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O Nono Órfão
O Nono Órfão
O Nono Órfão
E-book369 páginas5 horas

O Nono Órfão

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Sobre este e-book

Um órfão cresceu para se tornar um assassino para uma organização altamente secreta. Quando ele tenta se libertar e ter uma vida normal, ele é caçado por seu mentor, e figura paterna, e por uma órfã com quem ele passou a sua infância. Durante a sua fuga, a vida do homem misterioso fica ligada a vida de sua refém francesa-africana, e um passado chocante repleto com as conspirações mais sombrias é revelado.   
 
Mas será que o nono órfão a nascer vai conseguir se libertar da rede? Para descobrir você terá que entrar nessa jornada tumultuada ao redor do mundo, passando por locais como a China, França, as Filipinas, Andorra, Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha e a Polinésia Francesa. A perseguição frenética entre gato e rato, segue por aeroportos a estações de trem, e a prisões secretas de tortura, levando o leitor por uma viagem chocante, que o fará roer as unhas, descobrindo o armário cheio de esqueletos que o mundo guarda, indo além das teorias da conspiração, passando para uma realidade dolorosa.   
 
Com um ritmo acelerado, totalmente novo e original, com personagens complexos e profundos, O Nono Órfão é um suspense controverso, intenso e afiado. Misturando fatos com ficção, ele mostra organizações secretas que supostamente existem no nosso mundo. O romance explora uma grande quantidade de conspirações envolvendo organizações reais com a CIA, o MI6 e a UN, e figuras públicas tais como o presidente Obama, assim como Clinton, Marcos e a família Bush.   
 
Enfrentando a seleção genética, o controle da mente e sociedades secretas, O Nono Órfão expõe uma ordem mundial criada para manter o poder nas mãos de algumas poucas pessoas selecionadas. Os antagonistas do romance são membros de um governo secreto que age por cima e além, passando por cima da Casa Branca, do FBI, do Pentágono e da NSA. Poderia alguma coisa assim existir? Ou, já existia?  
 
Este suspense incomparável e imprevisível também tem uma subtrama romântica e pungente.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento22 de jan. de 2018
ISBN9781507164587
O Nono Órfão

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    O Nono Órfão - James Morcan

    Para Diane Morcan

    Prólogo

    A corça pastava uma grama viçosa na clareira da floresta. Ao seu redor, a névoa matutina se agarrava ao topo dos abetos e dos ciprestes comuns naquela área do Parque Nacional Custer em Montana. Suas orelhas se levantaram ao som do grito distante do falcão de Merlin que veio carregado no ar parado da montanha. A corça se levantou atenta, mas a névoa encobria qualquer visão da pequena e quase rara ave de rapina. Então voltou a pastar.

    A corça não sabia, mas o tempo de vida que lhe restava podia ser medido em minutos.

    A pouco mais de 180 metros a favor do vento, um grupo de caça inusitadamente grande se aproximava. Mas, esse era um grupo de caça diferente. Somente um dos caçadores estava armado – o líder, Tommy Kentbridge. Os outros eram crianças com a idade variando de dez a doze anos. Macho e fêmea de origem racial variada, seguiam Kentbridge, andando silenciosamente em fila pela trilha da floresta.

    Alto, robusto e em torno dos trinta anos, Kentbridge se movia sem esforço pelo terreno montanhoso. Na sua esteira, os mais jovens se esforçavam para acompanha-lo. As condições lamacentas do solo contribuíam para a sua dificuldade. Apesar dos desafios impostos para acompanhar o passo rápido de seu líder, as crianças o seguiam admiravelmente bem. Seus rostos corados de excitação.

    Kentbridge que mais cedo naquele dia os tinha transportado do orfanato Pedemont em Chicago, mantinha um olho nos seus protegidos enquanto a trilha os levava ao longo da beira de um penhasco. Notou satisfeito que nenhum deles parecia perturbado com a queda de mais de 300 metros. Eles aparentavam lidar com o perigo com toda a pose de adultos ou de jovens adultos, pelo menos.

    Enquanto ele continuava a observar os órfãos, os olhos astutos de Kentbridge não perdiam nada. Uma rápida contagem confirmou que todos os vinte e três ainda estavam com ele. Estranhamente, ele só se referia a eles através de números. A criança mais velha era Número Um, a mais jovem Vinte e Três.

