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Doutora dos Sonhos: Suspenses da Doutora dos Sonhos
Doutora dos Sonhos: Suspenses da Doutora dos Sonhos
Doutora dos Sonhos: Suspenses da Doutora dos Sonhos
E-book348 páginas5 horas

Doutora dos Sonhos: Suspenses da Doutora dos Sonhos

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Sobre este e-book

Suspense, faculdade de medicina, casamento - e assassinato!

Em meio à necessidade de se acostumar à vida de recém-casada e à sua tentativa de sobreviver ao primeiro mês da faculdade de medicina, a Sara Alderson já tem muito com o que lidar. Com certeza ela não precisa começar a visitar o sonho das outras pessoas de novo. Infelizmente, para ela, isso está acontecendo,querendo ou não.

Toda a noite ela vê uma pessoa e um sonho diferente, mas todos os sonhadores têm algo em comum: todos eles odeiam o Dr. Morris, o professor menos querido da faculdade de medicina, e eles estão todos sonhando em vê-lo morto, ou fazer com que ele morra.

Mais uma vez, a Sara se vê no papel de testemunha involuntária de um homicídio antes dele ocorrer. Mas dessa vêz, há muitos suspeitos com que se preocupar, e  não importa que ela odeie o Dr. Morris tanto quanto qualquer um dos potenciais assassinos.

Doutora dos Sonhos é o primeiro livro da série Suspenses da Doutora dos Sonhos

Gênero: FICÇÃO/Suspense e Detetive/Investigação

Língua: Português

IdiomaPortuguês
Data de lançamento16 de jan. de 2019
ISBN9781547565917
Doutora dos Sonhos: Suspenses da Doutora dos Sonhos

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    Doutora dos Sonhos - J.J. DiBenedetto

    Doutora dos Sonhos

    By

    J.J. DiBenedetto

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    ––––––––

    All available at:

    www.amazon.com

    and

    www.jjdibenedetto.com

    Text Copyright © 2013-2018 James J. DiBenedetto

    ––––––––

    All Rights Reserved

    ––––––––

    This book contains material protected under International and Federal Copyright Laws and Treaties. Any unauthorized reprint or use of this material is prohibited. No part of this book may be reproduced or transmitted in any form or by any means, electronic or mechanical, including photocopying, recording, or by any information storage and retrieval system without express written permission from the author.

    Para a minha mãe,

    Gratidão eterna por tudo.

    Por que isso continua a acontecer com a gente?

    Holly McClane em Duro de Matar 2.

    Prólogo: A Princesa Prometida

    (15-17 de junho de 1991)

    O céu era de um azul brilhante, totalmente sem nuvens, e o dia estava simplesmente perfeito, pensou Sara. Exceto pela dor no tornozelo direito. A fila dos formandos está lenta, porque a dor faz a Sara se dirigir aos degraus de metal e ao palanque mancando. Ela queria estar usando uma bengala, mesmo não tendo precisado dela por mais de um ano. Ela dá uma olhada por cima do ombro; o formando logo atrás a encara impacientemente, mas, logo atrás dele, John de Nova Iorque dá um largo sorriso e, um pouco mais atrás, Janet Black dá um joínha.

    Ela para no local reservado, convenientemente marcado com uma fita, grata pelo momento de repouso, embora só pudesse parar por alguns segundos antes de ser chamada.

    Sara Katarina Barnes, Bacharel em Ciências Biológicas, summa cum laude[1].

    Sara claudica pelo palanque até o pódio com seu pé direito latejando. Não tem doido tanto, pensa ela, desde o momento da lesão. Ela tenta deixar a dor de lado, mas fica mais difícil a cada passo, até que o tornozelo bambeia e ela tomba; seu capelo[2] escapa da cabeça e rola até cair para fora do palco.

    Sara sente os olhares dos milhares de pessoas em direção a ela, mas só se preocupa com os dois olhos que a observam desde cima no pódio, a alguns decímetros de distância. Eles não pertencem ao presidente da universidade nem ao reitor, mas ao homem que ela ama. Brian a observa, mas não faz nada para ajudar nem diz nada. Sua expressão, porém, diz eloquentemente: Por que você está deitada aí? Você não quer se formar?.

