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O Homem Da Biosfera Xiii
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E-book357 páginas4 horas

O Homem Da Biosfera Xiii

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Sobre este e-book

O homem da Biosfera XIII é a mais pura distopia. Um futuro que poderia vir a acontecer caso a humanidade continue a destruir o seu meio ambiente no ritmo alarmante em que presenciamos hoje, obrigando-a a viver em gigantescos domos isolados. Sloan, o herói proveniente deste futuro terá que empreender uma viagem pelo tempo para impedir que isso venha a acontecer e não só salvar sua família, como também o que resta da humanidade confinada na ultima cidade da Terra.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento26 de mar. de 2024
O Homem Da Biosfera Xiii

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    O Homem Da Biosfera Xiii - Ronald Rahal

    O HOMEM DA BIOSFERA XIII: A última esperança da Terra.

    POR

    RONALD RAHAL

    Revisão Miguel Carqueija.

    PREÂMBULO ........................................................................................................................... 6

    Capitulo I – Primeiro Dia. ...................................................................................................... 10

    Capitulo 2 – Segundo dia. ..................................................................................................... 34

    Capitulo 3 – Segundo dia. Tudo começa. .............................................................................. 55

    Capitulo 4 – Segundo dia e a fuga inesperada ...................................................................... 63

    Capitulo 5 – Ainda o segundo dia e as últimas horas na Biosfera. ........................................ 83

    Capitulo 6 – Segundo dia? Terceiro dia? Ou o começo de uma contagem regressiva? ...... 103

    Capitulo 7 – As duas primeiras semanas fora da Biosfera. ................................................. 129

    Capitulo 8 – As duas semanas seguintes que antecederam o dia 28. ................................. 146

    Capitulo 9 – O dia final e a jornada dupla. .......................................................................... 155

    Capitulo 10 — Todos os dias do Tempo.............................................................................. 176

    2

    DISTOPIA E GUERRA NO TEMPO

    (Prefácio para ―O Homem da Biosfera XIII‖, de Ronald Rahal, por Miguel Carqueija)

    Com um detalhismo e cuidado na construção do enredo, de modo a não deixar pontas soltas, num artesanato raro na ficção científica brasileira (em grande parte, hoje em dia, centrada no exagero de jargão informático com desenvolvimento ininteligí-vel para a maioria dos leitores), Ronald Rahal conta uma história apaixonante envolvendo diversos conceitos clássicos no gênero. Um deles, com suas implicações ecológicas, o conceito de distopia, ou utopia negativa.

    De um modo geral, desde obras clássicas como o ―Brave new world‖ de Aldou Huxley até exemplos bem mais recentes como o seriado japonês de animação

    ―Psycho Pass‖, a distopia é o estabelecimento, pela força ou pela persuasão, de um su-posto mundo perfeito, uma sociedade que se fecha num modelo que se autoconsidera intocável e imutável. Assim é o caso das biosferas no romance de Rahal. Num futuro indeterminado a natureza na Terra foi de tal modo arrasado que o que restou da humanidade se isolou nas chamadas biosferas, regiões hermeticamente fechadas onde vivem as comunidades, em ambiente separado do mundo ao ar livre, que se tornou venenoso e mortífero. A vida é inteiramente controlada, a comida é insípida, não se criam animais de estimação, não se admitem cultos religiosos. Num desses ―paraísos‖, a Biosfera XIII, vive Sloan, aparentemente o tipo do homem comum, que exerce as suas qualificações técnicas como um bom cidadão desse ―mundo perfeito‖ — até o dia em que sua esposa Kate desaparece misteriosamente, e as autoridades constituídas a acusam de ser uma conspiradora contra a ordem estabelecida.

    É assim, a partir do ponto em que Sloan encontra a misteriosa mensagem deixada por sua esposa, que a trama sai do pragmatismo de uma distopia (pois geralmente esses enredos fecham-se em si mesmos, sem interferências externas) que a novela se desenvolve em outras linhas de ficção científica, como a viagem pelo tempo, a alteração dos fatos históricos, as linhas temporais, o multiverso e até uma ―crossover‖ com a obra

    ―A Máquina do Tempo‖ de H.G.Wells, já que um dos personagens principais, mantendo o mistério de sua identidade, é o famoso Viajante do Tempo, que dispõe de ―todo o tempo do mundo‖.

