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TODA FORMA DE AMOR
TODA FORMA DE AMOR
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E-book407 páginas5 horas

TODA FORMA DE AMOR

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Sobre este e-book

Cleo recomeça sua vida na Flórida depois de um casamento fracassado. Em seu caminho para se reestruturar e começar a vida de um jeito mais livre, ela faz amizades especiais: Mike, seu vizinho divertido que logo se transforma em um amigo pra lá de especial; Frank, seu senhorio, um homem maduro que vai mostrar novas pos

IdiomaPortuguês
Data de lançamento6 de abr. de 2020
ISBN9781734297546
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    TODA FORMA DE AMOR - ANDY WAINS

    Aos meus pais que me ensinaram e incentivaram o gosto pela leitura. Todo sábado um livro novo!

    Ao meu marido, Antonio, que foi o primeiro a dizer para eu escrever um livro depois que eu contei uma das minhas histórias a ele. Ele me ajudava no primeiro livro que não consegui continuar depois que ele se foi. Tenho certeza que no outro plano ele está tão feliz quanto eu. Quem sabe um dia volto a escrever sobre Amanda e Avraham...

    À Tatiane Nobre que foi a segunda pessoa que falou: escreve!. Desse jeitinho mesmo, como uma ordem, mas que deu super certo. Obrigada por você ser do jeito que é, eu valorizo isso.

    Ao meu primeiro terapeuta aqui, Rodrigo Molitor, que me deu a tarefa de escrever um livro e terminá-lo. Está aqui, Rodrigo, demorei, mas cumpri!

    À Virginia Motta, minha amiga e irmã que a vida me deu, que muitas vezes foi minha inspiração para Cleo, além de me ajudar sendo minha leitora beta e me ajudando a seguir em frente.

    Aos meus filhos, Rebeca e Joshua, que quando digo que sou escritora parece que para eles soa como minha mãe é hippie. I love you, guys!

    À minha família que sempre esteve por perto e desconfiava que eu estava escrevendo livro de sacanagem. É romance mesmo, gente.

    A todos os amigos que diziam para escrever um livro. Embora eu saiba que eles pensavam em algo como os de Marta Medeiros, o que saiu foi romance.

    Aos meus leitores do Wattpad que acreditaram desde o início, acompanharam, votaram e fizeram comentários que me ajudaram muito. Em especial @Claunic, @Sublittlefox e @aryanecouto. Obrigada, obrigada, obrigada!

    E para todas as mulheres que têm a coragem de arriscar.

    EU HAVIA MARCADO COM O PROPRIETÁRIO DO APARTAMENTO AO MEIO-DIA. Era mais um dia de calor na Flórida e ficar do lado de fora era um tormento. O sol ardia na pele e o ar era sempre abafado. Poucas pessoas se atreviam a ficar na rua naquela hora, mas o senhorio só poderia encontrar-me naquele horário, então era o que tinha que ser.

    Eu cheguei meia hora antes do combinado e fiquei esperando no carro. Apesar de ser brasileira, não conseguia lidar com o calor local, embora se assemelhasse muito ao Rio de Janeiro.

    Eu vi quando uma pick-up se aproximou e estacionou em uma das vagas disponíveis. Saltou um homem por volta dos 50 anos, alto, uma constituição física que dizia que em sua juventude havia sido atleta. Seus cabelos, com alguns fios brancos, mas nada que o envelhecesse. Apenas oferecia o charme que a idade dá a alguns homens.

    Ele caminhou em direção aos apartamentos. Deveria ser esse o senhorio. Eu saí do carro e rumei para o apartamento 206.

    — Sr Brannon?

    — Sim. Senhorita Mendes?

    Eu abri um sorriso para o homem e estendi a mão para cumprimentá-lo. Uma mão bronzeada pegou a minha num aperto firme, mas ao mesmo tempo cuidadoso.

    — Venha conhecer o apartamento.

