Bloody Eyes: 02
De Johnny Ivory
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Sobre este e-book
“Nós somos forças da natureza.”
Renato e Eduardo são sócios em uma casa noturna. Porém, os desafios que eles encontram vão muito além de estocar bebidas e atender clientes. Cicatrizes de um tempo esquecível se escondem em cada beco escuro da cidade. E em meio a todo este caos noturno de uma metrópole violenta, algumas memórias do passado deles vêm à tona.
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Bloody Eyes - Johnny Ivory
Mission 2:
WE’RE A HAPPY FAMILY
Às vezes, a vida nos presenteia com pessoas realmente especiais e insubstituíveis. Pessoas que acreditam verdadeiramente em nosso potencial, e estão dispostas a auxiliar-nos em nossa solitária jornada. Essas pessoas são a família que o destino nos dá. E com frequência, essa família pode vir na forma de pessoas que não partilham do mesmo sangue que o nosso. O engraçado é que, muitas vezes, os nossos orgulhosos egos nos impedem de reconhecer essas pessoas quando elas entram em nossas vidas, mas são sádicos o bastante para nos deixar ver o que perdemos quando elas vão embora. E o mais doloroso dessa experiência é compreender que, geralmente, somos nós mesmos quem expulsamos estes presentes que o destino nos dá. Por isso, sempre dê o merecido valor às pessoas que realmente se importam contigo, antes que você mesmo as afaste... Porque o tempo nos ensina que o mais importante não é o quê
temos na vida, mas sim quem
nós temos na vida...
Stage 1:
1.
Sexta-feira.
Um ruído alto de motor é ouvido, seguido de um vulto que rompe o véu da neblina noturna. Um antigo carro vermelho avança por entre as ruas de Cantuária, com seus redondos faróis de milha anunciando sua presença solene.
Na lateral deste carro está gravado Sabre
, em estilizadas letras negras.
O sistema de iluminação publica da cidade funciona relativamente bem, salvo, é claro, por algumas falhas rotineiras, como as duas lâmpadas queimadas no alto de um dos postes, perto da esquina que o cupê se aproxima.
No semáforo acende uma luz vermelha.
Com uma freada brusca, o carro para diante da faixa de pedestres.
Vindas da esquerda, algumas pessoas bêbadas caminham trôpegas pela faixa de pedestre, na direção da calçada do outro lado da rua. O pequeno grupo é composto basicamente por mulheres – todas de saias curtas, vestidos justos e afins – e uma quantidade reduzida de rapazes – provavelmente universitários, uma hipótese deduzida devido às suas camisas sociais entreabertas e seus cabelos moderninhos besuntados de gel.
Enquanto caminhavam, os homens trocavam beijos e carícias com algumas das mulheres, enquanto as demais também faziam o mesmo – só que umas com as outras. O sinal abre no exato momento em que o animado grupo de amigos alcança a margem oposta à que estavam.
O potente e antigo veículo vermelho dispara como uma flecha pelo asfalto afora, seguindo por mais cinco quadras antes de virar à esquina e seguir por uma estreita rua de mão única.
A noite estava fria e, mesmo assim, as calçadas estavam ocupadas por jovens visivelmente alterados que, se estivessem manchados de vermelho, se passariam tranquilamente por zumbis.
Em um beco escuro, um casal de estranhos arfava e se movia de maneira ritmada.
E por entre toda a libertinagem da noite, um carro segue rumo ao seu destino – como um silencioso observador da própria decadência humana.
Após mais alguns minutos, instantes nos quais algumas ruas e vielas foram habilmente percorridas, o automóvel finalmente chega ao seu destino.
O veículo escarlate é estacionado diante de um imenso sobrado comercial, em cujo letreiro lê-se:
Mundo Surreal – Produções Digitais
Organizamos, fotografamos, e filmamos casamentos, luas de mel, festas de despedida de solteiro, pagamento de impostos, internações no hospício, aniversários, velórios, etc.
Os faróis são apagados. Na penumbra noturna, as duas negras faixas gêmeas que percorrem o meio do carro quase se misturam ao vermelho vivo do restante da lataria.
As duas portas laterais do veículo abrem-se ao mesmo tempo. E, de dentro dele, emergem Dorian e Renato. Após desembarcarem, tornam a fechar as portas do veículo. Alguns outros automóveis estão estacionados nas redondezas.
Renato olha para a edificação.
– Você tem certeza que é aqui?
– Quem sabe? – responde Dorian, com um sorriso sarcástico estampado em seu rosto.
2.
Longe dali, em um refinado restaurante da cidade, um casal é abordado por um educado garçom:
– Aqui está o menu de sobremesas, Senhor e Senhora Jekyll.
– Obrigado Pablo – responde Eduardo.
O homem se curva respeitosamente, e deixa o casal desfrutar de sua intimidade.
– Adorei o lugar, amor. Aqui é tudo perfeito! Obrigada.
Eduardo segura carinhosamente a mão de Mônica.
– Você merece o melhor, meu amor. Além do mais, hoje é uma data especial pra gente, não é? – Ele sorri calorosamente.
– Verdade. Não é todo dia que se completam dois anos de casamento.
