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Um Escorpião Perfumado
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Um Escorpião Perfumado
E-book316 páginas5 horas

Um Escorpião Perfumado

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Sobre este e-book

O ato de “perfumar um escorpião”, a que se refere o grande mestre sufi Bahaudin, simboliza hipocrisia e autoengano, tanto nos indivíduos quanto nas instituições.

Em Um Escorpião Perfumado, Idries Shah chama atenção tanto para o perfume quanto para o escorpião – o revestimento e a realidade – na psicologia, no comportamento humano e no processo de aprendizagem.

Embora repleto de relatos ilustrativos oriundos da vida contemporânea, o livro tem suas raízes nos modelos de ensinamento de Rumi, Hafiz, Jami e muitos outros grandes sábios orientais. Ele trata da necessidade de conhecimento e informação e do caminho até eles.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento8 de jan. de 2016
ISBN9788562064180
Um Escorpião Perfumado

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    Um Escorpião Perfumado - Idries Shah

    Copyright © The Estate of Idries Shah

    Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes sem autorização por escrito dos editores, ISF Publishing e Roça Nova Editora.

    Título original

    A Perfumed Scorpion

    Publicado originalmente na Inglaterra, em 1978, por The Octagon Press Ltd.

    Projeto gráfico e diagramação (miolo)

    Portas Design

    Revisão

    Isabel Janot

    Conversão para eBook

    Hondana (www.hondana.com.br)

    Este livro atende às normas do acordo ortográfico em vigor desde janeiro de 2009.

    ISBN — 978-85-62064-18-0

    1a edição

    Publicação impressa: 2014

    Publicação digital: 2015

    Todos os direitos desta edição reservados à

    EDITORA ROÇA NOVA LTDA.

    editora@rocanova.com.br

    www.rocanova.com.br

    Em parceria com

    THE IDRIES SHAH FOUNDATION

    www.idriesshahfoundation.org

    Quem quer que perfume um escorpião

    Não escapará, por isso, do seu ferrão.

    Hadrat Bahaudin Naqshband, O Shah

    SUMÁRIO

    CRÉDITOS

    EPÍGRAFE

    SUMÁRIO

    A EDUCAÇÃO SUFI

    A EDUCAÇÃO SUFI

    O MONITORAMENTO PELO MESTRE SUSTENTA O PROGRESSO

    BARREIRAS AO APRENDIZADO

    ENSINO INDIRETO

    EXAGERAR PODE SER NOCIVO…

    ENCONTRANDO OUTRAS DIMENSÕES NAS ANEDOTAS

    OPERAÇÃO NEGATIVA E OPERAÇÃO POSITIVA

    APERFEIÇOAMENTO HUMANO OU PSICOTERAPIA?

    O SUFISMO SE APRENDE POR MEIO DELE MESMO

    A FORMAÇÃO DE CULTOS COMO UMA ANORMALIDADE

    A FUNÇÃO DOS HEMISFÉRIOS CEREBRAIS

    TRANSPONDO CONCEITOS

    CONSCIÊNCIA DA MOTIVAÇÃO

    MESTRES VERDADEIROS E MESTRES FALSOS

    PSICOLOGIA CONTEMPORÂNEA

    CONSUMISMO NA ABORDAGEM DO CONHECIMENTO

    AS LIMITAÇÕES DE SE TRABALHAR COM UM MATERIAL DERIVADO

    COMO NÃO APRENDER

    OS CIRCOS

    A DOCÊNCIA É FUNÇÃO, E NÃO APARÊNCIA

    O EXEMPLO DO CRISTIANISMO

    ALTERAÇÕES PRODUZIDAS PELA IMAGINAÇÃO

    A ANÁLISE SUFI DA EDUCAÇÃO

    QUEM CONFESSARIA IGNORÂNCIA?