    Logo atrás de Kentbridge, seguindo-o como uma sombra, vinha um menino de 12 anos com um rosto bastante sério. Número Nove, que tinha sido o nono órfão a nascer, tinha surpreendentes olhos verdes que pareciam saber de tudo e possuíam uma maturidade inesperada para a sua idade. O rosto inteligente de Nove era emoldurado por um cabelo ondulado escuro. Ele usava um cordão de prata com um rubi pendendo e balançando em seu peito enquanto ele andava. A pedra perfeita tinha um brilho vermelho sangue à luz do sol.

    Uma garota mais jovem e loira seguia logo atrás de Nove. Número Dezessete era, obviamente, a décima sétima órfã a ter nascido. Ela observava o mundo através de gélidos olhos azuis. E esses olhos estavam agora fixos nas costas de Nove. Irritava a competitiva Dezessete que Nove tivesse se colocado entre ela e Kentbridge. Ela sentia como se estivesse sempre seguindo os passos do garoto.

    Kentbridge afrouxou o passo momentaneamente quando a trilha os afastou do topo do penhasco. O grito de um falcão de Merlin atraiu sua atenção. Assim como a névoa tinha escondido o falcão da vista da corça momentos antes, também o tinha escondido de Kentbridge.

    Uma espécie de sexto sentido levou Kentbridge a tirar o rifle do ombro – uma arma militar semiautomática e poderosa, com a qual ele parecia ter a familiaridade de um atirador.

    O líder dos órfãos parou abruptamente. Às suas costas, as crianças também ficaram imóveis. Em mais ou menos cem metros na direção do vento, uma linda corça pastava em contraste com a folhagem verde e ela continuou a pastar, desapercebida dos humanos que se aproximavam.

    Kentbridge fez sinais ao estilo militar para a sua jovem carga. Em conjunto os órfãos se agacharam. Próximos a Kentbridge, Nove e Dezessete observaram com admiração o líder fincar um joelho no solo e apontar o rifle para a corça. Em um segundo, ele abaixou a arma uma fração e atirou. O tiro quebrou o silêncio e a corça foi ao chão.

    Tanto os órfãos quanto o líder correram para a corça e viram que ela ainda não estava morta. Caída de lado, a corça tremia e uma espuma branca vinha cobrindo nariz e boca, passando de branca para rosa, e então, se tornando vermelha devido à reação dos seus órgãos internos ao trauma causado pela bala mal colocada. Sua respiração vinha em curtas arfadas. Em agonia, o animal agitava as patas no ar enquanto os órfãos o cercavam.

    Kentbridge entregou o rifle para a sua sombra, Número Nove, e acenou na direção do animal trêmulo. De todos os órfãos, Nove era seu pupilo mais brilhante. Ele era teimoso e desafiador, mas também era altamente inteligente. De muitas formas ele lembrava Kentbridge de si mesmo.

    Os outros vinte e dois órfãos sentiram graus variados de inveja enquanto viam Nove se preparando mentalmente para seguir a ordem do professor. Embora fossem bastante inteligentes e talentosos do seu próprio jeito, sentiam que Nove tinha um fator X indefinível que lhe dava uma leve vantagem em cima dos outros, o diferenciando, e eles sabiam.

    Nem mesmo Kentbridge saberia dizer exatamente o que era que dava essa margem de vantagem ao nono órfão. Não é que Nove fosse necessariamente mais inteligente que os outros. Ele só parecia ser mais sensitivo e talvez fosse nesse ponto, Kentbridge racionalizou, que consistia a genialidade do garoto. Às vezes, Nove parecia sentir a vida tão intensamente que parecia possuir uma percepção extra-sensorial.

    Realmente, Kentbridge sabia que aquele tipo de consciência elevada ou intuição criativa era um elemento comum a todos os grandes pensadores. E essa era a frequência mental em que ele esperava que todos os seus órfãos operassem eventualmente.

    Carregando com cuidado o rifle, que era praticamente do seu tamanho, Nove olhou para a corça e se preparou para tirar o animal da sua agonia. Os outros observavam atentamente como ele levantava a arma para o ombro e mirava. Através da mira do rifle, ele viu os olhos aterrorizados da corça o encarando. O garoto hesitou.