    3

    A certa altura as implicações da narrativa dão vertigens...

    Entre parêntesis, observo que o personagem Sloan, que vem de um mundo inteiramente leigo, vendo-se na Europa Oriental de 1914, em meio aos acontecimentos que poderão ou não levar à Primeira Guerra Mundial, entra numa igreja ortodoxa durante uma missa e, sem nada conhecer daqueles ritos e do fundamento do Cristianismo, rejeita tudo, inclusive a existência de Deus. Reflete aí o personagem a opção materialista do próprio autor; quanto a mim, como católico, e pelo muito que estudei a religião, não vejo a Fé (embora muitas vezes possa ser desvirtuada, como nas mitologias) como uma coisa gratuita e sem bases racionais. Especialmente o Cristianismo. Em todo o caso a beleza da democracia manifesta-se na liberdade de crença ou descrença, e aí eu concordo com Ronald Rahal, que não apresenta a distopia como algo desejável; e a distopia, ao impor um só modo de pensar e de viver, tanto pode forçar uma situação de materialismo (como nas biosferas do romance) como uma ditadura de religião fanática, o que hoje se observa nas regiões dominadas pelo chamado Estado islâmico, verdadeira distopia do mundo real.

    ―O Homem da Biosfera XIII‖ não chega a apresentar muitos personagens, mas é necessário ler com atenção por causa das manobras complexas pelas quais os personagens disputam, por assim dizer, o futuro, em suas múltiplas possibilidades. Inexperi-ente em tais questões, Sloan terá de aprender na prática a maneira de agir numa situação que transcende muito os seus conhecimentos e seus recursos pessoais, o que lembra um pouco os romances do grande Clifford D. Simak. Neles com frequência o indivíduo, apesar de sua pequenez diante dos incomensuráveis espaço e tempo, se vê na contingência de assumir a responsabilidade pela segurança da humanidade e até do universo. Esta missão de tirar o fôlego será assumida também, ainda que dividida com outros personagens, pelo protagonista deste romance.

    Ressalvo ainda que, com hábil detalhismo, Rahal explorou bem o impacto que causa em Sloan o contraste entre a sua época no distante futuro e o ambiente de Sarajevo na Europa do início do século XX: pratos temperados, animais de estimação (até uma engraçada referência à briga noturna dos gatos nos telhados), os trajes diferentes etc.

    4

    Rio de janeiro, 13 de dezembro de 2015-12-13

    Miguel Carqueija

    Contista e romancista de ficção científica, fantasia, terror e mistério, autor de ―A face oculta da Galáxia‖, ―Neblina e a Ninja‖, ―A batalha do poder‖, ―Nas garras do futuro‖, ―Horizonte sombrio‖ e, em colaboração com Ronald Rahal, ―Freaks‖, com Melanie Evarino ―O estigma do feiticeiro negro‖ e com Ricardo Guilherme dos Santos, ―Asteroid Girl‖.

    5

    PREÂMBULO

    Antes de lhes contar essa história, caro leitor, quero levar ao seu conhecimento que comecei a editar estas linhas num dispositivo bem sofisticado que consegue processar as ondas sonoras de minha voz transformando-a em frases escritas. Foi uma das maravilhas que conheci depois que me instalei neste mundo, espero que definitiva-mente, após vivenciar uma peripécia inusitada, que poucas pessoas experimentam em suas curtas vidas, com exceção de um raro personagem acostumado a navegar pelo tempo. Que claro, se não foi o eixo central desta aventura que passarei a descrever, foi a razão de ela acontecer.

    Da janela de meu quarto, um feixe de luz atravessa o ar, banhando o chão.