    Entramos numa sala pequena, mas arejada com a luminosidade entrando pela janela. Uma cozinha compacta, mas que poderia comportar as minhas necessidades. Eu adorava cozinhar, mas enquanto não pudesse usufruir de uma cozinha grande, onde poderia espalhar minhas coisas, aquela seria o suficiente.

    O quarto principal era espaçoso, e o segundo serviria para usar como escritório. Aquele apartamento estava muito bom para as minhas necessidades.

    Boca Raton era uma cidade cara e os aluguéis não paravam de subir, achar um lugar estava difícil. Eu havia me encantado com o pequeno prédio e resolvi ligar para o número que vi numa placa anunciando o aluguel, acabei descobrindo que o preço estava dentro do meu orçamento.

    — E o que achou? — o Sr. Brannon perguntou depois de mostrar-me tudo.

    — Gostei muito. Já tinha me apaixonado pelo prédio.

    Senhor Brannon abriu um grande sorriso.

    — Eu comprei esse prédio em um estado lastimável. Levei dois anos para completar a reforma.

    — O trabalho ficou incrível, meus parabéns!

    — Obrigado. Então o que a senhorita resolver é só ligar para aquele número.

    — Já está decidido. Eu quero esse apartamento.

    — Ok, eu só precisarei de seus documentos. Envie para o meu escritório e estando tudo certo eu lhe telefono.

    — Já tenho tudo aqui. E por favor, me chame de Cléo.

    O senhorio me observou momentaneamente. Eu me vi analisada por um olhar penetrante. Não sei se ele apenas lidava com a área imobiliária, mas se ele alguma vez fez algo fora disso, deve ter sido algo que impunha respeito. Achei melhor jogar limpo com ele e explicar a situação.

    — Senhor Brannon, eu estou há um mês morando em um hotel desde que cheguei à Florida. Não aguento mais. Estou gastando uma pequena fortuna que na verdade faz parte de uma poupança guardada para emergências. Essa emergência está se estendendo além do previsto. Eu realmente agradeceria se o senhor pudesse ver isso o mais rápido possível.

    Ele olhou para mim por mais um tempo e disse:

    — Apareça no final do dia em meu escritório, até lá eu consigo verificar seus documentos. 

    Eu fui embora ansiosa por ser aceita por Frank Brannon a solucionar o meu problema. Estava doida para ter o meu cantinho e enfim começar nova vida.

    Mordi os lábios pensando em tudo o que passei até chegar aqui.

    Aos 24 anos, logo após terminar um mestrado na minha área de Tecnologia da Informação, conheci Marcelo, um engenheiro de 30 anos que trabalhava na empresa em que eu estava começando a trabalhar. No início foi apenas amizade. Pelo menos da minha parte. 

    Ele era divertido, riso fácil e sempre disposto a me ajudar, todos o adoravam. Não demorou muito para engatarmos um namoro. Vieram então os almoços com as respectivas famílias e por fim o casamento. Isso tudo em apenas dois anos.

    Hoje, eu avaliava se tinha sido pouco tempo para conhecer Marcelo de verdade ou se talvez eu apenas não quis ver a verdade. 

    Talvez não quisera ver que aquele jeito brincalhão era também um jeito de sempre estar em evidência. Marcelo gostava de ser o centro da atenção de todos. Adorava ir para barzinhos com os colegas do trabalho, curtia futebol às quintas e sempre tinha um churrasco para ir. Na verdade, entre a vida dele de solteiro e a de casado não havia grande diferença. Mas eu havia me apaixonado pelo jeito que Marcelo levava a vida, sempre alegre e leve. Eu queria ser assim também, mas estava satisfeita em apenas acompanhá-lo.