    Termine a missão, Nove, Kentbridge ordenou. Nove olhou para seu mestre e então voltou o olhar para a corça que agora se sacudia violentamente. Essa é uma ordem! Kentbridge disse, elevando a voz.

    Nove sentia-se extremamente pressionado. Às suas costas, Dezessete se aproximou ainda mais, como que o encorajando a lhe entregar a arma. Incapaz de matar a corça, Nove baixou o rifle.

    Kentbridge tomou o rifle de suas mãos e o entregou para a garota de cabelos loiros. Complete a missão, Dezessete.

    Dezessete ficou encantada. Ela tinha esperado toda a sua vida por uma oportunidade de mostrar que podia ser melhor que Nove. No entanto, ela escondeu seu prazer, levantou o rifle com destreza e mirou.

    Incapaz de olhar, Nove foi se afastando da cena e Kentbridge notou que o garoto estava com o mesmo olhar assustado que a corça exibia naquele exato momento.

    Um único tiro soou, seu eco ressoando pelas colinas que os cercavam. O som reverberou na cabeça de Nove, parecendo que tinha uma britadeira lá dentro.

    Sem olhar para trás, Nove adentrou ainda mais na floresta e começou a chorar enquanto internalizava a dor da corça. Quase sem perceber, Nove tocou no rubi que pendia do seu cordão. Como sempre, e sem motivo aparente, o toque o confortou.

    1

    O pequeno pen drive parecia inócuo o suficiente para o homem que o olhava fixamente. Estava surpreso que o segredo para uma fortuna tão grande e que as respostas para tantos casos não resolvidos pudessem estar dentro de algo tão pequeno.

    O homem se perguntava se sua decisão de não enviar o conteúdo do pen drive para seus superiores o levaria à liberdade ou à morte eventual. Tinha certeza de que aqueles eram os únicos resultados possíveis.

    Sabendo que era uma questão de tempo antes que os capangas do seu mestre chegassem às Filipinas para caçá-lo, o homem rapidamente se levantou e colocou o pen drive dentro da sua mochila, atravessando o quarto bagunçado do hotel.

    Seus movimentos eram graciosos como os de um gato. Uma sombra de 1,82 m de altura, possuía o físico vigoroso de um lutador de artes marciais, que ele era, e parecia que poder correr por quilômetros sem se cansar, o que ele podia. E mesmo assim, ele estava tenso como uma mola.

    Tirando a camiseta, o homem esfregou e lavou as mãos, ensaboando ambos os braços até o cotovelo na pia do quarto. Alguns minutos antes, ele tinha convertido o quarto em uma sala de cirurgia improvisada, espalhando lençóis e toalhas em cima de uma mesa e arrumando o conteúdo de um kit cirúrgico em cima deles. Enquanto se esfregava vigorosamente, seus olhos foram atraídos para o rubi que pendia do cordão de prata ao redor do seu pescoço.

    O homem tentava abafar as vozes de sua infância que agora ecoavam em sua cabeça. Ele podia ouvir os outros órfãos chamando o seu nome. Nove! As memórias, que tinham sido suprimidas, do tempo que ele tinha passado no Orfanato Pedemont vieram à tona das profundezas de sua mente.

    Nove viu seu reflexo de relance no espelho que estava em uma parede próxima. Olhos verdes perplexos saltavam de um rosto sério e pálido, emoldurado por cabelos escuros, cacheados e levemente compridos. Seu rosto parecia o de uma pessoa que estava à beira da morte.

    Bonito, de um modo perigoso, tinha a aparência de um homem em luta permanente com seus demônios internos. E apesar disso, ele parecia mais jovem que os seus 31 anos. Somente seus olhos revelavam sua verdadeira idade. Eram assombrados, como se tivessem testemunhado tragédias demais.

    Após se secar, Nove se aproximou da mesa, selecionou um bisturi e deu início ao procedimento para uma incisão de 7,6 cm na parte carnuda do seu antebraço esquerdo. Embora nunca antes tenha operado a si mesmo, a incisão foi rápida e precisa. Mesmo assim, o sangue correu livre e imediatamente encharcou a toalha logo abaixo do seu braço.

