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Espécimes azedos
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E-book293 páginas3 horas

Espécimes azedos

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Sobre este e-book

Humanos mantidos em cativeiro e torturados por alienígenas, mas que se sustentam em memórias e novas uniões.

Daqui algumas centenas de anos, uma amostra de humanos serão extraídos de lugares ao redor do mundo. Presos, isolados e abusados, são forçados a ser uma parte dos experimentos das Criaturas.

Neste novo mundo, não existem direitos humanos. Os espécimes devem decidir viver ou morrer. Escolher continuar vivo, significa escolher que parte de sua humanidade ficará e qual se extinguirá.

Espécimes Azedos é um trabalho ousado de ficção, que extrai dos mundos de terror e ficção científica.

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento17 de fev. de 2018
ISBN9781547517862
Espécimes azedos

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    Espécimes azedos - T.D. Clare

    CAPÍTULO 1

    Ele era um de nós. Eu acho que mataram aquele homem maluco. Eles o arrastaram para fora como se ele fosse lixo. O que mais teriam feito com ele? Ele era um de nós, mas ele não parava (ou não conseguia parar) de gritar e delirar. Eu cobri meus ouvidos para que não pegasse a loucura dele. Ele se foi e ainda não o trouxeram de volta.

    Eu não sou o único que queria que ele se calasse e aguentasse firme. Nós todos queríamos a mesma coisa. Eu só queria ficar sozinho para ouvir meus pensamentos. Eu quero juntar meus pensamentos e colocá-los em uma pilha como a de chocolate que eu estou desejando.

    Eu nunca quis que ele morresse, mas eu realmente acho que mataram ele. Está quieto agora, consegui o que queria. Eu estou sozinho. Eu nunca soube o nome dele. Ele era um de nós.

    Humanos deixados sozinhos, sem esperança de um público, ainda irão falar consigo mesmos. Eu estou fazendo isso agora mesmo. Estou contando à mim uma história de um homem pré-histórico imaginário. Ele está grunhindo e uivando para os outros homens pré-históricos, enquanto eles todos estão sentados em torno de uma fogueira. De repente, ele é devorado por um predador porque não sabia quando calar a boca.

    Este homem pré-histórico devorado, eu imagino que ele poderia ter sido meu antepassado direto. Eu não o conheço, mas eu o desprezo. É culpa dele que eu esteja aqui. Ele era um tolo. Mereceu ser violentamente consumido.

    Eu vou aprender como viajar no tempo, para voltar ao passado e socá-lo por sua estupidez, e por sua superabundância de inocência.

    Minha mente divaga porque ela pode. Diferente de mim, não está presa aqui. Ela pode viajar no tempo e ir para casa se quiser. Pouco antes daquele homem ser levado, eles nos proibiram de conversar com os outros, fazer contato ocular ou até mesmo gestos.

    Agora eles nos separaram. Tudo que eu quero é conversar sobre qualquer e toda coisa: uma receita de torta de carne, o fedor do meu hálito, o cinza horrível destas paredes. Eu quero que alguém leia para mim a mesma estória de dormir repetidamente.

    Quando minha mente divaga, um pouquinho de espanto esgueira-se. Aqui e agora, é como se nós fossemos as primeiras pessoas, como se fossemos especiais. Então eu percebo que isso é estúpido. Nós não somos as primeiras pessoas, somos apenas as primeiras aqui, neste lugar. Não somos especiais. Nós somos os humanos mais azarados da história da humanidade.

    Somos como os dinossauros famintos que continuavam a tentar encontrar comida, incapazes de prevenir que nossos céus se encham de fumaça, focando nas necessidades mais imediatas. Este novo mundo deveria ser meu para tomar, mas não o quero.

    Eu quero gritar e rugir; chorar e lamentar. Todos os pensamentos e instintos que tenho, querem que eu abra minha boca e grite ME DEIXE SAIR! Não, eu não quero apenas gritar, quero que eles realmente me deixem sair.

    Eu já fui ensinado que mesmo perguntando um simples o que? me deixaria machucado. Ao invés disso, eu conversarei com você, Querida Mente. Você esquecerá o que eu te contar e então eu não me meterei em problemas, combinado? Você não vai me dedurar porque se eu cair, você cai comigo, entendeu?