    De repente, a Sara encontra-se em outro lugar. Ela está surpresa em poder ficar de pé novamente: a dor no tornozelo direito se foi. Ela se surpreende igualmente por causa do local – sabe qual?

    Um cemitério, ela conclui ao olhar em redor: lápides de mármore marcando o gramado bem modelado. Especificamente, ela se encontra num cemitério, no meio de um funeral. Ela não reconhece nenhuma das pessoas que estão ao redor da cova aberta, mas assim que ela ouve as palavras do sacerdote, suspira com o nome do defunto: Dr. Abraham Morris.

    Sara sabe quem ele é: o presidente do comitê admissional da Escola Universitária de Medicina de Crewe. Ela se encontrou com o Dr. Morris apenas uma vez; ele fez a entrevista admissional final dela. Foi uma hora extraordinariamente estressante. Depois de tudo, Sara ficou imaginando se a escola de medicina tinha mesmo sido a melhor escolha no fim das contas.

    Eu não o odeio! Fui admitida, e isso já basta! Eu não o quero ver morto!, Sara logo diz, chorando imediatamente, vagando em busca de um lugar para se esconder, para desaparecer. Ela não acha um bom local, mas a reação que ela esperava dos que pranteavam não vem; nem palavras de ódio nem encaradas de descontentamento. Na verdade, não havia reação alguma.

    Sara está surpresa, mas só por um instante; depois fica claro o que está se sucedendo. Isso já aconteceu antes; não é um sonho dela, de modo algum. Ela nem chora nem grita; simplesmente fecha os olhos e implora – já sabendo que não vai ser atendida – Por favor, Deus, de novo não!.

    ***

    Eu abro meus olhos, e sei, mesmo antes de poder forçá-los a focar em algo, o que eu vou ver. Três horas e cinco minutos da manhã, exatamente como na última vez. Pelo menos, eu não acordei gritando. Ou mordi o braço senhor Pennington de novo – meu coelho de pelúcia ainda não foi despedaçado, estava logo ali, na cama, comigo. E nem acordei o Vuvuzela, que estava fazendo jus ao nome, roncando ao pé da cama todo enrolado nos lençóis, ou a Beth, no chão, mais confortável do que nunca dormindo num colchão inflável.

    Não vou contar isso a ela. Nem ao Brian. Nem a ninguém. Muito menos hoje.

    Seria cômico se não fosse trágico. Não tive nenhum desses sonhos num período de um ano e meio, nem mesmo depois daquilo ocorrer – exceto por uma vez, no último verão - quando Brian estava sonhando comigo e eu percebi. Mas essa foi a única vez.

    Falemos de sorte: com a eternidade inteira para isso acontecer novamente, para a minha mente começar a ter essas noias de novo, tem que ser justamente na noite anterior ao meu casamento?!

    ***

    Eu consegui voltar a dormir, finalmente; por mais duas horas.

    Quando eu fui para a cama ontem à noite, estava preocupada em não conseguir dormir; pensei que ia ficar acordada a noite inteira com toda essa agitação. Para a minha surpresa, porém, não tive problemas em cair no sono. Eu passei alguns minutos com a mão na cara olhando o anel da vó Roberta – o meu anel – e lembrando-me da tarde do último verão quando Brian o deu para mim. Dei o meu melhor para parecer surpresa, mas não consegui encenar bem. Ele sabia que eu iria vê-lo, ver os seus sonhos, vê-lo pedindo as bênçãos do meu pai e recebendo mais do que pediu quando papai entregar a ele o anel da minha vó.

    Eu adormeci com essa ideia e com um sorriso no rosto. Eu não esperava ser acordada, em seguida, por alguém que eu não conheço e que estava sonhando em matar alguém. Eu pensei que tinha me livrado disso de uma vez por todas.