    Cerrando os dentes de dor, cortou a carne até que a ponta afiada do bisturi entrasse em contato com algo metálico. Peguei você! silvou através dos dentes cerrados. Usando um par de pinças, pegou o objeto metálico e o extraiu. O objeto, que estava mergulhado em sangue, tinha pouco mais de cinco centímetros, e era um dispositivo de rastreamento em miniatura no formato de microchip.

    Colocou o dispositivo em uma toalha, selecionou uma agulha e uma linha cirúrgica, e começou a suturar o corte. Nove achou essa parte da operação ainda mais dolorosa. Com suor escorrendo por sua testa, lutava para suturar a si mesmo usando somente uma das mãos. Precisou posicionar o braço, pressionando-o, entre o quadril e a mesa, para poder compensar o fato de que não conseguia usar ambas as mãos. Dez longos minutos e trinta pontos depois, tinha terminado.

    Para finalizar, fez um curativo, mas como estava limitado, precisou de várias tentativas antes de acertar. Nove se endireitou e respirou fundo várias vezes, lutando contra a dor e a náusea que sentia. Estremeceu involuntariamente.

    Nove tinha conhecimento o bastante sobre medicina e anatomia humana para entender que a hipersensibilidade do nervo que estava sentindo era um sintoma pós-cirúrgico completamente normal.

    Apesar da dor e da tontura, recolheu suas coisas – incluindo o dispositivo de rastreamento, os instrumentos cirúrgicos e as toalhas manchadas de sangue – jogou-as dentro da mochila e saiu do hotel Baguio Mountain. No estacionamento do hotel, foi em direção a um carro alugado. Pegou o microchip e o enrolou em várias folhas de papel alumínio antes de começar a dirigir.

    #

    Algum tempo depois, Nove dirigia somente com uma das mãos pela estrada em ziguezague da montanha Baguio. Seu braço esquerdo doía como o cão e a alta altitude parecia triplicar a dor. Nove só esperava que não infeccionasse. Ele sabia que esse era sempre um perigo nos trópicos.

    Apesar da dor, sentia-se eufórico. Finalmente, estava tentando se libertar da sua prisão e do seu empregador misterioso, a agência Omega.

    Enquanto dirigia, Nove via Filipinos seguindo com suas vidas. Crianças em idade escolar indo para casa, freiras entrando na igreja e camponeses trabalhando nos campos de arroz. A estrada sinuosa permitia que tivesse vislumbres ocasionais de um terreno com uma floresta densa que se estendia até o horizonte.

    Ignorando a dor da melhor forma possível, Nove dirigia rápido. Sabia que era só uma questão de tempo antes que seus superiores na Omega mandassem pessoas a sua procura. Para começar, desde que tinha completado sua missão nas Filipinas, ele não tinha enviado nem os mapas e nem os planos cruciais que eles aguardavam.

    Além do mais, desde que tinha enrolado o dispositivo de rastreamento em alumínio, sabia que seus mestres agora saberiam que ele tinha ficado Ausente Sem Permissão, mas ele planejava retificar logo esse problema.

    Acelerando ao longo de um trecho raro de estrada reta, pensou no conteúdo armazenado no pen drive dentro da mochila. A valiosa informação representava a oportunidade que tinha esperado por toda sua vida: escapar dos tentáculos da organização que tinha destruído sua infância e tomado sua verdadeira identidade.

    Mais trinta minutos dirigindo pela estrada irregular da Província de Benguet o levaram ao seu destino – uma fazenda de avestruzes próxima ao Lago Ambuklao. Um grande arrendamento ladeado por cercas altas, era o lar de 500 avestruzes vermelhas.

    O órfão dirigiu até a propriedade. A partir das perguntas que tinha feito mais cedo pelo telefone, sabia que estava nos limites da fazenda. A casa principal estava a quilômetros de distância dali. Não esperava ser perturbado durante o curto tempo que ficaria na propriedade.

    Nove logo encontrou o que estava procurando – meia dúzia de avestruzes pastavam em um canto da fazenda. Parando o veículo, esticou o braço por baixo do banco, pegou um alicate e um rifle projetor de dardos. Abriu o porta-luvas, pegou dois dardos tranquilizantes e carregou o projetor com um dos dardos. Nove também pegou o dispositivo de rastreamento que ainda estava enrolado no papel alumínio.