    Eu tentava me encaixar naquele meio, mas vivia com a eterna sensação de que estava sobrando ou quando não era a chata da história. Enquanto eu tentava trazê-lo para uma vida familiar, com programas a dois ou saídas com outros casais, Marcelo reclamava dizendo que era chato e aparecia com os programas de solteiro: praia-futebol-churrasco. De um jeito ou de outro, ele sempre conseguia me convencer a fazer o que ele queria. Depois eu me sentia magoada porque mais uma vez a vontade dele prevalecia.

    Com o tempo já não era apenas os finais de semanas. Eram sábados de futebol com os amigos, quando ele saia bem cedo de casa e só voltava à noitinha. Eram happy-hours com o pessoal da empresa para a qual ele se transferiu, ou reuniões intermináveis que acabavam tarde da noite. Viagens para outras filiais. Até o dia em que eu passei a ter a sensação que nossa casa era apenas um hotel para Marcelo.

    Se eu fosse esperta já teria percebido que algo estava muito errado. Porque nem para o sexo Marcelo aparecia. E quando acontecia, eu ficava com uma enorme sensação de vazio, como se para ele fosse independente de quem estava ali deitada. Era burocrático: vinha, fazia o que tinha que fazer, virava para o lado e dormia.

    E uma tristeza enorme ficava sobre mim.

    Onde foi que nós nos perdemos um do outro?

    Eu até me esforcei para agitar a relação, mas precisava contar com pelo menos a presença dele e isso era raro.

    Até o dia em que eu recebi uma visita estranha. Lembro disso como um pesadelo recorrente que ainda enfraquece minha pernas e drena minha energia.

    — Cleo?

    Eu me virei para quem me chamava.

    — Sim, eu mesma. Quem gostaria?

    — Meu nome é Fernanda, posso falar com você num lugar privado?

    — Sinto muito, mas não te conheço...

    — É sobre o Marcelo. — Fernanda interrompeu ansiosa.

    Sabe quando sobe aquele arrepio pela coluna e você percebe que coisa boa não vem dali? Pois é. Meu instinto finalmente veio à vida depois de alguns anos dormentes.

    Apesar de não ser a coisa mais segura a fazer, eu chamei Fernanda para subir ao meu apartamento. Podia ser a coisa mais idiota que eu faria na vida, mas eu fiz. Eu sabia que precisava ouvir o que aquela mulher tinha a dizer.

    — Ok, agora estamos aqui. — Eu cruzei os braços encarando a moça. — Diga logo a que veio porque eu estou cansada e ainda tenho que preparar o jantar para o meu marido que vai chegar daqui a pouco.

    Fernanda deu um sorriso torto com expressão de deboche.

    — Vai mesmo é? Ele por acaso não está viajando?

    Eu permaneci parada apenas olhando para Fernanda, enquanto meu estômago contorcia. Eu tinha a sensação de que minha vida ia mudar radicalmente com o que a outra iria dizer.

    — Bom, eu vou ser direta porque afinal, você tem que fazer o jantar — Fernanda disse com sarcasmo. — Mas aviso logo que é melhor preparar só para você porque o Marcelo não vai jantar aqui.

    — E como é que você tem tanta certeza?

    — Porque ele está na minha casa, e se ele vai jantar em algum lugar vai ser lá. Que aliás é muito mais a casa dele do que essa aqui. Até porque ele passa mais tempo lá que aqui.

    Eu senti o chão desaparecer sob seus pés.

    — Como é que é? Eu não estou entendendo...

    Fernanda revirou os olhos e sem muita paciência foi soltando:

    — Cara, você é estúpida ou o que? Você nunca estranhou que o cara não para em casa? Você nunca desconfiou que várias vezes durante a semana ele não dorme aqui e isso não pode ser normal?

    — Mas ele viajava pela empresa... — eu disse num fio de voz.

    Fernanda fez uma careta.

    — Que porra de mundo você vive? Qualquer mulher já teria farejado isso. Já teria seguido ele, vasculhado o celular, revirado as roupas. Dormir fora de casa durante a semana já é indício de amante na parada, mas o Marcelo ainda passava finais de semana comigo! Se bobear ele tem mais roupas na minha casa do que na sua.