    Pelos quase três meses após o Dr. Waters ser pego, eu ia para a cama toda a noite esperando mais pesadelos. Tinha certeza de que iria continuar a presenciar as visões horríveis das outras pessoas na minha mente. Mas isso não aconteceu, e continuou não ocorrendo. Não até uma semana ou duas após eu perceber que já estava acreditando que tudo tinha acabado.

    Só um pensamento otimista, obviamente.

    Mas eu não vou ficar obcecada com isso hoje. Tenho coisas muito melhores no que focar.

    A Beth se espreguiça enquanto desperta. Eu não sei como ela poderia ficar mais relaxada e renovada do que quando dorme num colchão de ar. Eu ofereci minha cama e papai ofereceu um quarto de hotel, mas ela não daria ouvidos a nenhuma dessas ofertas. Ela queria estar aqui por mim e disse o seguinte: Com certeza que eu não vou fazer a noiva deitar no chão na noite anterior ao seu casamento!.

    Eu a amo muito. Eu não acho que eu teria como ser mais chegada a ela mesmo se nós fôssemos irmãs de sangue. Vai ser muito estranho não a ter por perto, do outro lado da sala ou a algumas portas ao longo do salão, como tinha ocorrido pelos últimos quatro anos.

    Também vai ser estranho ter outra pessoa ali todas as noites, não só no meu quarto, mas na minha cama. Para ser mais específica: não vai ser mais a minha cama, vai ser a nossa cama. Eu sinto que eu deveria estar mais nervosa com isso do que eu estou, mas não estou. E acho que é um bom sinal.

    Nem estou nervosa por causa do casamento em si. Até porque a cerimônia nem está realmente sob meu controle. Eu não estive, de fato, em condições de me planejar muito, ao mesmo tempo em que terminava meu último semestre, fazia o meu Trabalho de Conclusão de Curso e me preparava para me formar. Mas eu nem precisei – minha mãe estava ansiosa para tomar as rédeas da situação e fazer tudo que estava ao seu alcance. A única coisa que eu tive que fazer foi escolher a cor do vestido de noiva – azul claro, quase um tom de giz de cera. Eu não tenho certeza se todo mundo vai gostar, mas eu sim e, como todos dizem, é o meu dia, né verdade?

    E, claro, eu selecionei o vestido; insisti em fazer isso eu mesma. A Beth ficou na minha casa durante a semana após o natal para ajudar, e foi quase todo esse tempo que levou para achar o vestido. Eu não tinha uma ideia clara do que eu estava procurando e recusava cada vestido que a Beth, a minha mãe ou ambas pensavam que seria perfeito, sempre com a mesma resposta vaga: Não é para mim.

    Finalmente, eu o achei na terceira ou, talvez, quarta – para ser sincera, não me lembro - loja de noivas que a gente foi. Todas perdemos a conta de quantos vestidos elas trouxeram, sempre dizendo que era o vestido perfeito.

    Tanto a Beth como a minha mãe demonstraram estar chateadas com a escolha. Mas eu não, porque esse vestido – e eu não vejo outra maneira de explicar – foi feito para mim.

    Ele era bem simples, posso dizer. Tinha um cetim branco simples, sem lacinho chique nem nada do gênero. Um decote discreto, só para pôr o meu colar em evidência; era suficiente: o conjunto caiu bem em mim. Ambas discutiram comigo, mas eu insisti em provar o vestido. Quando eu saí do provador, elas disseram que eu estava certa. Minha mãe chorou de emoção imediatamente, e Beth – mesmo tendo negado depois – quase chorou também. Ela tentou me convencer a abaixar um pouco o decote, o que eu recusei. Isso é uma coisa que meu alter ego teria feito. Talvez a Gretchen, eu falei para a Beth, "mas esse é o meu vestido, e esse decote é perfeito, do jeito que está". Tudo nele era perfeito – o vestido poderia muito bem ter sido feito para mim.

    Mamãe fez todas as outras escolhas: a comida, o bolo, as flores, tudo isso. A única coisa que eu tenho que fazer é aparecer, e já que a limusine viria nos pegar, até isso já estaria ok.