    O OBJETIVO

    FLEXIBILIDADE

    SUPOSIÇÕES E PONTOS DE VISTA

    PENSAMENTO SEQUENCIAL E PENSAMENTO HOLÍSTICO

    NARRATIVAS

    DESLOCAMENTO DA ATENÇÃO

    FUNDAMENTOS DA TEORIA E DA PRÁTICA SUFIS

    ATENÇÃO ENÉRGICA

    EXERCÍCIOS DE SUBSTITUIÇÃO

    O ANONIMATO DO SUFI

    HARMONIZAÇÃO

    IMAGINAÇÃO

    RITUAIS, CRENÇAS, PRÁTICAS

    O MAU-OLHADO

    O DESEJO COMPATÍVEL COM OS MEIOS

    AS TRÊS ABORDAGENS

    DOIS CAMINHOS…

    O FALSO ESTUDANTE APRENDE SOBRE SUA FALSIDADE

    VOLTE EM TRÊS ANOS

    EXAMINANDO SUPOSIÇÕES

    O IGNORANTE E O MAL INSTRUÍDO

    O SÁBIO E A TOLICE

    LITERATURA CAÓTICA

    DESCONTINUIDADE

    O VISITANTE DO ESPAÇO

    DA NATUREZA DO CONHECIMENTO SUFI

    O DISCÍPULO QUE SE TORNOU MESTRE

    MONITORAMENTO E NOVA ADAPTAÇÃO

    ENSINAMENTO VERSUS ENTRETENIMENTO

    O DIREITO DE SER SERVIDO, NÃO O DIREITO DE EXIGIR

    VER E COMPREENDER

    A QUALIDADE DO ENTENDIMENTO

    PROBLEMAS DE APRENDIZADO INERENTES ÀS PRIORIDADES CULTURAIS

    RONRONAR E RONCAR

    PROLIFERAÇÃO DOS ASPECTOS EXTERNOS

    UMA ESCOLA E UM FERMENTO

    DISTINGUINDO OS IMITADORES

    VER E SABER

    O RELATIVO COMO UM CANAL PARA A VERDADE

    VANTAGENS PARA O CONHECIMENTO SUFI

    O CAMINHO, OS DEVERES E AS TÉCNICAS

    O CAMINHO, OS DEVERES E AS TÉCNICAS

    TRÊS CAPACIDADES: GHAZZALI

    OS DEZ DEVERES DO ALUNO

    AS ESTAÇÕES E OS ESTADOS

    O CONTO DAS EXPERIÊNCIAS EXTRAORDINÁRIAS

    AS CONDIÇÕES DO SELF HUMANO

    O MESTRE INVISÍVEL

    AS ONZE REGRAS DA NAQSHBANDIYYA (MESTRES DO DESENHO)

    BARBA, MANTO E ROSÁRIO

    AS CINCO SUTILEZAS

    O QUE O PROFESSOR SABE

    PRODÍGIOS E MILAGRES

    UM JARDIM SEM FLOR

    INDO MAIS DEPRESSA…

    A HISTÓRIA DE ENSINAMENTO — 1

    A HISTÓRIA DE ENSINAMENTO — 1

    TEMPO E ROMÃS

    ANULAÇÃO DO IMPACTO

    ENSINO ANALÓGICO

    NUTRINDO-SE DO RECIPIENTE

    OS SENTIMENTOS MAIS ÍNTIMOS

    ROUBANDO CONSELHOS

    OS SINTOMAS

    O CAMELEIRO E O PLÁSTICO

    PEIXE FORA D’ÁGUA

    O QUE ELE ESTAVA TENTANDO FAZER

    FAZENDO DO SEU JEITO

    POR QUE VOCÊ NÃO DISSE LOGO?