    Eu me senti dormente. Ao mesmo tempo em que parecia que o meu cérebro se recusava a aceitar, ele trabalhava na velocidade da luz lembrando de todas às vezes que o meu marido dizia que ia viajar ou dava desculpas para a sua ausência.

    Foi então a vergonha baixou sobre mim como uma cobertura. Como eu poderia ter sido tão idiota? Como não notar as mentiras que ele mal fazia questão de esconder? Era a pergunta que não saia de minha cabeça: como?

    — Hei, Bela Adormecida! Acorda! — Fernanda estalou os dedos na minha cara.

    Eu olhei para ela. Fernanda era baixa, corpo típico das garotas que passavam o dia malhando na academia e se enchendo de whey protein. Coxas de jogador de futebol, peitos que provavelmente eram siliconados, braços tonificados. Loira de salão. Era isso que Marcelo queria?! Deus, eu era o oposto disso!

    De repente uma dúvida veio à minha cabeça.

    — Eu não entendo uma coisa: por que você veio aqui falar isso para mim? Porque ele não disse, se vocês são o tão almas gêmeas assim?

    — Porque eu não tive coragem de fazer.

    Marcelo falou, parado na porta do apartamento.

    Eu olhei para ele esperando que viesse para mim, explicasse aquela situação louca e desmentisse tudo. Mas algo não estava combinando com esse pensamento.

    — O... o que que foi que você disse?

    Marcelo caminhou até Fernanda e passou o braço pelos ombros dela. Ver aquela cena foi como se um balde de água gelada caísse sobre mim.

    — Cleo, eu estou com a Fernanda já há um ano e meio. Desde o início do casamento eu percebi que você não era a mulher capaz de me satisfazer. Eu conheci a Fernanda e me apaixonei. Nossa relação é de um jeito que o nosso casamento nunca foi. Eu sinto muito, eu realmente não tive coragem de terminar tudo por causa de nossas famílias, eles são tão ligados que sabia que isso ia dar uma merda danada e eu não estava a fim de encarar. Mas agora que a Fernanda teve a coragem por mim, então é definitivo: eu quero o divórcio.

    Eu permaneci congelada no mesmo lugar, só consegui balbuciar.

    — Você pensou em nossas famílias, mas e quanto a mim?

    Marcelo deu um suspiro de impaciência.

    — Você é jovem, Cleo! Pode curtir fossa por um tempo, até por que você é meio dramática, mas daqui a pouquinho já vai estar curtindo a vida de solteira. E depois, não é como se o nosso casamento fosse animado, né? Você já deve até estar acostumada a ficar sozinha!

    E foi assim que terminou o meu casamento.

    Marcelo arrumou as coisas e foi embora com Fernanda e eu fiquei no apartamento me sentindo como se fosse o lixo não reciclável de Marcelo.

    Seis meses depois um amigo que conheci no mestrado me indicou para um cargo num projeto de uma startup. O trabalho estava relacionado aos mercados do grupo dos países que formavam o BRICS, e eu trabalharia com o mercado brasileiro. Precisavam de uma profissional em TI que poderia morar no Brasil, mas teria que viajar algumas vezes para os Estados Unidos. Eu aproveitei a oportunidade e negociei com a empresa para morar no país da sede, os Estados Unidos. Combinamos que eu arcaria com os custos de vida no país, uma vez que a empresa estava começando e não tinha muito capital de investimento capaz de bancar um estrangeiro no país. Em contrapartida a empresa me daria o visto de trabalho.

    E foi assim que cheguei até aqui.

    Agora era começar nova vida e nunca mais cometer os mesmos erros.