    Só tem uma coisa com a qual estou preocupada, e eu sei, é ridículo. Nem quero contar à Beth, mas se eu não puder desabafar com a minha melhor amiga e dama de honra, com que mais eu poderia?

    Ela está acordando, bocejando e espreguiçando-se; acho que terei a chance de contar para ela, mas antes de poder dizer qualquer coisa além de bom dia, ouço batidas na minha porta e a minha mãe entra.

    Bom dia, querida, diz ela, e se senta na minha cadeira de escritório. Ela parece estar nervosa. Vai ser um dia daqueles, e eu q... queria falar algumas coisas contigo antes do... do... do casamento.

    Meu Deus. Pelo jeito, não há de ser nada além de horrivelmente constrangedor, mas ela toma coragem e continua a falar. Eu sei que está fora de moda, mas é a tradição da minha família. Minha mãe sentou comigo antes do meu casamento, a mãe dela fez o mesmo e assim por diante.

    Eu e Beth olhamo-nos, e ela me deu um sorriso, como quem diz sinto muito, e começou a ir em direção à porta, mas minha mãe chamou-a de volta. Você pode ouvir também. Por um momento, eu pensei que ela iria se retirar, apesar do que foi dito, para me abandonar e deixar-me passar por tudo sozinha, mas, pela milionésima vez, ela provou sua lealdade. Ela para, abaixa a cabeça e se aproxima de mansinho para sentar na cama, perto de mim.

    Mamãe, eu disse, eu tenho vinte e dois anos, não precisa...

    Ela suspira. Eu sei, Sara, mas é o meu dever de mãe, então eu vou te falar. Até porque eu mesma já tive vinte e dois anos um dia. Eu devo saber o que você está sentindo nesse momento, diz ela. E eu acredito, mas eu não quero pensar sobre isso de fato.

    "Enfim, na noite antes do meu casamento, minha mãe sentou comigo e... Bem, eu não vou fazer o mesmo contigo. Eu só... eu só quero te di...  te dizer o que eu queria que ela tivesse me dito antes." Agora, eu não tenho a menor ideia de onde isso vai chegar. Eu sei que eu nem quero tentar adivinhar que tipo de conselho a vovó Lucy deu à minha mãe no dia do casamento.

    Mamãe, eu não sei...

    Ela sorri para mim, com um sorriso bem gentil, mas, ao mesmo tempo, triste. Sim, você sabe. Você é uma menina inteligente, ela se engasga um pouco muito inteligente. E muito forte. Mais do que eu fui um dia. Ela tem que dar uma respirada antes de continuar. Você também tem um monte dessas... Hmm, não sei nem como dizer de um outro jeito... Ideias românticas sobre a vida.

    Beth me cutuca; não posso falar por ela, mas eu tenho certeza absoluta de que estava com um sorriso do tipo Eu te avisei no rosto dela. Ela tem razão; ela me avisou muitas vezes.

    Eu mesma também tinha esse mesmo tipo de ideia, ela continua. E era assim que eu pensava na minha... bem, você sabe... na minha lua de mel. Eu tinha todas essas ideias sobre... Você sabe do que eu estou falando. Velas, uma música de fundo, tudo perfeito e... Ela nem consegue me encarar, e eu estou olhando para todos os lados, menos em sua direção. De alguma forma, ela consegue terminar a frase: ...e, bem, fogos de artifício.

    Como é que ela sabia? Era exatamente o que eu iria dizer à Beth. Nunca pensei ouvir isso da minha mãe, e eu nem me vejo dizendo a ela que ela tem razão, nem se eu viver até os cem anos. Mas eu nem tenho que falar; a minha cara já diz tudo. Você está esperando o mesmo! Meu Deus, é como se eu tivesse me olhando no espelho enquanto eu falo com você. Ela se emociona por um momento. E eu também.

    Mamãe, tá tudo bem, eu sei...

    Ela se recupera um pouco. Já vou terminar. Eu acho que você tem tudo de mim aí dentro, e que você prefere morrer em vez de admitir, mas eu acho que você está com medo da noite de hoje.