    AS HISTÓRIAS ENQUANTO ESTRUTURAS

    O SEGREDO SE PROTEGE A SI MESMO

    UM SIGNIFICADO DE SILÊNCIO

    UM TIPO DIFERENTE DE DISCÍPULO

    A FUNÇÃO DE TESTE

    NASRUDIN

    COLOCAR E TIRAR

    O LEÃO QUE VIU SEU ROSTO NA ÁGUA

    PANACEIA

    DEIXE ENTRAR UM…

    MARIPOSAS

    RESERVADO

    O QUE VER

    REMÉDIO INFALÍVEL

    UNÂNIME

    A HISTÓRIA DE ENSINAMENTO — 2

    A HISTÓRIA DE ENSINAMENTO — 2

    A BUSCA POR PADRÕES

    A DIDÁTICA IMPEDE A COMPREENSÃO

    UM MODELO PARA UM NOVO CONHECIMENTO

    UM MODELO PARA UM NOVO CONHECIMENTO

    O FRUTO DA ÁRVORE

    PREMISSAS DA COMUNIDADE

    EXCLUSÃO DE POSSIBILIDADES

    CIÊNCIA E REALIDADE

    UM NOVO APRENDIZADO VINDO DO PASSADO

    OBSERVÂNCIA VERSUS CONHECIMENTO

    SIMPLIFICAÇÃO

    COMO, QUANDO E COM QUEM

    TEMAS E CONTEXTO CULTURAL

    ACIMA DOS CÉUS…

    CONCEITOS SUPERIORES

    INTERAÇÃO

    O ELEMENTO DE CHOQUE

    SUFIS DE IMITAÇÃO

    A HISTÓRIA E OS SUFIS

    RELIGIÃO EVOLUTIVA

    LITERALISTAS E PERCEPTIVOS

    A VERSATILIDADE DO SUFISMO

    A ABORDAGEM DO CONHECIMENTO

    O DESEJO DE ENSINAR É INCAPACITANTE

    SINTONIA

    RACIONALIZAÇÃO

    O MÉTODO NATURAL E O SOBRENATURAL

    SUBORNO

    PERGUNTAS PROFUNDAS E PERGUNTAS SUPERFICIAIS

    A EFICIÊNCIA DAS INSTITUIÇÕES

    O SANTUÁRIO MÍSTICO

    ENVOLVIMENTO NO ESTUDO SUFI

    ENVOLVIMENTO NO ESTUDO SUFI

    O CAMINHO

    O BUSCADOR OCIDENTAL

    OS IGNORANTES COMPREENDEM OS SÁBIOS?

    DOIS TIPOS DE GRUPO SUFI

    GANÂNCIA E ASPIRAÇÃO

    O OVO EQUILIBRADO

    VOLTE EM TRÊS ANOS

    A IMPORTÂNCIA DA ORGANIZAÇÃO

    A SEMELHANÇA DESSE ENFOQUE COM OUTRAS FORMULAÇÕES

    OUTROS AGRUPAMENTOS DE CONSCIÊNCIA SUPERIOR

    A ADOÇÃO ALEATÓRIA DE ENSINAMENTOS

    O PADRÃO DO EMPREENDIMENTO SUFI

    CONCLUSÃO

    CONCLUSÃO

    NOTAS

    OUTROS TÍTULOS

    A EDUCAÇÃO SUFI

    De acordo com os sufis, há uma sucessão de experiências que, em conjunto, promovem o amadurecimento educacional e evolutivo do aprendiz. Aqueles que consideram cada ganho como o objetivo em si ficarão paralisados em uma dessas etapas e, portanto, não podem aprender por meio de lições sucessivas e progressivas.

    No séc. XIII, Jalaluddin Rumi expõe a situação em belos versos:

    Man Ghulam i an ki dar har rabat

    Khwishra wasil na danad bar samat

    Bas rabate ki babayad tark kard

    Ta ba maskan dar rasid yak ruz mard

    Sou escravo daquele que não pensa, a cada etapa, ter chegado ao objetivo final. Muitos estágios devem ser deixados para trás até que o viajante alcance seu destino.

    Vamos examinar alguns pontos de vista sobre a educação — da forma como é compreendida pelos sufis e representada tanto em sua literatura quanto em suas histórias e formas tradicionais de comunicar materiais e induzir experiências — com o propósito de observar não apenas o que é novo e incomum, mas também o que poderia ser inserido nos interstícios da atividade educacional contemporânea.