    Aproximou-se lentamente das avestruzes meio domesticadas para não os assustar. Escolheu o maior macho – uma criatura esplêndida com 2,74 m de altura. Sem perder tempo, mirou no avestruz e disparou, acertando as ancas resistentes da ave. O avestruz assustado se ergueu e então atingiu a cerca mais próxima, sacudindo-a. Os outros avestruzes fugiram com medo.

    Logo o tranquilizante fez efeito e o avestruz atingido bambeou alguns passos antes de cair no chão. Por sorte, ele estava perto da cerca. Nove se aproximou da ave com cuidado. Tinha usado uma dose mínima para fazer o que precisa e esperava que tivesse calculado corretamente. Calma garoto, murmurou. Não vou machucar você.

    Nove pegou o pacote laminado no bolso, desembrulhou, colou uma tira de fita adesiva no dispositivo e, então, o prendeu firmemente em volta de uma das pernas do avestruz. Feito isso, pegou o alicate e começou a cortar uma abertura na cerca. Em pouco tempo tinha feito um buraco grande como uma porta.

    O avestruz recuperou os sentidos lentamente, e então Nove se posicionou entre ele e os outros avestruzes enquanto a ave gigante se levantava meio grogue. Corre! gritou. O avestruz disparou pela abertura na cerca. Satisfeito, Nove ficou olhando até a ave sumir de vista. A última coisa que viu foi o avestruz seguir galopando em direção ao longínquo Lago Ambuklao.

    Sentia-se nu sem o microchip, um dispositivo que havia sido implantado nele – cortesia da Agência Omega – muitos anos atrás. Desde então, seus mestres na Omega sabiam onde ele estava a qualquer hora, do dia ou da noite, em qualquer lugar na face da Terra.

    Sorriu para si mesmo ao imaginar Kentbridge estudando o ponto vermelho que representava a sua localização nas Filipinas e se perguntando porque seu nono órfão estava percorrendo as províncias montanhosas do país.

    2

    Vinte e três pontos vermelhos brilhavam em vários lugares do mundo no mapa digital. Os pontos representavam a localização dos agentes de campo da Agência Omega. Realizando operações secretas de alto nível em todos os sete continentes, os vinte e três agentes incluíam homens e mulheres de praticamente todas as raças.

    Os pontos indicavam que somente dois agentes se encontravam atualmente na Ásia. Dezessete, uma mulher loira, tinha recentemente chegado a Luzon, a principal ilha das Filipinas. E o ponto que indicava Nove, que há pouco tempo havia desaparecido misteriosamente antes de reaparecer, indicava que ele também se encontrava em Luzon.

    O diretor da Omega, Andrew Naylor, e o agente veterano, Tommy Kentbridge, estudavam o mapa digital severamente. Nenhum dos dois pareciam felizes enquanto os dois pontos na Filipinas rapidamente se dirigiam para o mesmo ponto.

    Fisicamente pelo menos, os dois oficiais eram igual água e vinho. Naylor era um homem baixo, mas distinto em meio aos 50 anos. Sua pele era cheia de marcas de catapora e ele tinha um olhar preguiçoso, que as pessoas achavam desconcertante já que nunca dava para saber para onde ele estava olhando. Infelizmente para ele, sua personalidade era igual à sua aparência.

    Kentbridge, com 53 anos, parecia alguém que poderia tomar o controle de qualquer situação. Com 1,82 m e uma presença de comando, rapidamente ganhava o respeito de todos que entravam em contato com ele.

    Um gemido audível de Naylor confirmou o que Kentbridge já sabia. O diretor estava fervendo com a guinada dos eventos.

    Kentbridge já tinha visto o suficiente. Os resultados das últimas horas o tinham deixado doente do estômago. Sem revelar suas preocupações, girou na cadeira e inspecionou a sede da Agência Omega. Era um enxame de atividade como sempre. Cientistas, especialistas de TI, analistas policiais e outros oficiais altamente qualificados estavam a postos. Com um juramento de sigilo, cada um deles era o melhor naquilo que tinham escolhido fazer.

    Embora parecesse com o interior da sede de qualquer empresa, Kentbridge sabia que nesse caso as aparências eram completamente enganosas. Para começar essa sede estava localizada a pouco mais de 1,6 km abaixo do solo, escondida embaixo de uma barragem hidrelétrica abandonada no sudoeste de Illinois.