    Às vezes fico ali, observando por minutos a poeira revoluta que paira no ar, perdido em meus pensamentos; em minhas lembranças. Através dela posso ver também o céu azul, salpicado de nuvens que cobre o bem cuidado jardim que envolve a casa, onde atualmente vivo. Pode parecer uma coisa comum para muitos, mas de onde eu vim, tais coisas eram inconcebíveis e poder sentir o aroma que a brisa trás das flores do jardim, me pro-picia um conforto e calma inimagináveis que em outra situação, pensei que nunca mais sentiria em minha vida.

    Decidi aqui deixar estas lembranças para que algum dia, quando eu não mais respirar debaixo deste céu imenso, o leitor possa entender todas as agruras pelas quais passei e refletir não só sobre a complexidade do tempo, com suas infindáveis possibilidades, como também na forma de um alerta para que a humanidade preserve seu planeta. Seu único abrigo seguro neste vasto espaço que se estende entre as estrelas, tão hostil à vida.

    Muitos provavelmente não acreditarão neste texto e pensarão que são apenas palavras de um homem desvairado, totalmente desconectado da realidade, mas garanto-lhes que o que aqui narrarei é tão real quanto o travesseiro sobre o qual repousam suas cabeças à noite.

    Por falar em realidade, o que é ela afinal, depois de tudo que vivenciei?

    6

    Quando me lembro do receio que sentia de nunca mais poder ver minha esposa e meus filhos, e sabendo que agora esse sentimento ficou relegado ao passado, graças à ajuda de um homem e sua estranha máquina dotada de um prato côncavo rotativo, reforça minha vontade de dispor minhas lembranças a quem estiver interessado em conhecê-las como testemunha da volatilidade da realidade.

    Mas, antes que o leitor acabe por desistir de ler estas linhas, imaginando apenas que sirvam para extrudar pensamentos melancólicos, deixe-me contar como tudo começou. Mas, advirto mais uma vez: não se trata de mera fantasia e sim acontecimentos que mudaram toda a história do mundo. Pelo menos do mundo que eu conhecia, ou nele nasci.

    O lugar que um dia chamei de lar, ficava; digo ficava, e me expresso no pretérito para designá-lo, não porque ficou no passado, mas sim porque, do meu ponto de vista, existe agora somente numa vaga linha temporal da qual não faço mais parte. Seu nome era: Biosfera XIII.

    Devido à numeração é óbvio que o leitor deduzirá que deveriam existir outras doze ou até mais e de fato, até onde eu sabia, compunham um total de 25, espalhadas ao longo da superfície terrestre. Devo deixar claro que o contato entre elas era limitado justamente por causa, não só da distância que as separava, como também pelas características isolantes da estrutura que as limitavam.

    O espaço entre cada Biosfera era denominado pejorativamente de ―Terra Incógnita‖ pelo fato de que não havia meios de saber-se o que lá se passava, já que era poluído, tóxico, enfim, bem impróprio para a vida humana. Não só para a vida humana.

    Para animais e plantas também. Talvez algumas bactérias extremófilas o considerassem convidativo. Quem sabe até outros microrganismos desconhecidos pela Ciência. Mas, seres complexos, dificilmente poderiam habitá-lo.

    Havia boatos de que existiam sobreviventes nas cidades abandonadas, talvez mutantes adaptados àquele ambiente, mas até onde eu pude pesquisar, era difícil saber se constituíam somente boatos ou se existia um fundo de verdade em tais histórias.

    7

    Afinal, a evolução sempre persiste em seu trabalho de encontrar formas de vida que se adaptem melhor ao ambiente. Mesmo porque esse mesmo ambiente fora da Biosfera, como já descrevi, era tão tóxico e inóspito que se tornava inacreditável que seres humanos, descendentes dos habitantes das outrora grandes e populosas cidades, pudessem ali sobreviver sem disporem de algum meio de proteção igual ao que usávamos, quando precisávamos sair dela, para efetuar reparos em sua estrutura externa. Talvez, um dia, alguma criança tenha nascido que prescindisse desses equipamentos. Mas, hipóteses são somente hipóteses.