    ENTREI NO APARTAMENTO ANSIOSA PARA TORNÁ-LO MEU LAR. Pela primeira vez na vida eu tinha algo que era meu. Embora o apartamento fosse alugado, ele era alugado por mim, para mim e uso exclusivo meu. Poderia fazer o que quisesse, arrumar do jeito que quisesse e se eu quisesse que ele se transformasse num caos, ainda assim seria o meu caos.

    Isso dava um sentimento de liberdade que nunca senti e junto com isso, o de realização. Parece bobagem que o simples aluguel de um imóvel me fizesse sentir assim, mas era uma conquista enorme. Eu estava em um país estrangeiro, sozinha, por minha conta e risco, começando em um emprego novo. Aliás, tudo ao meu redor era novo: nova cultura, nova língua, pessoas diferentes, com costumes diferentes.

    Fiz um pacto comigo mesma que a partir de agora aquela Cleo tímida, quieta e até mesmo subserviente daria lugar a uma nova mulher. Me dei conta que até hoje sempre tinha me sentindo uma menina. Até mesmo o jeito como se referia a mim era como garota ou menina, nunca como mulher. Eu não tinha crescido. E não adiantava colocar a culpa na minha família ou no Marcelo, pois fui eu mesma quem não deixou a mulher em mim vir à tona. Foi mais fácil seguir o fluxo e deixar outros conduzirem meu barco. Muito mais fácil ter marido dizendo como as coisas iam funcionar. O pior foi assumir que a gente se acostuma a dar o poder a eles.

    Era o sapato novo que tinha que ser escondido, ou o vestido que você pede para a vendedora não colocar numa sacola grande para quando chegar em casa ele não ver, embora eu trabalhasse e ganhasse dinheiro para isso.

    Ou eram as saídas com as amigas solteiras que ele embarreirava, porque dizia que mulher solteira só estava querendo caçar homem e que não ficava bem eu estar junto a elas. Coisas triviais como ir ao cinema, ou ir a um restaurante num sábado com uma amiga, tinha sempre que perguntar ao maridão se podia. E então, depois de alguns anos, eu me perguntava: quando foi que me tornei essa pessoa? Por que eu cedia tanto? Por que eu, mulher adulta, tinha que pedir permissão para alguma coisa? E o pior: eu acatava! Eu dizia para as minhas amigas: Não vai dar, gente, o Marcelo não quer que eu vá. Como eu cheguei a esse ponto?!?

    E o mais triste dessa história é que muitas vezes ouvia a mesma coisa das minhas amigas.

    Quando foi que dei o controle de minha vidas ao meu marido, sendo que eu também trabalhava, também ajudava a sustentar a casa, e cuidava dela sozinha? A única responsabilidade dele era trazer o dinheiro para casa. Eu fazia o mesmo e ainda tinha todo o serviço de casa. E para quê? Para no final o desgraçado achar outra melhor na rua.

    Mas isso teve um fim no dia que Marcelo saiu de casa. Eu larguei essa Amélia que vivia em mim no Brasil e uma nova mulher ia nascer com esse apartamento.

    Eu não sei quem eu seria, mas ia descobrir. E ia me dar o direito e o prazer de experimentar tudo o que tivesse vontade. Ia deixar a timidez no passado e me jogar de braços abertos na vida.

    Respirei fundo e uma onda de prazer tomou conta de mim.

    Andei pelos cômodos do imóvel apreciando cada detalhe. Passando a mão pelas paredes, reparando na cor, na textura, imaginando o que poderia ser feito ali. Entrei no banheiro e vi a banheira, e já conseguia prever longas horas nela.

    A primeira coisa que eu precisava fazer era comprar uma cama. Nisso, eu nem pensava em economizar. Queria uma cama que fizesse não me deixar querer sair dela. E o sofá deveria seguir esse mesmo padrão. Eu queria uma casa onde eu tivesse o prazer em estar nela, onde as pessoas que chegassem, se sentissem em casa. Confortável. Nada de casa pinçada em uma página de revista de decoração, como foi o meu apartamento com Marcelo, que achava que tinha que ser bonito e sofisticado. E estéril, porque ele nunca estava em casa.