    Nós temos muito tempo livre, você e eu. Não temos que levantar até que haja luz lá fora. Nós costumávamos dizer quando o Sol nascer. Não há luz solar aqui, mas algo lá fora liga e desliga a luz em intervalos regulares de tempo.

    Eu estou sendo obrigado a conhecer os limites do meu corpo. Eu preferia não estar ciente do meu corpo. Sinto que preferiria voltar a conhecê-lo de novo, Pensamentos.

    Posso te chamar de Pensamentos? Vamos pular as reintroduções porque você sabe onde e quando eu nasci, a primeira pessoa que amei (depois de mim) e meus objetivos e aspirações. Não temos nos falando por um tempo, mas agora somos amigos novamente. Você e eu viéramos de muito tempo.

    Eu escreveria ao invés de falar com você, mas não tenho nada com que escrever e ninguém vai ler meus pensamentos, ou vai? O que eu poderia fazer com essas paredes em branco com um grande marcador vermelho. É uma pena: e se eu pensar em algo profundo? Trágico. Ninguém nunca vai saber, exceto nós, mas nós não temos mais valor.

    Eu não tenho filhos para contar essas coisas inacreditáveis também. Quando eu sair daqui, farei dez mil descendentes e os apresentarei à você, Pensamentos. ‘Sem meus Pensamentos, não teria conseguido.’ Isso que direi sobre você quando sair daqui.

    Eu tenho trinta e cinco agora (sabemos disso), gastando os anos de declínio da minha vida em cativeiro, nesse lugar, com sangue seco encrustado no meu rosto. (O que eu fiz para merecer isto?) Shhh, esses pensamentos não ajudam.

    Meus pais costumavam me contar que bem antes, nos velhos, velhos tempos as pessoas tinham sorte de chegar aos trinta. Eu sempre achei que eles estavam brincando comigo e continuava a querer verificar suas histórias. Nunca lembrei de checar.

    Se eu tivesse morrido com vinte e poucos anos, sendo nascido naquela geração sortuda, eu teria perdido completamente este clique na mente. Parece que a minha geração tem a extremidade fina do Cinturão de Kuiper. Nós somos Plutão. Mais passivos e mais sem voz que o pobre Plutão. Que piada.

    Meus cinquenta anos dourados: vê-los em paz e conforto é tudo que eu quero. Não, eu também gostaria de ver meus pais de novo. Tenho certeza que eles sentem um pouco de saudades de mim. Eu quero vê-los, mas espero que eles não estejam aqui também. Espero que eles estejam em casa, na Terra, com imensa saudade de mim.

    Se eu chegar aos cinquenta, vai ser um milagre. Viu? Ainda tenho esperança. Talvez esperança seja importante de alguma forma. Talvez não. Estou aqui há apenas três ou quatro dias; está muito cedo para precisar de esperança. Nós deveríamos ser capazes de fingir bravura e força mental, você e eu. Precisamos manter nossa inteligência sobre nós, ficar alerta e positivos.

    Esse poderia ser meu principal papel: homem humano heroicamente conhecendo essas criaturas pela primeira vez, resgatando seus companheiros humanos e libertando todos nós. Eu seria o maior paradigma da minha espécie. Pena que o verdadeiro eu está com medo de ser punido.

    Nós deveríamos saber como fingir sermos fortes e corajosos. Somos atores na Terra e nem mesmo atores da primeira ou segunda era de ouro do cinema. Nem atores que estavam se afogando em fãs furiosos e dinheiro, e uma abundância de papéis criativos. Não, eu nasci muito tarde para a fama ou sucesso, ou para ser permitido alcançar meu maldito pico.

    Ao invés, nós tivemos que ser atores numa época que ser delirante o suficiente para querer ser um ator não era suficiente. Nós tivemos que justificar nosso direito de viver e trabalhar no planeta sendo também escritores, produtores, figurinistas, cenógrafos, editores, artistas de efeitos especiais e coreógrafos.

    Nós escolhemos ser atores porque havia algo de errado conosco. Eu admito. Os críticos da nossa arte estavam certos. Não temos qualquer senso comum. Não somos utilizáveis. Somos egoístas. Nós temos pensamentos grandiosos, confusão de personalidade e um desejo pela pobreza.