    Mas, voltando ao assunto principal deste relato, foi nessa Biosfera XIII que nasci — pelo menos assim pensava, mas este detalhe fica para o final — cresci, conheci minha esposa, onde na verdade, estávamos predestinados a certos papéis, dos quais não podíamos nos furtar, já que o Estado, ou melhor, as Biosferas-Estados em que meu mundo estava dividido, tinham total controle sobre seus cidadãos e recursos e claro, poder total sobre suas vidas. Pelo menos assim estava condicionado a pensar, antes de deixá-la e saber que essa predestinação era uma exclusividade de meu mundo, mas não desse que vim a conhecer, apesar de que, independentemente de onde estamos, somos sempre filhos dos caprichos do tempo.

    Como a Terra chegara àquele estágio não me interessava, enquanto lá vivi.

    E só depois de tê-la deixado é que pude perceber o quanto estava adormecido para as causas que a haviam levado àquela total deterioração. Na verdade quase nada se sabia do que acontecia fora da nossa Biosfera, que nos provia de todo o conforto e segurança possível. E desde que ela nos mantivesse protegidos daquele mundo externo tóxico tão hostil como a superfície de Mercúrio ou Vênus à existência, seus habitantes preferiam mais dedicar suas vidas e afazeres às necessidades maiores da Biosfera, do que se preocupa-rem com aquele mundo estranho e aterrorizante existente para além do nosso domo. Havia, é claro, uma história ―oficial‖ que nos era ensinada por meio de aparatos tecnológicos sobre a nossa redoma e o mundo caótico e periclitante que a precedera. Mas, nada dos ‖por quês‖ ou os dos ―como‖. Apenas uma vez minha curiosidade foi despertada para aquele mundo distante do meu dia a dia quando conheci um dos ―velhos‖ — este era o termo empregado para designar os primeiros que ali tinham se instalado — cujo avô tinha participado da construção da Biosfera. Ele me dissera, antes de morrer, que a história de nossa redoma era semelhante a da história de outra região do planeta chamada 8

    Grécia, onde cidades-estados tinham se digladiado para poder dominá-la e que aquela desunião decretara a sorte de todas. Mas, quando eu a ouvi soava como algo tão distante, tão longe no tempo em que vivia que não me provocou qualquer reflexão. Hoje, fora dela, sem o filtro do Estado exercido no Banco de Dados da Biosfera, onde pude ter acesso não só às histórias de Atenas e Esparta, como a de toda a Terra, de uma forma bem mais detalhada do que jamais pensaria ter, confesso que nem de longe o isolamento de nossos mundos se comparava à daquelas cidades antigas da Grécia. Era um mundo totalmente diferente do nosso, cheio de vida, onde o espaço entre elas poderia ser percorri-do por qualquer um que quisesse se aventurar por aquelas paragens sem correr o risco de morrer sufocado.

    Hoje, neste lugar e nesta época, ele me parece tão distante e tão impossível de ter acontecido que muitas vezes, recostado no travesseiro de minha cama, nas longas noites que não consigo dormir, me pergunto se de fato procedi de um passado em que não mais vivo, mas que por mais inacreditável que possa parecer aos nossos sentidos, continua existindo, tão real e concreto como este futuro onde atualmente me encontro.

    Sei que esta expressão parecerá meio estranha a você, meu paciente leitor, mas a verdade é essa: procedo do passado. Um passado bem diferente deste mundo no qual passei a viver graças a um evento do qual participei e ajudei a criar. Na verdade, quando fui inci-tado a lançar-me pelo tempo, pesava sobre meus ombros a responsabilidade de fazê-lo existir e criar um lugar seguro para o que restava da humanidade. Jamais pensei que e-xerceria um papel tão crucial. E por essa razão fui conduzido ao chamado século XX, na cidade de Sarajevo, parte do que chamavam então de Império Austro-húngaro.

    Depois dos acontecimentos dos quais participei ainda tenho dúvidas se apenas fui um peão de forças que estavam acima da vontade humana ou se apenas fora ela que me conduzira para aquele momento no tempo e no espaço.