    A instituição secreta não só estava fora dos limites para o público geral, como estava completamente fora do radar do governo dos Estados Unidos. Na verdade, como tudo o que estava conectado com a Omega, o conhecimento de sua existência estava além de qualquer governo.

    Kentbridge foi trazido de volta para o presente quando uma xícara de café foi jogada contra a parede mais próxima, deixando uma mancha marrom desagradável na pintura. Ele virou e viu que a xícara tinha sido jogada por um Naylor irado que agora andava de um lado para o outro.

    Eu sabia que tinha alguma coisa errada quando Nove não nos enviou as coordenadas de Yamashita, Naylor praguejou. Seu tom era de acusação.

    Kentbridge não podia oferecer nenhuma solução. Apenas algumas horas antes, ele tinha assegurado a Naylor que o seu protegido não os trairia. Agora eles tinham um agente corrupto em suas mãos – o primeiro na história da agência.

    Quando o ponto vermelho de Nove tinha desaparecido no Hotel Baguio Mountain, Kentbridge tinha sentido que seu melhor operador estava tentando fazer o impensável. Se Nove tivesse sido morto, ou até mesmo enterrado, o sinal do seu microchip teria revelado a sua localização. Quando seu ponto reapareceu no mapa em uma fazenda de avestruzes uma hora depois, estava claro que Nove os tinha traído.

    Sem deixar isso passar, Naylor disse sarcástico, Achei que você conhecesse os seus órfãos, Tommy.

    Alguma coisa deve ter acontecido com ele, Kentbridge disse sem convicção.

    Alguma coisa aconteceu de fato. Ele se tornou ganancioso!

    Kentbridge não podia argumentar contra isso. Quando Nove tinha observado o fato que só ele sabia a localização de uma das maiores descobertas de tesouro nos últimos tempos, a tentação deve ter sido maior, supôs.

    Embora a raiva de Naylor fosse dirigida a Nove, Kentbridge entendia que a situação não pegava bem pra ele pessoalmente. Afinal, os vinte e três operadores eram responsabilidade dele. Consequentemente, sentimentos de humilhação, traição e raiva corriam por suas veias. Maldito seja, Sebastian!

    Kentbridge se enrijeceu quando seu celular vibrou. O identificador de chamadas mostrou que era Dezessete. Ele e Naylor tinham mandado ela pra Filipinas para rastrear Nove. Kentbridge olhou para o diretor da Omega antes de atender a chamada. Fala comigo, Dezessete.

    #

    A coisa se complicou, Dezessete disse ao celular. Enquanto a operadora loira falava com Kentbridge, ela estava com um pé, calçado com bota, firmemente plantado no pescoço do avestruz em que Nove tinha usado um tranquilizante mais cedo naquele dia. Ela tinha atirado no animal momentos antes de um helicóptero fretado que agora a esperava na margem do Lago Ambuklao.

    Dezessete, que era uma excelente atiradora, tinha deliberadamente atirado no avestruz que agora sangrava rapidamente até a morte, fraco demais para resistir ao pé que o prendia ao chão. Aos vinte e nove anos, Dezessete tinha um vestígio de crueldade. Ela gostava de rei e animais mortalmente – e ocasionalmente, pessoas – para observar quanto tempo elas levavam pra morrer. Eu encontrei o rastreador de Nove preso em um avestruz.

    Ela segurou o celular momentaneamente longe do ouvido quando Kentbridge soltou um punhado de palavrões. Aparentemente despreocupada, Dezessete estudou o rastreador que segurava na outra mão enquanto dava tempo a Kentbridge para digerir a má notícia.

    Fala de novo, Kentbridge ordenou, mais calmo.

    Nove removeu o microchip e prendeu com fita à perna do avestruz.

    Onde você está? Esta voz não era de Kentbridge. Dezessete a reconheceu como pertencendo a Naylor. Ele obviamente tinha tomado o telefone de Kentbridge.

    A um pouco mais de 16km da fazenda que Nove visitou, senhor. Ela pôde ouvir uma conversa abafada entre os dois homens do outro lado da linha.

    Foi Kentbridge que voltou a falar com ela dessa vez. Dezessete, você sabe o que tem que fazer, não sabe? Era mais uma declaração do que uma pergunta.