    O MONITORAMENTO PELO MESTRE SUSTENTA O PROGRESSO

    O lapso de tempo que há entre a exposição a um impacto e sua absorção, somado ao fato de que as pessoas muitas vezes anulam o impacto de uma história, defendendo-se dele por meio de um gracejo ou uma piada, pode ser um comportamento social aceitável, mas também pode mostrar uma falta de sensibilidade às circunstâncias. A atenção a esses fatores faz parte do cuidado e do know-how sufis. A necessidade de monitorar as próprias reações e ver por que nos comportamos de determinado modo — auto-observação sem autodegradação neurótica — pode ser considerada outra característica importante. Até mesmo no estágio mais insipiente de demora na absorção de impactos, de ironia e de autoexame, podemos claramente observar como é difícil, para algumas pessoas, analisar o que estão fazendo, e o quanto é possível não conhecer as características da própria demora na absorção de um impacto; ou gracejar de forma automática, sendo incapaz de controlar essa reação; ou mergulhar em uma orgia de introspecção. Por isso, pode-se afirmar que o monitoramento pelo mestre sufi é tão necessário a ponto de justificar a instituição da docência.

    O apego a aspectos externos, valorizando-se o recipiente e não o conteúdo, é também uma tendência humana predominante e uma razão adicional para a presença, ou, pelo menos, para a influência do mentor.

    BARREIRAS AO APRENDIZADO

    As barreiras ao aprendizado podem ser identificadas por meio de histórias ilustrativas ou observadas na própria pessoa. Ademais, podem estar tão arraigadas pelo hábito que é necessário algum tipo de operação — a exposição a um intercâmbio — para que cedam. Já observamos que não se pode lidar com as barreiras por meio de estruturas mecânicas. Por exemplo, dizer repetidamente às pessoas que não sejam subjetivas apenas leva a determinação de não ser subjetivo a se arraigar como uma característica em si; não transmite a qualidade de ser capaz de fazer o que a pessoa acha que deveria estar fazendo.

    ENSINO INDIRETO

    O ensino indireto e o acúmulo de uma série de impactos ou ensinamentos para compor um todo único é outro aspecto do estudo sufi. O que em algumas disciplinas é chamado de iluminação pode, no processo sufi, ser o resultado de um grande número de pequenos impactos e percepções se encaixando e produzindo insights quando o indivíduo está pronto para eles. O fato de que se está aprendendo pouco a pouco, armazenando pequenos fragmentos de experiência e informação que irão, de modo quase imperceptível, reunir-se posteriormente, obviamente não desperta o interesse das pessoas às quais está sendo oferecido, em outro lugar, algo que lhes proporcionará — alega-se — insights instantâneos. Daí a avidez por ensinamentos do tipo tudo-em-um, que sempre afirmam ser completos. Assim, o estudo sufi não pretende competir com sistemas que oferecem iluminação instantânea, da mesma forma que a famosa panaceia denominada poção mágica atrairá muito mais a atenção de certas pessoas do que algo menos espetacular.

    Ademais, a atividade gota a gota do sufismo provoca, sem dúvida, uma certa inquietude, mesmo entre aqueles que aceitam os postulados que mencionamos. Por isso, é comum ver as pessoas se queixarem de que seus estudos não progridem de acordo com o que acreditam ser o indicado; tal como na história O Leão Tatuado.

    Nesse conto, do Livro I do Masnavi[1], de Rumi, um homem procura um tatuador e lhe pede que tatue um leão em suas costas. Mas, quando sente a picada da agulha, grita de dor e pergunta ao artista em que parte do animal está trabalhando. Na cauda, responde o tatuador.

    Deixe a cauda para lá, grita o covarde, e faça outra parte!

    Mas, quando outra parte do leão é iniciada, o cliente constata que dói da mesma maneira, e manda o tatuador abandonar também aquela parte.