    Eu quero correr e dar um abraço nela, ao mesmo tempo que eu quero ir para o quintal, cavar um buraco bem fundo, me enterrar e ficar lá pelos próximos mil anos. Eu posso ver nos seus olhos que ela sente o mesmo. Eu não sei como ela consegue continuar, mas consegue. Preste atenção ao meu conselho: tenha em mente que o Brian vai estar tão nervoso quanto você. E não há nada de errado nisso. Talvez você até tenha percebido por si só. Eu demorei muito tempo para entender, mas ficar com medo juntos pode, pode nos aproximar muito os dois.

    Sim. Isso é algo que eu e Brian aprendemos logo no começo da nossa relação.

    Tem outra coisa que eu gostaria que você se lembrasse hoje à noite, ela disse, você vai estar tão sobrecarregada e tão cansada depois da cerimônia, da recepção e tudo mais, que, se nada acontecer ou se não acontecer do jeito que você está imaginando, tudo bem. É normal. Não é nada demais.

    Agora eu realmente corro e abraço-a. Eu estou sem palavras, mas ela entende exatamente o que eu quero dizer.

    Tudo bem, ela disse suavemente, fazendo cafuné do jeitinho que costumava fazer quando eu era criança. Tudo bem. Mas lembre-se, porque é o mais importante: não importa o que aconteça ou deixe de acontecer hoje, saiba que vocês têm uma vida inteira para compensar, não é verdade?

    Eu ainda estou sem palavras. A minha mãe me abraça um pouco mais e beija a minha testa, respira chorosamente e sai. Quando eu olho para Beth, vejo que ela enxuga uma lágrima bem rápido.

    Uau, é tudo o que ela diz.

    Eu concordo. É... Uau!.

    Ela acertou, diz Beth olhando para mim com um ar de curiosidade. ...sobre você ser romântica. Só que não – você não é – você não está preocupada – não me diga... diz ela com suavidade crescente.

    Eu não consigo olhar nos olhos dela, mas confirmo oscilando a cabeça.

    Você consegue ser bem grossa de vez em quando, sabia?

    Foi assim que ela falou para mim. Eu não digo nada, todavia. Depois de alguns instantes de silêncio, ela caminha em minha direção, põe as mãos nas minhas bochechas e me faz olhar para ela. Eu não devia ter dito nada disso. Muito menos logo depois de tudo o que a sua mãe acabou de dizer, diz ela. Quer dizer. Acho que sim. Ela rola os olhos e suspira teatralmente. Diga-me, sinceramente: alguma vez o Brian teve do que reclamar? Mesmo uma ou duas vezes?

    Não!, deixo escapar sem pensar. Ok, ele não tem!

    E você?

    A resposta é a mesma, mas é dita bem mais baixo, acompanhada de uma vermelhidão no rosto. Não.

    Então você está preocupada com o quê? Você sabe o que está fazendo, ele sabe o que está fazendo e vocês nunca tiveram nenhum problema antes, então não me arrume um agora.

    Quando ela fala assim, é bem difícil discutir.

    ***

    Às dez horas, chega a equipe do salão de beleza: cabeleireiro, maquiador, manicure. Minha pequena festa de casamento está toda providenciada. Além de mim e da Beth, há só mais dois no local: minha colega quase médica, Janet Black, e Bianca, a prima do Brian.

    Eles acabaram por volta do meio-dia, e depois levou meia-hora para que nos arrumássemos, e ainda tivemos mais meia hora antes da chegada da limusine. A Beth e a Janet continuam a rir da minha despedida de solteira, quando não estão a me alfinetar porque a cor dos vestidos que eu escolhi para elas não combina com os cabelos ruivos da Janet. O que eu posso dizer? Escolhi a cor dois meses antes de escolher a Janet como dama de honra. Eu abro a minha boca para responder e, em uníssono, elas respondem: "Tá bom. É o seu dia." Enquanto isso, Bianca mexe nervosamente no vestido e minha mãe corre para ver se não esqueceu de nada.