    Sim. Dezessete sabia que tinha que rastrear Nove, recuperar todas as informações valiosas e eliminar o órfão corrupto. Ela encerrou a ligação e correu de volta para o helicóptero à sua espera. Atrás dela, o avestruz ferido só pode olhar enquanto ela partia. Já estava esgotado demais para sequer levantar a cabeça.

    E o avestruz? o piloto filipino perguntou enquanto ela pulava pra dentro do helicóptero.

    Dezessete não respondeu imediatamente. Seus frios olhos azuis estudavam as ondulações na superfície do lago. Esqueça o pássaro, Dezessete finalmente respondeu. Me leva pra Manila, rápido.

    O piloto olhou com estranheza para a sua passageira e, sem mais argumentos, levantou em direção ao céu e estabeleceu o curso para a capital da Filipinas. A visibilidade não recebia contribuição da luz que se extinguia rapidamente com a chegada do crepúsculo.

    Enquanto o helicóptero seguia em direção a Manila, Dezessete sentiu uma satisfação distorcida sabendo que ela tinha recebido autorização completa para caçar e exterminar Nove. Isso era algo que ela tinha secretamente desejado fazer toda a sua vida. Você é um homem morto, Sebastian.

    #

    Sebastian, também conhecido como Nove, tinha muitos pseudônimos, o último sendo Jaime Ortega, os heterônimos que ele tinha escolhido para acompanhar o disfarce que tinha criado desde que tinha se libertado da Agência Omega.

    Nove já havia partido há horas da Província de Benguet e já estava além da metade do caminho para o Aeroporto Internacional Ninoy Aquino de Manila. Ele estava fazendo um bom tempo com o jipe que ele tinha pego emprestado de um dos campos de minas pelos quais tinha passado pelo caminho. Desde que tinha se livrado do rastreador, o carro alugado tinha sido o último elo com a agência, então o tinha descartado também.

    Quando o último raio de sol desapareceu nas distantes montanhas, o agente fugitivo acendeu as luzes do farol. Correndo pela semiescuridão, olhou para si mesmo pelo espelho retrovisor. Ele viu um filipino mestiço ou euroasiático, o encarando de volta.

    Jaime Ortega era um personagem que ele tinha criado apenas poucas horas antes. Uma cicatriz feroz ia da sua testa até seu queixo. Seu cabelo e seus olhos eram negros e seu rosto era levemente mais escuro que a compleição usual de Nove – tudo tinha sido adquirido através do uso inteligente de tinta de cabelo, lentes de contato e maquiagem.

    Ele usava botas e macacão. Um capacete de segurança descansava no assento do passageiro. Nove sabia que se qualquer um o visse por acaso inevitavelmente o confundiriam com um empregado de uma das várias empresas de minas da região.

    Era o disfarce perfeito. E era perfeito, porque ele estava irreconhecível assim como indistinguível dos milhões de outros mestiços descendentes de espanhóis no país.

    Nove não tinha nenhuma ilusão. Ele entendia que se algum dos seus companheiros da Omega algum dia o rastreador, seria o fim. Seus mestres não o poupariam independente dos milhões de dólares que tinham investido nele ao longo dos anos. Além do mais, ele sabia que a informação que tinha dentro do pendrive que estava em sua posse era cem vezes mais valiosa para a Omega do que ele.

    De agora em diante, Nove decidiu, não poderia jamais se permitir ser a mesma pessoa duas vezes, quanto mais ser ele mesmo.

    Felizmente, ele era um mestre do disfarce. Como resultado da educação avançada que ele tinha recebido no orfanato Pedemont, ele era especialista em técnicas de maquiagem e próteses faciais, assim como sotaques e idiomas.

    Para todos os efeitos, Nove era um camaleão humano. Kentbridge geralmente referia-se a ele como tal. Um sentimento de repugnância, beirando o ódio, fez seu estomago se revirar ao pensar em Kentbridge. Ele rapidamente afastou o mentor de sua mente.

    Nove, de repente, socou o volante audaciosamente. Ele sentia-se como uma abelha operária que tinha abandonado a colmeia sem intenção de retornar. Pela primeira vez na sua vida, ele teve um indício de como era ser um indivíduo ao invés de

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