    E por aí vai, até que o artista atira ao chão suas tintas e agulhas, recusando-se a prosseguir. Dessa forma, o tatuador realiza o seu desejo de abandonar o trabalho, e o cliente o seu, de livrar-se da dor. E resulta que… absolutamente nada aconteceu.

    As questões mencionadas anteriormente também se encontram, no âmbito educacional, entrelaçadas pelo problema da atenção. Aqueles que colocam uma parte da sua atenção em outra coisa diferente daquilo que está sendo estudado, são geralmente incapazes, afirmam os sufis, de assimilar a lição. Evidentemente, esse fato foi distorcido e transformado na alegação de que se deve ordenar e focalizar cada pedacinho de atenção para que se possa aprender. Essa é a doutrina: Uma aspirina irá curar minha dor de cabeça, portanto mil aspirinas me darão uma consciência superior. Mas os sufis sustentam que a natureza, a qualidade e o grau de atenção são tão importantes em uma situação de aprendizado quanto os dados mais facilmente quantificáveis.

    Vestígios dessa doutrina de um meio-termo psicológico, um movimento entre dois extremos de opinião, crença ou prática, podem de fato ser encontrados aqui e ali na literatura ocidental, embora raramente estejam associados a uma situação de ensino.

    As pessoas se manifestam contra a falta de modéstia com poucos resultados além da autodegradação, a qual pode ser ainda pior quando praticada em demasia. Como disse Shakespeare (em Henrique V):

    O amor-próprio (…) não é tão vil quanto a negligência consigo mesmo.

    EXAGERAR PODE SER NOCIVO…

    Além das mil aspirinas, podemos encontrar uma infinidade de exemplos de analogias (ou, quem sabe, ensinamentos intencionais) simplesmente transpondo essa questão — a título de ilustração, e não necessariamente de equivalência — para campos mais familiares.

    Acabo de examinar o relatório de uma pesquisa feita pelo Dr. Elwyn Hughes, biólogo da Universidade de Gales, para o Colégio Real Britânico de Médicos. Acredita-se que doses maciças de vitamina C evitam o resfriado. O Dr. Hughes ministrou uma dose diária de 80 miligramas de vitamina C — pouco mais de duas vezes e meia a necessidade normal diária de 30 miligramas — a 350 pessoas. Esse grupo contraiu 18% menos resfriados durante a estação de contágio do que o grupo de controle, que recebeu apenas 30 miligramas. Havia também outro grupo ao qual foram dadas doses maciças de mais de 80 miligramas por dia. Sem dúvida, tiveram ainda menos resfriados, certo? Errado. Os que ingeriram mais de 80 miligramas não contraíram menos resfriados do que o grupo dos 80 miligramas. Mas desenvolveram outra coisa, informa o Dr. Hughes: a tendência a formar substâncias tóxicas no corpo, como o ácido oxálico. O uso excessivo de vitamina C, afirma o médico, pode intensificar os efeitos perigosos de algumas substâncias tóxicas presentes nos alimentos.[2]

    Aqueles que já assistiram à aplicação aleatória de práticas supostamente esotéricas em aspirantes a iluminado, de maneira tão mecânica, sem dúvida perceberão aqui uma semelhança perturbadora.

    ENCONTRANDO OUTRAS DIMENSÕES NAS ANEDOTAS

    Quando as demais condições estão sendo observadas, há ainda outras que precisam ser mantidas em equilíbrio. Por exemplo, as pessoas acostumadas a ouvir histórias como algo para fazê-las rir, inculcar uma moral ou ilustrar um aspecto doutrinário, muitas vezes percebem-se incapazes de buscar e estar atentas a outras dimensões de significado em uma história. Elas são descritas pelos sufis como não sendo, de forma alguma, aprendizes — pelo menos não nesse estágio e nessa condição. São vistas como gente sintonizada com moralismos, anedotas ou dogmas. Por isso, os sufis tão frequentemente parecem estar perguntando às pessoas se realmente são estudantes sufis ou se são, na verdade, estudantes de alguma outra pessoa, ou de outra coisa. Os sufis exigem atenção ao que estão ensinando, ao espírito em que estão ensinando, exatamente como ocorre com instrutores mais convencionais. De modo semelhante, aqueles que vêm para consumir, para serem estimulados emocionalmente — seja pela presença do mestre ou pela peculiaridade e exotismo dos materiais — não são estudantes pela mesma razão.