    E bem... Para não cansá-lo demais com minhas infindáveis reflexões, pre-zado leitor, deixe-me contar como tudo aconteceu para que, depois de ler até o final minha narrativa, compreenda o meu atual estado de espírito e entenda o conflito de emoções que ainda atormentam minha mente.

    9

    Capitulo I – Primeiro Dia.

    A história que passo a descrever, meu caro leitor, começou no quarto dia, do ano 342 da Biosfera XIII. Pelo menos era esse o calendário que eu conhecia desde o meu nascimento. Hoje, me habituei ao que encontrei nessa época, que se baseia em tradi-ções religiosas apesar de que, alguns autores já utilizem o Era Comum, já que foi adotada por pensadores pertencentes a essa determinada religião sem levar em conta outras que existem e tal discrepância merece uma correção. Talvez seja apenas mais um calendário criado pelo homem que será tão útil quanto o da Biosfera enquanto se revelar prático e quando isso não mais ocorrer, será substituído por outro melhor, assim como houve uma multidão deles no passado, variando de cultura para cultura, agora totalmente esquecidos.

    De qualquer forma, ao seu modo, o planeta Terra não deixa de ser uma Biosfera, já que a parte habitável é limitada a um pequeno trecho do seu volume e o calendário, do qual falei é, como sempre, desde que a civilização surgiu, apenas mais uma forma da sociedade que nela vive, de administrar seu tempo. Seja por questões religiosas, ou para home-nagear um rei, imperador ou um determinado fenômeno cíclico, no fim todos servem a esse mesmo e único propósito. Mas, este detalhe é o menos importante, pois a história subsequente que se seguiu a essa data que acima citei, me levou a uma experiência inusitada e de uma importância crucial para o destino da humanidade. Não o destino da humanidade que habitava a Biosfera de onde vim e sim o da outra que passou a existir assim que alterei a história da minha. Talvez existam outras — como afirmou o Viajante do Tempo — que nunca visitei ou pretendo visitar, mas para mim, já basta esta em que vivi com sua própria gama de complicações. E esta que ajudei a criar — prefiro colocar deste modo para não confundir a mente dos leitores — dependeu única e exclusivamente do insignificante ângulo do cano de uma arma, como se no fim eu não passasse de um mero adereço e não de um agente ativo dos acontecimentos que se desenrolam no tempo.

    Estes são apenas um vislumbre dos eventos que antecipo — entre uma série de outros que irei descrevendo ao longo desta narrativa — aos quais fui guindado por uma pessoa de quem menos esperaria que me levasse a eles: a que se casara comigo e que se revelou bem mais do que uma companheira e mãe de meus dois filhos, como posso perceber agora, desfrutando de sua companhia depois de tudo que passei. Na verdade prefiro descrever deste modo também a sua participação — se bem que foi bem mais 10

    complexo do que isso — para não criar mais confusões como poderão perceber, após ler na íntegra essa aventura.

    Começo por explicar qual era a minha ocupação no interior da Biosfera.

    Eu integrava a equipe de manutenção responsável por toda a estrutura do grande domo que pairava sobre nossas cabeças. Eu não o vi ser construído, nem poderia, pois isto se dera bem antes do meu nascimento.

    Assim, era graças ao domo, que nos isolava e nos protegia do exterior, que a vida sustentável podia continuar existindo no seu interior, assim como nas poucas Biosferas que restavam distribuídas pela superfície da Terra, situação essa que nos era ensinada desde a mais tenra idade pelo Departamento da Educação. Nas raras vezes que precisei fazer reparos na parte externa — o domo compunha-se de duas partes para reforçar o isolamento — o que vi era um ambiente nublado, irrespirável e um aparente deserto sem vida que se estendia até onde a minha vista podia alcançar. Como a situação lá fora chegara àquela situação imprópria à vida nunca nos foi explicado — e só poucas vezes preocupei-me em conjecturar sobre as razões daquele estado deplorável do meio ambiente — já que estava mais preocupado em levar a minha vida da melhor maneira possível dentro da Biosfera. Mas, foi só depois de ter vivido um mês na época que antecedia quatro séculos ao do meu próprio nascimento e ao das Biosferas, e quatro séculos depois, quando retornei, é que pude entender as razões que haviam levado a tal colapso ambiental. E de ter percebido, por experiência própria, o tesouro que os homens haviam descu-rado por tanto tempo: o sistema ecológico.

