sexo masculino. O documento que redigiu é mais longo e aprofundado do que as especificações técnicas de um telescópio da NASA e respeitar as cláusulas é uma missão impossível. Por isso, ponderadamente decidi ignorá-las completamente, claro que sem informar a Megs senão ela não dormiria a noite de tanta preocupação. As minhas perguntas na realidade tem a finalidade egoísta de satisfazer a minha curiosidade.

Quer morar sozinho ou com alguma moça?

Não, é solteiro, mas sua mãe e outros parentes o ajudarão na manutenção da casa.

Conhece a sua família?

São muito conhecidos na comunidade, uma família admirável. A mãe faz trabalho voluntário bem como as duas filhas mais velhas, e uma toca no coro da igreja. Leo era um atleta promissor antes do acidente.

O que lhe aconteceu?

Não consigo evitar fazer perguntas mesmo que já conheça a história do acidente de carro com um outro motorista bêbado, ocorrido quando Leo tinha apenas vinte e dois anos. Não consigo imaginar como pode viver em uma cadeira de rodas e continuar a sorrir, e contudo, ele irradia alegria como se fosse a pessoa mais feliz do mundo.

Mario segue mais ou menos o meu pensamento e acrescenta que Tommasina ficará feliz em tê-lo como vizinho, uma vantagem de não se desprezar já que tem os outros três apartamentos do edifício e se apresenta claramente hostil com quem não gosta. Quase chegando em frente a casa o vejo, diante do portão de entrada enquanto conversa amavelmente com Tommasina.

É ainda mais bonito do que me lembrava, com os cabelos lisos e negros, os olhos mais azuis que um laguinho na montanha. Tem a pele bronzeada e um sorriso autêntico que te põe imediatamente confortável. Parece ser alto e tem o peito e os braços musculosos, destacados por uma camiseta bem justa e de mangas curtas. As pernas magérrimas estão escondidas por um par de calças compridas.

Sorri para nós e cumprimenta cordialmente enquanto Mario  responde com um tom alegre e cumprimenta a octogenária Tommasina. Aproximo-me e lhe aperto a mão. O seu aperto é quente e forte enquanto o meu, infelizmente, é sem graça.

Prazer em te conhecer, eu sou Leonardo Ghini.

Francesca Mare. O prazer é meu.

Não se lembra de que nos vimos já duas vezes e isto me aborrece, claro que não é sempre que acontece de um homem se esquecer de mim.

O apartamento é de uma amiga sua? Creio que a conheço de vista embora não tenhamos nunca conversado.

Sim, ela está fora do país e estou alugando para ela. Na realidade, Mario é que está se ocupando disso.

Ao ouvir falar sobre Megs, Tommasina se intromete imediatamente com os olhos brilhando.

Sinto muita falta da Magherita, mas estou feliz que esteja com Tazio Federico. Ele é o homem certo e espero ver logo o casamento deles.

Então ficará feliz em saber que Taz lhe pediu em casamento.

"Oh, mas eu sei de tudo minha cara, nos trocamos e-mail."

O fato que tenha pronunciado a palavra como se escreve em inglês me fez sorrir e Tommasina se irrita pensando que eu esteja caçoando dela.

Não estou tão por fora do mundo e da tecnologia como pensa, minha cara.

Desta vez, minha cara, soa menos afetuoso e Mario me salva propondo começar a visita no apartamento. Entramos em todos os quartos e, embora o tom de Mario seja mais informal, o discurso é o mesmo. Dois quartos amplos e iluminados, cozinha, sala, banheiro espaçoso com box e chuveiro enorme e uma dispensa muito útil, além de um jardim. Não me importa muito a caldeira externa instalada há apenas cinco anos, mas sou atraída pela posição sudeste. Mario a destaca sempre tirando uma bússola e a mostrando como um tesouro ao cliente da vez. Na verdade a luz deve ser esplêndida e não gostei que a Megs tivesse pintado todas as paredes de branco.