    Chega!

    Eu disse a mim mesma. Nada mais de Marcelo! Aqui, na minha casa, ele era persona non grata. Aqui ele não ia entrar. Aqui seria vida nova!

    Acabei me lembrando que precisava reservar um cantinho especial onde jogasse algumas almofadas e que eu pudesse deitar e olhar o céu. Isso era essencial para mim, porque era uma das coisas que eu mais gostava de fazer.

    Ouvi o som da campainha e me surpreendi, porque não esperava ninguém.

    — Olá, você deve ser a senhorita Mendes. Eu sou Sean, filho do Brannon.

    — Oh, sim, claro! É um prazer conhecê-lo. Ele havia me falado que você daria um alô. Mas por favor, pode me chamar de Cleo.

    — É um prazer, Cleo. Deixa eu te apresentar: Michael Hudson, ele é seu vizinho de porta e meu amigo.

    Estavam diante de mim dois homens interessantes: Sean, alto, cabelo castanho claro bem curtinho, tipo militar, não tinha uma beleza óbvia, mas aquele charme que chama atenção das mulheres. Aliás, nisso lembrava ao pai. Homem com cara de homem. Nada delicado, nada suave.

    Já Michael Hudson era um moreno bonito, que provavelmente tinha alguma origem latina que não era um traço forte, mas estava lá. Barba por fazer, olhos castanhos e físico forte, sem exageros. Mas o que mais me chamava a atenção era o olhar: curiosidade e algo mais que não sei dizer, mas que me deixou um pouco incomodada.

    — É prazer conhecê-lo, Sr. Hudson.

    — Se você vai chamá-lo de Sean, por que eu vou ser o Sr. Hudson?

    Eu arqueei as sobrancelhas surpresa com a brincadeira.

    — Ok. Vamos começar de novo: é um prazer conhece-lo, Michael.

    — Infelizmente está errado de novo: é Mike. Michael é só para minha tia Abgail, e isso quando ela queria puxar as minhas orelhas, o que era sempre.

    Eu ri com Mike. Pelo visto eu teria um vizinho que além de bonito era bem divertido.

    — Bom, eu acho que vocês irão se dar bem, mas se ele lhe der problemas é só me chamar que eu resolvo. — Sean me assegurou.

    Mike bufou e cruzou os braços encarando Sean.

    — E você vai fazer o que? Me bater?

    Vi Sean dar um sorrisinho vitorioso e disparar:

    — Não, vou apenas cancelar o seu contrato de locação.

    — Você mal a conhece e já está me trocando?! Que diabo de amigo você é? Pode esquecer aquela rodada de cerveja por minha conta.

    Sean revirou os olhos e eu ri. Estava claro que ali se encontravam dois amigos muito chegados e que a brincadeira era o tom do convívio entre eles.

    Uma das coisas que mais gostava nos relacionamentos entre os homens era isso: um sacaneava o outro e sempre estava tudo bem. Não tinha disputa, nem fofoquinha, nem mágoas. Se se aborreciam, falavam logo na cara. Com mulher era tudo tão complicado! Eu tive bons amigos homens, mas depois que comecei a namorar o Marcelo ele foi me fazendo afastar deles até que perdi o contato. Não mais.

    — Cleo, eu vim aqui para duas coisas: ver se estava tudo bem e se você precisa de alguma coisa.

    — Bem, eu vou sair para comprar uma cama, roupas de cama e banho e alguns mantimentos. Mas com o apartamento está tudo ok. — Eu olhei em volta da sala e depois me virei para ele com um sorriso. — Eu agradeço a preocupação.

    — Não por isso. Meu pai me pediu para ajudá-la no que for preciso. Ele gostou de você, e ele não é um homem de gostar facilmente. Você pode contar comigo para o que precisar. O meu apartamento é logo embaixo do seu, o 106.