    Fingir ser outra pessoa não é uma habilidade que eu possa usar aqui, mas como eu poderia saber disso? Contudo, não posso me arrepender das minhas decisões. Pessoas afortunadas não chegam ao fim de suas vidas e se arrependem. Eu não me arrependo de nada. O fim da minha vida quer me conhecer muito cedo. É o último fã adorador, sentado no teatro escuro, esperando para apertar minha mão.

    Não quero me arrepender. Eu só tenho que aguentar.

    Não, eu me arrependo sim! Tenho um filme inacabado em casa. Eu vivi minha vida fazendo o que eu era compelido a fazer: criar, entreter. Eu espero que satisfação seja suficiente para me levar através do que seja isso.

    Minha avó sempre disse Você tem apenas uma vida para viver, então descubra o que quer fazer, faça direito e goste. Não foda tudo. Eu estava fazendo direito, não estava? Vó, não tem espaço suficiente para você aqui também.

    Droga, vamos lá de novo. Eu preciso urinar. Pensar que essa sala cheira melhor que a sala grande cheirava. Tanta urina e fezes na sala grande onde nós todos estávamos amontoados juntos. Eu me aliviaria para fora desta janela, se ela pudesse ser aberta.

    Mirar para fora da janela poderia ser um jogo, um passatempo. Não é nem mesmo uma janela grande. É um pequeno quadrado na parede que deixa entrar aquela maldita luz artificial.

    Logo depois que viemos para cá, quando eu estava ainda com outras pessoas, aquelas Coisas começaram a nos dar recipientes cobertos porque nós vomitávamos por conta do cheiro de nossos excrementos. Nossos olhos ficavam vermelhos e nossos pulmões queimavam com o fedor de urina. Meus olhos ainda estão um pouco inchados por causa de alguma infecção ou irritação.

    Mesmo com os recipientes, o ar ainda fede. Saliva desce pela minha garganta, se preparando para o amordaçar pela lembrança. Aquele tanto de fedor, nossos cérebros podem ainda lembrar, até sentir o gosto.

    Digo nosso porque eu sei que há outros aqui ainda. Eu não diria que posso senti-los, mas na minha mente (ei, é Você de novo), eu detecto outras pessoas respirando ou sua presença, e o desespero familiar deles.

    Talvez esse seja o primeiro passo para a loucura. Talvez o homem maluco pensasse que ele poderia sentir desespero também. Não, diferente dele eu não sou maluco porque tenho sentido suficiente para dizer ‘detecto um fedor persistente’ em vez de ‘detecto desespero’, certo?

    O fedor! Me lembra o gato perdido e coxo que costumava rondar meu apartamento. Ele amava tanto a própria urina que a deixava por todo lado. Eu imagino urinar com tanta determinação que gostaria de deixar minha urina em todos os lugares.

    Mas este não é meu território e eu não desejo marcá-lo. O que é o oposto de marcar território? Me pergunto o que houve com o gato. Eu queria ter um gato para conversar sobre as coisas.

    Essas salas são frias e eu tenho que urinar toda hora. Água adentro e água para fora, o que significa que estou suprindo meu organismo com fluidos ou que meu organismo está ignorando todos os fluidos. Me pergunto se eles nos darão cobertores ou roupas se alguns de nós começarem a morrer por doença. Tem como ficarmos doentes nesse lugar? Se eu sobreviver, meu prêmio será um cobertor. Um cobertor e milhares de descendentes.

    Enquanto isso estou imaginando banhos quentes, queimaduras de Sol, velas, febres e chamas. Me enrolo numa bola e espero as luzes acenderem. Não uma bola realmente, mais como um ouriço gordo tentando se esconder. Ainda tenho minhas vísceras, talvez seja isso que está me mantendo vivo. Estou vivendo das minhas reservas de gordura, como uma lagartixa com uma cauda roliça.

    Eu talvez esteja imaginando, mas minhas vísceras estão começando a cair. Eu não conseguia manter a chamada de comida no estômago pelos primeiros dias. A fome finalmente ganhou ou eu me acostumei com aquela coisa com que nos alimentavam. Não penso em comida tanto quanto pensava (purê de batata, purê de batata, purê de batata). Como o que me dão (lama).