    Foi nesse escasso mês que, pela primeira vez em minha vida, desfrutei do prazer de viver em um lugar aberto, sem limites. Onde interagi com um ambiente bem diferente do que estava acostumado e entendi o real valor de coisas que aparentemente não damos a menor importância como o ar que respiramos e a liberdade de poder se locomover sem limites por extensas áreas. Na Biosfera, o ar era constantemente reciclado, não por processos naturais, mas sim por incansáveis filtros inteligentes. Apesar de não ser tão poluído como o que existia no exterior, o fato de poder respirar um composto de nitrogênio e oxigênio que não dependia de filtros, foi uma surpresa inesperada — sem deixar, claro, de impactar meu sistema respiratório num primeiro momento, mas ao qual logo me habituei — como um doente que se recupera de uma grave doença. E meu as-11

    sombro não se restringiu somente à atmosfera respirável, com odores até então desconhecidos pelo meu nariz. Também me impressionaram — pude constatar isso pelos veículos de informação aqui existentes e até pessoalmente em algumas áreas protegidas, algo inexistente na Biosfera — as vastas florestas que recobriam grande parte do planeta e as formas de vida que nela viviam. E o mares que, apesar de ainda não ter podido conhecer pessoalmente qualquer um deles até agora e tocar suas águas com meus dedos, fascinou-me pela exuberância de formas de vida, algumas das quais jamais soubera da sua existência. Quanta coisa o Banco de Dados da Biosfera havia suprimido de informações para nos manter na ignorância e acreditar que habitávamos algo parecido a um conceito religioso que descobri posteriormente, denominado Paraíso. E tomando consciência de tanta riqueza e diversidade, eu me perguntei não uma, mas muitas vezes, como a humanidade chegara a tal estado de coisas sem se esforçar em evitá-las? Como os humanos foram tão cegos quanto ao futuro? Se soubessem que um dia teriam que viver em Biosferas, como animais presos em amplas jaulas, jamais teriam demonstrado tamanho desleixo pelo meio ambiente. Ah! Sim! Pude conhecer e visitar pela primeira vez em minha vida

    — não canso de ressaltar tal detalhe tendo em vista o lugar de onde vim — um zoológico e de certa forma, ao ver seus habitantes confinados às exíguas jaulas, lembrou-me como teria passados o resto de meus dias. (1)

    Mas, deixemos de lado essas divagações e lamúrias e nos atenhamos aos acontecimentos. Como já disse minha função era a de executar reparos no domo e nas estruturas que lhe davam apoio. Existia a porção interna e a externa, com um espaço entre os dois, para evitar que em caso de algum rombo, não houvesse qualquer contato da atmosfera externa com a interna. A integridade de seus componentes exigia longas e cansativas inspeções ao longo do ano biosférico, mas se deixasse de ser assim não me permitiria ver toda a sua extensão, muitas vezes em meio a uma névoa que se formava na parte mais alta.

    Partindo dos seus extremos compostos por altas paredes de metal até a parte central, a Biosfera começava próximo deles, por terrenos dedicados a uma monocultu-ra e pequeno lagos, até o circulo central dividido em quatro Departamentos, que claro, se subdividiam em outros: o da Indústria, do Hospital, das Residências e por fim, do Governo, onde se situavam os Centros de Instruções, por sua vez, divididos por idade dos 12

    alunos e as demais repartições governamentais que a administravam, entre elas, o terrível e sempre evitado Departamento de Segurança.

    Pequenas vias a cruzavam em todos os sentidos na superfície, mas a

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