    — E o meu é ao lado, pode me chamar também. E não se incomode com as brincadeiras, eram apenas para quebrar o gelo. Você vai descobrir que aqui todos nós gostamos de brincar uns com os outros, somos todos amigos. Você vai conhecer o William, ele mora ao lado de Sean — Mike disse com um sorriso leve no rosto. — Aliás, porque você não se encontra conosco mais tarde no Duffy’s, você provavelmente não vai ter nada o que comer aqui. Lá tem a melhor asinha de frango do Sul da Flórida. Sam é o gerente e um cara muito legal, você vai gostar de conhecer.

    Olhei para os rapazes meio indecisa. Mas afinal, por que não? Eu tinha mais é que sair e conhecer gente nova, e os rapazes eram muito simpáticos e divertidos.

    — Eu vou com certeza! — Mike deu uma piscada de olho para mim e combinamos de nos encontrar no restaurante.

    Fechei a porta tendo quase a certeza que vim para o lugar certo. Agora era só começar a minha nova vida.

    ENCONTREI O RESTAURANTE QUE MIKE HAVIA FALADO, NÃO FICAVA MUITO LONGE DO PRÉDIO QUE EU MORAVA. A hostess me indicou a mesa dos rapazes e ao que parece eles eram frequentadores assíduos do lugar, pois ela sabia exatamente de quem eu perguntava.

    — Hei, Cleo, você veio! — Sean disse sorrindo para mim.

    — Vim conferir se as tais asinhas de frango são realmente boas.

    Mike empurrou uma cadeira ao lado dele para mim. Havia mais um homem na mesa que eu julguei ser o outro vizinho.

    — Sente-se que eu vou provar o que disse. Esse é William, o cara que mora ao lado de Sean.

    Olhei para o homem alto, de cabelos e olhos claros com roupa de paramédico e um sorriso amável no rosto.

    — Prazer em conhecê-la. Bom saber que uma mulher vai ocupar o 206. Aquele prédio já estava cheirando a meia velha.

    Eu sorri para o meu simpático vizinho.

    — Bom saber que eu vou equilibrar a vizinhança.

    Ficamos ali conversando por umas duas horas. A comida era realmente boa e a conversa melhor ainda. Fazia algum tempo que eu não tinha uma noite tão descontraída e agradável. Gostei de todos eles.

    Sean, o filho do meu senhorio, Frank Brannon, era o mais sério do grupo. Ele era o que observava mais, tinha um humor mais ácido e adorava pegar no pé de Mike. Me chocava ele ser filho de Frank, uma vez que Frank devia estar na casa dos cinquenta, e seu filho já tinha 33 anos, já havia servido o exército e hoje trabalhava com o pai numa empresa de segurança privada.

    William tinha um sorriso fácil, era bonito de uma maneira clássica, o típico bom moço de família classe média. O genro que toda mãe desejaria para a filha.

    E então vinha Mike: dono de uma beleza morena, engraçado, bon vivant, sempre tinha uma gracinha para mim. Flertar era o esporte preferido dele, e disso não escapava uma mulher que passasse ao lado da mesa. E elas se derretiam por ele.

    Graças à Deus desse tipo eu já estava vacinada.

    Embora por mais que eu quisesse comparar Mike a Marcelo, o último sempre perderia, porque onde Marcelo forçava para estar sempre como o centro das atenções, Mike era natural. Ele escutava os outros e deixava que cada um tivesse seu momento. Ele não queria ser o centro das atenções, ele simplesmente era assim.

    A tal asinha de frango chegou, o que foi bom porque eu estava morta de fome. Todos pegaram seus pedaços e eu tratei de comer logo o meu. Era realmente deliciosa.

    Até que comecei a sentir minha boca. E de repente estava queimando tanto que tive que puxar um guardanapo e cuspir tudo. Foi um vexame. Todos na

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