    Não causo cenas ou exijo meus direitos, ou um cobertor. Não existem direitos aqui. Antes daquele homem louco sem nome fazer seu último show, eu presenciei uma outra comoção. Ela acabou em um grito pontuado pelo silêncio. Humano vê, humano não fará: eu não farei uma cena.

    Não chamarei atenção para mim. Estou vivo, não é isso que importa? Ficar fora de problemas parece estar funcionando até agora.

    Para manter minha razão, eu penso no Sol refletindo no oceano Pacífico, a areia quente debaixo dos meus pés, um Sol abrasador (que eu talvez nunca mais veja), queimando as minhas costas, e o suor. Um banho quente. Um forno. Uma fogueira. Este lugar em chamas. As criaturas em água fervente.

    O Sol foi ligado de novo esta manhã. Não o gradual nascer do Sol como é na Terra, mas um cutucão de dedo no olho. Eu sou um lagarto em um terrário: as luzes chicoteiam e é assim que supostamente eu sei que é manhã.

    Entretanto, meu cérebro de lagarto sabe que algo não está certo, e sabe que, sem palavras, há luz solar real lá em casa. Eu me estenderia ao sol mortal, arriscaria as queimaduras e o câncer se apenas pudesse estar de volta na Terra.

    CAPÍTULO 2

    As portas fazem um som mais longo quando abrem, seguido de um curto e profundo zunido antes de fechar. Lá fora, a voz de uma mulher (ela tem um sotaque, irlandês talvez) exige saber para onde ela está indo e uma porta se fecha. Outra porta abre e fecha. Uma criança começa a gritar.

    As vezes podemos ouvir claramente, as vezes os sons estão abafados, as vezes não podemos ouvir nada. Eles devem querer que ouçamos essas outras pessoas, ouçamos seu stress. Eu me lembro de não levantar e olhar, de ser invisível.

    Ser invisível não é tão bom hoje porque uma das criaturas já está passando pela porta e ela se fecha atrás da coisa. A criatura está me incitando a ir para a porta. Nós permanecemos em pé frente a porta fechada, esperando em silêncio.

    Algumas semanas atrás, (ou sabe-se lá quanto tempo faz), eu teria tentado conversar com essa coisa. Eu sei melhor agora.

    À distância eles se parecem conosco, mas quando os vi de perto, a pele parece cerosa ou sintética, quase como se estivessem usando trajes corporais com cor de carne. Eles são todos da mesma cor suave e pálida. Eles viram algumas pinturas antigas de um humano e tentaram replicar aquela cor desbotada de ovo de têmpera?

    Entretanto, eles não fizeram os olhos direito. Seus olhos tem uma íris grande e escura com auréola branca acinzentada, as pernas parecem desproporcionalmente longas, como se quisessem ser tão altos quanto nós, mas não sabiam onde mais compensar a diferença de altura na ideia conceitualizada deles de nossos reais corpos. Quanto a tentativa de imitar nossas roupas, eles têm pano preso em cima da pele.

    A porta abre e eu sou conduzido ao corredor. A criança gritando a minha frente está tentando se agarrar em direção à mulher. Eles são imediatamente separados. Sou pego olhando para eles e rapidamente virei para prevenir que meus olhos devaneassem. Não dói tanto quanto ser atacado. Eu exagero a dor para que eles pensem que a punição dói mais do que o real. Meu objetivo é que eles acreditem que não há necessidade de aumentar a punição e que eu sou complacente.

    Estes outros humanos ainda estão pelados como eu. Se quiséssemos ser recatados, não podíamos. As criaturas põem remendos de panos nos corpos deles, mas nós não ganhamos nada? Quando meus músculos descerram após o choque inicial, eu retomo a sentir pena da criança.

    Ele irá desmaiar ou ter um colapso bem na minha frente. Terei que entrar na frente do corpo dele depois que o punirem. Ele está chamando atenção demais para si. Se ele for punido, todos nós ficaremos mal. Talvez todos seremos punidos também. Eu quero ficar longe dele, assim como a mulher quer. Eu a vi desviar da criança quando ele tentou se agarrar à ela.