    OPERAÇÃO NEGATIVA E OPERAÇÃO POSITIVA

    Pode-se dizer que as pessoas estão sempre procurando testar a autenticidade do mestre. Mas até hoje encontrei mais alunos falsos do que mestres falsos!

    Há aqueles que, ao ouvir o que acabo de declarar, dirão que estamos enfatizando o negativo em vez de afirmar o positivo. Isto é dito pela mesma razão que os outros dizem inconscientemente o que fazem por meio de suas reações. Se você precisa encher o cântaro, diz o ditado, talvez tenha de esvaziá-lo primeiro. Alegar que deveria ser preenchido a despeito do que há dentro dele, mesmo que seja uma coisa inadequada, é dizer algo sobre a sua própria falta de discernimento, e não sobre o ensinamento ou seus procedimentos.

    APERFEIÇOAMENTO HUMANO OU PSICOTERAPIA?

    A educação sufi está voltada para o que os sufis consideram a incompletude fundamental da humanidade. Isso significa que é preciso lidar com o problema básico, e não com os sintomas. Assim, enquanto a educação sufi estaria aspirando — e de fato aspira — a esse papel fundamental, o aluno — ou melhor, a pessoa que pensa ser um aluno — estaria buscando psicoterapia, segredos, garantias de que seu tempo não está sendo desperdiçado, e assim por diante. É porque o cântaro já está cheio até a metade que os sufis têm de abrir caminho para a compreensão desses postulados básicos antes que o ensinamento verdadeiro, que é diferente de um transbordamento, possa acontecer. Isso não significa que os sufis queiram que as pessoas abandonem tudo o que já sabem. Mas significa que o sufi deve esperar, como qualquer professor em qualquer área, que se atinja as condições necessárias para o aprendizado. Se o desejo de se opor a ele ou de consumi-lo é acentuado demais, há poucas chances de que o processo de aprendizado venha a ocorrer.

    O SUFISMO SE APRENDE POR MEIO DELE MESMO

    Além disso, o estudo sufi se aprende por meio dele mesmo; e até partes desse estudo raramente podem ser abordadas por meio de proposições específicas a outras formulações. O estudo sufi tem seus próprios postulados, dos quais pelo menos alguns não são considerados fundamentais ou mesmo relevantes em outros sistemas. Por isso, é da maior importância que o estudante ou observador do fenômeno sufi compreenda que os sufis não ensinam nos termos de outros sistemas, sejam eles tradicionais ou modernos. O trabalho sufi pode, por exemplo, apurar e iluminar a psicologia. Ainda não constatamos que, digamos, a psicologia possa produzir uma forma melhor de estudar ou compreender o sufismo e seus métodos de ensino.

    A FORMAÇÃO DE CULTOS COMO UMA ANORMALIDADE

    Deixar de observar critérios sufis ao se tentar aprender, resulta, na grande maioria das vezes, em simplificações exageradas que levam à formação de um culto; ou em uma banalização que conduz a uma vaga religiosidade, ou em uma intelectualização que leva a uma minuciosidade muitas vezes cômica. Todas essas hipertrofias estão bem representadas em seitas e organizações, grupos e textos que você pode encontrar ao seu redor. Já convidei as pessoas publicamente, mais de uma vez, a se familiarizarem com esses materiais, a fim de que descubram se podem ver as coisas como nós ou se preferem as outras abordagens, as abordagens parciais.

    A FUNÇÃO DOS HEMISFÉRIOS CEREBRAIS

    Um ponto de vista oriental em relação às funções dos hemisférios esquerdo e direito do cérebro poderia muito bem ser o seguinte: por mais importante que sejam, respectivamente, essas especializações, e

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