    Estou sentada na cozinha, sem pensar em nada específico, mas à medida que eu olho o relógio e vejo o ponteiro das horas se mexer, sinto meu coração bater freneticamente. Não tenho certeza do que está acontecendo; não sei porque fiquei tão tensa de repente. Este deve ser o melhor dia da minha vida, certo? Eu amo o Brian, eu quero dividir a minha vida com ele.

    Então por que eu quero rasgar o meu lindo vestido, me enfiar no caro e me mandar o mais rápido possível?

    Sei exatamente o porquê.

    Só um minuto, resmungo, subo para o meu quarto, entro e tranco a porta. O Vuvuzela está sentado na cama e eu estou grata por isso. Vou precisar ter alguém do meu lado que me ame incondicionalmente para poder passar por isso.

    Pego meu telefone e ligo. A mãe do Brian atende no primeiro toque, soando bem irritada. Brian está aí? Eu preciso falar com ele, digo sem rodeios. Ela consegue ouvir o pânico na minha voz e eu posso ouvir um pequeno tom de desespero na dela enquanto ela o chama. Depois de um ano e meio, ela ainda não lida bem comigo. Não acho que isso vá acontecer um dia. Mas tudo bem; é com o filho dela que vou casar, não com ela.

    Enquanto eu espero o Brian pegar o telefone, o Vuvuzela fica me cafungando e lambendo minha mão direita. Depois do que estou prestes a fazer, ele vai ser o único que não vai me achar horrível ou estúpida ou louca – ou os três de uma vez. Ouço um clique quando o Brian apanha o telefone. Deve ser do pincel, pois ele gosta de pintar. Sara? O que houve?. Ele deve ter corrido. Eu nem tento adivinhar o que ele pensa que aconteceu comigo. Odeio estar fazendo isso com ele, mas que opções eu tenho?

    Eu não sei como começar, então simplesmente falo: Eu te amo – você sabe disso. Mas eu acho que eu – nós – você não deveria se casar comigo. Não é justo para você.

    Que danado que você tá falando? Vocês já estão bêbadas a essa altura com o champanhe do casamento? Não, mas eu poderia tomar litros agora.

    Eu – vou estar sempre trabalhando. Vou estar debilitada, estressada e isso é injusto com você! Que tipo de vida você vai construir assim? Tudo era verdade, e nós já passamos por isso dez mil vezes antes e isso nunca o aborreceu.

    Sara, eu sei de tudo isso. Não interessa. Quantas vezes eu vou ter que dizer? Pelo menos, mais uma. O que deixou você tão preocupada?

    Ele sabe que tem algo a mais, e ele vai me forçar a dizer. Beleza! Você quer saber? Tive um sonho ontem à noite!

    Silêncio mortal no fim. Eu sei o que ele está pensando: ele não quer passar por isso de novo. Ele não merece. Ninguém merece. Sara ... Finalmente diz.

    Eu não te culpo. Você vai melhorar. Poderia ter sido morta na última vez, se lembra? Você teve sorte. Fico feliz por ele ter entendido. Está sendo esperto. É melhor para nós dois assim.

    SARA!. Eu quase derrubo o telefone. Ele nunca gritou comigo daquele jeito. VOCÊ É UMA IDIOTA! IDIOTA! Você acha que eu vou te largar no altar por causa de um sonhozinho besta?

    Você deveria!. Espero que ele aceite isso.

    Ele baixa o tom de voz; fala bem suavemente, e bem calmo agora. "Nunca! Não me importa o que você sonhou. O que quer que tenha sido, eu vou estar ao seu lado para te ajudar. Esse é o meu lugar. É onde eu quero estar, você não entende?"

    Eu vou chorar. Vou chorar e estragar a maquiagem que a Kellyanne fez de manhã. Eu sou estúpida. Todos estão dizendo e estão com a razão. Mesmo se...

    Não importa, ele diz.

    Mesmo que isso implique casar-se com uma idiota?. Meu coração está começando a ralentar agora, só um pouquinho. Talvez as lágrimas nem corram.

    Especialmente nesse caso, ele diz, e eu não consigo discutir mais. Deixo-o ir, eu sei que ele tem coisas a fazer de última hora antes de ir à igreja com a família, assim como eu.