    Eles nos levaram a uma sala com um buraco em forma de tigela no chão, cheio com um líquido azul translúcido. Deve ter uns três ou quatro metros de diâmetro, mas não dá para saber quão fundo. Há mais três das criaturas. São todos do mesmo tamanho uniforme, nos assistindo atrás de janelas numa área de observação acima do buraco azul.

    Eu acho que vejo alguém ser arrastado por uma porta. Não sei se ele está morto ou apenas inconsciente. Qual eu gostaria de estar?

    A mulher pergunta O que é isso? O que vocês estão fazendo conosco? Ela não sabe ficar quieta? Ela é jogada na água primeiro, depois a criança e agora eles estão me empurrando.

    Depois que caí na água, uma sensação de descongelamento se espalha por minha pele. Essa água provavelmente não está quente, está simplesmente menos fria que o ar ambiente deste lugar. Eu olho para as criaturas para ter uma noção do que eles querem que eu faça. Nada. Eles estão apenas nos encarando. Eu começo a tentar seguir meu rumo, tentando avaliar quão funda é esta piscina, mas a criança não consegue nadar.

    Ele está agitado e tossindo, tentando se agarrar a mim. Eu me esquivo dele. O que vai acontecer se eu ajudá-lo? Ele está perto da parede! Ele precisa parar de se desesperar e virar. Eu mergulho, meus olhos queimam depois do contato com essa água.

    Quando volto à superfície, a cabeça da criança está indo para baixo da água. Eu o pego e levo para a beira da piscina. Ele está engasgando na substância e chorando, mas eu forço suas mãos ao contato com a parede. Olho para ele e o encaro, tentando fazer com que ele se acalme.

    Ele está arquejando por ar e esfregando a garganta. Eu quero dizer para que ele fique quieto. Ele virão aqui. Eu seguro o queixo dele e viro sua cabeça para olhar para mim. Sutilmente eu balanço minha cabeça para a esquerda, depois para a direita. Os soluços dele acalmam em respiração fragmentada. Estou contando os segundos até que eu possa nadar para longe.

    Minha pele parece que está queimando. Eu estava pouco perceptível no começo, mas a irritação está gradualmente aumentando agora que estou ciente dela. O líquido em que estamos fica quente. Essa criança! Ele acabou de urinar?

    Eu espero que as criaturas não percebam que eu o ajudei ou me comuniquei com ele. Tentei ser esperto. Eles não estão me punindo... ao menos, não ainda.

    CAPÍTULO 3

    Do outro lado da piscina, a mulher nos lança olhares de relance. Ela olha para suas mãos e braços, que estão ficando vermelho-rosadas e faz uma careta.

    Uma tampa ou algo do tipo começa a sair pela lateral da parede onde estou. O menino é obrigado a soltar daquela parede, então eu o agarro juntamente com a tampa, que ainda está se movendo. Solto a tampa - se não o fizesse, seria esmagado entre a tampa e o outro lado da piscina, onde a mulher está. Isto é um erro, eu tinha tempo antes que qualquer esmagamento acontecesse.

    Eu começo a nadar enquanto a tampa está se fechando sobre nossas cabeças; o menino entra em pânico nos meus braços. Eu mergulho com ele e volto à superfície. Tento, sem sucesso, segurá-lo longe de mim. A mulher solta-se da parede e boia com o rosto para cima.

    Esse moleque está me arranhando e beliscando tentando se agarrar em mim.

    Boie de costas eu sibilo para a criança. Assim... Ele tentou, mas não está entendendo como fazer. Agora ele está duro em pé como uma perna de mesa. Não posso continuar com isso: nadando, tentando manter esse menino e meu nariz acima da água. A mulher não está ajudando.

    A piscina está completamente coberta, uns dez centímetros acima de nossas cabeças. Boie! Eu grito com o garoto, meio que esperando que o volume da minha voz force-os a abrir a tampa, mesmo que fosse para me punir. Eu mergulho de novo, mas engulo um monte dessa água e sinto-a queimar minha língua e minha garganta. Posso senti-la descendo até meu estômago.

    O moleque continua a tentar nadar, mas sobretudo, tentando me agarrar. "Fique!

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