Então Leo, o que me diz?

Gostei bastante e está em uma boa localização. A minha única dúvida é sobre o contrato anual. Procuro uma casa praticamente definitiva e não gostaria de ter que me mudar daqui a doze meses.

Como te expliquei por telefone é uma condição da proprietária, mas é só por precaução. Na realidade tem intenção de renovar o aluguel de ano em ano se tudo correr bem.

A lista infinita de exigências da Megs sempre faz o pobre do Mario suar, ele procura contorná-las embora saiba que foram esculpidas em pedra.

Não sei, gostaria de fazer alguma personalização e me sentiria melhor com um contrato de quatro anos.

Megs me submeteu a curso de formação improvisado, mas muito cansativo, antes de me dar esta tarefa e a palavra modificações se enquadra nos requisitos de alerta.

Que tipo de mudanças teria em mente? A minha amiga tem muito carinho pela casa e pela mobília.

Nada de espetacular, pequenos ajustes para as minhas necessidades e também gostaria de acrescentar algumas cores. Este minimalismo não combina comigo, gostaria de mais calor. Alguns quadros nas paredes e flores no jardim. Talvez pintar a cozinha com uma tinta mais quente.

Tem razão, todo este branco é sério demais. Faça isso e não se preocupe, Megs ficará em Tóquio por três anos e duvido que volte a morar aqui. Este apartamento é apenas a sua âncora, uma espécie de salva guarda mental, mas não viverá mais entre estas paredes.

Mario se reanima e readquire a confiança pelo sucesso do negócio, na verdade parte imediatamente ao ataque.

Bom, você ouviu Leo? Eu sabia que era o lugar certo para você. Então fechamos o negócio?

Quando Leo concorda e sorri, me encanto e me sinto aliviada e feliz. Megs ficará satisfeita e estou contente que seja ele mesmo a morar aqui, embora não sabendo bem o por que.

Perfeito, então podemos marcar uma reunião na imobiliária e assinar os papéis. Quando gostaria de se mudar?

Imediatamente, o mais rápido possível. Não vejo a hora, Mario. Obrigado.

Apertam as mãos e o negócio está concluído. Um problema a menos para mim.

2

Durante toda a semana eu pensei em Leo, na mudança e, sobretudo, nas suas palavras sobre cores que gostaria de colocar no apartamento. Desde que falou a respeito dos quadros que gostaria de por nas paredes, não faço outra coisa que visualizar objetos que eu gostaria de pintar. Uma miríade de imagens perfeitas para ele me gira na cabeça e é uma situação ridícula porque nem mesmo o conheço e não tenho ideia do que deseja.

Quem sabe é o tipo que pendura pôster barato que reproduzem quadros famosos ou também ama fotografias. Foi um atleta e poderia cobrir as paredes de fotos de vitórias famosas, como um corredor que cruza a meta de chegada ou um ciclista na volta final. Ficaria imensamente decepcionada se fosse assim e preciso conhecer de todo o jeito a verdade e por isso, decidi fazer-lhe uma visita e perguntar a ele diretamente.

Usarei a desculpa do molho de chaves que eu me esqueci de entregar na imobiliária, não seria correto conservar uma cópia agora que a casa foi alugada. O meu reflexo no espelhinho retrovisor pisca sedutor, não quero impressionar, mas o meu orgulho ainda sofre pelo fato de Leo ter se esquecido de mim. Não sabia o meu nome, mas ninguém nunca tinha esquecido o meu rosto. Não quero ser vaidosa e nem mesmo hipócrita, mas as ruivas sempre chamam a atenção e eu modestamente sou um bom pedaço de mau caminho, como dizia sempre meu pai.

O teu belo rostinho será uma arma poderosa quando crescer filhota. Não tenha escrúpulos em usá-la porque este é um mundo duro.

Sempre repetia isso para mim e eu aprendi bem a lição. A beleza não