O ambiente de fato é magnífico, com seus imensos lustres de cristal, seus ornamentos dourados nas paredes, suas estatuas importadas distribuídas ao longo do recinto, os quadros de grandes artistas fixados no hall de entrada... Tudo muito delicado, e muito aconchegante. Um pequeno grupo de instrumentistas tocava alguns clássicos da música erudita.
Os dois jovens estão trajados de maneira realmente elegante: Eduardo em seu smoking preto, e Mônica com seu vestido de gala lilás – um grande contraste com as habituais roupas escuras e batidas que ambos gostam tanto de usar.
O casal troca um apaixonado beijo.
– Eu te amo, querida.
– Também te amo, meu gatinho.
3.
– Medicamentos! Comprem aqui seus medicamentos! – Gritava um pequeno rapaz oriental, recostado à parede, com uma bandeja de itens a tiracolo. Seu sotaque cantado
é característico. – Temos emplastos hemostáticos, curativos, analgésicos, pó de guaraná, esparadrapos...
Dorian e Renato passaram pelo vendedor sem lhe dar muita atenção. Uma pequena multidão se aglomerava dentro do recinto. A dupla segue abrindo caminho por entre estas pessoas. Uma agitada música eletrônica anima o lugar. Após cruzarem o mar de gente em polvorosa, chegam ao canto oposto da ampla sala, onde se situava um guichê improvisado sobre um balcão de informações.
– Boa noite – saldou o homem sentado atrás do balcão, com a barba ainda por fazer. – Quem vai lutar?
– Nós dois – respondeu Dorian.
– Certo. Aqui estão suas autorizações para entrar na arena, e os termos de responsabilidade. Preencham completamente cada ficha: nome completo, idade, número de identidade, e raça a qual pertence. Assinem aqui, aqui, e aqui, confirmando que assumem total responsabilidade caso venham a falecer durante a luta.
– Certo – concordou Renato.
Pegaram suas respectivas fichas e as preencheram, devolvendo-as logo em seguida. O homem do guichê analisou a ficha de Renato Hyde, rabiscou um OK com uma caneta de tinta vermelha, e guardou o documento. Após isso, pegou a ficha de Dorian. Observou ela por um instante, e ergueu os olhos para encontrar os do rapaz.
– Tem certeza que quer lutar, Senhor Dorian Drake? No geral, aqui competem apenas mutantes, metamorfos, e outras pessoas de poder sobre-humano. E você declarou não pertencer a nenhuma raça de poder, sendo apenas uma pessoa normal... Devo dizer que isso é quase um suicídio...
– Fique tranquilo, amigo. Me matar não é algo tão fácil de se fazer – responde Dorian, com um sorriso confiante.
– Você quem sabe então. Espero que suas habilidades sejam tão grandes quanto o seu ego – respondeu com uma feição simpática, enquanto assinalava um OK na respectiva ficha.
O homem do guichê entregou uma moeda para cada um dos dois: um pequeno disco prateado, com uma caveira de um lado e um falcão do outro. Eles guardam os itens, e seguem novamente pelo meio da multidão.
Eles caminham para a parte de trás do estabelecimento, seguindo por um estreito corredor, até chegar ao amplo salão de um anfiteatro. O lugar está abarrotado de indivíduos. No meio da floresta de gente há uma clareira circular, da qual se originam sons de um combate. Dorian e Renato se aproximam, e no meio desta arena dois homens lutavam de maneira feroz. Um deles tinha cabelos negros, lisos e longos, cujo rosto era dotado de um aspecto indígena; está sem camisa e sem sapatos, com a superfície musculosa de seus braços e tórax recoberta por um tipo de armadura feita de grossas escamas protuberantes, projetadas de alguns lugares abaixo de sua pele. O seu adversário é um pequeno e magro homem oriental, de cabelos negros curtos e bem penteados; também está sem camisa e sem sapatos; e em cada antebraço seu projeta-se uma larga e afiada espada de osso, com cerca de quarenta centímetros de comprimento, do punho ao final da lâmina.
O homem que possui uma armadura natural é lento demais em comparação ao seu pequeno e ágil adversário, mas sua poderosa defesa equilibra o combate. Em um ataque rápido, o homem de longos cabelos negros joga o seu inimigo no chão, trava um dos braços navalhados dele com suas duas mãos, e o imobiliza com uma chave de pernas no pescoço.
Em uma ação digna de um contorcionista, o pequeno rapaz oriental move o seu braço livre, serpenteando-o, e finca a espada de osso no punho do seu agressor, aproveitando-se de uma brecha entre as grandes escamas do braço dele.
Ele perde a concentração por um instante, dando espaço para uma rápida fuga do seu combatente. Antes de qualquer chance de ataque, as potentes lâminas de osso trespassaram as fendas existentes nas juntas dos ombros, arrancando um grito de dor do imenso homem escamado.
Olhando para o juiz, o homem de cabelos longos ergue a palma da sua mão direita, sinalizando a sua derrota. Ao ver o gesto, o juiz exclama em bom tom:
– Fim da luta entre Antônio, o encouraçado, e Jin, o açougueiro! Vitória de Jin!
Um adolescente se apressa para o meio da arena, a fim de socorrer o homem ferido. Pela notória semelhança entre os dois, sem duvida são irmãos. Estancando os sangramentos, o jovem ergue o guerreiro recoberto de escamas e o apoia em seus passos, enquanto