    Eu vou me casar!!!

    ***

    O Brian me olha cheio de expectativa, assim como o padre Murray e umas cem outras pessoas. Olho de volta para elas, sentadas nos bancos da igreja, para a minha família e a do Brian, e para os nossos amigos. Lá estão a vovó Lucy, com seu tanque de oxigênio logo ao lado, e mamãe junto dela, já em prantos. Do outro lado da igreja, vejo a cunhada de Brian, Lina, e seus dois filhos, que eu e Brian conhecemos pela primeira vez ontem no nosso jantar pré-nupcial[3]. Eles, assim como todos os outros, esperam que eu faça meus votos.

    Eu me lembro das palavras que eu arduamente ensaiei por horas e horas até que elas expressassem exatamente o que eu sinto, mas perco a voz. Eu não sei por quanto tempo mais eu ficarei lá com toda essa gente me olhando antes de eu conseguir falar alguma coisa.

    Eu mal consigo sussurrar. Tudo o que eu sou e o que virei a ser, entrego a ti. De alguma forma, de alguma maneira, sinto-me mais forte a cada palavra. Minha voz fica mais forte, mais confiante. Tudo começa a se desvanecer; os cem pares de olhos, o altar, a janela de vidro manchada e todo o resto desaparece. É como se eu e Brian estivéssemos flutuando no espaço, as duas únicas pessoas no universo inteiro.

    Eu sou sua e você é meu, corpo e alma. Ele reconhece as palavras de alguma forma, mesmo na primeira vez que as ouve. Todas as minhas alegrias hão de ser divididas contigo, e todas as suas mágoas hão de ser mitigadas por mim, na calmaria e na tempestade, agora e para sempre. Estendo meus braços e tomo suas mãos. Brian, meu amor, eu me ofereço como sua esposa, e te tomo por marido.

    As lágrimas vêm de repente; é como se meu coração fosse arrebentar, e o Brian me olha como se estivesse prestes a chorar.

    A voz do padre Murray me traz de volta à Terra, mas só por um instante. "Pelo poder a mim investido pela Commonwealth[4] da Pensilvânia, eu os declaro marido e mulher, ele diz. Pode beijar a noiva."

    Brian levanta meu véu, me toma nos braços e o mundo desaparece de novo.

    ***

    Estamos na van do hotel para ir até o aeroporto, a cinco minutos de distância. Passamos a noite do nosso casamento no Keystone Gateway Hyatt, o que foi ideia da Beth. Você não quer passar a noite do seu casamento enfiada num avião por oito horas, quer?, ela perguntou, e que Deus a abençoe por ter pensado nisso. Em vez de fazer a viagem logo, ficamos perto do aeroporto e viajamos pela manhã. Vai ser no fim da tarde que pousaremos no Havaí.

    Foi muito melhor.

    E só para deixar claro: sim, houve fogos de artifício!

    Um: Anatomia

    (De 5 a 9 de agosto de 1991)

    Eu comecei a estudar medicina há exatamente uma semana e já me sinto com uma defasagem de um mês. Quase todo mundo da minha turma tem a mesma sensação, o que me faz sentir menos mal, ainda que só um pouco.

    Bem, vou admitir que quando a Janet Black confessou para mim - abertamente - que ela se sentia com um atraso de dois meses, até fiquei um pouco animada.

    Eu sabia que iria ser assim, mas saber e experimentar são coisas bem diferentes. Contudo, o blá-blá-blá das aulas das oito da manhã ao meio-dia era muito, muito pior. Só para mencionar as manhãs.

    Há algumas semanas, eu estava deitada numa linda praia. Nada além de uma areia branca e uma água azulada e cristalina. Eu bebia uma piña colada[5] num coco, sem nenhuma pressa, com meu marido - isso ainda me é estranho dizer - do meu lado. Foi só há algumas semanas, mas parece ter acontecido numa outra vida.

    Como eu queria estar lá de novo!

    ***

    As aulas da manhã terminaram por hoje; duas horas de bioquímica e duas de desenvolvimento humano. Agora eu

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